PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Se somos um dos países mais perigosos para ser mulher, também somos um dos países mais perigosos para ser menina

Foto do author Redação
Por Redação
 Foto: EDU ANDRADE/Ascom/MF

Amanda Sadalla, Cofundadora e Diretora Executiva da Serenas. Administradora Pública pela FGV EAESP e Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, há seis anos atua em escolas e equipamentos públicos, sensibilizando e capacitando jovens e profissionais sobre o tema de violência sexual e doméstica

PUBLICIDADE

Aproximadamente, 34 milhões de meninas têm menos de 19 anos no Brasil. Elas representam 16% da população brasileira e, em pleno 2023, ainda não possuem os mesmos direitos que os meninos.[1] Na prática, isso significa que a infância, adolescência e juventudes das meninas - especialmente negras, indígenas e periféricas - são marcadas pela discriminação, exclusão e, também, pela Violência Baseada no Gênero.

De fato, a violência contra as mulheres na vida adulta, é um problema urgente e que precisa ser enfrentado de maneira assertiva, especialmente em um país que registra uma vítima de feminicídio a cada 6 horas no último ano, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022. No entanto, é preciso tornar a discussão menos adultocêntrica e compreender os impactos da violência de gênero na trajetória de crianças e adolescentes.

Quando falamos em meninas, é preciso lembrar que há muitas formas de ser menina no Brasil e no mundo. Ser menina na periferia de São Paulo é completamente diferente de ser uma menina no centro da capital. Ser menina branca, preta, migrante, indígena, periférica ou quilombola, implica experiências muito diferentes. Assim, apesar de todas as meninas estarem sujeitas à violência, as meninas e mulheres pretas, indígenas e periféricas, são as principais vítimas destes crimes. Elas também enfrentam as jornadas mais árduas na busca por justiça e encontram menos possibilidades e oportunidades de interrupção de ciclos de violência.

No Brasil, a cada uma hora, quatro meninas com menos de 13 anos são vítimas de estupro - na maioria dos casos, o agressor é um familiar ou alguém próximo. De acordo com a pesquisa PENSI, de 2019, uma em cada cinco estudantes de 13 a 17 anos dizem já terem sido tocadas, beijadas ou expostas contra a vontade. Ainda, por dia, 48 meninas com menos de 14 anos se tornam mães.

Publicidade

A violência atinge as meninas em casa, na rua e na própria escola. Isso é o que nos indica a pesquisa "Por ser Menina", da organização Plan International Brasil, que ouviu 2.589 meninas de 14 a 19 anos, nas 5 regiões do país em 2021. Mais da metade das entrevistadas diz sentir medo de andar na rua e 32% delas relatam ter sofrido assédio na escola.

Em 2022, o caso de uma jovem de 18 anos que foi mantida em cárcere privado e teve o rosto tatuado com o nome do ex-namorado, exemplificou mais uma forma de violência que atinge meninas na adolescência e juventude: a violência por parceiro íntimo. Na minha experiência dos últimos anos, conversando com adolescentes sobre relacionamentos, consentimento e violência, acompanhei diversos casos de meninas em relacionamentos abusivos, sendo ameaçadas pelo ex-namorado ou ficante quando diziam querer terminar a relação.

Poderia me estender comentando sobre muitos outros tipos de violência que atingem as meninas, como a violência no mundo digital e a exploração sexual infantil. Mas entendo que a conscietização sobre a violência de gênero na infância e adolescência é um trabalho extenso e é por essa razão que a Serenas existe.

Queremos que nenhuma menina tenha sua vida marcada pela violência - seja ela sexual, física, psicológica ou institucional, dentro ou fora de casa. Acreditamos que somente com meninas protegidas e, principalmente, fortalecidas, elas poderão viver a totalidade do seu potencial e sonhar sem limites.

Sobre a Serenas:

Publicidade

A Serenas nasce em 2021, para contribuir com a construção de um Brasil onde todas as meninas estejam fortalecidas e livres de violências baseada no gênero. Em quase 2 anos de existência, a organização já capacitou mais de 35.000 profissionais da educação, lideranças do terceiro setor e estudantes em 4 estados brasileiros; formou jovens multiplicadores da causa em territórios de alta vulnerabilidade e produziu 6 cartilhas educativas sobre o tema.

Nota

[1] Estimativas da populacionais em 2021, enviadas para o TCU pelo IBGE.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.