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"Falta coesão social”

Professor especialista em História da Economia alerta para os riscos da ampliação das desigualdades

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Por Redação
3 min de leitura
Getty Images 

O mundo sairá da pandemia transformado em vários aspectos, a exemplo da maior disseminação do comércio eletrônico, do home office e das reuniões por videoconferência – contexto que acarretará redução drástica do volume de viagens a negócios. “Não voltará a ser como era antes. E essa realidade vale para o Brasil, para os Estados Unidos, a Europa, a Ásia, todos os lugares”, diz o professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Do ponto de vista econômico, o que Prado percebe neste momento como diferença fundamental do Brasil em relação ao resto do mundo é a falta de um grande projeto estatal de estímulo à retomada da economia e fortalecimento da coesão social. “Nos Estados Unidos, Biden anunciou o maior programa desde o Plano Marshall, enquanto a Europa também está criando uma série de incentivos”, descreve o professor.  “É preciso uma política clara de geração de renda e de aumento de investimentos em determinados setores, aliada a uma rede de proteção à população mais vulnerável”, completa Prado. Assim, por mais que os brasileiros até possam viver um rápido momento de euforia no pós-pandemia (realizando uma viagem em família, por exemplo), as dúvidas em relação ao trabalho e às condições gerais da economia tendem a fazer com que as pessoas puxem o freio rapidamente, com foco na preservação das economias diante de um futuro incerto. “Se não houver mecanismos para gerar otimismo entre a população, o aumento do consumo será momentâneo”, projeta o professor. 

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Polarização joga contra Outro aspecto preocupante, destaca Prado, é que a natureza dos empregos está mudando, processo acelerado pela pandemia.  A economia das plataformas digitais, a exemplo dos aplicativos de transporte e de delivery de alimentos, tende a agravar a má distribuição de renda e aumentar o abismo entre os mais ricos e os mais pobres – pois, ao mesmo tempo que estão surgindo empregos muito qualificados, numa ponta, há uma legião de atividades de baixa qualificação na outra ponta, a exemplo dos entregadores. “Há pouca gente no meio. São cada vez menos cargos intermediários, como gerentes e supervisores. Isso afeta um segmento essencial em toda a sociedade, que é a classe média”, descreve o professor. A tendência de concentração de renda é uma diferença importante na comparação entre o pós-Segunda Guerra e a projeção do pós-covid. Por três décadas – do final da guerra, em meados da década de 1940, até meados da década de 1970 –, o mundo conseguiu melhorar a distribuição de renda. “A sociedade que saiu da Segunda Guerra entendeu que a coesão social seria um fator muito importante. Os mais ricos aceitaram como razoável pagar mais impostos, por exemplo”, lembra Prado.  A partir de meados da década de 1970, por uma soma de fatores econômicos e políticos, a importância dada à coesão social foi sendo reduzida e o abismo entre os mais ricos e os mais pobres voltou a aumentar. Nada indica que essa situação será revertida no mundo pós-pandemia – o maior indício disso é a polarização política, que, ao incentivar uma visão de “todos contra todos”, afasta as possibilidades de consenso em nome de um grande projeto coletivo. (MO)

Vemos que a agenda do Brasil não está nessa mesma direção, o que pode deixar o País muito atrasado no processo de retomada.

Luiz Carlos Prado, professor da UFRJ

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