Meio século de história merece comemoração, ainda mais em Portugal onde apenas 5% das empresas familiares sobrevivem até a segunda geração (no Brasil, a propósito, a porcentagem ronda aos 30%). Mas como celebrar os 50 anos de uma vinícola? A primeira ideia é elaborar um vinho especial para a data. E assim fez a Herdade do Esporão, vinícola fundada em 1973 pelos portugueses José Roquette e Joaquim Bandeira (ao longo dessas cinco décadas, Roquette acabou adquirindo a participação do sócio).
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O resultado é um tinto único, elaborado com uvas da safra de 2022 das vinícolas Esporão e Herdade dos Perdigões, no Alentejo; Quinta dos Murças, no Douro, e Quintal do Ameal, na região dos vinhos verdes, todas de propriedade da família de José Roquette (não confundir com Jorge Roquette, irmão de José, que é dono da Quinta do Crasto, no Douro, outra marca também de sucesso no Brasil). O vinho é um blend de 79,5% de alicante bouschet, cultivada no Alentejo; 19,5% de touriga franca, vinda de vinhas verticais no Douro; e 1% de uva branca loureiro, da parcela do Marejão, do Ameal. As uvas foram vinificadas em suas origens, e o blend e o estágio de seis meses em barricas de carvalho francês usadas, de 500 litros, foram feitos no Esporão.
VINHO E AZEITE
O brinde da festa não se resumiu apenas ao vinho único que, infelizmente, não deve chegar ao Brasil, segundo a Qualimpor, importadora da marca para o país. Ou ao azeite do olival de Cordovil, também lançado durante as comemorações dos 50 anos. É o primeiro engarrafamento desta variedade, plantada em 2019, na filosofia da vinícola de proteger e valorizar variedades autóctones portuguesas.
FICÇÃO OU REALIDADE
As comemorações das cinco décadas foram marcadas pelo lançamento de um livro, que mostra a filosofia particular da herdade, que tem vinhedos cultivados de maneira biológica (e são cerca de 700 hectares entre vinhas, olivais e demais culturas) e toda a comunicação voltada para temas como “Mais. Devagar”, da relação das pessoas com o seu entorno “Os homens são os homens e as suas circunstâncias. No Esporão, há cultura, há espíritos e há valores”, define José Roquette.
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Assim, “Terra – uma história do Esporão”, escrito pelo português João Pedro Vala, não é um livro documental, com uma abordagem histórica e factual, como se espera para a data. A opção foi por trazer uma história romanceada, narrando a trajetória da vinícola em 50 histórias, inspiradas em acontecimentos reais e também nos mitos que envolvem o Esporão. Logo nos primeiros capítulos está a unificação da herdade, que aconteceu em 1267. O início também narra a nacionalização da vinícola, com o golpe de 1975, e da prisão de José Roquette, por ser um “sabotador econômico”, e a volta da propriedade a seus donos em 1979.
Mas o destaque dos 50 capítulos está na narrativa, que mescla os acontecimentos da vinícola, muitos dos quais não se sabe se reais ou fictícios, com uma linguagem coloquial e com fatos da vida particular do autor. Em um deles, é dito que João Dotti, então CEO da herdade, decide que é hora de sair e deixar a empresa para a família Roquette quando encontra José montando lego com o neto em seu escritório. Ou trata a dúvida de João Roquette, hoje CEO da empresa, de se trabalharia no Esporão ou seguiria a carreira de músico. Porque assim como a vinícola procura uma maneira própria de elaborar seus vinhos, é preciso encontrar uma forma para contar a sua história.
A GRANDE FESTA
Em tempo, as comemorações dos 50 anos acontecem todo este ano, mas no final de junho teve uma grande festa, como a data pedia, na própria Herdade do Esporão, em Reguengos, no coração do Alentejo. E, para a ocasião, a herdade foi decorada apenas com produtos sustentáveis ou recicláveis. Por exemplo: os puffs para os 300 convidados eram feitos com feno, assim como a decoração do palco. E todos eram recebidos com uma garrafa de vidro para a água (nada de plásticos). Porque a mensagem de sustentabilidade é uma das metas da vinícola.