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Histórias e experiências sobre o café

Um café para dividir

Um café para dividir

O novo clima e o nosso café de todos os dias

Efeitos do clima extremo se refletem nos preços do café.

Neste último dia 22, segunda-feira, duas das principais organizações de monitoramento climático, a Organização Meteorológica Mundial, vinculada à ONU, e a Copernicus, agência européia, confirmaram que Março de 2024 bateu recorde de calor pelo décimo mês consecutivo, sendo a Europa o continente que apresentou o aquecimento mais acelerado, com temperaturas aumentando num ritmo quase o dobro da média global.

Grande parte das normas ambientais e de segurança alimentar têm sido ditadas pelos países europeus como forma de garantir alimentos com boas práticas de produção, incluindo verificação de quando a área foi desmatada para essa finalidade. Exigências rigorosas, que boa parte da Europa também não consegue cumprir, como mostram os recentes protestos dos produtores europeus.

Cafezal em Brejetuba, ES. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal

Por exemplo, a legislação ambiental brasileira determina uma reserva legal mínima de 20% da área total, que de longe é o maior índice no mundo, além de definir critérios de preservação de nascentes e matas ciliares.

Tenho mantido minha rotina de viajar por diferentes regiões cafeeiras e é muito perceptível a preocupação dos produtores e entidades quanto às exigências tanto para exportação como para atender as principais torrefações no Brasil, que, da mesma forma, vem apertando critérios quanto à segurança alimentar. Os cafés oferecidos pelas principais torrefações brasileiras possuem hoje padrão muito elevado de segurança alimentar, permitindo que várias exportem com frequência.

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Todos os encontros, seminários e exposições do setor cafeeiro nestes últimos meses tiveram como tema central a discussão sobre a preservação do meio ambiente, o emprego de tecnologias baseadas em insumos biológicos e melhor aproveitamento dos recursos naturais.

Botões florais de cafeeiro. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal

 

 

É uma corrida contra o tempo e exige um elevado grau de compreensão e comprometimento de todos, não somente dos produtores, que são protagonistas e responsáveis pelo cumprimento dessas políticas, mas também do mercado, que deve reconhecer esses esforços e pagar dignamente como retribuição.

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Obviamente, o caminho a ser trilhado é longo. Existe muita contra informação e meias verdades, conhecidas como "greenwashing". Os modelos de certificação, por exemplo, muitas vezes têm em seus documentos apenas retrato de um dia perfeito, quando é realizada a inspeção, que também é bastante criticada por seu alto custo pelos produtores, o que nem sempre permite estender para aplicação na área total. Talvez seja o momento de rever os processos.

A recente sequência de La Niña seguida de um super El Niño neste ano criou um momento climático particularmente delicado para o cacau e o café com quebras de safra em diversos países em decorrência de perversa combinação de secas prolongadas e altas temperaturas.

O cacau está com suas cotações em patamares recordes, ultrapassando a impensável barreira de US$10 mil a tonelada, num momento em que o Brasil se prepara para sua colheita da safra 2024. A quebra da produção nos países africanos se deve aos efeitos de doenças agravadas pelo clima pouco favorável. Isso significa que os preços das barras de chocolate fatalmente serão realinhados, o que significa aumento de preços.

O Vietnã é o principal fornecedor de café no primeiro semestre de cada ano, junto com a Índia e a Indonésia, todos no Hemisfério Norte. Com produção em queda em razão do clima de poucas chuvas, teve maior dificuldade em fornecer grãos para a Europa devido aos conflitos no Oriente Médio, que obrigou que o trajeto à Europa sofresse desvio pelo Sul da África, encarecendo o frete e prolongando o tempo de viagem, que levou a um inédito aumento de preços dos canephoras, que acabou ditando os rumos do mercado do café.

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Por esse motivo, as exportações brasileiras tiveram um primeiro trimestre de grande movimentação, marcada pelos grandiosos números de Conilon exportado.

Pela primeira vez, mesmo que por poucas semanas, o mercado foi ditado pelo canephora (entenda-se Robusta e Conilon como variedades principais), numa importante sinalização.

Café. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

Como efeito, os preços do nosso café de cada dia devem sofrer alterações para cima, como já se observou ao longo dos últimos meses. A demanda pelos grãos continua firme, confirmado pelo crescimento consistente do consumo no mundo. A torcida é para que a produção possa atender o mercado, para que nosso ritual com o café de todos os dias permaneça.

 

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