“As profissões que meus filhos pequenos vão seguir provavelmente ainda não existem”, diz Marina Feferbaum, coordenadora da área de Metodologia de Ensino e do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito de São Paulo. Ela é coautora do estudo “Futuro do Ensino Superior”, que destacou nove grandes tendências (veja quadro).
As perspectivas que Feferbaum considera mais relevantes são a de fusão crescente entre as disciplinas e o impulso ao protagonismo dos estudantes. “O jovem deve ser incentivado a tomar iniciativas e assumir o comando do próprio aprendizado. Nesse cenário, o corpo docente ocupa muito mais o papel de facilitação e de mentoria do que o de fonte dos conhecimentos, como ocorria no tradicional ensino expositivo.”
Entre as novas realidades do mercado de trabalho que o Ensino Superior não pode ignorar está a crescente adoção da tecnologia. O relatório The Future of Jobs (“O Futuro dos Empregos”), produzido pelo Fórum Econômico Mundial, concluiu que mais de 85% das organizações pesquisadas consideram que as inovações e a ampliação do acesso digital são as tendências com maior potencial de provocar transformações nos negócios. Outra frente que causará impacto significativo nos próximos anos é a aplicação dos padrões ESG (Ambiental, Social e Governança) e os investimentos para impulsionar a transição verde.
“O ensino superior não pode ficar desconectado do que está acontecendo no mundo. Precisa dialogar com a sociedade. Por isso temas como ESG, transformação digital, pensamento computacional, resolução de problemas e soft skills precisam permear toda a formação, de qualquer área, caminhando ao lado do conteúdo mais formal e curricular”, avalia a especialista da FGV Direito.
Competências para a vida
A indústria da educação é, ao mesmo tempo, o arco e a flecha dessas transformações. De acordo com a previsão do Fórum Econômico Mundial, o setor deve crescer 10%, globalmente, nos próximos cinco anos, o que levará à criação de três milhões de empregos adicionais no ensino profissional e superior. “Dois potenciais impulsionadores do crescimento nessas funções são a elevada taxa de adoção de tecnologias de desenvolvimento da força de trabalho e os esforços das organizações para preencher lacunas de competências nas suas forças de trabalho”, avalia o relatório “O Futuro dos Empregos”.
“O período da pandemia certamente tirou todo mundo da zona de conforto, e esse movimento aconteceu com muita força no mundo da educação”, diz Ricardo Felix, coordenador de projetos do Ensino Superior do Senac de São Paulo. “O papel de uma instituição de ensino é observar as mudanças e rapidamente trazer respostas aos alunos. Assim, ao lado do conteúdo curricular, estamos o tempo todo trabalhando os estudantes como pessoas, de forma mais orgânica e simbiótica. O objetivo é desenvolver competências não só para o trabalho, mas para a vida e para o trabalho.”
Outro foco crescente de preocupação no Ensino Superior do Senac de São Paulo, aponta Felix, é trabalhar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – metas globais que, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), são cada vez mais determinantes para definir as estratégias e as metas corporativas. “Não basta saber que existem os ODS e quais são eles. É preciso entender as implicações práticas e as conexões mais complexas, o que depende em grande parte de estimular a autonomia e o pensamento crítico dos estudantes em relação aos temas palpitantes da sociedade”, descreve Felix.
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