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Na mesa com Fred

Na mesa com Fred

Azeite: o ouro verde de Mendoza, que vai muito além da Malbec

Mendoza, na Argentina, não tem só vinícolas, a cidade foi a primeira da América Latina a se tornar uma indicação geográfica para azeite de oliva extravirgem em 2022

A inesquecível experiência de acompanhar de perto a olivocultura na região reconhecida pela produção de vinhos

 


Quem lê ou ouve o nome da cidade de Mendoza imediatamente a associa aos vinhos. Semanalmente, centenas de brasileiros viajam àquela cidade para visitar as inúmeras vinícolas da região, em voos lotados que retornam com caixas e mais caixas de vinhos.

Algumas pessoas não sabem -- ou não têm ciência do grau de excelência do produto -- que a cidade possui uma excelente vocação para a produção de azeitonas e muitos produtores sérios fazendo um trabalho que, cada vez mais, atrai turistas para acompanhar o ótimo trabalho que vem sendo feito na região. Tanto que foi ela a primeira cidade da América Latina a se tornar uma indicação geográfica para azeite de oliva extravirgem, o que veio a ocorrer somente no ano de 2022.

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Seguindo essa tendência, o Na Mesa com o Fred de hoje viaja para lá, já que no último mês tive a feliz e inesquecível oportunidade de participar e acompanhar a colheita de azeitonas em Mendoza, especificamente na Finca Maipu da família Zuccardi (onde a plantação se iniciou no início dos anos 2000). Nesta época, anualmente, a família organiza o Festival Novello Zuelo, uma festa para celebrar a colheita e a produção do premiado azeite argentino Zuccardi.


Miguel Zuccardi. Foto: Fred Sabbag

Para além da já consolidada produção de vinhos, Miguel Zuccardi (um dos três filhos de José Alberto Zuccardi e terceira geração da família ao lado de Sebastian e Julia) tomou para si, de 20 anos para cá, a preocupação em estudar e entender como colher, no mesmo solo que origina os bons vinhos da família, azeitonas que originassem azeites de igual qualidade e sucesso. Toda esta história, aliás, é contada no livro Oliva (Catapulta Libros) escrito por este que se tornou um dos produtores de azeite de oliva mais renomados da América do Sul.

Pois bem, o festival foi realizado no restaurante Pan y Oliva, dentro da Finca Maipu (a quase 40km do centro de Mendoza) e destino milhares de turistas anualmente, que, por óbvio, tem o azeite como ingrediente fundamental. O restaurante está localizado a poucos metros do lagar (onde está toda a aparelhagem para a produção do azeite), defronte ao olival e trabalha com cozinha de produto e respeito à sazonalidade. Recomendo fortemente a visita.

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Pan y Oliva. Foto: Federico Garcia

O início do festival se deu com a apresentação da peça teatral "Extra Virgen" (que tem o azeite e os olivais da família Zuccardi como inspiração), embaixo de oliveiras centenárias, coescrita e estrelada pelo renomado ator argentino Juan Leyrado e com músicos tocando ao vivo a trilha sonora da peça.

Peça teatral Extra Virgen. Foto: Fred Sabbag

No dia seguinte, a colheita de azeitonas Arauco e Arbequina (as mais predominantes dentre as mais de 90 espécies de azeitona plantadas pela família) em uma pequena parcela dos olivais espalhados a perder de vista - eis que a propriedade conta com 200 hectares de oliveiras - tornou lúdica e inesquecível a experiência. Até mesmo porque, foi aí que conheci as diversas etapas e todo o cuidado necessário à produção deste que, pessoalmente, entendo ser um dos ingredientes mais essenciais ao lado do pão.


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Novello Zuelo sendo engarrafado. Foto: Federico Garcia

Como para um litro de azeite de qualidade premium são necessários aproximadamente 10kg de azeitona, nem preciso detalhar a quantidade de azeitonas que tive de colher para ver, in loco, a produção imediata do azeite Novello Zuelo, o que ocorre em aproximadamente uma hora a partir da chegada das azeitonas ao lagar. O Novello Zuelo, aliás, é o mais fresco dos azeites da família e que é colocado à venda enquanto se produz a linha completa da marca.


Para encerrar as atividades, uma grande festa durante o dia, regada a boa comida que ficou a cargo do chef popstar Donato de Santis e vinhos da família Zuccardi, contou com a presença de personalidades argentinas entre os quase 200 convidados.

Mas como nem tudo são flores ou azeitonas graúdas, a despeito desse ouro verde proveniente das terras de Mendoza há um longo caminho a ser trilhado neste "novo mundo" do azeite. O primeiro, a meu ver, é educar o paladar dos consumidores para que possam identificar quão premium ou quão básico é o produto. Daí, consequentemente, surge o segundo desafio: a precificação do produto no mercado comparado aos azeites de menor qualidade (que, por questões econômicas, são o que abastecem as despensas em geral).

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Por óbvio, os azeites premium entregam muito mais ao consumidor do que os básicos e, por isso, reputo ser imprescindível um trabalho por parte de produtores e importadores para demonstrar que, na prática, o azeite "barato" sai caro.

E como a produção de azeite da Espanha responde por quase metade do que é produzida em todo o mundo - seguida por Itália, Grécia, Portugal e Turquia - aos argentinos interessa o mercado brasileiro em razão da proximidade e consequentemente do crescente consumo de azeite (que, pasmem, ainda é ínfimo em torno de 500ml per capta ao ano, frente a mais de 12 litros e 9 litros na Espanha e na Itália, respectivamente).

Mas como pessoas de sucesso atraem ainda mais desafios, pelo que acompanhei “in loco” tenho a certeza de que, em alguns anos, o cenário estará ainda mais favorável aos azeites premium da família Zuccardi.

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