Rabino deixa marca profunda na comunidade judaica e na sociedade paulistana e brasileira
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Por Edmundo Leite e Liz Batista
Atualização:
A palavra proferida em voz e a palavra escrita, acompanhadas de atitudes concretas, marcaram a trajetória de Henry Sobel. O rabino que se vai deixa uma marca profunda na comunidade judaica pela qual era o responsável natural pelo cargo que exercia, mas também na sociedade paulistana e brasileira.
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A partir do episódio fundamental da recusa em enterrar Wladimir Herzog como um suicida e assim confrontar a ditadura que assassinava, Sobel surge como um personagem da vida religiosa, política, social e cultural brasileira. Uma voz respeitada por todos os credos.
"Ele [Herzog] ficou, estudou, formou-se e se integrou perfeitamente aqui, onde se dedicava à filosofia, artes, jornalismo e televisão. Para Vladimir, ser judeu significava ser brasileiro." Continuando sua defesa dos direitos humanos, disse: "Viva o homem em que país viver, no Brasil, ou qualquer outra parte do mundo, deve ser respeitado como ser humano. Os rabinos sabem que sua missão não reside apenas dentro dos templos, mas tambem no contexto social e politico, para defender esses direitos."
Em outros momentos críticos da história, como após o assassinato de Yitzhak Rabin em 1995, mostrava-se habilidoso na expressão de palavras de conforto que pregavam o perdão entre os homens. Sobre o bem e o mérito contidos no ato de perdoar, falava da própria condição humaninade, daquele que busca, daquele que concede e daquele que se perdoa.
"Você acredita, honestamente, que a sua vida e a vida dos seus futuros filhos seria melhor se a terra não fosse devolvida e o derrmamento de sangue continuasse eternamente extinguindo vidas judaicas e palestinas? Pense bem, faz sentido atribuir mais santidade à terra do que à vida humana?(...) Você desfechou um golpe duro contra a humanidade. Yitzhak Rabin fará muita falta. Mas, apesar de você (como diria Chico Buarque), amanhã há de ser outro dia. A vida continua."
Após anos se destacando por levar a fé, a esperança e o consolo aos seus e aos outros, a partir do episódio do furto de gravatas, em 2007, o rabino passaria a ter que usar as palavras de ajuda aos próximos para tentar apaziguar-se consigo mesmo. Em 2013, numa entrevista exclusiva ao Estadão, Sobel abriu-se de forma surpreendente à repórter Laura Greenhalgh:
O esvaziamento de representatividade tem a ver com o caso das gravatas?
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Por favor, coloque no papel o que trago no meu coração, porque vou falar de algo pela primeira vez. Antes não havia tido coragem nem vontade. Aquele foi um episódio desgastante, cheguei a pedir desculpas diante de câmeras das principais emissoras de TV do Brasil. Também tratei do assunto em livro autobiográfico. Falei em problema de saúde e no uso de um medicamento para dormir, o Rohypnol. O remédio teria me levado a cometer atos impensados. Ontem à noite, às vésperas desta entrevista e com o distanciamento que o tempo proporciona, decidi que não posso mais atribuir o que houve a fatores externos. Para ser e me sentir honesto, admito que cometi um erro.
Está dizendo que o furto não pode ser atribuído ao efeito de remédios, mas a uma falha sua?
Uma falha moral minha. E peço perdão. Veja o que escrevi ontem à noite: "É bom ser perdoado. Quando eu era menino, sempre que cometia um erro, podia contar com a compreensão, a ternura e o perdão dos meus pais. Lembro da sensação de ter um peso tirado do coração, uma gostosa certeza de ser aceito. (...) Quando cresci, foi a minha vez de conceder perdão aos meus pais pelos seus erros e fraquezas, fossem reais ou fruto da minha imaginação. Compreender nossos pais, e perdoá-los por serem menos perfeitos do que gostaríamos, é natural no processo de amadurecimento. Lembro das críticas se abrandando, os ressentimentos se dissolvendo, a consciência do afeto libertando a alma. É bom perdoar". E é muito bom perdoar a si próprio.
Como conseguiu chegar a essa aceitação dos fatos?
Eu era muito intolerante comigo quando me tornei rabino. O autojulgamento sempre foi severo e o sentimento de culpa, duradouro. Finalmente consegui me conscientizar de que o rabino é humano, portanto, falível. O incidente das gravatas é do conhecimento público, não preciso entrar em detalhes aqui... Tento me perdoar, o que não é fácil, porque perdoar não é esquecer. Se fosse, não haveria mérito no perdão.
Henry Sobel (1944-2019)
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Henry Sobel (1989)
O rabino Henry Sobel sopra o shofar, 1989. Oinstrumento de sopro criado com o chifre de um animal é um ícone sagradoda religião judaica usado ao final... Foto: Ormuzd Alves /EstadãoMais
Henry Sobel (1975)
Henri Sobel, São Paulo, SP. 30/10/1975. Orabino norte-americano radicado no Brasilfoi presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP). Foto: Oswaldo Jurno/ Estadão
Henry Sobel (1988)
O rabino Henry Sobel, São Paulo, SP, 10/9/1988. Foto: Mônica Varella/ Estadão
Missa do jornalista Herzog na Catedral da Sé (1975)
Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel realizam missa de Vladimir Herzog na Catedral da Sé, São Paulo, SP, 31/10/1975. Foto: Acervo/Estadão
Missa do jornalista Herzog na Catedral da Sé (1975)
O rabino henry sobel fala durante a missa de Vladimir Herzog na Catedral da Sé, em São Paulo, SP, 31/10/1975. Foto: Acervo/Estadão
Rabino Henry Sobel (1980)
Henry Sobel, São paulo, SP. 17/6/1980. Foto: Gevaerd/ Estadão
Rabino Henry Sobel
Henry Sobel participa de homenagem aos mortos pelas bombas atômicas lançadas sobre oJapão, São Paulo, 6/8/1991. Foto: Norma Albano/ Estadão
Henry Sobel (1988)
O Rabino Henri Sobel discursa durante show pedindo a libertação de Nelson Mandela, Praça da Sé, região central da cidade,SP. 21/10/1988. Foto: Luiz Antônio/ Estadão
Papa João Paulo II e rabino Henry Sobel (1991)
O papa João Paulo IIcumprimenta o rabino Henry Sobel durante encontro no Palácio do Planalto, DF, Brasília, em 12/10/1991. Foto: Wilson Pedrosa/ Estadão
Papa João Paulo II e rabino Henry Sobel (1991)
O papa João Paulo II se encontra com o rabino Henry Sobel e a comunidade judaica, São Paulo, SP. 12/10/1991.Sobel pediu ajuda ao papa para tentar reso... Foto: Wilson Pedrosa/ EstadãoMais
Dom Paulo Evaristo Arns e Henry Sobel (1993)
Encontro entreDom Paulo Evaristo Arns e Henry Sobel, São Paulo, SP, 31/12/1993. Foto: Nelson Almeida/ Estadão
Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel
Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel, São Paulo, SP, 31/12/1993. Foto: Nelson Almeida/ Estadão
Luto pelo papa João Paulo II (2005)
O rabino da comunidade judaica de São Paulo, Henry Sobel, pastor Rolf Schunemann, da Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil e o dirigente i... Foto: Ed Ferreira/ EstadãoMais
Encontro ecumênico (2006)
O líder espiritual tibetanoDalai Lama Tenzin Gyatso participa de ato ecumênico na Praça daSé, no centro de São Paulo, do qual participaram também Dom ... Foto: Evelson de Freitas/ EstadãoMais
Papa Bento XVI, rabino Henry Sobel e sheik Hussein Saleh (2007)
O papaBenedict XVI se encontra com osheik Armando Hussein Saleh e com o rabino Henry Sobel, durante encontro de líderes religiosos no Mosteiro SãBento... Foto: Michelino Roberto/ REUTERSMais
Dom Cláudio Hummes e rabino Henry Sobel (2006)
Dom Cláudio Hummes cumprimenta o rabino Henry Sobel após celebrar missa na Catedral da Sé, São Paulo, SP, 26/11/2006. Foto: Antônio Milena/ Estadão
Rabino Henry Sobel (2011)
RabinoHenry Sobel fala na sessão de abertura da 9º Conferência de Diálogos Intereligiosos em Doha, 24/10/ 2011. Foto: Fadi Al-Assaad/ REUTERS
Pelé e Henry Sobel (2004)
Henry Sobel abraça Pelé no lancamento do filmePeléEterno(2004), no Palácio do Governo do Estado de São Paulo, SP. 20/06/2004. Foto: J.F. Diório/ Estadão
Henry Sobel e Antonio Candido (2003)
O rabino Henry Sobel comparece à entrega do premio professor Emérito ao professor Antonio Candido, São Paulo, SP. 17/10/2003. Foto: Alex silva/ Estadão
Mário Covas e Henry Sobel (1998)
O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB) se reúne com o rabino Henry Sobel, São Paulo, SP, 22/9/1998. Foto: Paulo Liebert/ Estadão
Henry Sobel e Luiza Erundina (1996)
O rabino Henry Sobelrecebe a candidata à Prefeitura de São Paulo, Luiz Erundina (PT) na Congregação Israelita Paulista (ICP), na Rua Antonio Carlos, r... Foto: Masao Goto Filho/ Estadão Mais
Fernando Henrique Cardoso e Henry Sobel (2003)
O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e o rabino Henry Sobel durante encontro com empresários, São Paulo, SP, 19/5/2003. Foto: Sérgio Castro/ Estadão
Lula e Henry Sobel (2006)
O presidente da República,Luiz Inácio Lula da Silva é recebido pelo rabino Henry Sobel na sede da Congregação Israelita Paulista, São Paulo, SP, 27/01... Foto: Vidal Cavalcante/Estadão Mais
José Serra e Henry Sobel (2004)
O candidato àPrefeitura de São Paulo pelo PSDB, José Serra, ao lado do rabino Henry Sobel, durante visita ao ambulatório comunitário do Hospital Alber... Foto: Nilton Fukuda/ EstadãoMais
Henry Sobel e Geraldo Alckmin (2004)
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o rabino Henry Sobel participam de coquetel da FundaçãoMário Covas, São Paulo, SP. 21/4/2004. Foto: J. F. Diório/ Estadão
Henry Sobel e Paulo Maluf
O candidato áPrefeitura de São Paulo, Paulo Maluf (PP), visita o rabino Henry Sobel, na Congregação Israelita Paulista, em São Paulo, SP. 28/7/2004. Foto: Hélvio Romero/ Estadão
Henry Sobel (2001)
Rabino Henry Sobel durante celebração inter-religiosa pela paz, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, 23/9/2001. Foto: Monica Zaratini/ Estadão
Henry Sobel (2003)
O rabino Henry Sobel com sua cadelinha , Mia e seu gato, Sami, São Paulo, SP, 14/02/2003. Foto: Evelson de Freitas
Henry Sobel, Evaristo Arns
O rabino Henry Sobel beija o rosto de Dom Paulo Evaristo Arns, durante ato religioso que lembrou o Dia Mundial de Luta contra a AIDS, realizado no Ins... Foto: Heitor Hui/EstadãoMais
Carta de Henry Sobel
Texto deHenry Sobel sobre morte de Yitzhak Rabinem 1995. Foto: Acervo Estadão