Nesta segunda (19), morreu em Eugénie-lès-Bains, no sul da França, o lendário chef francês Michel Guérard. Ele tinha 91 anos e era o último remanescente da “nouvelle cuisine”, movimento gastronômico liderado por ele e outros chefs franceses lendários como Paul Bocuse (1926 - 2018), Roger Vergé (1930 - 2015), Jean (1926 - 1983) e Pierre Troisgros (1928 - 2020) - pai do chef Claude Troisgros -, nos anos 1970. As principais características da “nouvelle cuisine” são o uso de ingredientes locais e sazonais, além da leveza nos molhos e o apuro estético na montagem dos pratos.
Desde 1977, ele comandava o três estrelas (máxima cotação do Guia Michelin) Les Prés d’Eugénie, instalado dentro de um hotel/spa, onde apresentou a sua cuisine minceur (cozinha de emagrecimento, em tradução livre), em que reinterpretou os pratos da “nouvelle cuisine” em versões mais leves e saudáveis.
Entre as contribuições de Guérard está o fato dele ter sido um dos precursores em servir salada em um prato. À primeira vista, parece algo banal, mas o chef francês fez uma revolução quando, em 1965, deixou os grandes recipientes de lado para dar uma cara mais elegante para a salada. E uma de suas receitas mais famosas é a salade folle, elaborada com feijão verde, aspargos, lascas de trufas e de foie gras, além de vinagre de Jerez.
Diversos chefs lamentaram a morte de Guérard pelas redes sociais. O icônico chef francês Alain Ducasse, que foi aluno dele, se referiu ao chef francês como mentor. “Foi ao lado dele que aprendi os valores essenciais da profissão”. Já o chef francês radicado em Nova York (EUA), Daniel Boulud, que trabalhou no Les Prés d’Eugénie, o definiu como “um chef tão inspirador, feliz, criativo e poético. Cada ocasião de estarmos juntos era uma celebração”. Outra a prestar uma homenagem ao chef francês foi Dominique Crenn, do três estrelas Atelier Crenn, em São Francisco (EUA). “Um grande cavalheiro nos deixa. Um mestre da sinfonia perfeita de sentidos”, escreveu ela.
As condolências também vieram dos profissionais que atuam no Brasil. Enquanto o chef e apresentador do “Masterchef Brasil” (Band), Erick Jacquin, definiu-o como “o último gênio da cozinha francesa”, o chef Laurent Suaudeau, que trabalhou no restaurante de Guérard em 1975, o chamou de “referência para a evolução de todas as cozinhas do mundo”. Já o chef Raphael Despirite, que comandou a cozinha do extinto restaurante francês Marcel, na capital paulista, disse que se espelha no legado deixado pelo chef. “Quando era moleque, meu sonho era ter um hotel no estilo do Michel Guérard, e essa visão ainda guia a minha vida”, escreveu ele.
Guérard deixa esposa, Christine Barthelemy, e duas filhas, Éléonore e Adeline Guérard.