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Mulheres 50+ usam Instagram como modelo de negócio sobre longevidade

Além de disseminar conteúdo sobre envelhecimento, empreendedoras usam alcance em rede social para lançar produtos, como lingerie para mulheres com mais de 50 anos

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Por Redação
Atualização:

O mercado destinado ao público acima dos 60 anos ainda é pouco explorado no Brasil, cuja expectativa é ser o sexto País mais velho do mundo até 2050, com um quinto da população tendo 60 anos ou mais. Embora movimente bastante dinheiro - R$ 1,8 trilhão em 2020, segundo o Instituto Locomotiva - ainda há poucos negócios criados ou adaptados para atender a economia prateada e a diversidade dentro dela.

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“As marcas não olham para os velhos ou olham de uma maneira velha. Já chegou para a gente fazer parceria com empresa de meia de compressão, por exemplo. A gente até faz, mas essa é uma visão antiga”, explica Carla Leirner, de 58 anos, que, ao lado da mãe, Sylvia Loeb, de 77, administra a página Escritora no Divã, no Instagram. Sylvia completa: “As empresas precisam olhar para as mulheres mais velhas como pessoas normais: nem velhíssimas e nem super-heroínas”. 

Um estudo sobre economia prateada feito em 2018 pela Hype60+ e pela Pipe Social ouviu 2.500 brasileiros entre 55 e 90 anos de idade e constatou que, apesar de terem dinheiro e vontade de consumir, 4 em cada 10 deles acreditam que faltam produtos e serviços que satisfaçam suas demandas. 

Helena Schargel, de 81anos, já lançou oitolinhas de lingerie e quatro de roupas esportivas para mulheres acima dos 60 anos. Foto: Recco Lingerie

“A gente envelhece em todas as áreas: fisicamente, mentalmente e filosoficamente. O tempo passa e precisamos lidar com isso de forma geral, não só estética. O que a gente tem feito é ampliar esse projeto de envelhecimento”, conta Sylvia.

Para falar sobre toda a complexidade de assuntos que cercam a longevidade (como educação financeira, violência doméstica, autoestima, sexo e transição de carreira) para os seus 29 mil seguidores, Sylvia e Carla decidiram profissionalizar a atividade. Há dois anos, buscaram um programa de aceleração e, no começo deste ano, passaram por um processo de mentoria

“A aceleração foi quando entendemos que tínhamos um negócio. Já a mentoria foi uma libertação, porque antes a gente achava que só podia falar de coisas relacionadas ao envelhecimento, mas entendemos que podemos falar de vários pontos para a mulher madura. Claro, às vezes, a gente vai falar de menopausa, por exemplo, não dá para pular essa parte, mas vai além”, conta Carla. 

Depois da mentoria, conseguiram dobrar o alcance da página, que apesar de ter nascido para falar com mulheres acima dos 50 anos, acabou atraindo também o público 40+. No modelo de negócio, a monetização vem com as parcerias que criam com as marcas e entre os próximos planos estão o lançamento de workshops e de um livro. No próximo mês, irão lançar uma parceria com a sextech de bem-estar sexual brasileira, Feel.

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Lingerie e linha esportiva para maduros

A lógica do ‘faça você mesmo’ acontece com bastante frequência na economia prateada. Na série Grace and Frankie, da Netflix, por exemplo, as protagonistas vividas por Jane Fonda e Lily Tomlin vão descobrindo (e criando) produtos que se tornam necessários com a maturidade, como um lubrificante íntimo e um vaso sanitário que ajuda a pessoa a se levantar com mais facilidade. 

Na vida real, é o que Helena Schargel tem feito aqui no Brasil. Depois de se aposentar, ela começou a olhar para as mulheres que também haviam parado de trabalhar, mas “que nunca se aposentaram de si mesmas”, como diz. Quando viu a carência do mercado brasileiro, teve a ideia de criar uma linha de lingerie para mulheres acima dos 60 anos. 

“O Brasil não tinha nada disso, lá fora também era difícil encontrar. Então liguei para uma amiga que tem uma fábrica de desenvolvimento de roupas e a chamei para lançar uma linha comigo. Eu não esperava que fosse me dar tanto tesão e prazer em fazer isso. Os retornos que recebi me levaram a mexer mais no Instagram”, conta.

Sylvia Loeb, de 77, anos, e Carla Leirner, de 58: mãe e filha administrama páginaEscritora no Divã, no Instagram. Foto: Lu Gebara

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Três anos depois, aos 81 anos, Helena mantém uma página com 30 mil seguidores, onde compartilha conteúdos sobre temas como autoestima, maternidade e exercícios físicos e faz parcerias remuneradas. Além das oito linhas de lingerie lançadas em parceria com a Recco, Helena resolveu apostar também em outro segmento pouco explorado para o público 60+, o de roupas esportivas.

“A lingerie é para você dar uma olhada no espelho e pensar ‘uau, estou gostosa, eu me sinto bem’. Já o esportivo é para você se sentir bem com aquela roupa e aquilo te dar mais tesão para continuar fazendo esportes”, explica Helena. 

Junto com a empresa Alto Giro, ela criou quatro coleções de moda fitness para mulheres acima dos 60 anos. A marca não abre detalhes sobre o faturamento, mas afirma que ao longo das quatro linhas de produtos, as vendas dobraram. 

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“O mercado 60+ vem crescendo, porque mulheres e homens dessa idade, hoje, vivem em boas condições. Nosso foco é dar uma impulsionada no dia a dia e ainda estar confortável. Para a linha 60+, a Helena compartilhou com a gente as dores e expectativas para criação de modelagens e cores”, explica Edson Filho, gerente de marketing da Alto Giro.

No ano passado, a pesquisa FDC Longevidade mapeou 343 negócios inovadores no Brasil que têm o universo sênior como público-alvo. Deles, 40% são da área de cuidado, 22% de engajamento e propósito, 17% de estilo de vida, 9% de mobilidade e movimento, 8% de saúde mental, 5% de saúde financeira e 1% de fim da vida. O que fica claro é que ainda tem muito espaço para o mercado se desenvolver.

“Quando eu comecei não tinha nada. Agora, eu fico feliz porque vejo uma ou outra marca pensando em 50+, 60+. Mas é um mercado que ainda precisa de tudo. Às vezes, eu ouço que os 80 são os novos 40 e não é assim. Os meus 80 são os novos 80. Nós estamos em uma nova era, vivendo mais e cada um deveria viver melhor”, diz Helena. 

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