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Opinião|Em busca de sanidade


As maravilhas que a tecnologia nos traz não são dádivas gratuitas

Por Demi Getschko

Os chineses desenvolveram um sensor que, acoplado a um capacete ou a um boné, capta ondas cerebrais de seu portador e, ao que diz a notícia, será de uso obrigatório em uma gama de atividades. Como sempre, há uma explicação “racional e de boa fé”: imagine-se que um condutor de ônibus esteja prestes a adormecer ao volante. O fiel boné transmitirá essa informação à central, que poderá tomar as devidas providências preservando a integridade física dos ocupantes e do próprio motorista. Em cenário um pouco diferente, chão de fábrica, o sensor detecta que um funcionário está distraído e pode sofrer um acidente ou danificar um equipamento e, de novo, providências serão tomadas. 

Mas, se imaginarmos poder medir o grau de insatisfação do operário, uma eventual latente tensão, uma tendência a se desgarrar do rebanho ou iniciar um movimento reinvidicatório, aí a porca torce o rabo. O capacete poderia acionar os setores adequados “de controle”, e a “explicação” ficaria mais difícil. Prefiro correr o risco de algum imprevisto, do que ter meu estado de espírito constantemente monitorado. 

Fazendo paralelo com a discussão sobre dados pessoais, creio que não há dado mais pessoal do que o que se passa em meu bestunto.Entretanto nem sempre é tão clara a linha de corte, entre o que se pode e o que não se pode fazer, e há opções que podem nos levar ao oposto do que buscávamos, ingenuidades reais, e as falsas, travestidas de “boa fé”. Adultos devem ser tratados como tais, em seu direito de decidir as barganhas da vida, respeitados os limites éticos. As maravilhas que a tecnologia nos traz não são dádivas gratuitas e, obviamente, há modelo que as sustenta.

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Se, por um lado, há que se buscar limite e transparência dos acordos faustianos que estamos dispostos a assinar, por outro não se pode esquecer que o que move o mundo sempre foi a ambição, seja material, seja pelo poder. Ferramentas como buscadores, aplicativos de entretenimento, provedores de informação e redes sociais não são “dádivas” e custam/valem proporcionalmente ao seu alcance e popularidade. E o modelo que as sustente, por ora, é o mesmo do século passado: nós, a plateia, somos o objeto de troca. 

Ouvimos rádio, assistimos à televisão, usamos os poderosos buscadores e ferramentas na rede, sem aparente pagamento, mas a um custo. Confesso que carrego no porta-luvas do carro um “guia de São Paulo”, mas sou um recalcitrante. Hoje basta seguir a orientação da mágica vozinha suave, que nos informa “vire à esquerda em duzentos metros”, mas, para isso, devemos liberar nossa localização na cidade, parte da barganha faustiana. 

Claro que o usuário concordou em dar a sua localização, como aliás já ocorre no uso do celular, mas será que ele sabe que essa informação poderia ser repassada a outros interessados? Ele concordaria com isso? 

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O cerne da discussão é a dosagem visível e ponderada, do que estamos dispostos a repassar (dentro da ética) em troca dos serviços de que fruimos, e da proteção à nossa vontade de não repassar. Sem tutelar os usuários, mas sem subterfúgios que mascaram um comércio de dados além do combinado.

Chesterton, há mais de 100 anos, disse algo que mantém-se estranhamente atual: “Estamos aprendendo a fazer muitas e fantásticas coisas novas. A próxima grande tarefa pode ser aprender a decidir quando não fazê-las.”

Os chineses desenvolveram um sensor que, acoplado a um capacete ou a um boné, capta ondas cerebrais de seu portador e, ao que diz a notícia, será de uso obrigatório em uma gama de atividades. Como sempre, há uma explicação “racional e de boa fé”: imagine-se que um condutor de ônibus esteja prestes a adormecer ao volante. O fiel boné transmitirá essa informação à central, que poderá tomar as devidas providências preservando a integridade física dos ocupantes e do próprio motorista. Em cenário um pouco diferente, chão de fábrica, o sensor detecta que um funcionário está distraído e pode sofrer um acidente ou danificar um equipamento e, de novo, providências serão tomadas. 

Mas, se imaginarmos poder medir o grau de insatisfação do operário, uma eventual latente tensão, uma tendência a se desgarrar do rebanho ou iniciar um movimento reinvidicatório, aí a porca torce o rabo. O capacete poderia acionar os setores adequados “de controle”, e a “explicação” ficaria mais difícil. Prefiro correr o risco de algum imprevisto, do que ter meu estado de espírito constantemente monitorado. 

Fazendo paralelo com a discussão sobre dados pessoais, creio que não há dado mais pessoal do que o que se passa em meu bestunto.Entretanto nem sempre é tão clara a linha de corte, entre o que se pode e o que não se pode fazer, e há opções que podem nos levar ao oposto do que buscávamos, ingenuidades reais, e as falsas, travestidas de “boa fé”. Adultos devem ser tratados como tais, em seu direito de decidir as barganhas da vida, respeitados os limites éticos. As maravilhas que a tecnologia nos traz não são dádivas gratuitas e, obviamente, há modelo que as sustenta.

Se, por um lado, há que se buscar limite e transparência dos acordos faustianos que estamos dispostos a assinar, por outro não se pode esquecer que o que move o mundo sempre foi a ambição, seja material, seja pelo poder. Ferramentas como buscadores, aplicativos de entretenimento, provedores de informação e redes sociais não são “dádivas” e custam/valem proporcionalmente ao seu alcance e popularidade. E o modelo que as sustente, por ora, é o mesmo do século passado: nós, a plateia, somos o objeto de troca. 

Ouvimos rádio, assistimos à televisão, usamos os poderosos buscadores e ferramentas na rede, sem aparente pagamento, mas a um custo. Confesso que carrego no porta-luvas do carro um “guia de São Paulo”, mas sou um recalcitrante. Hoje basta seguir a orientação da mágica vozinha suave, que nos informa “vire à esquerda em duzentos metros”, mas, para isso, devemos liberar nossa localização na cidade, parte da barganha faustiana. 

Claro que o usuário concordou em dar a sua localização, como aliás já ocorre no uso do celular, mas será que ele sabe que essa informação poderia ser repassada a outros interessados? Ele concordaria com isso? 

O cerne da discussão é a dosagem visível e ponderada, do que estamos dispostos a repassar (dentro da ética) em troca dos serviços de que fruimos, e da proteção à nossa vontade de não repassar. Sem tutelar os usuários, mas sem subterfúgios que mascaram um comércio de dados além do combinado.

Chesterton, há mais de 100 anos, disse algo que mantém-se estranhamente atual: “Estamos aprendendo a fazer muitas e fantásticas coisas novas. A próxima grande tarefa pode ser aprender a decidir quando não fazê-las.”

Os chineses desenvolveram um sensor que, acoplado a um capacete ou a um boné, capta ondas cerebrais de seu portador e, ao que diz a notícia, será de uso obrigatório em uma gama de atividades. Como sempre, há uma explicação “racional e de boa fé”: imagine-se que um condutor de ônibus esteja prestes a adormecer ao volante. O fiel boné transmitirá essa informação à central, que poderá tomar as devidas providências preservando a integridade física dos ocupantes e do próprio motorista. Em cenário um pouco diferente, chão de fábrica, o sensor detecta que um funcionário está distraído e pode sofrer um acidente ou danificar um equipamento e, de novo, providências serão tomadas. 

Mas, se imaginarmos poder medir o grau de insatisfação do operário, uma eventual latente tensão, uma tendência a se desgarrar do rebanho ou iniciar um movimento reinvidicatório, aí a porca torce o rabo. O capacete poderia acionar os setores adequados “de controle”, e a “explicação” ficaria mais difícil. Prefiro correr o risco de algum imprevisto, do que ter meu estado de espírito constantemente monitorado. 

Fazendo paralelo com a discussão sobre dados pessoais, creio que não há dado mais pessoal do que o que se passa em meu bestunto.Entretanto nem sempre é tão clara a linha de corte, entre o que se pode e o que não se pode fazer, e há opções que podem nos levar ao oposto do que buscávamos, ingenuidades reais, e as falsas, travestidas de “boa fé”. Adultos devem ser tratados como tais, em seu direito de decidir as barganhas da vida, respeitados os limites éticos. As maravilhas que a tecnologia nos traz não são dádivas gratuitas e, obviamente, há modelo que as sustenta.

Se, por um lado, há que se buscar limite e transparência dos acordos faustianos que estamos dispostos a assinar, por outro não se pode esquecer que o que move o mundo sempre foi a ambição, seja material, seja pelo poder. Ferramentas como buscadores, aplicativos de entretenimento, provedores de informação e redes sociais não são “dádivas” e custam/valem proporcionalmente ao seu alcance e popularidade. E o modelo que as sustente, por ora, é o mesmo do século passado: nós, a plateia, somos o objeto de troca. 

Ouvimos rádio, assistimos à televisão, usamos os poderosos buscadores e ferramentas na rede, sem aparente pagamento, mas a um custo. Confesso que carrego no porta-luvas do carro um “guia de São Paulo”, mas sou um recalcitrante. Hoje basta seguir a orientação da mágica vozinha suave, que nos informa “vire à esquerda em duzentos metros”, mas, para isso, devemos liberar nossa localização na cidade, parte da barganha faustiana. 

Claro que o usuário concordou em dar a sua localização, como aliás já ocorre no uso do celular, mas será que ele sabe que essa informação poderia ser repassada a outros interessados? Ele concordaria com isso? 

O cerne da discussão é a dosagem visível e ponderada, do que estamos dispostos a repassar (dentro da ética) em troca dos serviços de que fruimos, e da proteção à nossa vontade de não repassar. Sem tutelar os usuários, mas sem subterfúgios que mascaram um comércio de dados além do combinado.

Chesterton, há mais de 100 anos, disse algo que mantém-se estranhamente atual: “Estamos aprendendo a fazer muitas e fantásticas coisas novas. A próxima grande tarefa pode ser aprender a decidir quando não fazê-las.”

Os chineses desenvolveram um sensor que, acoplado a um capacete ou a um boné, capta ondas cerebrais de seu portador e, ao que diz a notícia, será de uso obrigatório em uma gama de atividades. Como sempre, há uma explicação “racional e de boa fé”: imagine-se que um condutor de ônibus esteja prestes a adormecer ao volante. O fiel boné transmitirá essa informação à central, que poderá tomar as devidas providências preservando a integridade física dos ocupantes e do próprio motorista. Em cenário um pouco diferente, chão de fábrica, o sensor detecta que um funcionário está distraído e pode sofrer um acidente ou danificar um equipamento e, de novo, providências serão tomadas. 

Mas, se imaginarmos poder medir o grau de insatisfação do operário, uma eventual latente tensão, uma tendência a se desgarrar do rebanho ou iniciar um movimento reinvidicatório, aí a porca torce o rabo. O capacete poderia acionar os setores adequados “de controle”, e a “explicação” ficaria mais difícil. Prefiro correr o risco de algum imprevisto, do que ter meu estado de espírito constantemente monitorado. 

Fazendo paralelo com a discussão sobre dados pessoais, creio que não há dado mais pessoal do que o que se passa em meu bestunto.Entretanto nem sempre é tão clara a linha de corte, entre o que se pode e o que não se pode fazer, e há opções que podem nos levar ao oposto do que buscávamos, ingenuidades reais, e as falsas, travestidas de “boa fé”. Adultos devem ser tratados como tais, em seu direito de decidir as barganhas da vida, respeitados os limites éticos. As maravilhas que a tecnologia nos traz não são dádivas gratuitas e, obviamente, há modelo que as sustenta.

Se, por um lado, há que se buscar limite e transparência dos acordos faustianos que estamos dispostos a assinar, por outro não se pode esquecer que o que move o mundo sempre foi a ambição, seja material, seja pelo poder. Ferramentas como buscadores, aplicativos de entretenimento, provedores de informação e redes sociais não são “dádivas” e custam/valem proporcionalmente ao seu alcance e popularidade. E o modelo que as sustente, por ora, é o mesmo do século passado: nós, a plateia, somos o objeto de troca. 

Ouvimos rádio, assistimos à televisão, usamos os poderosos buscadores e ferramentas na rede, sem aparente pagamento, mas a um custo. Confesso que carrego no porta-luvas do carro um “guia de São Paulo”, mas sou um recalcitrante. Hoje basta seguir a orientação da mágica vozinha suave, que nos informa “vire à esquerda em duzentos metros”, mas, para isso, devemos liberar nossa localização na cidade, parte da barganha faustiana. 

Claro que o usuário concordou em dar a sua localização, como aliás já ocorre no uso do celular, mas será que ele sabe que essa informação poderia ser repassada a outros interessados? Ele concordaria com isso? 

O cerne da discussão é a dosagem visível e ponderada, do que estamos dispostos a repassar (dentro da ética) em troca dos serviços de que fruimos, e da proteção à nossa vontade de não repassar. Sem tutelar os usuários, mas sem subterfúgios que mascaram um comércio de dados além do combinado.

Chesterton, há mais de 100 anos, disse algo que mantém-se estranhamente atual: “Estamos aprendendo a fazer muitas e fantásticas coisas novas. A próxima grande tarefa pode ser aprender a decidir quando não fazê-las.”

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