O futuro é extremamente desafiador para o Brasil, e a escolha do próximo presidente da República definirá quão prolongados serão os efeitos perniciosos de uma crise política, econômica, social e moral que há mais de três anos tem sido pintada com cores vivíssimas, diante dos olhos de todos. Das duas, uma: ou as forças genuinamente democráticas da sociedade superam veleidades e constroem uma alternativa responsável às forças do atraso que ora parecem triunfar, ou o País tem um encontro marcado com um desastre ainda maior do que o atual a partir de 2023.
Nenhuma eleição pode ser considerada mais importante do que outra, pois todas são cruciais ao tempo de sua realização. Mas é possível afirmar que os riscos envolvidos na escolha dos eleitores em 2022 são de magnitude poucas vezes vista na história recente do País. Há sérios obstáculos políticos e econômicos a serem superados, como já estiveram em jogo em tantos outros pleitos. Mas, a julgar pelo que propõem os dois pré-candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto no momento, o ex-presidente Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, nada indica que caminhos serão abertos para que o Brasil saia desse lamaçal caso um dos dois seja o vencedor do pleito em outubro.
Tanto pior porque Lula e Bolsonaro são hábeis em açular seus apoiadores mais radicais e poluir o debate público com mentiras e distorções da realidade. Ao fazerem do ódio e da dissimulação instrumentos de ação política, tanto um como outro impedem a coesão social mínima em torno de um diálogo honesto e propositivo com vistas à reversão de nossas mazelas.
Cerca de 50 milhões de brasileiros convivem com a insegurança alimentar, ou seja, não têm renda suficiente para garantir comida no prato todos os dias. O número de desempregados – embora tenha recuado de 14,6% para 11,2% no trimestre encerrado em fevereiro, em comparação com o mesmo período no ano passado – ainda é assustador: são 12 milhões de cidadãos em idade economicamente ativa sem trabalho no País, de acordo com o IBGE. Economistas preveem que o porcentual de desocupação permanecerá no patamar de dois dígitos, no mínimo, até 2024. A inflação renitente corrói a renda dos que têm um emprego. Juros em ascensão freiam a capacidade de expansão da atividade econômica.
Na educação, o cenário é de terra arrasada. A cultura e a política externa foram transformadas pelo bolsonarismo em flancos de uma “guerra cultural” que seria apenas caricatura da estupidez de uns tresloucados caso não impingisse tantos danos ao País. Na seara ambiental, o Brasil foi da condição de interlocutor indispensável a pária internacional.
Diante desse quadro trevoso, é desalentador constatar que tudo o que Lula e Bolsonaro propõem só tende a agravar os problemas do País. É o exato oposto do que se espera de candidatos à Presidência da República.
O pouco que se conhece do programa econômico de Lula para um eventual terceiro mandato não apenas não resolve os problemas atuais, como os aprofunda. O papel aceita quase tudo. Lula pode escrever à vontade que “os melhores momentos do Brasil foram nos governos do PT”, mas não pode reescrever a História.
Bolsonaro pode dizer para seus apoiadores que o País “tem tudo” para crescer e se desenvolver, e que ele ainda não conseguiu fazer do Brasil a “pátria grande” porque “alguns poucos atrapalham” e deveriam “calar a boca” e deixá-lo trabalhar. O fato é que nem Lula nem Bolsonaro têm projetos certos para atacar os problemas do País. Não propõem nada além de suas supostas virtudes pessoais em relação ao oponente. À frente da disputa pela Presidência, ao menos por ora, estão dois mitômanos que talvez só acreditem nas próprias patranhas pela força da repetição.
O País precisa de um líder moderno, atinado com a agenda política, social, econômica e ambiental do século 21. Um conciliador. Alguém que pense o futuro com responsabilidade, empatia e espírito público. Ou seja, alguém que ainda está por se fazer conhecido e, sobretudo, despertar a esperança dos brasileiros em um futuro melhor.