As diversas estradas que levam a Aparecida tiveram um movimento intenso de peregrinos em caminhada ao Santuário Nacional neste 12 de outubro. Histórias de fé, dor e superação marcam o trajeto até a Santa Padroeira do Brasil.
Durante a missa solene, o próprio arcebispo dom Orlando Brandes contou não ter a coragem dos romeiros que caminham até Aparecida. “Eu sou evangelizado por esse povo que tem essa coragem, que eu não tenho, de vir a pé”, disse.
A Rodovia Dutra, disse ele, “se transformou na catequese da fé, um momento de retiro espiritual, porque as pessoas vêm trazendo suas dores e voltam curados, voltam alegres, nos dando a todos nós esse exemplo de fé”, completou. O arcebispo também falou sobre aborto e desmatamento em seu sermão.
José Silvino da Silva, de 54 anos, saiu do Jardim Japão, em São Paulo, no sábado, 7, e percorreu a rodovia todos esses dias com os pés cheios de bolhas, que estouraram no primeiro dia da caminhada solitária. É a primeira vez que ele fez o percurso.
Nem as dores desanimaram o operador de empilhadeira que caminhou motivado pela fé. “A maior dificuldade foram as bolhas, mas concluí minha caminhada, isso aqui é dor e vai passar”, disse emocionado ao andar com dificuldade até a tenda de atendimento de saúde aos peregrinos para trocar o curativo dos pés.
Acostumados a acompanhar o carnaval baiano, o casal Raimundo e Hélio Ferraz aproveitou a semana do feriado para visitar Aparecida e também fazer o roteiro do turismo religioso na região do Vale do Paraíba. “O carnaval de Salvador perde para cá em termos de público e de organização. Foi um arrepio total ao pisar nesta terra pela primeira vez”, disse a servidora pública.
“Temos muitos eventos religiosos em nossa cidade, como a lavagem do Bonfim e a Festa da Conceição, mas igual aqui eu só conhecia pela televisão, não vejo nada parecido com a religiosidade daqui”, comentou o educador social, que já planeja visitar o Santuário mais vezes.
Mariovaldo França, que veio de Guaratinguetá, estava emocionado na escadaria, sentado e abraçado à imagem da Santa. Ele veio a Aparecida pedindo o milagre de que o filho volte a enxergar; a cirurgia será nos próximos meses.
Em cada peregrino uma história diferente, cada um com o seu motivo. Anastácio Mendes Prates, de 66 anos, veio de Mato Grosso do Sul para agradecer sua liberdade. “Fui julgado sendo inocente e fiquei preso, desde que consegui sair da cadeia eu venho aqui”, contou ao assistir a missa segurando uma imagem da Santa na cabeça, a mesma que o segue desde a primeira vinda, em 2011.
Estátua gigante
Uma imagem gigante de Nossa Senhora Aparecida foi inaugurada no último sábado, com 50 metros de altura - 12 metros mais alta que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
A estátua fabricada em metal foi idealizada há 40 anos pelo artista plástico Gilmar Pinna e ficou pronta em 2017, mas só agora foi instalada oficialmente e está localizada numa estrada paralela a Dutra, a 3 km de distância do Santuário, e pode ser vista de longe por quem vem pela rodovia no sentido Rio.
“Uma sensação maravilhosa estar aqui”, vibrou emocionada a aposentada Romilda Inácia Vitor, de São João de Manhuaçu (MG), aos pés da nova imagem, sem querer comentar a graça alcançada, “a graça foi muito grande, a vitória está sendo maior”.
Como a imagem fica numa região de muito morro, a maioria dos peregrinos fica apenas com as fotos tiradas distantes pela rodovia. A reportagem do Estadão visitou o local ao amanhecer e encontrou somente dois seguranças guardando o espaço. Já no início da tarde, uma multidão chegava de carro para ver pela primeira vez a estátua católica no país.
Quem resolveu desafiar a subida e registrar a imagem bem de pertinho foram os amigos Lincon Batista, educador físico de 37 anos, e Luiz Carlos Rangel, marinheiro de 60 anos, que pedalaram 200 km em 30 horas para tirar uma foto aos pés da Santa, vindos de Rio Claro, no Rio de Janeiro.
O novo local tem despertado a atenção das pessoas. Frei Bartolomeu Schultz, de Aparecida, aproveitou a multidão que chegava e puxou uma oração campal com os romeiros no novo ponto religioso da cidade. “Esta imagem demonstra uma acolhida a todos os brasileiros”, comentou.
Padre Zezinho, escritor e músico, definiu a representação da estátua. “Aquela imagem enorme, que vemos numa curva da Via Dutra, para mim é um aviso de que o Santuário é logo ali. Nada mais que um sinal para o Romeiro! No templo estará Jesus e lá no fundo, humildemente está uma pequeníssima imagem cor de ébano, quase escondida, mirando o altar onde se celebra O Cristo, pão da vida”, postou em sua rede social.
De acordo com o autor da obra, o projeto terá mais três fases: a primeira foi a instalação da imagem, na segunda fase será instalado o contorno do mapa do Brasil, também em metal, que vai ficar atrás da estátua e está pronto aguardando a sua fixação, depois receberá os braços de Cristo e, finalmente, o acabamento paisagístico do local com o suporte de banheiros e praça de alimentação.
O artista estima um custo total de R$ 10 milhões até a conclusão da obra, que tem financiamento próprio e deve durar mais alguns anos. A área foi doada por um empresário local.