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Alckmin será coordenador de transição; Gleisi diz que há aval de Bolsonaro para o processo

Vice-presidente eleito foi indicado por Lula para liderar equipe técnica que trabalhará até a posse em 1º de janeiro

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Foto do author Beatriz Bulla
Foto do author Eduardo Gayer
Por Beatriz Bulla e Eduardo Gayer
Atualização:

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) como coordenador da equipe técnica que trabalhará na transição de governo durante os próximos dois meses. A escolha foi anunciada nesta terça-feira, 1º, pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Segundo a petista, há aval do Jair Bolsonaro (PL) para iniciar o processo, embora ele não tenha se pronunciado sobre a eleição até o momento.

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“Conversei ontem com o chefe da Casa Civil, senador Ciro Nogueira, e ele falou que está à disposição, que foi determinação do presidente de se instalar processo de transição, que eu poderia passar a ele os nomes para fazerem as nomeações. O Centro Cultural Banco do Brasil está à disposição também. Queremos, já a partir de quinta-feira, estarmos lá começando a montar a equipe”, disse Gleisi.

Em 2002, Lula e o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se reuniram em Brasília na terça-feira logo após o primeiro turno para começar a discutir a transição. Desta vez, no entanto, o anúncio da transição acontece de maneira unilateral, uma vez que Bolsonaro ainda não fez nenhum pronunciamento a respeito da sua derrota. Na segunda-feira, 31, Gleisi conversou com Ciro e Alckmin telefonou para o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

Ela e o ex-ministro Aloizio Mercadante também integrarão a equipe, que será dividida por áreas. Ainda não há definição, segundo ela, dos integrantes que ficarão responsáveis pelo setor econômico. A escolha do ex-governador e ex-tucano para coordenar a equipe, em detrimento da escolha de um petista, é mais um aceno de Lula ao centro. Durante a campanha, ele prometeu montar um governo “para além do PT”.

Também em 2002, o grupo de transição de Lula foi coordenado por Antonio Palocci, que foi posteriormente indicado para assumir o Ministério da Fazenda. Gleisi afirmou que a indicação para participar da comissão não significa necessariamente espaço nos ministérios. “Não há decisão sobre ministério, o presidente Lula não abriu essa discussão”, afirmou a dirigente a jornalistas. É praxe, no entanto, que os nomes que compõe a equipe de transição assumam cargos no futuro governo. A equipe de Lula discute nos bastidores a possibilidade de que o próprio Alckmin acumule a vice com um ministério.

“Estamos começando a relacionar as demais pessoas que vão estar na coordenação”, disse Gleisi. Questionada se já há definição para a seara econômica, Gleisi negou. “Por enquanto, não. Vamos começar as tratativas na quinta-feira. Vai ter, claro, temos que ter”. De acordo com ela, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI) está responsável apenas pela interlocução sobre o Orçamento de 2023 e não faz parte do time de transição.

Gleisi será responsável pela relação política com outras siglas. “Vamos ter participação nessa comissão de todos os partidos que estiveram conosco nessa caminhada”, declarou. Na noite de hoje, ela irá liderar uma reunião com lideranças das siglas que apoiaram Lula durante a campanha.

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Alckmin já conversou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre mudanças no Orçamento de 2023. Um dos primeiros focos da equipe de Lula é conseguir realizar mudanças desejadas pelo governo eleito no texto. “Vai ser um pouco como a experiência de 2002, quando o presidente Lula foi eleito, foco na questão orçamentária”, disse ela.

“Nós queremos que seja assegurado no orçamento de 2023 o contrato que nós fizemos nas eleições, aquilo que nós dissemos que iríamos realizar para o povo brasileiro. Portanto, queremos que o Auxílio Brasil seja de R$ 600, queremos que tenha reajuste do salário, essas questões nós vamos discutir”, afirmou a dirigente em coletiva de imprensa. “Mas mais do que isso nós também queremos ver como está a situação fiscal, porque temos poucas informações sobre isso. Então a ideia é ter o quadro geral para saber e depois fazer as proposta”, acrescentou.

Durante a campanha, Lula foi cobrado pelo empresariado e agentes do mercado financeiro a divulgar qual instrumento será usado como âncora fiscal, para substituir o teto de gastos. A campanha petista justificou, no entanto, que a falta de clareza sobre a atual situação fiscal impedia a definição da nova regra fiscal.

Nesta terça-feira, o presidente eleito viajará para a Bahia acompanhado da esposa, Rosângela da Silva, conhecida como Janja. Lula irá descansar por dois dias em uma praia ao norte de Salvador, sem compromissos oficiais até sexta-feira, quando pretende realizar um ato político na capital baiana, para agradecer os votos dos eleitores do Estado. O petista recebeu 72% dos votos dos eleitores do Estado. Depois de instalada a comissão de transição, o presidente eleito deve passar a maior parte do tempo em Brasília.

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Bloqueio nas rodovias. A avaliação do time de Lula é de que os protestos contra a eleição do petista, que causam bloqueio nas rodovias, tendem a perder força, especialmente se Bolsonaro assumir a derrota. Para monitorar o caso, aliados de Lula fizeram contato com integrantes do governo do Paraná. A avaliação compartilhada no QG petista na noite de ontem, após os contatos locais, é de que a intensificação dos protestos poderia ocorrer durante a madrugada, mas deveria arrefecer ao longo da terça-feira.

Hoje, Gleisi Hoffmann voltou a criticar os bloqueios e chamou de “arruaceiros” aqueles que organizam os protestos. Ela disse confiar nas instituições brasileiras para a realização de uma posse presidencial pacífica em janeiro e descartou a possibilidade de o País repetir cenas como a vista em Washington (EUA), em 2021, com a invasão do Capitólio. “Isso é criminoso, são os arruaceiros do Bolsonaro. Eu espero que tenha a colocação de ordem nisso. Tivemos uma decisão ontem do STF que foi importante, porque isso prejudica o Brasil, o povo brasileiro, é uma irresponsabilidade”, acrescentou.

“Nós confiamos nas instituições brasileiras e acredito que isso (episódio como invasão do Capitólio) não acontecerá. Pode ter tentativa, choro de perdedor, o que eles não podem é desestabilizar o País, o que eles não podem é prejudicar a economia, o que eles não podem é prejudicar o povo brasileiro, porque isso é criminoso. E tenho certeza que as medidas adequadas vão ser tomadas se tiver algo que continue”, destacou a líder do PT. A dirigente ressaltou que o partido sempre teve diálogo com os caminhoneiros e que assim será no novo governo.

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Ela afirmou discordar da posição do MTST de tentar desbloquear por conta própria as estradas interditadas por bolsonaristas descontentes com o resultado da eleição. “Não concordamos com isso, porque isso é uma responsabilidade do Estado. O Estado tem que tomar as providências”, afirmou a dirigente. De acordo com Gleisi, o líder do MTST, Guilherme Boulos, disse que a nota do grupo foi “mal entendida” e que “não é bem assim”.

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