Quando o cessar-fogo em Gaza entrou em vigor no domingo, homens armados mascarados, amontoados em caminhonetes brancas, desfilaram pelas ruas de Gaza enquanto apoiadores gritavam o nome da ala militar do Hamas. Ao enviar seus combatentes em uma demonstração inconfundível de força, o Hamas estava tentando transmitir uma mensagem inequívoca aos palestinos em Gaza, a Israel e à comunidade internacional: apesar das pesadas perdas entre os combatentes, policiais, líderes políticos e administradores governamentais do Hamas durante a guerra, o grupo continua sendo o poder palestino dominante em Gaza.
“A mensagem é que o Hamas é ‘o dia seguinte’ da guerra”, disse Ibrahim Madhoun, um analista próximo ao Hamas baseado na Turquia, usando uma expressão que se refere ao futuro governo de Gaza.

“Eles estão sinalizando que o Hamas deve fazer parte de quaisquer arranjos futuros, ou no mínimo, ser envolvido na coordenação”, acrescentou.
No domingo, o escritório de mídia do governo administrado pelo Hamas anunciou que milhares de policiais estavam começando a se posicionar em todo o território para “preservar a segurança e a ordem”. Ministérios e instituições do governo, disse o escritório de mídia, estavam preparados para começar a trabalhar “de acordo com o plano do governo para implementar todas as medidas que tragam de volta a vida normal”.
No Complexo Médico Nasser, na cidade de Khan Younis, no sul, pelo menos três policiais uniformizados estavam de pé enquanto o hino nacional palestino tocava ao fundo, de acordo com um vídeo postado nas redes sociais e verificado pelo New York Times.
Mais tarde no domingo, dezenas de militantes uniformizados e armados do Hamas foram vistos na Praça Saraya, na Cidade de Gaza, ao lado de um carro que mantinha reféns israelenses antes de serem entregues à Cruz Vermelha. Os militantes estavam tentando afastar multidões de pessoas que pressionavam em direção ao carro.
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Mesmo que o Hamas tente projetar que ainda controla Gaza e planeje desempenhar um papel fundamental no seu governo, seu futuro ali permanece incerto. Autoridades israelenses disseram que não desistiram de seu objetivo de guerra declarado de desmantelar a ala militar e o governo do Hamas, sugerindo fortemente que poderiam retomar a guerra contra o grupo militante após a libertação de alguns reféns.
Gideon Saar, o ministro israelense das Relações Exteriores, disse no domingo que o governo do Hamas era perigoso para a segurança de Israel e enfatizou que Israel não concordou com um cessar-fogo permanente que deixasse o Hamas no poder.
“Estamos determinados a atingir os objetivos da guerra”, disse ele.

Enquanto alguns analistas dizem que Israel poderia eventualmente remover o Hamas do poder, outros dizem que o país teria dificuldades para retomar a guerra diante da pressão internacional. E mesmo que isso aconteça, dizem esses analistas, as forças israelenses enfrentarão imensos desafios para erradicar o Hamas de Gaza sem se envolver em uma ocupação direta.
Ali Jarbawi, professor de ciência política na Universidade de Birzeit, disse que os desfiles do Hamas por Gaza no domingo foram mais do que uma mensagem para a comunidade internacional de que o grupo estava no controle. Eles também refletem a realidade no local, disse ele.
“O Hamas estava lá antes da guerra, e está lá agora”, disse ele./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL