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Restaurantes e Bares

Com dívidas se acumulando, rede de empórios Dean & DeLuca fecha lojas nos EUA

Famosa por reunir ingredientes especiais e produtos artesanais, rede aberta em 1977 perdeu algumas unidades e está fazendo mudanças no cardápio

A redeDean & DeLuca fez fama por reunir ingredientes especiais e produtos artesanais. Foto: Jeenah Moon/BloombergFoto: Jeenah Moon/Bloomberg

The New York Times

 A rede Dean & DeLuca foi inaugurada em 1977 como uma loja no centro de Manhattan que vendia mascarpone, vinagre balsâmico, radicchio e outros ingredientes dos quais a maioria dos americanos nunca havia ouvido falar, e muito menos menos provado. 

Com base na reputação de seus fundadores, Giorgio DeLuca e Joel Dean, que vendiam pratos finos em sua arejada loja do SoHo, a Dean & DeLuca se tornou uma marca global de empórios de comidas finas desde que abriu a primeira filial, em 2003, em Tóquio. Hoje, fora dos EUA, mais de 60 cafés e mercados Dean & DeLuca estão em funcionamento na Ásia e três no Oriente Médio. 

A redeDean & DeLuca fez fama por reunir ingredientes especiais e produtos artesanais. Foto: Jeenah Moon/Bloomberg

Mas, nos Estados Unidos, a rede, agora de propriedade de um magnata tailandês do ramo de imóveis, está afundando. Desde que foi comprada pela Pace Deveolpment, em 2014, a Dean & DeLuca vem descumprindo contratos de leasing (locação financeira), revogando patrocínios, fechando lojas na Carolina do Norte, Kansas e Maryland e atrasando sistematicamente o pagamento a fornecedores, que protestam com cada vez maior estridência. 

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Só na cidade de Nova York, pequenos fornecedores dizem ter centenas de milhares dólares atrasados para receber. Bien Cuit, uma padaria do Brooklyn conhecida por seus croissants, está cobrando US$ 75 mil; Colson Patisserie, especializada em macaron e outros doces,US$ 24 mil; Amy’s Bread, dos famosos bolos em camadas, US$ 51 mil.

“O pior é que muitos de nós, padeiros e confeiteiros, crescemos à sombra de Dean & DeLuca”, disse Eleni Gianopoulos, da Eleni’s Cookies, que processou a rede no ano passado por uma dívida de US$ 86 mil e acabou fazendo acordo para receber a metade. Eleni acusa a Dean & DeLuca de ganhar fama à custa de alimentos artesanais como os dela e depois tratar os criadores como peças descartáveis. “Ter nossos produtos nas lojas era uma honra, mas passou a ser um pesadelo”, afirmou. 

A empresa também tem grandes dívidas com fornecedores industriais como Imperial Dade, Chefs’ Warehouse e Baldor, que pararam de ampliar o crédito à Dean & DeLuca. 

Na semana passada, mais duas lojas americanas fecharam silenciosamente as portas, uma em Napa Valley, Califórnia, outra no Upper East Side de Manhattam. As sete lojas restantes nos Estados Unidos vendem cada vez mais Coca-cola e iogurte Chobani em lugar de equivalentes artesanais. 

Crise financeira

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A rede hoje é propriedade da Pace Development, empresa tailandesa cujo principal executivo é Sorapoj Techakraisri, membro de uma rica família de incorporadores. Techakraisri disse que a Pace atravessa uma “crise de liquidez” desde a compra da rede, mas continua comprometida com a Dean & DeLuca e se reestruturou recentemente para levantar mais capital. 

Ele disse que o grupo planeja começar a pagar fornecedores no mês que vem, mas admitiu que “talvez tenhamos que encolher um pouco para nos mantermos fiéis ao que a marca tem sido”.

Rede Dean & DeLuca fechou lojas nos Estados Unidos e está devendo a fornecedores. Foto: Yeong-Ung Yang/NYT

Techakraisridisse que ao adquirir a rede, em 2014, a Pace pretendia abrir centenas de lojas ao redor do mundo, ancorando a marca aos imóveis de luxo da Pace. A Dean & DeLuca anunciou acordos de patrocínio (depois revogados) com ícones esportivos, como o torneio de golfe PGA, do Texas, e o U.S. Open de tênis, de Nova York. A prestigiada rede de alimentos era estável, afirmou Techakraisri. 

Durante algum tempo, a Pace pôs dinheiro nas lojas da Dean & DeLuca de Nova York. O vistoso café no Meatpacking District, em NYC, custou milhões de dólares. Só aluguel, segundo fontes do setor imobiliário, está em torno de US$ 250 mil mensais. 

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Algumas dívidas com fornecedores nos EUA foram pagas em 2018. Mas agora eles estão sendo excluídos das renegociações de dívidas, segundo Keith Cohen, dono da Orwashers, uma antiga fornecedora de pães para a rede. Cohen cortou o fornecimento à Dean & DeLuca em abril, ficando com um saldo negativo de US$ 20 mil. “Não fui eu quem sugeriu a eles enterrar milhões de dólares na expansão da rede”, disse ele, “mas essa decisão está me custando dinheiro.”

Giorgio DeLuca, que não está mais diretamente envolvido com a Dean & DeLuca (Joel Dean morreu em 2004) disse que vem sendo consultado por Techakraisri desde que o tailandês adquiriu a rede. DeLuca acredita que Techakraisri admira a história e a identidade da marca. 

“Torço para ele restaurar a grandeza dos bons tempos”, disse ele. “Caso contrário, por que manter a rede funcionando apenas para vender Coca-Cola?”

/ Tradução de Roberto Muniz

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