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Cartas de leitores selecionadas pelo jornal O Estado de S. Paulo

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Por Fórum dos Leitores
16 min de leitura

Supersalários

Disparates

Não bastasse a pensão aberrante vitalícia paga pelo Estado a filhas adultas solteiras de militares – o que só em 2020 gerou um custo de R$ 19,3 bilhões para a União –, levantamento feito pelo Centro de Liderança Pública (CLP) mostra que 25 mil servidores ganham acima do teto constitucional, onerando os cofres públicos em R$ 3,9 bilhões ao ano, os chamados supersalários (Estado, 17/7, B1 e B2). O agravante tragicômico destes últimos é que, embora haja um teto constitucional, esse limite é frequentemente ultrapassado por meio do artifício da verba indenizatória. Ou seja, existe, sim, um teto. Só que não. O auxílio-creche retroativo de R$ 57 mil por filho, concedido a juízes e promotores pela Justiça de Minas Gerais, é um disparate. Não tem sentido o governo propor um arcabouço fiscal que zere o déficit e uma reforma tributária moderna, justa e racional, visando ao desenvolvimento econômico, à geração de empregos e à redução da desigualdade social, enquanto milhares de cidadãos se fazem valer de leis antigas e artifícios legais para continuar mamando nas tetas do próprio governo. Continuar divulgando essas deformidades é imperativo. Mais imperativo é começar a combatê-las.

Luciano Harary

lharary@hotmail.com

São Paulo

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O estouro do teto

Mais uma denúncia sobre altíssimos salários pagos a uma casta do funcionalismo. O teto do funcionalismo público é de R$ 41,6 mil mensais, mas, de acordo com o levantamento do CLP, o valor máximo recebido por um servidor em 2022 foi de – pasmem – R$ 302 mil mensais! Denúncias e mais denúncias, e nada é feito. No Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça não deveria fiscalizar estes pagamentos que rompem o teto ou se incorporou também nas regalias?

Cleo Aidar

cleoaidar@hotmail.com

São Paulo

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Legal

Desgraçadamente, o Estadão mais uma vez nos brindou com a informação nefasta sobre servidores públicos recebendo salários acima do teto constitucional, o que nos custa R$ 3,9 bilhões ao ano. Certamente, se questionados, esses ilustres cidadãos responderão que a lei aceita os penduricalhos envolvidos. Mas é claro que a lei aceita, afinal quem aprovou a lei foram os próprios beneficiados. Não existe (ou existia) um dispositivo que impeça legislar em causa própria? Enquanto isso, nós, a plebe, nos desdobramos para pagar os impostos e tentar sobreviver.

David Hastings

david.hastings.brazil@gmail.com

São Paulo

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Programa Desenrola

Respostas complexas

Muito apropriadamente, o leitor sr. Antônio José G. Marques indaga, no Fórum dos Leitores de ontem (18/7, A4): “Qual o poder econômico de alguém que devia R$ 100 (ao banco)?”. Pergunta simples para respostas complexas. Simploriamente, pode-se dizer que, no Brasil, um eleitor vale – pelo menos – cenzinho.

A.Fernandes

standyball@hotmail.com

São Paulo

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Endividados

O programa Desenrola, do governo federal, é uma iniciativa necessária e louvável. Porém, fica um gargalo: há pessoas e famílias que se enquadram no teto de dois salários mínimos, que estão endividadas desde antes da pandemia, em razão do alto custo de vida e da inflação, mas que não foram contempladas pelo programa porque não estão inadimplentes. O ideal, mesmo, seria agregar dados do último Censo do IBGE com informações bancárias acerca dessas pessoas e incluí-las numa terceira etapa do programa, dando ênfase a mulheres que trabalham e têm filhos menores na escola pública. Trata-se nada menos que de justiça social.

Maria Lúcia R. Jorge

mlucia.rjorge@gmail.com

São Paulo

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Saúde

Homeopatia

Li a entrevista, publicada ontem pelo Estadão, com a microbiologista Natália Pasternark, em que ela desclassifica a homeopatia (“não passa de um placebo” diz a entrevistada). Na verdade, a homeopatia é um conhecimento que todo cidadão do mundo deveria ter, em razão do seu custo-benefício. Só quem a usa há muitos anos – como é o meu caso – para entender que não se trata de placebo, mas sim de uma opção de saúde de quem aprecia e valoriza o princípio do similia similibus curantur (a cura pelos semelhantes).

Mara Freitas

freitas.mlgf@gmail.com

Presidente Epitácio

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Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br

DESMONTE ESTRUTURAL

Desde 2002, após o Plano Real ter liquidado a inflação e de termos nos livrado de boa parte da presença do Estado na economia, via privatizações, além da criação das agência reguladoras para nos proteger, da Lei de Responsabilidade Fiscal e dos programas sociais iniciados com o Bolsa Escola, que assisto ao desmonte dessas realizações e o PIB indo ladeira abaixo, acompanhado pelas nossas esperanças. Desde então, a Presidência da República foi duas vezes ocupada por um populista de origem sindical, praticando atos de triste memória, que estendeu sua prejudicial alquimia de governança para uma sucessora sequer capaz de verbalizar com coerência, que foi substituída, após seu impedimento, por um vice eleitoralmente inexpressivo, e este por um aloprado completamente despreparado para a função que, eleito com o objetivo de impedir o retorno do sindicalista populista, pelo seu desgoverno acabou elegendo o rival indesejado. No Legislativo um bando de oportunistas fingem nos representar enquanto assaltam o Orçamento e nos impõem aberrações como a presente reforma tributária, colcha de exceções, distante de nos aquecer com uma autêntica justiça tributária. Por fim, o Poder Judiciário com seus integrantes há muito nos privando de exemplos construtivos. Urge exigir que esse desmonte estrutural do Brasil cesse. Vamos usar as redes sociais, os e-mails dos representantes e a imprensa e democraticamente protestar. Precisamos acordar.

Honyldo Roberto Pereira Pinto

honyldo@gmail.com

Ribeirão Preto

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CRÍTICA AO BANCO CENTRAL

O ministro Fernando Haddad disse que juros altos levaram à queda de 2% na prévia do PIB, em maio. Ele deixa de lado o “Fernandinho paz e amor” e, assim como o seu criador, Luiz Inácio Lula da Silva, passa a criticar a política do Banco Central. O que o ministro precisa entender é que ele faz parte de um governo chamado “governo Lula”, cuja credibilidade é bastante baixa. Um governo que ganhou as eleições sem nenhum plano para o País. Plano esse que continua desconhecido seis depois da posse. Um dia Lula da Silva acorda e quer beneficiar a indústria automotiva, no outro acorda e quer reduzir o IPI para a linha branca (até o sr. ministro ficou surpreso, lembra?); num dia ele quer instituir uma nova moeda para substituir o dólar, no outro sugere uma nova moeda para o Mercosul, e assim caminha o Brasil na dependência de qual desejo o sr. Lula da Silva sonhou e quer realizar naquele dia.

Luiz Gonzaga Tressoldi Saraiva

lgtsaraiva@gmail.com

Salvador

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SALVAÇÃO GOVERNAMENTAL

A ministra Simone Tebet (em quem votei em 2022) disse em entrevista a jornalistas que a grande fonte dos problemas das famílias é a subida da Selic aos atuais níveis e que se o juro não cair teremos um Desenrola todo ano. Claramente juros altos provocam endividamento familiar e inadimplência. Mas isso acontece quando a dívida contraída tem juros variáveis – o que não é o padrão do crédito tomado pelas famílias, em geral com juros pré-fixados. Mas só se endivida quem deseja consumir em nível acima da sua renda. O aumento de desemprego também provoca esse fenômeno (inadimplência), mas a forte redução do desemprego nos últimos meses sugere que não é esse o motivo do alto nível de atraso das prestações das famílias. Está parecendo o mesmo nível de consumo excessivo. Apoiar a solução desse quadro em programas tipo Desenrola é duvidoso. Dar alívio a quem se colocou nessa situação, não porque foi surpreendido pela demissão, mas porque não tem controle em como gasta, não vai mudar o comportamento a longo prazo. Exemplo semelhante é o Refis – empresário que acredita que a tábua de salvação governamental sempre vai aparecer não muda de comportamento.

Eduardo Aguinaga

eduardo.aguinaga22@gmail.com

Rio de Janeiro

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DESENROLA

O Programa Desenrola é excelente e muito bem-vindo para aqueles que querem se livrar de suas dívidas e limpar seus nomes na praça. Mas um efeito é inevitável: a cara de trouxa que ficam aqueles que pagaram suas dívidas em dia.

Abel Pires Rodrigues

abel@knn.com.br

Rio de Janeiro

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VOA BRASIL

Que tal se o governo aplicasse o esquema do Programa Voa Brasil ao comércio? Cada beneficiário teria o direito de adquirir mercadorias no valor de R$ 1.500, pagando apenas R$ 400 pela compra. Mas quem paga a conta? Assim como no Voa Brasil, o desconto concedido é rateado para pagamento pelos demais clientes. Até o nome pode ser aproveitado: Compra Brasil. A grande vantagem desse esquema de distribuição de renda é que o governo não fica com a fatia principal das verbas. Apesar disso, não me incluo entre os que defendem planos assim, pois pessoas que precisam viajar a trabalho ou com regularidade são oneradas em benefício de outras, sem muita lógica por trás disso. De qualquer forma, Aguenta Brasil.

Jorge Alberto Nurkin

jorge.nurkin@gmail.com

São Paulo

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LULA EM BRUXELAS

Na seu discurso na cúpula que reúne países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia, Lula expressou o pensamento de muitos de que o Conselho de Segurança (CS) da ONU está “perdendo a legitimidade” e que “seus próprios membros não respeitam a Carta da ONU”. A Guerra na Ucrânia e a recente decisão da Rússia de suspender sua participação no acordo de exportação de grãos da Ucrânia do Mar Negro são exemplos gritantes da incapacidade do CS em evitar/resolver problemas que atingem o mundo, pois a Ucrânia produz 10% e 15% do consumo mundial de trigo e milho, respectivamente. A solução é ampliar o número dos países com cadeira permanente no CS, colocando mais cinco, representando os cinco continentes; e eliminar, ou pelo menos disciplinar rigorosamente, o uso do “poder de veto” dos atuais cinco membros permanentes (China, EUA, França, Inglaterra e Rússia). Não vai ser fácil, mas a paz mundial depende disso.

Omar El Seoud

elseoud.usp@gmail.com

São Paulo

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HABITAÇÃO POPULAR

Sob o título Mais casas, menos carros (17/7, A3), o editorial do Estadão aborda uma situação óbvia ululante, que é o governo se preocupar em financiar os chamados “carros populares” em lugar da habitação popular. Primeiro porque a casa é mais importante que um veículo, segundo, porque pelas melhorias aplicadas nos carros em função da segurança dos usuários, além de acessórios eletrônicos úteis, eles alcançaram preços que dificilmente poderão ser classificados como populares. Também serão mais veículos para aumentar a poluição por gases do efeito estufa, com os combustíveis fósseis. Considerando a carência habitacional no País, o financiamento de casas para a população de baixa renda é muito mais importante do que um veículo. Eu acrescentaria ainda casas com placas fotovoltaicas para gerar a própria eletricidade e adicionar à rede de transmissão a sobra gerada. Com o potencial do País em eletricidade fotovoltaica e eólica, chega a ser sandice não o aproveitar. Nós temos duas usinas atômicas na pior região possível, próxima às duas cidades mais importantes do País, além das mais industrializadas. O presidente Lula tem viajado por diversos países como paladino do meio ambiente, porém na prática não tem demonstrado isso, a ponto de não proibir de imediato a pretensão da Petrobras de pesquisar a extração de petróleo do pré-sal na região da foz do Rio Amazonas. Ao contrário das demais empresas, a petroleira brasileira não vem diversificando a sua produção para a eólica e a fotovoltaica. O planeta continua se adaptando às novas condições e, este ano, com o surgimento do El Niño, já vai demonstrando que a sua nova realidade não vai ser boa para nós humanos. Urge tirar os moradores das encostas, pois não poderão mais ser habitadas por serem áreas de risco permanente.

Gilberto Pacini

pacini0253@gmail.com

São Paulo

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DESPERDÍCIO DE VERBA PÚBLICA

Lendo o editorial Mais casas, menos carros e a manchete na mesma edição, Supersalários custam por ano R$ 3,9 bilhões aos cofres públicos (17/7, primeira página), chego à triste conclusão de que, neste país, com mais de 10 milhões de brasileiros passando fome e outros 5,8 milhões que não têm moradia digna para viver, os recursos dos contribuintes estão sendo consumidos por quem não precisa. Ou seja, fruto da ineficiência administrativa e da demagogia dos governos. Ora, Lula, que em boa hora reativou o programa Minha Casa, Minha Vida, ao mesmo tempo desperdiça R$ 1,8 bilhão subsidiando compra de carros (ainda deseja lançar programa para compra de eletrodomésticos). E, das estranhas e disfarçadas verbas indenizatórias, Estados e governo federal gastam R$ 3,9 bilhões por ano, o que beneficia mais de 25 mil servidores públicos que não deveriam receber nada além do valor do teto de seus salários, de R$ 41,6 mil, ou o mesmo que 32 salários mínimos por mês. Se o atual governo utilizasse esses R$ 5,7 bilhões (R$ 1,8 bilhões mais R$ 3,9 bilhões) para subsidiar a compra de casas da faixa 1, poderia financiar a construção de mais 92 mil casas, já que com R$ 8 bilhões está subsidiando 130 mil imóveis para famílias de baixa renda. Esse desperdício de recursos públicos mal alocados é um dos piores vícios da nossa classe política.

Paulo Panossian

paulopanossian@hotmail.com

São Carlos

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JUDICIÁRIO ENFERMO

O ministro Gilmar Mendes já foi responsabilizado em sessão ao vivo e a cores pelo então presidente da Corte Suprema de estar presente na mídia subtraindo a credibilidade do Judiciário brasileiro e, pela mesma autoridade, de agir em plenário do Supremo Tribunal como se estivesse se dirigindo aos seus capangas do Estado de Mato Grosso. Além disso, se notabilizou por conceder habeas corpus e colocar em liberdade corruptos e criminosos de grosso calibre, aos quais são atribuídos delitos de grande alcance, origem indireta e, às vezes, direta da morte de inúmeros cidadãos. Outro integrante do sagrado colegiado, Luís Roberto Barroso, acaba de se apresentar como autêntico militante ao declarar, travestido de gladiador político: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. São dois sinais, entre outros, que não deixam dúvidas de que o órgão máximo do Poder Judiciário está enfermo e precisa de tratamento urgente.

Paulo Roberto Gotaç

pgotac@gmail.com

Rio de Janeiro

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RUMO AO DESCONHECIDO

Sobre o editorial A irresponsabilidade do Sr. Barroso (15/7, A3), os estudiosos de Teoria Política e de Direito Constitucional devem estar se perguntando por que um juiz da mais alta corte de Justiça do País, homem reconhecidamente inteligente e preparado, soltou aquela pérola, “derrotamos o bolsonarismo”, em um congresso da UNE. A fala de um juiz, que devia se resumir apenas aos autos do processo, para manter a devida equidistância das partes, a imparcialidade e o simbolismo da Justiça, como a deusa de olhos vendados, é a prova notória das tentações e consequências nefastas do ativismo judicial, tornando-se um Poder descontrolado, quando se pensa na tripartição dos poderes que Montesquieu legou à democracia moderna contra a tirania. A causa do sintoma de grave doença – talvez a primeira grande crise de nossa jovem democracia – pode ser os partidos que exerceram o poder nos últimos 20 anos e não tiveram apreço pelo Estado Democrático de Direito. A busca de hegemonia a todo o custo rompeu o equilíbrio com todas as suas consequências. Não se pode se esquecer de que o Partido dos Trabalhadores, que governou o País por 13 anos, recusou-se a assinar a Constituição de 1988, só o fazendo a pedido de Ulysses Guimarães, assim como Jair Bolsonaro, um saudosista do regime militar, que desfigurou ainda mais o equilíbrio dos Poderes, gerando um semipresidencialismo de compadrio. O que vemos é um país caminhando a passos largos rumo ao desconhecido, pois nem o Executivo, e tampouco o Legislativo, não consegue enxergar a necessidade premente de um plano eficaz em favor da educação pública, que torne a saúde uma realidade (vide artigo ‘Os planos de saúde estão mortos. Vivam os planos!’, 17/7, A4), que resgate a segurança pública, sem falar no desperdício dos impostos arrecadados com gastos excessivos com os Três Poderes. O que se vê são confabulações sobre quem ocupará cargos e controles de orçamentos, se partido A ou B, mas não se conhece de fato o plano de governo, esse desconhecido. Será que o Brasil, que tem um potencial econômico incrível e uma sociedade civil dinâmica, não terá governos à altura de seus desafios? Ficaremos pelo caminho, sem planos estratégicos para romper a desigualdade social, a frágil educação pública, a insegurança com milhares de mortos, o roubo e a corrupção? Ficaremos reféns de um Legislativo de homens ávidos por cargos e mordomias e de um Poder Judiciário que segue a reboque, dançando conforme a música, sem se ater que os homens passam? Quando pensávamos que podíamos avançar, estamos regredindo em um mar ideológico que não consegue romper o atraso mental.

Paulo Chiecco Toledo

pct@aasp.org.br

São Paulo

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REFORMA DO SISTEMA PRIVADO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE

As matérias publicadas no Estadão (Ações contra planos de saúde voltam a subir após a pandemia, 16/7, A14-A15) a respeito da crise enfrentada pelos planos de saúde suscitam as seguintes observações, tendo em vista terem enfatizado todos os problemas desse setor sem terem oferecido uma solução, além do reconhecimento da necessidade de uma reforma estrutural desse sistema privado de assistência à saúde. O fulcro do problema que afeta o maior segmento dos planos de saúde que cobram mensalidades cada vez mais fora do alcance financeiro de seus contratantes reside em que são meros intermediários/seguradores entre os prestadores de serviços médicos de um lado e os contratantes/segurados do outro. Esses planos/seguradoras não têm controle sobre a extensão, os custos e a eficiência desses serviços, não na sua eficacidade mas na exigência de serem prestados da maneira mais eficiente e econômica, isto é, sem excessos de pedidos de exames, sem a realização de cirurgias dispensáveis, solicitados por médicos terceirizados não comprometidos com os custos envolvidos, bem como o atendimento de pronto-socorro prestado dentro de custosas estruturas hospitalares. O menor segmento dos planos de saúde que não apresentam esses problemas e até são economicamente bem-sucedidos são aqueles que prestam diretamente por meios próprios a quase totalidade dos serviços médicos, isto é, consultas, exames, atendimento de pronto-socorro/ambulatório e cirurgias. Em cidades do interior de algum porte é comum o maior hospital da cidade oferecer planos de saúde abrangentes e acessíveis, com todos os serviços sendo prestados pela própria estrutura. Na capital de São Paulo, os planos da Prevent Senior oferecem a cobertura abrangente especificada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para um público até recentemente formado exclusivamente por idosos, a um custo acessível para a classe média, marginalizada pelos demais planos tanto pela negativa em atender segurados individuais como pela prática de mensalidades exorbitantes. A grande diferença entre esses dois esquemas de prestação de serviços médicos é que os primeiros, a despeito de mensalidades crescentes e relativamente altas, estão operando no vermelho, e os segundos, a despeito de mensalidades bem acessíveis e regidas pela ANS, conseguem operar com lucro. Uma outra importante diferença entre esses dois grupos é que no segundo, onde é mantido um prontuário do paciente, não há a paparicação de consultas estendidas em que o paciente relata a história de seu mal-estar e se pedem exames desnecessários; o atendimento é mais objetivo e eficiente, realizado dentro de uma média prescrita de tempo e com o mínimo necessário de exames. Tudo com o merecimento de nota bem elevada na avaliação da ANS. O episódio da CPMI da epidemia que resultou na crucificação da Prevent Senior não levou em conta o fato de seus associados serem todos idosos e portanto mais expostos aos riscos extremos do contágio, provocando condições operacionais imprevisíveis e difíceis de enfrentar. Houve também a torcida de oposição setorial incomodada com a entrada da empresa no mercado carioca, a pedido da ANS, que cobrava maior cobertura geográfica. A simples comparação entre esses dois grupos de planos de saúde deveria apontar para o diagnóstico da inviabilidade do primeiro, tanto para os próprios quanto para seus associados/segurados, e a prioridade a ser dada a planos que prestem diretamente seus próprios serviços, de forma eficiente e muito mais econômica. Quem deveria promover uma reforma radical nesse setor seria a ANS, ao solicitar aos grandes grupos de prestação de serviços médicos organizarem-se para lançar através de suas redes hospitalares e de medicina diagnóstica planos de saúde próprios, individuais e coletivos, baseados em parâmetros de prestação de serviços mais eficientes e econômicos, ao exemplo de outros planos que operam da forma direta. A atuação direta desses grupos resultaria na “morte” da maioria dos atuais planos, o que seria o objetivo almejado. Dessa forma seriam mais viabilizadas e priorizadas coberturas regionais e/ou locais. A exigência atual da ANS, que é pontuada na sua avaliação, de que todos os operadores tenham cobertura nacional deveria ser substituída por uma cláusula obrigatória de reembolso caso atendimentos médicos fossem realizados no país fora da área de atuação do prestador de serviço. Seria interessante conhecer a posição da ANS relativa a uma proposta de reestruturação setorial desse porte.

Elie R. Levy

elierlevy@gmail.com

São Paulo

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INFLAÇÃO MÉDICA

A coluna Planos de saúde: o problema é maior (17/7, B19) expôs os problemas de sempre, entre os quais a inflação médica, cujos números jamais são publicamente expostos nem auditados, a ocorrência de fraudes, a ampliação legal na realização de tratamentos e outros, para concluir que os consumidores devem se conformar com os aumentos avassaladores e arrumar recursos, não se sabe de onde, para sustentar o sistema em “prol do bem comum”. Tal é o enfoque, reiterado e mal disfarçado, das empresas que atuam no setor. Porém, outro artigo (‘Os planos de saúde estão mortos. Vivam os planos!’, 17/7, A4) abordou o tema sob outra ótica, trazendo à baila defeitos na concepção e na gestão das empresas do setor, que, estes sim, contribuem para a desestruturação do sistema. É evidente que os planos não foram concebidos sob os valores assistenciais e da saúde, e que, sob outro aspecto, sequer se estruturaram com base em cálculos atuariais reais e auditáveis. São empresas voltadas ao ganho financeiro imediato e concebem os usuários de forma massificada, daí por que a sua única opção de lucros consista nos aumentos insustentáveis dos seus preços. É essa falha estrutural que dá margem às supostas fraudes ou abusos dos usuários. A título de exemplo, os tratamentos inovadores e custosos indicados por alguns médicos, fora do rol da ANS. A resposta habitual é a negativa – gerando a judicialização – e jamais a análise individual e apresentação de alternativas equivalentes ao usuário. E assim também a realização de exames médicos repetidos e desnecessários, a emissão de notas fiscais duplicadas. Parece, porém, que se prefere manter essa estrutura, para não se abrir à avaliação pública e ao respectivo controle os dados da “inflação médica”, o que permite a presunção de que é um mero subterfúgio para o aumento dos custos. Uma reforma legislativa deverá ser realizada com base nos problemas e nos princípios levantados pelo autor do segundo texto, Thiago Lavras Trapé, e não para simplesmente facilitar os sucessivos aumentos dos prêmios securitários, como almejam as empresas concebidas com o intuito da predação fácil e imediata.

Celso A. Coccaro Filho

ccoccar@gmail.com

São Paulo

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ASPARTAME - CONSUMIR OU NÃO?

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado recentemente indica que consumir refrigerantes dietéticos, assim como outros produtos que contenham o aspartame, poderá levar o usuário a contrair câncer. O aspartame está presente em cerca de 6 mil produtos, como pasta de dente, chicletes, iogurtes e balas para tosse. O limite aceitável de ingestão diária do aspartame é de 40 miligramas por quilo de peso corporal segundo o mesmo relatório da OMS, explicando que um adulto pesando 70 quilos precisaria tomar mais de nove e até 14 latas de refrigerante diet por dia para que pudesse excedê-lo. O problema é que, após anos de liberação, os estudos avaliados somente agora apontam que pode provocar uma doença com chances de cura pequenas. Uma lata de refrigerante diet normalmente contém entre 200 e 300 miligramas do adoçante. O estudo vem sendo feito ao longo dos anos, pois, em 2019, um painel consultivo da ONU destacou o aspartame como tendo “alta prioridade” para revisão. O estudo, embora não conclusivo, indica que o seu consumo pode ser cancerígeno em humanos. Mas a pesquisa e as avaliações com pacientes que aceitaram participar do estudo continuam. No entanto, é bom levar em conta que se há indício, mesmo que mínimo, é preciso cautela. E, como diziam os mais antigos, “cautela e canja de galinha (pleonasmo) não fazem mal a ninguém”. Pelo sim, pelo não, evitar consumir produtos com aspartame já contribuiria para um corpo menos propenso a ter um câncer.

Gregório José

gregoriojsimao@yahoo.com.br

São Paulo

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UNIVERSIDADES ESTADUAIS

Muito pertinente a defesa que o Estadão faz desse patrimônio paulista que são suas universidades estaduais (A verdadeira autonomia das universidades, 18/7, A3). Importante que o ensino público, gratuito e de qualidade seja preservado, mesmo com as mudanças arrecadatórias de impostos. Não podemos sequer cogitar que possa haver alguma leve defesa de privatizar as universidades paulistas. Se houver algum pagamento de mensalidade, como preconizam alguns oportunistas e detratores do bem público, há alguma dúvida sobre quem será o mais prejudicado?

Adilson Roberto Gonçalves

prodomoarg@gmail.com

Campinas

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JOÃO DONATO E O SINCOPADO

Um minuto de silêncio em homenagem a João Donato, falecido na segunda-feira, 17/7, um dos grandes talentos da MPB. Assim como João Gilberto criou uma nova batida de violão – a bossa nova –, Donato criou um jeito diferente de tocar piano – o sincopado, misturando o toque do jazz que conheceu quando viveu nos EUA com um balanço bossanovista, resultando num toque diferenciado e único. Viva João!

J. S. Decol

decoljs@gmail.com

São Paulo