Controverso desde sua concepção no fim da década de 1960, o viaduto elevado gigante apelidado pelos paulistanos de Minhocão já mudou de nome, foi fechado para o tráfego de veículos no período noturno e nos fins de semana, passou por reformas, limpezas, tentativas de embelezamento estético do entorno enquanto as propostas para a sua demolição ou transformação em um parque permanente geraram debates arquitetônicos e urbanísticos, mas não se concretizaram.
Acompanhe nas páginas do Acervo Estadão alguns dos momentos da via que completa a ligação das regiões leste e oeste de São Paulo a partir do centro da cidade.
PROJETO
O projeto do elevado foi apresentado à prefeitura pelo arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirardi na administração do prefeito Faria Lima (1965-1969), que não o levou adiante. Retomado pelo seu sucessor, Paulo Maluf, o elevado foi construído em apenas 11 meses. Maluf tinha pressa, seu mandato era de apenas dois anos, com o de todos os prefeitos não eleitos nomeados durante a ditadura militar. Em menos de um ano a população viu surgir uma obra monumental que passava entre os prédios e recebera o nome de Elevado Costa e Silva, em homenagem ao segundo presidente da ditadura militar.
CONSTRUÇÃO
As obras do Minhocão provocaram uma drástica desvalorização imobiliária na avenida São João, que desde a década de 1950 já sentia os efeitos da migração de empresas para a Avenida Paulista. Antes mesmo da inauguração, as placas de 'vende-se' lotavam as fachadas dos prédios da avenida. Foi o que registrou a reportagem "Elevado, o triste futuro da avenida", publicada em 1 de dezembro de 1970. Na legenda da foto, a frase "Minhocão: aqui morrem o metrô e a avenida São João."
INAUGURAÇÃO
A via elevada foi entregue aos paulistanos em 24 de janeiro de 1971. Era um bonito domingo de sol e o paulistano saiu com a família para fazer um passeio motorizado, conhecer o novo 'presente' que a cidade ganhara ao completar 417 anos. "Foi construído o maior viaduto da América Latina, que acompanha as depressões e elevações do terreno, fazendo com que nos vejamos em uma verdadeira montanha russa", escreveu o Estadão.
A reportagem acompanhou o primeiro dia de funcionamento do novo viaduto e registrou além da solenidade oficial, o movimento intenso dos carros, as pessoas nas janelas dos prédios e flagrou carros quebrados que provocaram lentidão no trânsito.
CIRCULAÇÃO
A cidade ganhava uma via rápida, porém, perdia uma área com várias referências históricas. "Quem diz que o Minhocão é útil?”, perguntava o Estado dois dias antes da inauguração. “Em São Paulo foi construído o maior viaduto da América Latina, que acompanha as depressões e elevações do terreno, fazendo com que nos vejamos numa verdadeira montanha russa. Mas São Paulo não é só zona oeste”, dizia o jornal. E concluía, “para a cidade, seria mais rentável o metrô" (que viria a ser inaugurado três anos depois)”.
Na foto abaixo, feita de dentro de um Fusca, é possível ver uma torre de contole situada à altura da Conselheiro Brotero, paralela à Avenida Pacaembu. O local era considerado estratégico para a visualização do viaduto.