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Comida

Que saudades dos Figos Ramy!

Por J. A. Dias Lopes

Que saudades dos Figos Ramy!Foto:

A doçaria popular brasileira tem uma nova sobremesa de sucesso – se podemos chamar assim uma receita surgida em meados do século passado e cujo preparo doméstico se espalhou nas últimas duas décadas. Para comprovar seu prestígio, basta acompanhar os programas de culinária da TV (Ana Maria Braga e Palmirinha já ensinaram a prepará-la) ou acessar sites e blogs voltados ao forno e fogão. Referimo-nos aos figos rami – passas carnudas, embebidas em calda tão grossa que parece mel, feitas com a primeira fruta citada na Bíblia, quando Adão e Eva perceberam estar nus e cobriram as vergonhas com as folhas da figueira (se é que não eram as da bananeira, como se afirma agora).

Curiosamente, os figos rami tiveram origem industrial. O doce foi lançado no final de 1945, em latas redondas, pela Companhia Industrial de Conservas Alimentícias – Cica. Eram os cobiçados Figos Ramy. As passas vinham dispostas lado a lado na embalagem, apertadas, úmidas e escuras, porém brilhantes. A clientela ávida abria a embalagem com imenso prazer e comia os figos em passa puros, usando garfo e colher (para não desperdiçar a calda), ou com a mão, segurando-os pelo cabinho. Harmonizava-os com suspiro, chantilly ou sorvete de creme. Também combinavam com requeijão cremoso e queijo de minas. Hospedado no antigo Hotel Ca’d’Oro, de São Paulo, na década de 1960, o pintor Di Cavalcanti (1897–1976), apaixonado pelo doce, servia-o com fatias de laranja aos amigos e colecionadores.

Os Figos Ramy Cica permaneceram no mercado até o final da década de 1980, pouco antes de a empresa ser vendida ao Grupo Ferrucci (hoje pertence à Unilever). “Era muito caro produzi-los”, explica Salvador Messina, seu último vice-presidente. “Os figos, sempre do tipo roxo, vinham primeiro da fazenda dos Cardia, a seguir de Valinhos, e deviam ser maduros, porém firmes. Havia muito descarte. Portanto, o custo era alto”. Por economia e saudade, as pessoas começaram a preparar os figos rami em casa. As receitas mandam usar a panela convencional ou de pressão. As frutas são afundadas no açúcar cristal, com os cabinhos para cima, e ficam horas cozinhando.

Como a CICA grafava o nome do seu produto com y e a pronúncia da última sílaba era estendida, muitos atribuíam à receita origem francesa, libanesa ou turca. Entretanto, ela nasceu perto da sede da empresa, em Jundiaí, São Paulo. Na periferia da cidade havia uma vila chamada Rami, hoje bairro populoso. Ali se cultivou o rami, uma forrageira que é também matéria-prima têxtil. Com as suas fibras se fabrica um tecido confundido com o linho. Na Vila Rami existia uma fazenda pertencente à família Cardia, que tinha uma cerâmica e muitas figueiras-comuns. Carlo, um dos seus empregados, transformava os figos em passas de sucesso comercial. Secava-as no forno da cerâmica e as embalava em papel celofane.

Um dos fundadores da CICA, o siciliano Antonino Messina, provou o doce e ficou encantado. Especialista em conservas, resolveu industrializá-lo. Mas precisava superar dificuldades técnicas. Então, contratou Carlo, mais um confeiteiro italiano chamado Magnani. O trio desenvolveu um método de preparo industrial. Hoje, encontramos à venda outras marcas industrializadas de figos rami.

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RECEITA – Figos rami na panela de pressão

Ingredientes

30 figos roxos maduros, porém firmes

1kg de açúcar cristal

Preparo

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Lave bem os figos, mantendo os cabinhos. Escorra.

Com o auxílio de uma faquinha afiada, faça cortes em forma de x na parte inferior dos figos.

Em uma panela de pressão, vá distribuindo os figos (com os cabinhos para cima) e o açúcar em  camadas, começando e terminando com o açúcar.

Tampe e leve ao fogo sem água. Quando a panela começar a chiar, deixe por mais 2 minutos no fogo. Depois, desligue e mantenha a panela fechada por mais uns 30 minutos.

Sirva os figos frios, com a calda que se formou.

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Rendimento: 30 passas

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