O cana francês Arte+7 lançou essa semana, em seu site, um documentário belga produzido em 2011, sobre a Minijupe, ou minissaia, em português.
Nele, é feito um retrato histórico e sociológico da peça que revolucionou o vestuário feminino, criada nos anos 60 pela inglesa Mary Quant.
Nascida nos anos que marcaram o movimento social de emancipação feminina, a minissaia foi imediatamente aceita como um item libertário e transgressor, que dava às mulheres um sentido de poder sobre o próprio corpo. Poder de mostra-lo livremente, assim como de usá-lo a seu favor.
E é justamente aí que reside o paradoxo da minissaia: a peça tornou-se um símbolo de feminilidade, mas por detrás do seu aparente poder de sedução, há uma constante submissão: a liberdade adquirida com o fim do recato, do pudor no modo de se vestir, outrora exigido às mulheres, deu lugar ao aprisionamento do (rigoroso) cuidado com o corpo.
Mostrar o corpo passou a ser o equivalente a ter um corpo para ser mostrado.
Uma exigência que ainda hoje recais muito mais sobre as mulheres do que sobre os homens.
O vestuário feminino nunca alforriou-se de fato do domínio masculino.
As conquistas do movimento feminista deram às mulheres a chance de participar do universo dos homens, mas nos moldes em que este havia sido estabelecido por eles.
Isso é bastante claro na moda, nos símbolos diários de comunicação social.
A mulher emancipada dos anos 60 e 70, passou a usar terno, gravata; e praticamente tudo o que remetia tradicionalmente ao gênero oposto.
Nesse exercício de libertação, as mulheres adquiriram os símbolos que, no âmbito social e do mercado de trabalho, marcavam o que era próprio do homem.
Mas o contrário nunca aconteceu. A saia e o vestido nunca ingressaram de forma maciça no vestuário masculino; nem mesmo no universo infantil.
Os marcadores de gênero contidos nas roupas continuam a ser aquilo que marca o gênero feminino: brincos, fitas de cabelo, saias, vestidos, e a clássica cor rosa.
Para um bebê menina é completamente aceitável que vestir o azul, o preto, o verde, a calça, não usar brinco, nem tiara; nenhuma dessas coisas implica que a garota esteja sendo masculinizada pelos pais.
Mas dificilmente o contrário seria aceitável. Às vezes, uma sutil blusa rosa em um menino pode levar a confusões.
O caminho que leva da minissaia à liberdade ainda é incompleto.