As atribulações de Dilma

Foi uma terça-feira negra para a presidente Dilma Rousseff: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu reabrir a ação proposta pelo PSDB que pede a cassação dos mandatos da presidente e do vice-presidente da República; o primeiro teste da fidelidade da base de apoio ao governo depois da “reforma” ministerial foi um vexame, com os parlamentares recusando-se a dar quórum para votação dos vetos presidenciais a medidas que prejudicam o ajuste fiscal; e o bloco parlamentar que teoricamente apoia o governo pode se dissolver com a decisão de cinco legendas (PP, PTB, PSC, PHS e PEN) de constituírem um bloco à parte, por se sentirem preteridas na redistribuição de cargos com a qual Dilma imaginava ter resolvido seus problemas de relacionamento com o Congresso Nacional. E a quarta-feira prometia ser ainda mais amarga, principalmente por conta de novo adiamento da votação dos vetos e da prevista votação do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito das contas do governo.

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Por Redação
Atualização:

A cada dia fica mais evidente que a crise política que mantém o governo paralisado está longe de atenuar-se. Até os petistas estão convencidos, embora poucos o admitam abertamente, de que Dilma está chegando ao fim da linha, restando apenas definir o modus operandi de seu afastamento.

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Trata-se de uma questão política que tem como pano de fundo uma crise econômica que não para de dar más notícias ao País. Dilma já demonstrou que não tem um mínimo de habilidade para lidar com o impasse político nem dispõe dos meios – inclusive um indispensável, que é um sólido apoio parlamentar – para promover um ajuste fiscal minimamente eficaz e, a partir daí, criar condições para a retomada do crescimento. Na verdade, Dilma não tem nem mesmo o comando político do governo, que hoje está nas mãos de um consórcio lulopeemedebista que dirigirá o País pelo menos até que Lula ou o PMDB, mirando 2018 e cada um no seu tempo, decidam que não precisam mais um do outro.

Pode haver quem acredite na possibilidade de Lula selar com o PMDB um acordo que permita empurrar a crise econômica com a barriga, adotando medidas populistas nas quais o chefão do PT é especialista, e chegarem juntos a 2018 com boas possibilidades de Lula ser reconduzido ao Planalto e os aliados peemedebistas passarem a desfrutar de um quinhão do poder ainda mais atraente do que aquele que hoje lhes cabe. Mas é mais fácil Lula apostar nessa fórmula do que o PMDB aceitá-la. Em primeiro lugar porque muitas lideranças peemedebistas – e entre elas está Michel Temer – estão convencidas de que a roda da política está girando a favor de uma candidatura própria à Presidência. Mas também pela boa razão de que, como a esmagadora maioria dos brasileiros, não confiam no PT.

O discurso petista, agora que o governo está à beira do precipício, enfatiza o respeito ao pluralismo democrático e a necessidade de união em torno dos superiores interesses nacionais. Na terça-feira mesmo Dilma Rousseff deitou falação em evento da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert): “Vivemos em um tempo em que é necessário defender (...) o direito ao contraditório, o equilíbrio na defesa de ideias, a imparcialidade nos julgamentos e o respeito à verdade factual”. E acrescentou serem essenciais “exemplos de serenidade, apaziguamento, respeito às diferenças, formação de consensos e busca de um ambiente mais ameno e amigável no País”. Um discurso muito diferente daquele com que, no auge do prestígio de Lula, os petistas tratavam os aliados com desdém e os adversários como inimigos. E ainda pregavam o “controle social da mídia”.

O que Dilma, Lula e o PT colhem hoje, portanto, é o resultado de tudo o que plantaram desde que chegaram ao poder, principalmente o sectarismo ideológico e a incompetência gerencial do poste inventado pelo grande chefe em 2010, como parte de seu programa de desmoralização das instituições em benefício do maléfico personalismo. Mas a crise econômica só poderá ser resolvida politicamente e o atual impasse político impede que se vislumbre com um mínimo de clareza o futuro do País a curto prazo. Desse futuro é bem possível que Dilma não venha a fazer parte, mas não há bola de cristal capaz de dar alguma pista sobre o que se pode realmente esperar. As eleições municipais do próximo ano talvez lancem algumas luzes sobre o caminho.