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Mercado de produtos orgânicos na Vila Madalena é modelo de negócio

Perto de completar 10 anos de portas de abertas, o Instituto Chão, especializado em orgânicos, segue firme na proposta da autogestão e parceria com pequenos produtores

FR45 SAO PAULO 22/04/2024 - PALADAR - INSTITUTO CHÃO - Fotos gerais do mercado Instituto Chão, na Vila Madalena. Foto: Felipe Rau/Estadão. Foto: Felipe Rau/EstadãoFoto: Felipe Rau/Estadão

Quem chega ao Instituto Chão, na Vila Madalena, encontra uma movimentada feira e um dos mais completos mercados de produto orgânicos da cidade. O público é sortido. O jovem casal em busca de produtos livres de agrotóxicos para o cardápio do bebê, a senhorinha fazendo suas compras semanais, pessoas em busca de opções para o preparo de pratos veganos ou vegetarianos, carnívoros com listas nas mãos em busca de filés de frango, bifes, peixes e até salsichas preparadas com carne orgânica, sem aditivos, corantes e outros ingredientes comuns aos produtos industrializados.

O mercado que está perto de completar 10 anos de portas abertas em 2025 está em constante processo de mudança. Neste momento, a equipe do Chão conta com 32 trabalhadores e 4 estagiários de ciências socio-ambientais e sociologia. O negócio começou só com a feira, em um ambiente quase caótico, mas que logo de cara conquistou a freguesia com produtos, além de nutricionalmente corretos, com o valor agregado da procedência. Quase tudo no Chão é proveniente de processos de agricultura familiar e de pequenos produtores.

Além da área da feira, o Instituto Chão tem outra reservada a produtos que vão de carnes orgânicas a produtos de limpeza Foto: Felipe Rau/Estadão

“Buscamos sempre a diversidade: produtos da reforma agrária, de povos indígenas, de agricultura familiar, com certificado de orgânico, produtos artesanais de produtores locais e também trabalhamos com algumas marcas de orgânicos mais estruturadas”, conta Fábio Mendes, um dos idealizadores do projeto.

O Chão é um negócio em que todos os trabalhadores ganham o mesmo salário. As funções de cada um são realizadas em esquema de rodízio. Fábio Mendes, um dos idealizadores do projeto explica: “As tarefas são rotativas, um dia você está no escritório, outro no recebimento de mercadoria, outro no atendimento; algumas pessoas também trabalham no sítio que começamos a tocar na pandemia, onde fazemos um trabalho de reflorestamento, de plantio... Ou seja, uma equipe multifuncional, com expertise em todas as áreas do negócio: financeiro, atendimento ao cliente, logística, marketing, distribuição, pedidos...

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Como essa história começou?

Mendes conta que o estatuto do Chão foi feito dentro do hospital em que os idealizadores do projeto trabalhavam. Alguns na área médica, outros na administração. “A ideia era transformar o Chão em um local para trabalhar com saúde de uma maneira não-lucrativa e acabamos optando por atuar na cadeia básica de alimentos”, conta Mendes.

O engajamento político também está incluído no pacote desde a estreia do negócio. O Chão é uma organização sem fins lucrativos. Ou seja: o que entra de dinheiro é usado para pagar os trabalhadores e para fazer o negócio girar. “Nosso objetivo não é o lucro é o trabalho em si, luta política é o que fazemos todos os dias”, explica Mendes.

Até pouco tempo, antes da mudança para o espaço em frente ao ocupado pela versão inaugural do instituto, os valores da gestão do negócio eram apresentados escancarados em uma lousa gigante na área dos caixas da loja. Antes de pagar a conta, os consumidores sabiam exatamente o que era gasto para que a operação se mantivesse ativa. Dados de importância considerável, uma vez que o cliente do Chão, até hoje, define a porcentagem além do valor de custo que pagará pela compra.

A área reservada aos orgânicos provenientes da agricultura familiar, produtos da reforma agrária e de povos indígenas  Foto: Felipe Rau/Estadão

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Coletivo de compras

“Somos um grande coletivo de compras”, explica Mendes. “Mostramos o quanto custa um produto do plantio até ele chegar às prateleiras da loja”. Na prática, os valores de custo dos produtos aparecem nas gôndolas, mas o consumidor define na hora de pagar se vai adicionar os 30% sugeridos sobre o valor de custo à conta final. Mendes explica que a média que conseguem na hora do vamos ver é de 27%.

Pergunto se consumidores pouco habituados a essa prática estranham essa opção de escolha. Mendes diz que o Chão busca esse estranhamento mesmo, de a pessoa escolher o quanto ela vai pagar pelo produto. E completa: “Estranho é como a gente funciona num mundo capitalista”.

E o que aconteceria se as pessoas pagassem mais de 30% sobre o valor de custo dos produtos? “Com a porcentagem maior, poderíamos realizar uma feira a preço de custo em locais periféricos da cidade, por exemplo, ou criar fundos para reduzir o custo dos produtores”, diz Mendes.

Atualmente, o Instituto também trabalha com a doação de alimentos para várias cozinhas solidárias e para ações como a de distribuição de marmitas para a população de rua. “Aqui nada é jogado fora”, esclarece Mendes.

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No dia em que esta reportagem foi escrita, os valores abertos no site do Chão eram os seguintes: R$ 680.900,00 (total de custos da operação), R$ 2.725.500,00 (previsão de vendas de produtos), 25% (necessidade mínima de arrecadação) e 30% de contribuição mínima sugerida ao clientes (para manutenção e ampliação: equilibra as contas e possibilita investimentos no projeto).

Para um negócio que partiu de um financiamento coletivo de 42 mil reais, os números provam que a auto-gestão tem funcionado muito bem, obrigada. “Para isso temos que fazer dar certo todo dia, com a equipe comprometida para rodar ao contrário do sistema”, acredita Mendes.

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