Gosto é como selfie


As redes sociais colocaram o ridículo ocasional no dia a dia

Por Adriana Moreira
Rue Crémieux: mais de 32 mil menções no Instagram Foto: Club Cremieux

No sol escaldante do verão catarinense, uma mulher de macacão branco caminha no mar gargalhando e chutando a água. Atrás dela, vem o marido empunhando o celular, sugerindo movimentos diversos: “amor, mexe o cabelo agora”. Mais alguns passos, uma mãe pedia para a menina de uns 5 anos jogar água para cima com seu baldinho, sorrindo. “Faz de novo, filha, não ficou bom.” A menina repetiu a cena pelo menos outras quatro vezes. No mesmo dia, um casal ignorava a violência das ondas naquele fim de tarde para ensaiar poses (cada um com seu celular). Foram uns dez minutos de chicotadas do mar nas costas. Não sei se alguma foto ficou boa. 

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Poses que rendem muitos cliques nas redes sociais são ridículas na vida real em 90% dos casos. A verdade é que antes o ridículo era reservado a ocasiões importantes, como aniversários (“vai ali tirar foto com seu priminho que você detesta, abraça ele, ah que lindos”), casamentos e outras obrigações familiares.

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As redes sociais transportaram o ridículo ocasional para o dia a dia. Já perdi as contas das vezes em que vi lindas moças fazerem bico de pato (por que, Deus?) em selfies no ônibus no horário de pico, enquanto rapazes fazem cara de mau almoçando fast-food (por que, Deus?). E o que acontece durante uma viagem? Mulheres feitas chutam a água como meninas de 6 anos, meninas de 6 anos já fingem espontaneidade, machões são açoitados pelo mar em nome de uma luz boa e músculos proeminentes. 

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Por outro lado, qual o problema em ser ridículo vez ou outra? Em buscar likes a mais? Em fazer pessoas que você nunca viu te olharem de um jeito estranho? Absolutamente nenhum: faça o que te faz feliz, independentemente do mau humor da colunista. Mas um autoquestionamento de vez em quando não custa nada, especialmente em viagens. Por exemplo: será que aquela foto vai registrar um momento que deva ser lembrado ou poderia ser clicada em qualquer outro lugar? O que é mais importante, curtir a viagem ou garantir um clique instagramável?

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Outra questão importante é até que ponto aquele clique invade o espaço e a privacidade dos outros. Semana passada, os moradores de uma linda rua parisiense de casinhas coloridas

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(foto acima)

deram um basta: cansados de instagrammers, gravações intermináveis e comportamentos desrespeitosos, eles pediram à prefeitura para instalar um portão e limitar o acesso ao local à noite e aos fins de semana. Uma moradora declarou ao site CityLab que o problema não é tirar fotos da rua, mas as longas gravações de vídeo, flash mob, ensaios fotográficos e poses em portas e janelas das casas, sem nenhum respeito a quem vive ali. Para se ter uma ideia, são mais de 32 mil menções com

#ruecremieux no Instagram

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(assista ao vídeo de uma apresentação na rua mais abaixo)

Seu clique tampouco pode ser desrespeitoso. A administração do Museu de Auschwitz, na Polônia, pediu na última semana para os visitantes pararem de “fazer fotos fúteis”, como andando na linha do trem que levou milhares de pessoas para a morte no campo de concentração durante o período do nazismo. 

 

Há ainda as selfies que representam perigo para o próprio influenciador. Uma amiga que viajava pela Capadócia, na Turquia, fotografou a selfie perigosa que outra turista fazia à beira de um precipício de calcário, em nome de uma imagem impressionante. Isso é realmente necessário em um lugar de paisagens tão incríveis quanto a Capadócia? Qualquer foto ali certamente seria merecedora de muitas curtidas (como as que minha amiga fez, em completa segurança).

Casos de turistas que morreram em nome de imagens instagramáveis são cada vez mais comuns. Em uma busca rápida no Google encontrei casos no Rio, Tocantins, Califórnia, Portugal... Até 2017, haviam sido registrados 259 casos de morte por selfie em seis anos, segundo um estudo divulgado no ano passado. Desde então, muitos outros casos foram noticiados.

Há quem rotule como cafona, mas eu amo as seguras e clássicas fotos dos turistas que dão um beijinho na Esfinge, seguram a Torre Eiffel, apoiam a Torre de Pisa... Mas é aquilo: gosto é como selfie, cada um tem o seu. 

 

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Vídeo mostra moradores da região tentam passar enquanto visitantes fazem fotos e vídeos

Rue Crémieux: mais de 32 mil menções no Instagram Foto: Club Cremieux

No sol escaldante do verão catarinense, uma mulher de macacão branco caminha no mar gargalhando e chutando a água. Atrás dela, vem o marido empunhando o celular, sugerindo movimentos diversos: “amor, mexe o cabelo agora”. Mais alguns passos, uma mãe pedia para a menina de uns 5 anos jogar água para cima com seu baldinho, sorrindo. “Faz de novo, filha, não ficou bom.” A menina repetiu a cena pelo menos outras quatro vezes. No mesmo dia, um casal ignorava a violência das ondas naquele fim de tarde para ensaiar poses (cada um com seu celular). Foram uns dez minutos de chicotadas do mar nas costas. Não sei se alguma foto ficou boa. 

Poses que rendem muitos cliques nas redes sociais são ridículas na vida real em 90% dos casos. A verdade é que antes o ridículo era reservado a ocasiões importantes, como aniversários (“vai ali tirar foto com seu priminho que você detesta, abraça ele, ah que lindos”), casamentos e outras obrigações familiares.

As redes sociais transportaram o ridículo ocasional para o dia a dia. Já perdi as contas das vezes em que vi lindas moças fazerem bico de pato (por que, Deus?) em selfies no ônibus no horário de pico, enquanto rapazes fazem cara de mau almoçando fast-food (por que, Deus?). E o que acontece durante uma viagem? Mulheres feitas chutam a água como meninas de 6 anos, meninas de 6 anos já fingem espontaneidade, machões são açoitados pelo mar em nome de uma luz boa e músculos proeminentes. 

Por outro lado, qual o problema em ser ridículo vez ou outra? Em buscar likes a mais? Em fazer pessoas que você nunca viu te olharem de um jeito estranho? Absolutamente nenhum: faça o que te faz feliz, independentemente do mau humor da colunista. Mas um autoquestionamento de vez em quando não custa nada, especialmente em viagens. Por exemplo: será que aquela foto vai registrar um momento que deva ser lembrado ou poderia ser clicada em qualquer outro lugar? O que é mais importante, curtir a viagem ou garantir um clique instagramável?

Outra questão importante é até que ponto aquele clique invade o espaço e a privacidade dos outros. Semana passada, os moradores de uma linda rua parisiense de casinhas coloridas

(foto acima)

deram um basta: cansados de instagrammers, gravações intermináveis e comportamentos desrespeitosos, eles pediram à prefeitura para instalar um portão e limitar o acesso ao local à noite e aos fins de semana. Uma moradora declarou ao site CityLab que o problema não é tirar fotos da rua, mas as longas gravações de vídeo, flash mob, ensaios fotográficos e poses em portas e janelas das casas, sem nenhum respeito a quem vive ali. Para se ter uma ideia, são mais de 32 mil menções com

#ruecremieux no Instagram

 

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Seu clique tampouco pode ser desrespeitoso. A administração do Museu de Auschwitz, na Polônia, pediu na última semana para os visitantes pararem de “fazer fotos fúteis”, como andando na linha do trem que levou milhares de pessoas para a morte no campo de concentração durante o período do nazismo. 

 

Há ainda as selfies que representam perigo para o próprio influenciador. Uma amiga que viajava pela Capadócia, na Turquia, fotografou a selfie perigosa que outra turista fazia à beira de um precipício de calcário, em nome de uma imagem impressionante. Isso é realmente necessário em um lugar de paisagens tão incríveis quanto a Capadócia? Qualquer foto ali certamente seria merecedora de muitas curtidas (como as que minha amiga fez, em completa segurança).

Casos de turistas que morreram em nome de imagens instagramáveis são cada vez mais comuns. Em uma busca rápida no Google encontrei casos no Rio, Tocantins, Califórnia, Portugal... Até 2017, haviam sido registrados 259 casos de morte por selfie em seis anos, segundo um estudo divulgado no ano passado. Desde então, muitos outros casos foram noticiados.

Há quem rotule como cafona, mas eu amo as seguras e clássicas fotos dos turistas que dão um beijinho na Esfinge, seguram a Torre Eiffel, apoiam a Torre de Pisa... Mas é aquilo: gosto é como selfie, cada um tem o seu. 

 

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Rue Crémieux: mais de 32 mil menções no Instagram Foto: Club Cremieux

No sol escaldante do verão catarinense, uma mulher de macacão branco caminha no mar gargalhando e chutando a água. Atrás dela, vem o marido empunhando o celular, sugerindo movimentos diversos: “amor, mexe o cabelo agora”. Mais alguns passos, uma mãe pedia para a menina de uns 5 anos jogar água para cima com seu baldinho, sorrindo. “Faz de novo, filha, não ficou bom.” A menina repetiu a cena pelo menos outras quatro vezes. No mesmo dia, um casal ignorava a violência das ondas naquele fim de tarde para ensaiar poses (cada um com seu celular). Foram uns dez minutos de chicotadas do mar nas costas. Não sei se alguma foto ficou boa. 

Poses que rendem muitos cliques nas redes sociais são ridículas na vida real em 90% dos casos. A verdade é que antes o ridículo era reservado a ocasiões importantes, como aniversários (“vai ali tirar foto com seu priminho que você detesta, abraça ele, ah que lindos”), casamentos e outras obrigações familiares.

As redes sociais transportaram o ridículo ocasional para o dia a dia. Já perdi as contas das vezes em que vi lindas moças fazerem bico de pato (por que, Deus?) em selfies no ônibus no horário de pico, enquanto rapazes fazem cara de mau almoçando fast-food (por que, Deus?). E o que acontece durante uma viagem? Mulheres feitas chutam a água como meninas de 6 anos, meninas de 6 anos já fingem espontaneidade, machões são açoitados pelo mar em nome de uma luz boa e músculos proeminentes. 

Por outro lado, qual o problema em ser ridículo vez ou outra? Em buscar likes a mais? Em fazer pessoas que você nunca viu te olharem de um jeito estranho? Absolutamente nenhum: faça o que te faz feliz, independentemente do mau humor da colunista. Mas um autoquestionamento de vez em quando não custa nada, especialmente em viagens. Por exemplo: será que aquela foto vai registrar um momento que deva ser lembrado ou poderia ser clicada em qualquer outro lugar? O que é mais importante, curtir a viagem ou garantir um clique instagramável?

Outra questão importante é até que ponto aquele clique invade o espaço e a privacidade dos outros. Semana passada, os moradores de uma linda rua parisiense de casinhas coloridas

(foto acima)

deram um basta: cansados de instagrammers, gravações intermináveis e comportamentos desrespeitosos, eles pediram à prefeitura para instalar um portão e limitar o acesso ao local à noite e aos fins de semana. Uma moradora declarou ao site CityLab que o problema não é tirar fotos da rua, mas as longas gravações de vídeo, flash mob, ensaios fotográficos e poses em portas e janelas das casas, sem nenhum respeito a quem vive ali. Para se ter uma ideia, são mais de 32 mil menções com

#ruecremieux no Instagram

 

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Seu clique tampouco pode ser desrespeitoso. A administração do Museu de Auschwitz, na Polônia, pediu na última semana para os visitantes pararem de “fazer fotos fúteis”, como andando na linha do trem que levou milhares de pessoas para a morte no campo de concentração durante o período do nazismo. 

 

Há ainda as selfies que representam perigo para o próprio influenciador. Uma amiga que viajava pela Capadócia, na Turquia, fotografou a selfie perigosa que outra turista fazia à beira de um precipício de calcário, em nome de uma imagem impressionante. Isso é realmente necessário em um lugar de paisagens tão incríveis quanto a Capadócia? Qualquer foto ali certamente seria merecedora de muitas curtidas (como as que minha amiga fez, em completa segurança).

Casos de turistas que morreram em nome de imagens instagramáveis são cada vez mais comuns. Em uma busca rápida no Google encontrei casos no Rio, Tocantins, Califórnia, Portugal... Até 2017, haviam sido registrados 259 casos de morte por selfie em seis anos, segundo um estudo divulgado no ano passado. Desde então, muitos outros casos foram noticiados.

Há quem rotule como cafona, mas eu amo as seguras e clássicas fotos dos turistas que dão um beijinho na Esfinge, seguram a Torre Eiffel, apoiam a Torre de Pisa... Mas é aquilo: gosto é como selfie, cada um tem o seu. 

 

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Rue Crémieux: mais de 32 mil menções no Instagram Foto: Club Cremieux

No sol escaldante do verão catarinense, uma mulher de macacão branco caminha no mar gargalhando e chutando a água. Atrás dela, vem o marido empunhando o celular, sugerindo movimentos diversos: “amor, mexe o cabelo agora”. Mais alguns passos, uma mãe pedia para a menina de uns 5 anos jogar água para cima com seu baldinho, sorrindo. “Faz de novo, filha, não ficou bom.” A menina repetiu a cena pelo menos outras quatro vezes. No mesmo dia, um casal ignorava a violência das ondas naquele fim de tarde para ensaiar poses (cada um com seu celular). Foram uns dez minutos de chicotadas do mar nas costas. Não sei se alguma foto ficou boa. 

Poses que rendem muitos cliques nas redes sociais são ridículas na vida real em 90% dos casos. A verdade é que antes o ridículo era reservado a ocasiões importantes, como aniversários (“vai ali tirar foto com seu priminho que você detesta, abraça ele, ah que lindos”), casamentos e outras obrigações familiares.

As redes sociais transportaram o ridículo ocasional para o dia a dia. Já perdi as contas das vezes em que vi lindas moças fazerem bico de pato (por que, Deus?) em selfies no ônibus no horário de pico, enquanto rapazes fazem cara de mau almoçando fast-food (por que, Deus?). E o que acontece durante uma viagem? Mulheres feitas chutam a água como meninas de 6 anos, meninas de 6 anos já fingem espontaneidade, machões são açoitados pelo mar em nome de uma luz boa e músculos proeminentes. 

Por outro lado, qual o problema em ser ridículo vez ou outra? Em buscar likes a mais? Em fazer pessoas que você nunca viu te olharem de um jeito estranho? Absolutamente nenhum: faça o que te faz feliz, independentemente do mau humor da colunista. Mas um autoquestionamento de vez em quando não custa nada, especialmente em viagens. Por exemplo: será que aquela foto vai registrar um momento que deva ser lembrado ou poderia ser clicada em qualquer outro lugar? O que é mais importante, curtir a viagem ou garantir um clique instagramável?

Outra questão importante é até que ponto aquele clique invade o espaço e a privacidade dos outros. Semana passada, os moradores de uma linda rua parisiense de casinhas coloridas

(foto acima)

deram um basta: cansados de instagrammers, gravações intermináveis e comportamentos desrespeitosos, eles pediram à prefeitura para instalar um portão e limitar o acesso ao local à noite e aos fins de semana. Uma moradora declarou ao site CityLab que o problema não é tirar fotos da rua, mas as longas gravações de vídeo, flash mob, ensaios fotográficos e poses em portas e janelas das casas, sem nenhum respeito a quem vive ali. Para se ter uma ideia, são mais de 32 mil menções com

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Seu clique tampouco pode ser desrespeitoso. A administração do Museu de Auschwitz, na Polônia, pediu na última semana para os visitantes pararem de “fazer fotos fúteis”, como andando na linha do trem que levou milhares de pessoas para a morte no campo de concentração durante o período do nazismo. 

 

Há ainda as selfies que representam perigo para o próprio influenciador. Uma amiga que viajava pela Capadócia, na Turquia, fotografou a selfie perigosa que outra turista fazia à beira de um precipício de calcário, em nome de uma imagem impressionante. Isso é realmente necessário em um lugar de paisagens tão incríveis quanto a Capadócia? Qualquer foto ali certamente seria merecedora de muitas curtidas (como as que minha amiga fez, em completa segurança).

Casos de turistas que morreram em nome de imagens instagramáveis são cada vez mais comuns. Em uma busca rápida no Google encontrei casos no Rio, Tocantins, Califórnia, Portugal... Até 2017, haviam sido registrados 259 casos de morte por selfie em seis anos, segundo um estudo divulgado no ano passado. Desde então, muitos outros casos foram noticiados.

Há quem rotule como cafona, mas eu amo as seguras e clássicas fotos dos turistas que dão um beijinho na Esfinge, seguram a Torre Eiffel, apoiam a Torre de Pisa... Mas é aquilo: gosto é como selfie, cada um tem o seu. 

 

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