O procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidiu não denunciar o influenciador argentino Fernando Cerimedo no inquérito do golpe. Ele afirma que, embora Cerimedo tenha divulgado notícias falsas sobre as urnas eletrônicas, a Polícia Federal não conseguiu provar que o argentino sabia que elas não eram verdadeiras e faziam parte de um plano maior que pretendia dar golpe de Estado no Brasil após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição de 2022.
Em uma transmissão ao vivo no dia 4 de novembro daquele ano, dias após o segundo turno, Cerimedo apresentou um documento apócrifo que constatava falsamente que as urnas tinham uma disparidade na distribuição dos votos: os modelos fabricados antes de 2020 não teriam sido auditados e davam mais votos para Lula na comparação com as urnas mais recentes, o que segundo o influenciador seria “estatisticamente impossível de justificar”.
O material foi produzido por pessoas que integravam a organização criminosa, que segundo o procurador-geral, era liderada por Bolsonaro e tinha como objetivo derrubar o governo eleito — além do ex-presidente, outras 33 pessoas foram denunciadas no inquérito do golpe nesta terça-feira. Para Gonet, a criação de uma narrativa de fraude eleitoral ajudaria a manter os bolsonaristas mobilizados nos acampamentos em frente aos quarteis e favoráveis às ações armadas.
“Apesar da comprovada divulgação de conteúdos infundados por Fernando Cerimedo, as investigações não esclareceram se este funcionou como vetor de propagação, em busca de engajamento virtual, ou se tinha domínio sobre o projeto doloso da organização criminosa”, justificou Gonet.
Um site de Cerimedo também publicou um texto que afirmava que a eleição brasileira havia sido roubada e citava “anomalias” nas urnas eletrônicas . De acordo com Gonet, o mesmo conteúdo falso que serviu de base para a publicação do site do argentino esteve na origem do pedido do PL para anular os votos depositados em urnas fabricadas antes de 2020.
O pedido do partido, que se aceito daria a vitória eleitoral a Bolsonaro, foi embasado num relatório do Instituto Voto Legal que foi manipulado para chega a essa conclusão.
“Não está demonstrado até aqui que Cerimedo sabia que o relatório era fabricado com inverdade”, argumentou o procurador-geral. A mesma justificativa foi utilizada por ele para não denunciar Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. A ação do partido para anular os votos foi rejeitada pelo ministro Alexandre de Moraes, que à época multou a sigla em R$ 22 milhões por litigância de má-fé. A decisão foi referendada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).