Comboio da Cruz Vermelha não chega à Mariupol por causa de conflitos, mas 3 mil fogem

Operação foi remarcada para este sábado por falta de garantias de segurança, diz Cruz Vermelha; cerca de 100 mil civis permanecem em Mariupol

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Por Redação
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Cerca de 3 mil moradores de Mariupol conseguiram sair nesta sexta-feira, 1º, da cidade de ônibus, mesmo sem o apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que adiou para sábado, 2, a retirada de milhares de civis, que continuam presos na cidade, depois de alertar que a operação era “extremamente complexa” e não havia segurança para os ucranianos e seus funcionários.

Segundo a Cruz Vermelha, que organizou a operação, a equipe que estava a caminho da cidade para escoltar um ônibus com civis precisou voltar porque não recebeu garantias de condições que garantissem uma passagem segurança. “Para que a operação seja bem sucedida, é fundamental que as partes respeitem os acordos e forneçam as condições e garantias de segurança necessárias”, diz o comunicado.

A equipe da cruz vermelha é composta por três veículos e nove pessoas, que pretendem escoltar cerca de 54 ônibus e um número desconhecido de veículos particulares para retirar os civis que permanecem na cidade. A entidade afirmou que dois caminhões com comida, água e remédios deveriam acompanhar a equipe até Mariupol, mas não recebeu permissão russa. A ajuda ficou para trás.

Civis caminham ao longo de uma rua de prédios residenciais destruídos por conflito entre Rússia e Ucrânia, em Mariupol. Imagem foi registrada nesta sexta-feira, 1º Foto: Alexander Ermochenko / Reuters

Cerca de 100 mil civis estão presos na cidade há semanas sob constante bombardeio russo com acesso limitado a comida, água e eletricidade. Mariupol vive a pior situação de guerra entre as cidades ucranianas.

Embora o comboio maior tenha falhado nesta sexta-feira, grupos menores de pessoas conseguiram deixar a cidade em carros, segundo autoridades locais. A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereshchuk, afirmou que um corredor humanitário foi aberto entre Mariupol e Zaporizhzhia por transporte privado.

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Além disso, cerca de 2 mil civis conseguiram sair de Mariupol para a cidade vizinha de Berdiansk e foram resgatados por ônibus, que seguiram até Zaporizhzhia.

Os esforços para a retirada de civis nesta sexta-feira acontecem um dia depois que a Cruz Vermelha Internacional disse que um corredor poderia ser aberto após uma negociação com o Ministério da Defesa da Rússia, que garantiu o cessar-fogo nos arredores. Entretanto, os planos foram frustrados.

O governador da região de Donetsk, no leste da Ucrânia, Pavlo Kirilenko, acusou a Rússia de quebrar suas promessas de permitir que a ajuda humanitária chegue a Mariupol. “Entregas humanitárias, apesar de todos os acordos e promessas do lado russo, não estão sendo realizadas. O corredor humanitário não está operando”, disse em discurso televisado.

Segundo um assessor do prefeito de Mariupol, Petro Andiushchenko, as forças russas desde quinta-feira impedem que até mesmo a menor quantidade de suprimentos humanitários chegue aos moradores, deixando claro que o corredor humanitário não foi aberto. “A cidade continua fechada à entrada e muito perigosa para sair com transporte pessoal”, disse ele no Telegram nesta sexta-feira.

Mariupol vive o pior cenário da guerra da Ucrânia, com bombardeio e cerco russos constantes, escassez de comida, energia e água. Nas últimas semanas, uma maternidade e um teatro que servia de abrigo para 1,3 mil pessoas foram atacados pelos russos. Imagens de satélite divulgadas nos últimos dias mostraram centenas de pessoas fazendo fila do lado de fora de um supermercado na tentativa de obter suprimentos.

A cidade possuía 400 mil habitantes antes da guerra - e parte conseguiu sair há cerca de duas semanas, quando os ucranianos conseguiram montar um corredor humanitário na área. Os civis que saíram o fizeram usando carros particulares na maioria dos casos, mas o número de veículos dirigíveis deixados na cidade diminuiu e os estoques de combustível estão baixos.

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Ofensivas russas continuam em Kiev e Chernihiv, afirmam autoridades

Apesar de anúncio russo de diminuição de ataques em Kiev, Ucrânia mantém barricadas e afirma que conflitos continuam nos arredores da cidade Foto: Sara Gómez / EFE

Apesar das autoridades russas afirmarem esta semana que iriam diminuir os ataques nas cidades de Kiev e Chernihiv, novas ofensivas foram registradas nesta sexta-feira. As autoridades ucranianas afirmam que não houve uma retirada de tropas russas na região, mas um reposicionamento e um foco maior nas operações militares na região do Donbas.

Segundo o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, batalhas “enormes” entre as tropas russas e ucranianas foram travadas nesta sexta-feira nos arredores da capital. Ele emitiu um aviso aos moradores que estão fora da cidade para que não retornem por enquanto. “Por favor, leve um pouco mais de tempo”, disse.

O governador regional de Kiev disse que as forças russas recuam em algumas áreas ao redor da capital, mas fortalecem suas posições em outras. Isso ocorre depois do conselheiro do presidente Volodmir Zelenski, Oleksi Arestovich, afirmar que as forças ucranianas estão afastando as tropas russas a nordeste e noroeste de Kiev.

Em Chernihiv, o prefeito Vladislav Atroshenko acusou a Rússia de bombardear uma enfermaria de oncologia de um hospital na cidade. À CNN, Astroshenko afirmou que ao menos três pessoas ficaram gravemente feridas. “Alguns projéteis atingiram diretamente o hospital regional, e um dos prédios do hospital, na verdade a unidade oncológica, ficou completamente destruído. Três pessoas sofreram ferimentos graves”, disse. /REUTERS, AP, NYT

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