Homem que matou ex-mulher e filho tinha registro de CAC e esperou vítimas na saída de escola

Crime aconteceu na zona leste de São Paulo; Ezequiel Ramos, de 39 anos, está preso

PUBLICIDADE

Por Ítalo Lo Re
Atualização:
6 min de leitura

Preso em flagrante após matar a ex-mulher, Michelli Nicolich, de 37 anos, e o filho mais novo, de dois anos, a tiros no Parque São Rafael, zona leste de São Paulo, Ezequiel Lemos Ramos, de 39 anos, estudava Medicina em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e tinha registro de CAC (grupo que engloba caçadores, atiradores e colecionadores). O acusado teve a prisão em flagrante convertida em preventiva na tarde desta terça-feira, 13, e vai responder por duplo homicídio doloso qualificado, feminicídio e tentativa de homicídio.

Ezequiel chegou a ser preso em flagrante em maio deste ano após Michelli registrar boletim de ocorrência contra ele por ameaça e posse irregular de arma de fogo, informou a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul. Ele ficou na cadeia por pouco mais de 10 dias, mas depois foi colocado em liberdade provisória por decisão judicial.

O crime em São Paulo

Delegado titular do 49º Distrito Policial (São Mateus), Leandro Resende Rangel afirma que o crime ocorreu no trajeto da escola dos filhos do acusado. “Como ele sabia que a ex-mulher ia passar pelo local, que era o caminho que ela fazia para buscar os filhos na escola, ficou esperando lá”, disse ao Estadão.

“Quando ela passou com o carro, ele deu um monte de tiro e acabou atingindo um dos filhos e ela”, continuou Rangel, que aguarda a conclusão dos laudos de quantos disparos foram efetuados. A mulher perdeu o controle do veículo, um Fiat Uno branco, durante a emboscada e bateu em um poste.

Ezequiel Lemes Ramos Foto: Delegacia de Atendimento à Mulher de Ponta Porã

No carro estavam Michelli e os dois filhos do ex-casal: o mais novo, de 2 anos, que também foi assassinado, e o mais velho, de 4 anos, que acabou não sendo atingido pelos disparos. “Esse (o filho mais velho) vai fazer cinco anos agora em outubro e não sofreu nenhum ferimento”, disse o delegado.

Continua após a publicidade

O crime, segundo a Polícia Civil, ocorreu por volta de 16h10 desta segunda-feira, 12, e Ezequiel foi preso em flagrante em seguida. “Um policial de folga estava próximo e ouviu os disparos. Foi lá para ver o que estava acontecendo e conseguiu detê-lo”, disse o delegado.

A carabina usada no crime sumiu do local e ainda não foi localizada pela polícia. “A arma foi furtada durante a confusão que se deu no momento em que ele foi preso. Não temos a informação de um comparsa, mas a gente não descarta essa possibilidade totalmente. Estamos esclarecendo as circunstâncias.”

Prisão em MS

Conforme o boletim de ocorrência registrado em maio, ao qual o Estadão teve acesso, Michelli relatou que Ezequiel queria expulsá-la de casa, em Ponta Porã, e a ameaçou de morte, “engatilhando a arma em sua cabeça”. Ela, então, correu para a rua e ligou para o 190.

Segundo a delegada Thatiana Isabela Colombo, da Delegacia de Atendimento à Mulher de Ponta Porã, algumas medidas protetivas foram deferidas depois de então. Ezequiel estava proibido de se aproximar de Michelli, seus familiares e testemunhas, devendo permanecer a uma distância mínima de 200 metros; de manter contato com a vítima por qualquer meio de comunicação; e de permanecer no lar de convivência com a ex-mulher.

Câmera de segurança flagrou o crime em São Mateus, na zona leste. Foto: Reprodução

Estudante de medicina e CAC

Continua após a publicidade

De acordo com o que foi apurado pela polícia até o momento, Ezequiel estudava Medicina em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz divisa com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, e tinha registro de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). “Ou seja, ele pode comprar arma – tinha arma registrada no nome dele –, pode ter arma em casa e transportar para o estande e de volta do estande”, disse Rangel.

Como mostrou o Estadão no fim do último mês, a quantidade de armas registradas por caçadores, atiradores e colecionadores, que compõem o grupo de CACs, quase triplicou desde dezembro de 2018 e ultrapassou, em julho deste ano, a marca de 1 milhão. Os dados são dos institutos Igarapé e Sou da Paz. De acordo com o levantamento, o acervo de armamentos em posse dos CACs no Brasil, subiu de 350.683 para 1.006.725, entre dezembro de 2018 e julho deste ano, um aumento de 187%.

O delegado afirmou que, durante o depoimento, Ezequiel disse ainda estar morando provisoriamente em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, e que a ex-mulher residia em São Mateus, na zona leste paulistana.

“Ele diz que estava tendo um problema com ela em relação a um dinheiro que eles deveriam ter dividido. E disse que ela também não estaria deixando ele ver os filhos”, afirma o delegado. O montante seria de R$ 70 mil.

Segundo Rangel, há suspeitas de contradição no depoimento do acusado. “Às vezes, falava uma coisa, às vezes, outra. Ele estava transtornado”, conta o delegado, que disse ter optado por esperar pelo enterro das vítimas, marcado para a tarde desta terça, antes de ouvir a família para entender melhor as circunstâncias do crime.

Após ser preso, Ezequiel foi conduzido ao 49º Distrito Policial (São Mateus), onde o boletim de ocorrência foi registrado. Posteriormente, o caso seguiu para o 55º Distrito Policial (Parque São Rafael), onde estão em andamento as investigações.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) informou que, em audiência de custódia realizada na tarde desta terça-feira no Fórum Criminal Ministro Mário Guimarães, Ezequiel Lemos Ramos teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. A conversão havia sido solicitada pela Polícia Civil de São Paulo.

Continua após a publicidade

Feminicídios

Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo indicam que, até julho deste ano, 34 mulheres foram vítimas de homicídio doloso (quando há a intenção de matar) na capital paulista, sendo que 13 (38,2%) são casos registrados como feminicídio.

Até o mesmo período de 2021, a Polícia Civil contabilizou 57 mulheres vítimas de homicídio, sendo 22 (38%) por feminicídio. Ao longo de todo ano passado, foram 87 homicídios dolosos contra mulheres e 33 feminicídios (37,9%).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.

Notícias em alta | São Paulo






Veja mais em sao-paulo