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‘Todos sabem o que o governo quer da Petrobras’

Ministro Silveira deixa claro que é o governo quem manda na estatal e que ela retomará a ‘política correta’ que o lulopetismo adotou no passado – aquela que quase quebrou a empresa

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Por Notas & Informações
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O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, concedeu um punhado de entrevistas às vésperas da aprovação do nome de Magda Chambriard como nova presidente da Petrobras – o que ocorreu em tempo recorde e dispensando a praxe da votação dos acionistas reunidos em assembleia – com o ostensivo propósito de frisar que quem manda na companhia é o governo, não seus executivos nem muito menos os acionistas privados. E “todos sabem o que o nosso governo quer da Petrobras”, declarou ao Estadão.

Ao jornal O Globo, por exemplo, Silveira deixou claro que, para o governo petista, a administração da Petrobras nos mandatos anteriores de Lula da Silva foi “correta”, e só não entregou os resultados esperados porque “a Petrobras ficou paralisada por causa da Lava Jato”. Ou seja, para o ministro, não fosse a Lava Jato, que flagrou um colossal esquema de corrupção na Petrobras, a estatal teria voado.

Assim, Silveira matou dois coelhos com uma só declaração: atribuiu à Lava Jato a ruína da Petrobras, quando todos sabem que a empresa foi ao brejo por causa do seu escancarado uso político pelos governos petistas; e considerou “corretos” justamente os megalomaníacos planos desenvolvimentistas de Lula e Dilma Rousseff que dilapidaram a empresa.

Portanto, devemos agradecer ao ministro pela transparência. Ninguém mais no Brasil pode dizer que não foi avisado das intenções de Lula na Petrobras.

É verdade que a Petrobras é controlada pela União, razão pela qual seria ingenuidade supor que a empresa fosse atuar sem levar em conta os interesses do governo. Por outro lado, essa característica não significa que o governo possa fazer da estatal o que bem entender, porque uma má administração desta que é a maior empresa do País gera prejuízos para todos.

E foi isso precisamente o que aconteceu durante o trevoso mandarinato lulopetista ao qual o sr. Silveira aludiu. Em frentes simultâneas foram tocados projetos grandiosos que partiam do zero, como a construção de estaleiros e navios, criação de polos petroquímicos, grandes refinarias, gasodutos e plataformas. Tudo ao mesmo tempo, movimentando um volume de recursos que obrigou a companhia a contrair uma dívida que chegou a ultrapassar meio trilhão de reais (R$ 507 bilhões, em setembro de 2015, ante um caixa de pouco mais de R$ 100 bilhões na época).

Obviamente, nada disso importa para o governo. O movimento de Silveira – integrante do Centrão que se tornou um dos ministros mais influentes de Lula – pareceu ter como alvo a própria Magda Chambriard. Depois da gestão do petista Jean Paul Prates, demitido de forma sumária apesar de fazer quase tudo o que seu chefe mandou, o ministro deixa claro que não basta concordar com a estratégia estipulada pelo governo. É preciso ser veloz na execução e não questionar. Difícil acreditar que o recado do ministro tenha sido dado sem o aval do demiurgo petista.

O ministro Silveira sustenta que a Petrobras não é só uma empresa de petróleo e que tem outras obrigações com o Brasil, mesmo se tiver de renunciar ao lucro. Cita a produção de gás e fertilizantes, além do refino, para enfatizar que caberá ao presidente Lula, o verdadeiro CEO da empresa, a decisão final sobre os investimentos.

Logo, a nova presidente da Petrobras deve obedecer cegamente ao chefe, algo que, segundo Silveira, Magda Chambriard certamente fará, porque “as mulheres, quando pegam essa missão, o fazem com muito zelo”. Magda é funcionária de carreira da Petrobras e foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis. Sua linha de pensamento está em linha com os ideais do lulopetismo para o setor, desde a necessidade de investir em refino até a valorização da política de conteúdo local.

Resta saber se Magda Chambriard respeitará o alinhamento também em questões comerciais, como a definição do preço dos combustíveis, tão cara ao presidente da República, preocupado com o impacto na inflação. Mas o ministro deixou claro que a nova presidente da Petrobras terá de ter a “humildade” de fazer tudo o que o controlador mandar.