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A fantástica chegada do Graf Zeppelin ao Brasil em 1930

Dirigível alemão passou por Recife e Rio de Janeiro na inauguração de sua rota sul-americana

Foto do author Edmundo Leite
Por Edmundo Leite
Atualização:
Partida do dirigívelLZ 127 de Friedrichshafen para o Brasil em 1930 Foto: Acervo Estadão

Foi um assombro. Recife e o Rio de Janeiro pararam em delírio para ver o dirígivel Gref Zeppelin na sua primeira passagem pelo Brasil em maio de 1930. Era a inaguração da rota sul-americana do 'soberbo apparelho' alemão, chamado nas páginas do jornal de 'Conde Zeppelin'.

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O gigantesco veículo aéreo partiu de Friedrichshafen, na Alemanha, fez escala em Sevilha, na Espanha, e seguiu para a inédita travessia da linha equatorial para passar por Fernando de Noronha e pousar em Recife no dia 22 de maio de 1930. Após recepção, festas e descanso, o dirigível partiu para o Rio de Janeiro, onde chegou no dia 25. 

O Estadão dedicou páginas inteiras por dias com todo tipo de detalhes sobre o histórico vôo e uma entrevista do correspondente em Recife com o passageiro brasileiro na viagem. Leia abaixo os relatos da emocionante recepção da população ao dirigível nas duas cidades.

A chegada do 'Conde Zeppelin' ao Brasilno jornal de 23/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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"O Conde Zeppelin acabou de atracar ao mastro ás 19 horas e 40 minutos. Logo depois, iniciaram-se os preparativos para o desembarque dos passageiros, que começou às 20 horas e 15 minutos.", informou o jornal na edição do dia 23, para depois continuar com mais informações da United Press: "A multidão que enchia as ruas, os pontos maes elevados da cidade, os arredores de Recife e as estradas que levam ao campo de Giquiá, anciosa por assistir à chegada do 'Graf Zeppelin', era constituída por algumas dezenas de milhares de pessoas da capital e do interior, estas últimas vindas especialmente para ver o dirigível.Muita dessa gente aguardava com anciedade, desde as primeiras horas da tarde, a vinda do soberbo apparelho, entregando-se aos commentarios mais interessantes e por vezes mais pittorescos, fazendo conjecturas variadissimas sobre as possibilidades da aviação e sobre suas consequencias para o Brasil e, especialmente, para as cidades do litoral norte do paiz, como pontos de ligação entre a Europa e a America do Sul. Cerca das 19 horas os jornaes annunciaram o apparecimento do dirigível na linha do horizonte, correndo celere a notícia, por toda a parte. A cidade, de ponta a ponta, começou então delirando de enthusiasmo, emquanto no campo de Giquiá e seus arredores eram gritadas as primeiras aclamações vibrantes a Eckener e á Allemanha, calarosamente correspondidas pela multidão. Pouco depois, o dirigível vôava sobre o campo. A emoção foi enorme, redobrando de intensidade as acclamações, os vivas e os applausos, que se confundiam com o fonfonar das buzinas dos automoveis, e com o apitar das sereias dos navios que se encontravam no porto e que, durante meia hora, acompanharam as ruidosas manifestações de terra, num côro ensurdecedor, emquanto o Conde Zeppelin, serenamente, como não se acabasse de realisar mais uma de suas memoráveis façanhas, evoluia com elegancia sobre a cidade, seguido avidamente por milhares de pessoas. Ás 19,18, depois de effectuar um vôo muito baixo sobre Recife, despertando a mais intensa curiosidade e vivissimo enthusiasmo, o dirigível começou a aproximar-se lentamente da torre de amarração, parando os motores." 

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Greff Zeppelin no jornal de 25/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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No Rio de Janeiro, apesar do atraso de horas que levou pessoas a virarem a noite nas ruas e praias, o entusiasmo não foi menor, quando o Conde Zeppelin apareceu no céu da cidade ao raiar do sol de domingo:

"E, quando, ás 6 horas, surgiu no fundo do horizonte, velado pela nevoa que o sol nascente ainda não havia de todo dissipado, aquella especia de pássaro gigantesco que se avizinhava na lentidão de seus movimentos, definindo-se cada vez mais as formas e as linhas harmoniosas do seu perfil, produziu-se um tal movimento de interesse publico que toda a população litoranea despertou, de subito, sob o clamor da multidão que começou a affluir, entre gritos e tropeis, para as praias, para as montanhas e para todos os pontos accessiveis , de onde tornasse possível dominar, com mais liberdade, a amplidão do espaço, abrindo-se janellas, povoando-se mirantes e torres dos sobrados e dos arranha-ceus. O Conde Zeppelin iniciou então seu grande e majestoso vôo sobre a cidade. A noticia desse facto, esperado numa tão grande ansiedade, produziu na cidade um movimento febril, que a encheu de aspectos curiosos e ineditos. Dir-se-ia que ao cabo de meia hora, já não havia uma pessoa que não estivesse desperta no Rio de Janeiro. O litoral, as culminancias dos morros, as praças, as ruas, não somente do centro urbano, mas de todos os bairros e de todos os pontos de suburbios, povoaram-se, encheram-se de vida, de animação e de alegria.  Começou logo a corrida desabalada de centenas, milhares de automoveis, que passavam vertiginosamente pelas arterias congestas, buscando todos a direção do longinquo Campo dos Affonsos...   ... Inteiramente banhado pela luz, que arrancava ecintillações de sua estructura metallica, descia o Conde Zeppelin, vendo-se passageiros e tripulantes debruçados ás janelas das gondolas e vendo-se, nitidamente, o título e o número inscriptos em seu dorso. O espectaculo que então se offerecia áquella incalculavel multidão era realemente sensacional..." 

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Gref Zeppelin no jornal de 20/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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Gref Zeppelin no jornal de 24/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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Gref Zeppelin no jornal de 29/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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Gref Zeppelin no jornal de 24/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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Anúncio de filme soibre o dirigível no jornal de 27/5/1920 Foto: Acervo Estadão

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Graf Zeppelin no jornal de 17/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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Gref Zeppelin no jornal de 23/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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Gref Zeppelin no jornal de 25/5/1920 Foto: Acervo Estadão

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Gref Zeppelin no jornal de 20/5/1930 Foto: Acervo Estadão

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