CONTINUIDADE X ALTERNÂNCIA
Após 12 anos seguidos de governo do PT, os eleitores foram às urnas divididos entre a vontade de mudança no poder e a defesa da atual gestão.
"Estou otimista. O país está caminhando para frente em tudo, não tem como regredir com Dilma", disse a professora universitária Maria Auxiliadora da Silva, de 48 anos, depois de votar em Manaus. "O PT tirou o Brasil do Mapa da Fome, isso é um orgulho."
A mudança de partido no poder, no entanto, foi defendida pelo médico baiano Tiago Nunes, de 32 anos, ao justificar o voto em Aécio. "Estamos cansados de 12 anos de governo do PT. Precisamos de uma mudança no Brasil. Precisamos basicamente de mais educação e saúde básica", afirmou após votar em São Paulo.
Em Pernambuco, Estado que foi governado por Campos em dois mandatos e onde Marina ficou em primeiro lugar na votação de 5 de outubro, o engenheiro de pesca Filipe Niero, de 30 anos, disse que ficou "impressionado" com o movimento pró-Aécio "justamente na terra de Lula".
Niero, no entanto, votou em Dilma. "Nestas eleições há muita coisa em jogo. A principal delas é a garantia da continuidade e ampliação dos avanços sociais", afirmou.
Em diferentes pontos do país, eleitores de Aécio foram votar em vestindo azul, verde e amarelo, alguns inclusive usando camisas da seleção brasileira, em referência às cores do PSDB, enquanto apoiadores de Dilma usaram o tradicional vermelho, a cor do PT.
Em uma escola do Lago Sul de Brasília, zona sul da capital federal, a dona de casa Gildicina da Rocha, de 27 anos, disse que escolheu Aécio para presidente por ele ser o candidato que representa mudança.
“Votei em Aécio porque tem que mudar, tem que melhorar... Estou insatisfeita, tem a questão do roubo de recursos públicos. A Dilma não fez o suficiente e ainda estragou o que foi feito antes”, disse ela, que registrou seu voto em um local em que várias pessoas foram às urnas vestidas de verde e amarelo.
Em São Bernardo do Campo (SP), berço do PT mas onde Dilma perdeu para Aécio no primeiro turno, o auxiliar de pedreiro Joaquim de Oliveira, de 47 anos, ressaltou a importância dos programas sociais do atual governo para os mais carentes.
"Votei na Dilma porque ela ajuda os pobres. Tenho quatro filhos, meus filhos estão na escola. Por mais que falem, isso é bastante importante para mim e quero que continue ajudando as pessoas com essas oportunidades. Se o PT sair, aí danou-se tudo", disse Oliveira, que contou ser beneficiário do programa Bolsa Família.
O ex-presidente Lula também votou em São Bernardo, e disse ter esperança para o resultado da eleição por considerar que Dilma "tem grande parte da sociedade ao lado dela" e que o país melhorou em seu governo.
Antecessor de Lula, o tucano Fernando Henrique Cardoso registrou seu voto em SP e acusou Lula de estar "vendendo ódio" na atual campanha.
"Estão tentando dividir o país por classe, cor. Essa tentativa não é aceitável. Eles tinham um slogan que dizia 'paz e amor'. Agora, o dono desse slogan está vendendo ódio", disse.
Além da disputa pela Presidência, a votação desde domingo decidirá os governadores de 13 Estados e do Distrito Federal.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foram registradas 796 ocorrências de crime eleitoral com não candidatos até 16h25, segundo balanço mais recente, com 281 pessoas presas, das quais 152 por realizar propaganda boca de urna.
Ao contrário do primeiro turno, quando a votação foi marcada por atrasos decorrentes do maior uso do sistema de identificação biométrica pelo país, o tribunal disse que as dificuldades com as urnas biométricas foram superadas neste domingo.
(Reportagem de Camila Moreira, Anna Flávia Rochas e Alexandre Caverni, em São Paulo; Bruno Marfinati, em São Bernardo do Campo; Maria Carolina Marcello e Nestor Rabello, em Brasília; Eduardo Simões, em Belo Horizonte; Liege Albuquerque, em Manaus; Raíssa Ebrahim, no Recife)