De Nyon, Suíça
O pão de queijo desembarca no país do queijo – a Suíça – e ganha contornos de um produto prêmium, servido em restaurantes estrelados no Guia Michelin e em sofisticadas boulangeries. A iniciativa é de um casal de brasileiros – Jussara e Alex Gusmão – que abriram uma fábrica na cidade de Nyon e já contam com mais de 60 pontos de vendas do pão de queijo pelo país alpino.
Se durante décadas diversas tentativas de companhias e de empresários fracassaram em introduzir o pão de queijo na Europa, o casal optou dessa vez por uma estratégia diferente: transformar o produto em um alimento com características suíças, um salto que não exigiu mudanças radicais nem na receita e nem no visual do produto oferecido.

O polvilho ainda está presente e, nas últimas semanas, chegou até Nyon em um carregamento de 3 toneladas para abastecer a expansão dos negócios da família Gusmão. Mas o queijo usado no Brasil foi substituído pelo gruyère, dando até à embalagem uma imagem reconhecida de todos os suíços e europeus. “Estamos usando um produto tradicionalmente brasileiro e explorando a paixão dos suíços pelo queijo”, disse Alex Gusmão.
Segundo a Federação Internacional do Leite, a Suíça está entre os maiores consumidores de queijo per capta do mundo, com uma média de 22 quilos por ano. Mas, até agora, o pão de queijo era um produto que se limitava a atender à população de brasileiros no exterior. E, mesmo assim, quase que exclusivamente em lojas de imigrantes, com produtos importados.
Foi para esse público que a mineira Jussara começou a preparar seus pães, a partir de uma receita de sua avó e na cozinha de sua casa. Mas, diante da demanda e dos planos de expansão, o casal abriu uma pequena fábrica, importou máquinas do Brasil, Itália e França e costura uma ampla rede de distribuição.
No primeiro mês de produção “industrializada” em maio, as vendas somaram 300 quilos, quando o plano era de atender apenas 120. O plano é o de saltar 600 quilos de pão de queijo por mês até o final do ano. Isso, em unidades, equivale a 300 mil pães de queijo.

Ao contrário de outras tentativas frustradas de introduzir o produto ao gosto europeu, Jussara e Alex optaram por iniciar a distribuição não por supermercados. Mas por locais sofisticados, como "epiceries" e conhecidas boulangeries de Genebra e Lausanne.
Outra estratégia foi a de entrar como um produto oferecido em locais de luxo. Um deles já comprou a ideia: o restaurante Auberge du Lyon D’Or, com uma estrela no Guia Michelin e que já explora servir o pão de queijo com salmão, caviar e champagne.
A adaptação ao gosto não se resumiu em colocar o queijo gruyère. A água foi substituída por leite, a margarina por óleo de girassol e a textura interior ficou mais consistente. “É um produto mais leve”, explicou Jussara, que não descarta começar a testar novos queijos no futuro. Todos suíços.
Na embalagem, o nome em português “Pão de Queijo” foi mantido. Mas com traduções em alemãoKäsebrötchen ou em italiano Pane al Fromaggio.
No plano de expansão, o próximo passo será o de ganhar os supermercados e redes. O pacote com 20 unidades será vendido por 15 francos suíços, valor equivalente a pouco mais de um lanche no McDonald's. “Esse é um produto premium, de alta qualidade”, explicou Alex, que planeja uma série de eventos de degustação para apresentar o produto.
O que Jussara não abre mão, porém, é de uma foto de sua avó mineira no verso da embalagem que logo chegará aos supermercados.
No material de distribuição da empresa, uma breve história do pão de queijo é contada, com uma receita de mais de 200 anos. Os folhetos em francês concluem o percurso com uma constatação: mesmo a 8908 quilômetros de Minas Gerais, “a história do pão de queijo continua”.

