Às vésperas de gravar última temporada, atriz de ‘Maravilhosa Sra. Maisel’ se dedica ao chocolate

Ruth Kennison, fundadora do Chocolate Project e que interpreta a mãe de Maisel, se divide entre a atuação e a produção de bombons

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Por Alexis Soloski
4 min de leitura

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - NOVA YORK - “É tão suave”, disse a atriz Marin Hinkle, de 55 anos, com os olhos fechados e um aparente ar de felicidade. Ela tomara emprestada a cozinha do apartamento imaculado de uma amiga para aprender a fazer trufa de chocolate.

Atriz de 'Maravilhosa Sra. Maisel' Marin Hinkle despeja chocolate derretido em uma bancada para fazer trufas. Foto: Luisa Opalesky/The New York Times

Sua professora era outra amiga: Ruth Kennison, fundadora do Chocolate Project. Kennison e Hinkle se conheceram no ensino médio há quase 40 anos e passaram um verão trabalhando em uma loja de doces em Boston, comendo bombons em serviço. Depois da faculdade, ambas se mudaram para Los Angeles e cada qual deu à luz com um mês de intervalo.

Há alguns anos, foram filmados em Paris alguns episódios de Maravilhosa Sra. Maisel, a comédia estrelada por Hinkle. Ela trocou sua passagem de avião de primeira classe por quatro na classe econômica e convidou Kennison para ir com ela. Seus filhos também foram. “Eu os levei a todas as lojas de chocolate em Paris”, comentou Kennison. Hinkle sorriu e acrescentou: “O chocolate nunca parou.”

Kennison serviu taças de champanhe rosé enquanto Hinkle, elegante em uma blusa de seda azul, jeans de cintura alta e tamancos de salto alto, admirava a cozinha reformada, de um branco reluzente. O sol do fim da tarde entrava pela janela panorâmica, fazendo o mármore do balcão refletir uma luz dourada.

Kennison começou a aula sobre trufa com uma breve palestra sobre a biologia do cacaueiro, com muitas fotos e muitos adereços. “É sempre duro assim?”, perguntou Hinkle, segurando o fruto enorme e sombreado de vermelho. “Bom, essa é a versão em cerâmica”, respondeu Kennison de forma gentil, entregando à amiga um fruto de verdade. Em seguida, começaram a degustação, com Kennison encorajando a amiga a saborear o terroir específico de cada região. Chocolate vietnamita? Picante. Chocolate de Madagascar? Frutado. O pedaço de Fiji? Tão suave.

Elas passaram a experimentar algumas barras aromatizadas com ingredientes exóticos: matcha, maracujá, pólen de abelha. Isso fez com que Hinkle, que já havia afirmado gostar de todo tipo de chocolate, confessasse: “Na verdade, gosto mesmo é de chocolate ao leite.”

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Kennison aceitou isso; em seguida, entregou à amiga um avental marrom de marca e lhe pediu que tirasse a blusa. Iam fazer trufas - e isso costuma gerar bastante sujeira. Hinkle voltou pouco depois com uma camiseta branca, roupa tão casual que deixaria Rose, a personagem que ela interpreta em Maisel, histérica. Esposa de um professor e mãe da personagem que dá nome à série, Rose nunca aparece malvestida ou com o penteado malfeito. E sua maquiagem? Um ideal platônico. “Eles colocam o figurino em mim como se fosse tinta líquida. E é um clichê, mas 80 a 90 por cento do trabalho estão ali mesmo”, observou a atriz.

Rose tende a encarar cada momento de sua vida como se estivesse se apresentando à realeza. “Não sou assim”, garantiu Hinkle. Mas ela ama a série e o clima de família entre o elenco. Maravilhosa Sra. Maisel acaba de encerrar a quarta temporada e Hinkle já começou a filmar a quinta e última, com sentimentos confusos. “Se Amy e Dan acreditam que esse é o momento certo, estou com eles e vou respeitar a decisão, mas vou chorar todo dia. Tenho de saborear cada segundo dessa temporada”, afirmou sobre os criadores do programa, Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino.

Marin Hinkle é fundadora do Chocolate Project. Foto: Luisa Opalesky/The New York Times

Mas agora, sem lágrimas, havia trufas para fazer. Hinkle tirou as joias e lavou as mãos. Então, sob a direção de Kennison, misturou a manteiga e o creme em um pote com chocolate ganense, fazendo movimentos pequenos e vigorosos para que as gorduras emulsionassem e formassem um ganache, o recheio das trufas.

O ganache precisaria de 24 horas para endurecer. Assim, com um pouco de magia, Kennison colocou no balcão duas tigelas com ganache pré-preparado, um escuro e outro leite escuro. Usando pequenas colheres de sorvete, elas enrolaram o ganache em bolas pequenas e em outras um pouco maiores, ficando com as mãos escuras enquanto o chocolate derretia. Hinkle queria que suas trufas ficassem não menos que perfeitas.

A perfeição não era necessária. “Não tem certo nem errado. A única coisa de que o chocolate não gosta é que você fique com medo. Ele sente o cheiro do medo”, disse Kennison de maneira tranquilizadora. Felizmente, a cozinha não cheirava a medo. Cheirava a chocolate.

Depois de fazer as bolas, Hinkle derramou o chocolate derretido em uma placa de mármore para temperá-lo, resfriando-o e manipulando-o para lhe dar um acabamento brilhante. Usou um raspador de tinta e uma espátula comprada em uma loja de ferragens do bairro, até que a pedra de mármore ficasse parecida com uma pintura respingada. Em seguida, raspou o chocolate, colocou-o de volta na tigela e o reaqueceu com um secador de cabelo até que ele ficasse com a cremosidade certa.

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Depois de colocar o chocolate derretido na mão com uma colher (“É tão bom”, comentou Hinkle), ela enrolou as trufas uma a uma, enquanto Kennison a apressava: “Rápido, rápido, rápido, rápido, rápido!” Na sequência, passou cada trufa mergulhada para Kennison, que as cobriu com chocolate em pó ou granulado e nozes trituradas. As de leite e as escuras se misturaram à medida que a pilha de trufas prontas crescia até atingir cerca de 50 bombons. “Parece tão bonito”, comemorou a atriz. Kennison insistiu que ela provasse uma. Hinkle tirou uma da pedra de mármore e a mordeu com delicadeza. Felicidade de novo. “Isso é bom demais”, completou.

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