Taça Rio conquistada pelo Palmeiras tem status de Mundial contestado desde 1951

'Nem mundial, nem dos campeões', publicou o Estadão em texto opinativo antes do início do torneio

PUBLICIDADE

Foto do author Edmundo Leite
Por Edmundo Leite
Atualização:

"Tem o Mundial do Palmeiras?" Nos últimos anos, a pergunta é recorrente durante visitas presenciais dos mais diversos grupos, de crianças a adultos, ao Acervo Estadão quando se deparam com a impressionante coleção de jornais impressos originais encadernados desde 1875. A pergunta supera até mesmo os pedidos para ver o jornal do dia de nascimento dos visitantes, sempre um sucesso nesse tipo de visita, suspensas desde o início da pandemia. 

PUBLICIDADE

Mas o que respondemos à pergunta? Antes de mostrar o jornal original com a notícia da histórica conquista palmeirense lembramos que não é preciso estar ali fisicamente no arquivo do jornal para ter a resposta. Todas as edições do jornal desde a fundação estão disponíveis para consulta no site acervo.estadao.com.br, onde também é possível ver todas as notíciais originais sobre as conquistas e derrotas dos outros times brasileiros nos Mundiais de futebol em todas as fases de sua existência. Basta pesquisar pela data do jornal procurado, mas também é possível buscar por palavras como no Google e filtrar o resultado por períodos, pela década, por ano e mês.

E o que dizia o Estadão na época sobre o campenato que o Palmeiras venceu? Para alegria dos visitantes que torcem para times adversários e frustração -  às vezes até desespero - dos esperançosos palmeirenses em busca de um curativo no orgulho ferido, a contestação ao status de campeonato mundial aparece nas páginas do jornal antes mesmo do início do torneio, sempre chamado de "Taça Cidade do Rio de Janeiro" no noticiário da época, inclusive nas notícias sobre a conquista do título. 

A principal contestação aparece num um texto opinativo não assinado intitulado "Nem mundial, nem dos campeões", publicado na página 17 da edição de 24 de junho de 1951, que terminava com a seguinte afirmação sobre o campeonato internacional de clubes de futebol realizado no Brasil: "Talvez haja êxito econômico, apesar dos pesares. Mas, com ele ou sem ele, é aconselhável, além de honesto, que se mude a denominação do certame, mesmo porque, pelo simples exame da relação dos concorrentes, verifica-se que ele não é dos Campeões e muito menos Mundial..."

>> Estadão 24/6/1951

Artigo "Nem mundial, nem dos campeões" noEstadãoem 24/6/1951 Foto: Acervo Estadão

No mesmo artigo, o jornal também questionava o fato de Palmeiras e Vasco participarem da competição na condição de campeões estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro, em vez de ter sido realizado um campeonato nacional de clubes campeões estaduais para indicar um único representante nacional no campeonato.

"Por isso, quando se intenção da C.B.D. de realizar, em junho, um Torneio dos Campeões, de que participariam os clubes campeões de vários países e - é claro - o campeão brasileiro, que seria ou pelo menos deveria ser indicado por meio de um certame eliminatório entre os vários campeões estaduais, não aplaudimos o projeto, que, além de outros incovenientes, teria, como vai ter, o de perturabar seriamente a marcha dos campeonatos do Rio e de S. Paulo. (...)

Publicidade

(...) No entanto, a C.B.D. levou por diante o seu projeto e vai agora, no dia 30, iniciar a disputa do que denomina de "Torneio dos Campeões", com a particiapação do Olimpic, campeão francês; do Estrela Vermelha, que não é campeão da Iugoslávia; do Sporting, campeão português; do Juventus, que não é campeão italiano; do Nacional, campeão uruguaio; do Áustria, que não é campeão da Áustria e, finalmente, do Vasco e Palmeiras, que não são campeões brasileiros, e sim carioca e paulista, como não seria preciso esclarecer. "

Torneio internacional - Ao final da competição, em outro texto opinativo publicado em 24 de julho de 1951 sob o título "A expressiva vitória dos futebolistas do Palmeiras", o jornal voltava a discorrer sobre o status do campeonato, apesar de enaltecer que se tratava do "primeiro título expressivo de campeão conquistado por um quadro brasileiro":

"Encerrou-se anteontem, com um brilho cuja previsão os jogos eliminatórios tornaram totalmente improvável, o Torneio Internacional de Futebol que substituiu, por assim dizer, o "Torneio dos Campeões" que a C.B.D. projetou mas que, por circunstâncias independentes de sua vontade, não pode realizar de acordo com o regulamento, ou seja, reunir os quadros campeões dos países concorrentes. Como se viu, nem todos os competidores eram campeões de seus respectivos países e apenas três se salvaram pela qualidade do futebol apresentado. (...)"

PUBLICIDADE

(...) Mas, de qualquer modo, não se pode deixar de dar grande valor ao feito dos paulistas, mesmo porque obtiveram o título depois de considerado perdido para eles. Vale, ainda, acentuar que foi esse o primeiro título expressivo de campeão conquistado por um quadro brasileiro, num torneio que participaram quadros representativos de cinco países europeus, além dos dois quadros brasileiros e do Nacional do Uruguai. Feito de muito valor, repetimos, mas que, nem por isso, justifica os excessos ridículos que andam por aí, entre os quais, este de mandar a bola do jogo para um museu é, para usarmos de expressão popular, de se tirar o chapéu..." 

>> Estadão 24/7/1951

Notícia sobre a conquista do Palmeiras noEstadão de 24/7/1951 Foto: Acervo Estadão

>> Veja as notícias originais do campeonato de 1951 

>> 2001, o Mundial que virou pesadelo do Palmeiras

Publicidade

+ ACERVO

> Veja o jornal do dia que você nasceu

> Capas históricas

> Todas as edições desde 1875

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.