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Cães são usados como 'armas' para detectar drogas em quartos de adolescentes

"Muitos pais que nos procuram dizem: 'Não sei o que meu filho anda fazendo, mas sei o que eu fazia em sua idade. Você pode dar uma busca no quarto dele, para me tranquilizar?'"

Por Peter Holley
Atualização:

Quando James notou que a filha adolescente estava passando tempo demais com novos amigos, e sentiu um cheiro esquisito no quarto da jovem, uma suspeita se levantou. O pai, de Kentucky, desconfiou que a filha de 14 anos estivesse usando drogas, embora não tivesse encontrado nenhuma evidência. Então James (ele pediu que o sobrenome não fosse divulgado, para preservar a identidade da filha) fez o que um número cada vez maior de pais da região de Louisville está fazendo: "contratou", por 99 dólares, um cão farejador para revistar sua casa. "Não sou um pai enxerido e quero que minha filha confie em mim, mas tenho de protegê-la", disse ele ao Courier-Journal. "Sei que garotas são espertas e escondem coisas em lugares que eu nem imaginaria."

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O cachorro, especialmente treinado, encontrou maconha num pequeno cachimbo de vidro escondido entre a maquiagem da jovem. Ela admitiu que a droga era sua. James destruiu o cachimbo com um bastão de beisebol e depois disse que o caso acabou aproximando-o mais da filha. "No começo fiquei nervoso com um estranho dentro de casa com um cão farejador. Mas foi muito positivo", avaliou. 

Desde que abriu a Last Chance K9 Service, em setembro, Michael Davis diz que sua empresa já revistou mais de 50 casas na área de Louisville. Em nove entre dez casas os cães farejadores encontraram drogas. A de maior incidência foi a heroína, além de cocaína, maconha, metanfetamina e barbitúricos, às vezes ocultos em sofisticados esconderijos nas casas e nos carros. 

Michael Davis, dono da Last Chance K9 Service, com um de seus funcionários Foto: Pat McDonogh/ The Courier-Journal

A ideia de se encontrar heroína no quarto de um rapaz de 16 anos pode ser chocante, mas tem havido um drástico aumento no consumo da droga na região de Louisville. No Condado de Jefferson, ocorreram 204 mortes por overdose em 2014, para 192 no ano anterior, segundo o Kentucky Office for Drug Control Policy

Davis disse que o grande consumo regional de drogas levou a um aumento da procura por seus cães. A empresa também é contratada para encontrar bombas, armas de fogo e drogas em escritórios e negócios privados.   A demanda cresceu depois que Davis espalhou cartazes mostrando um pastor alemão com uma banana de dinamite numa narina e um cigarro de maconha na outra, com a legenda "Nossos cães localizam drogas".  "Muitos pais que nos procuram dizem: 'Não sei o que meu filho anda fazendo, mas sei o que eu fazia em sua idade. Você pode dar uma busca no quarto dele, para me tranquilizar?'", conta Davis. "Quando nada achamos, sugerimos aos pais que deem ainda mais apoio aos filhos."

Lawrence Balter, professor de psicologia aplicada na Universidade de Nova York e autor de livros sobre pais e filhos, diz que pode ficar difícil para os pais criarem um relacionamento positivo com os filhos se estes se sentirem sob vigilância. "É preciso entender que o uso de drogas está espalhado entre os adolescentes. Se eles perceberem que estão sendo espionados, agirão de forma mais secreta, ficando mais evasivos e enganadores."

Balter acha que um cão farejador de drogas pode ser útil em casos extremos - quando um adolescente esteja sob risco de ser apreendido ou em vias de se meter em complicações sérias. Excluindo isso, é melhor tentar estabelecer um relacionamento pais/filhos no qual possam conversar sobre drogas de forma serena e objetiva. "Os pais devem ser aliados, não um Estado militar", disse ele ao Post

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Alguns pais preferem que as casas sejam vasculhadas quando os filhos estão na escola. Outros querem que Michael Davis e seus cães deem um show de força diante dos adolescentes. "Cachorros intimidam", diz Davis. "Quando o adolescente os vê em casa, calcula que possam ser trazidos a qualquer hora se os pais acharem que está envolvido com drogas e começa a pensar duas vezes antes de se envolver."

Anúncio da Last Chance K9 Service em New Albany, Indiana, nos Estados Unidos Foto: Reprodução

Os pais contratantes e a Last Chance K9 Service assinam um contrato que proíbe a empresa de falar com qualquer pessoa sobre as buscas, incluindo policiais. 

Drogas apreendidas pela Last Chance são embaladas e deixadas em delegacias de polícia, mas os pais têm a opção de se livrarem delas eles mesmos. Davis diz que alguns departamentos de polícia são cooperativos e não criam problemas, mas outros, não. Ele se vê então forçado a deixar as drogas com os pais. 

Um policial disse ao Courier-Journal que vê com preocupação o modo pelo qual os pais vão descartar o material. Já Davis quer que a comunidade considere seus serviços "uma ferramenta para os pais". Segundo ele, o lugar de se vencer a guerra contra as drogas "é na mesa da cozinha, não num tribunal em companhia de uma advogado". 

TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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