Alterações abruptas nas tarifas tendem a resultar em insegurança comercial e econômica, diz Abimaq

Na avaliação de entidades de segmentos que já sofrem com déficit comercial, medida de Trump deixa o Brasil ainda menos competitivo em relação à indústria americana

PUBLICIDADE

Foto do author Ivo Ribeiro

Embora inferiores aos níveis temidos, as tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira, 2, preocupam entidades da indústria brasileira.

“As alterações abruptas nas tarifas de importação tendem a resultar em insegurança comercial e econômica”, afirmou a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) , em nota.

“Essa elevação de tarifa pode gerar impactos negativos significativos para nossa economia e para a indústria brasileira de máquinas e equipamentos”, ressaltou a entidade.

O Brasil tem vendas negativas de US$ 1,2 bi no comércio com EUA, diz Abimaq, que aponta o maior impacto em máquinas rodoviárias, agrícolas e para a indústria de transformação Foto: Clayton de Souza/Estadão

PUBLICIDADE

Segundo a Abimaq, do total da receita do setor, cerca de 20% é direcionado ao mercado externo (exportação). “Em 2024, exportamos US$ 13,2 bilhões, destes, 25% ou US$ 3,5 bilhões, foram direcionados aos Estados Unidos, equivalente a 7% da receita total. O Brasil importou cerca de US$ 4,7 bilhões em máquinas e equipamentos de origem norte-americana. Portanto somos deficitários”, destacou na nota.

Na avaliação da Abimaq, com a medida anunciada, o Brasil será impactado negativamente em suas exportações ao país, uma vez que será menos competitivos em relação à indústria local (americana) de máquinas e equipamentos.

“Podemos citar como exemplo máquinas agrícolas, rodoviárias e máquinas para a indústria de transformação. Esses produtos, entre outros, são produzidos tanto pelo Brasil como pelos EUA”. Com a elevação de tarifa, afirma a entidade, haverá perda de competitividade frente aos produtos americanos.

A avaliação da indústria química

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro, destacou que, no caso do Brasil, o superávit favorável para os americanos no comércio bilateral entre os dois países evitou uma taxação mais dura. “Em relação ao setor químico, há um superávit de US$ 8 bilhões para as exportações americanas”, afirmou o executivo.

Cordeiro observou que muito ainda vai ser destrinchado na documentação que embasou as medidas de Trump. “Tivemos uma tarifa básica (alíquota mínima) de 10%, como muitos países. Vai depender dos tipos de produtos que serão comparados”, afirmou.

Publicidade

Ele exemplificou que há um acordo mundial de tarifa máxima para matérias-primas químicas, de 6,5%. Ao se aplicar a recíproca de 10%, ocorre um aumento de 53% sobre esse índice. Há o caso de um produto, benzeno, em que a tarifa é zero para exportação do Brasil aos EUA, lembra. São mais de 100 mil toneladas exportadas a cada ano.

André Passos Cordeiro, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) Foto: Divulgação/Abiquim

Segundo Cordeiro, em todas as categorias, o saldo na balança comercial é sempre positivo para os EUA, que colocam US$ 12 bilhões no Brasil. “Em resinas e elastômeros, US$ 2 bilhões de superávit; na área farmacêutica, outros US$ 2 bilhões. E assim por diante na maioria das classes”, afirma.

Cordeiro ressalvou que as exportações do Brasil para o mercado americano de produtos químicos, US$ 4 bilhões, não são significativas. “Os volumes que enviamos para lá não afetam preços e custos da indústria americana e as nossas exportações não operam com práticas predatórias.”

No caso de resinas termoplásticas, os EUA colocam no Brasil, em volume anual, 1,67 milhão de toneladas. Na mão inversa, fabricantes do Brasil enviam meras 26 mil toneladas.

Publicidade

As tarifas, segundo comunicado do governo Trump, ficarão vigentes até que os déficits comerciais sejam resolvidos ou mitigados. Trump justificou essa nova medida como uma forma de aumentar a arrecadação e ao mesmo tempo reagir às tarifas aplicadas por outros países sobre produtos do país.

O objetivo seria pressionar países a reduzir suas taxas de importação ou ajustarem suas políticas comerciais.