O refugiado sírio que quer ‘dar esperança’ aos ucranianos

Fora da Síria, Omar Alshakal fundou a associação Refugee4Refugees em 2017 e agora ajuda na acolhida de refugiados na fronteira ucraniana-romena

PUBLICIDADE

Por Redação
Atualização:
3 min de leitura

Omar Alshakal fugiu de sua Síria natal, devastada pela guerra, e viveu em acampamentos para refugiados antes de fundar sua própria associação na ilha grega de Lesbos. Quando viu o êxodo dos ucranianos, dispôs-se a ajudá-los.

“Compreendo o medo dessas pessoas, porque eu mesmo venho de uma zona de guerra”, afirmou Omar, de 28 anos.

O sírio Omar Alshakal posa ao lado de doações em um armazém perto da cidade de Siret, na Romênia, em 16 de março de 2022. Foto: Armend Nimani/AFP

“Tento ajudar o máximo de pessoas que posso e dar a elas esperança para o futuro”, explicou à AFP, tremendo de frio no posto fronteiriço de Siret, no norte da Romênia.

Alshakal contou ter passado pelas prisões sírias na adolescência, por participar de manifestações contra o governo de Bashar Al-Assad.

Em 2013, uma bomba explodiu em seu caminho, enquanto transportava feridos para o hospital. Sobreviveu e viajou para a Turquia, onde recebeu tratamento. Junto com dois amigos, decidiu, então, lançar-se a nado no mar Egeu. Esta viagem de 14 horas levou-o à Grécia, porta de entrada para a União Europeia, onde sonhava se estabelecer.

Depois de uma breve passagem pela Alemanha, fundou a associação Refugee4Refugees, em Lesbos, em 2017. “Aprendi inglês lá, para poder me comunicar com os outros voluntários”, disse ele.

Continua após a publicidade

Separação

Abalado pelas notícias da agressão russa à Ucrânia, Omar Alshakal voou para Siret, na Romênia. Desde 24 de fevereiro, mais de 130 mil refugiados já passaram por este posto fronteiriço, a maioria mulheres acompanhadas de menores.

Omar Alshakal se locomoveu pela fronteira ucraniana-romena perto da cidade de Siret, na Romênia. Foto: Armend Nimani/AFP

No primeiro dia, recordou, “vi uma menina de cerca de cinco anos, que chorava e chamava pelo pai”, obrigado a permanecer na Ucrânia, onde foi decretada uma mobilização geral.

Sua ONG alugou um abrigo a dois quilômetros da fronteira, capaz de acomodar entre 50 e 100 refugiados. Alimentos e produtos de higiene já estão empilhados em um anexo do estabelecimento, junto com agasalhos e cobertores.

Uma grande família

Formada por uma dezena de pessoas, sua pequena equipe pede reforços, pois as necessidades no terreno são enormes.

Continua após a publicidade

“Quero que se sintam como uma grande família, prontos para ajudar uns aos outros nestes dias sombrios”, confessou, acrescentando que “estaremos juntos, na alegria e na tristeza”.

Na fronteira ucraniana-romena, Omar Alshakal manteve contato com voluntários da Cruz Vermelha para alinhar as ações de acolhida. Foto: Armend Nimani/AFP

Alshakal também quer ir para o outro lado da fronteira, onde poderá ser “ainda mais útil”.

Entretanto, viajar com o passaporte sírio não é fácil. “Já na fronteira romena nos perguntaram por que estávamos lá, o que queríamos fazer”, contou.

Algum dia voltará para seu país natal? Alshakal diz que sim. “Minha vida não é aqui, mas na Síria, com minha família, que não vejo há quase 12 anos”, desabafou.

Seus pais, uma irmã e um irmão esperam por ele. “Mas, por enquanto, vivo um dia de cada vez. Não tenho projetos pessoais. Espero apenas que um dia ninguém mais precise de ajuda. E este é meu sonho”, afirma.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.