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Livro traz reflexão sobre o Rio pós Olimpíada


Com artigos de diversos especialistas, “Depois dos Jogos” pensa os rumos que a cidade pode trilhar caso a Olimpíada de 2016 seja um sucesso

Por Marcelo Beraba

Concebido há dois anos como reflexão sobre o Rio que emergirá após a Olimpíada de 2016, o livro "Depois dos Jogos" será lançado na próxima terça-feira num momento em que o ciclo de crescimento da cidade está ameaçado.

Organizado pelo economista Fabio Giambiagi, o livro é uma coletânea de artigos que tentam projetar o futuro do Rio a partir do legado prometido para a cidade herdar após a sequência de megaeventos - Rio + 20, visita do papa, Copa do Mundo, comemorações dos 450 anos da cidade e, no próximo ano, Jogos Olímpicos.

A crise econômica do país, a derrubada do preço do petróleo e, por tabela, a queda dos recursos dos royalties mudaram as perspectivas econômicas do Estado do Rio e da sua capital. Uma boa parte das projeções pensadas por articulistas como o ministro Joaquim Levy, a ex-secretária de Educação Cláudia Costin, atualmente no Banco Mundial, o secretário municipal e pré-lançado candidato à Prefeitura do Rio Pedro Paulo Teixeira, o arquiteto Sérgio Magalhães e 20 outros especialistas foram feitas ainda no período em que o Rio vivia um renascimento.

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Mas as sugestões permanecem válidas e formam no conjunto um roteiro das novas perspectivas que se abrem para a cidade. Para que isso aconteça será necessário, segundo avaliação de Giambiagi, que a Olimpíada seja bem sucedida, que as regras de exploração do petróleo no pré-sal sejam reavaliadas e que a economia nacional reaja.

Nesta entrevista para o Blog ESTADÃO RIO, ele chama a atenção para um problema pouco discutido: o envelhecimento da população do Rio e suas consequências para o mercado de trabalho e para os serviços da cidade, principalmente na área de saúde.

O lançamento de "Depois dos Jogos - Pensando o Rio para o pós 2016", da Editora Campus, será na próxima terça (24), a partir das 18h30, na livraria da Travessa do Shopping Leblon.

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Capa de "Depois dos Jogos", que será lançado na próxima terça Foto: Estadão
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- O livro foi pensado há dois anos num momento de grandes investimentos no Rio e de expansão da sua economia. A conjuntura mudou. Isso altera as expectativas projetadas pelos articulistas para a economia do Rio após a Olimpíada?

- O livro espelha o momento em que os artigos foram solicitados. Sem dúvida nenhuma a situação nacional se deteriorou no período com reflexos inevitáveis sobre a situação do Rio. Não há como negar que a realidade hoje é bem mais complicada, em particular pelos efeitos da crise associada à piora da situação do setor de petróleo e gás, com a redução do preço, e pela repercussão em torno dos problemas da Petrobrás.

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Não obstante, vários elementos positivos identificados em diversos artigos no livro me parecem que continuam presentes. Em particular, a boa gestão municipal e o bom clima de entendimento entre o município, o estado e governo federal. Esse entendimento é absolutamente crucial para o sucesso da cidade e para o sucesso dos jogos olímpicos. E, aparentemente, esse clima continua apesar de algumas rusgas que possam ter acontecido no processo eleitoral.

No caso do petróleo, o preço atual, em torno de US$ 50 o barril, é desestimulante [para investimentos], mas quando se olha para os ciclos de preço dos últimos 40, 50 anos é difícil imaginar que a situação vá se prolongar por muito tempo. Se no horizonte de médio prazo, de cinco a dez anos, o preço ficar por volta de US$ 80 o barril, por exemplo, continuaríamos com uma atividade atraente num setor onde a produção de petróleo vai aumentar, e vai aumentar bastante. O número que está se falando é um aumento de produção em torno de cem por cento nos próximos cinco ou seis anos com o amadurecimento dos campos do pré-sal.

Agora, é importante para isso que se tenha uma visão de muito longo prazo. No meu modo de ver, seria importante, nesse processo de reflexão acerca do rumo do setor, que houvesse um reposicionamento do país acerca da regulação, com uma modificação das regras vigentes, em particular a que torna a Petrobras obrigatoriamente membro de todos os consórcios, com monopólio da operação e com participação de 30% no valor dos consórcios. Isso, associado a uma revisão nas regras do conteúdo nacional, poderia fazer com que o setor fosse mais estimulado .

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- O que é necessário o Rio fazer para continuar a crescer sem uma dependência tão grande do petróleo?

- Este crescimento estaria associado à oferta de serviços ligados às indústrias de entretenimento, design, moda, turismo e esportes. O fato de os Jogos Olímpicos terem chance de acabar com bom saldo aumenta a possibilidade de que venham a ser realizadas na cidade competições de esporte de alto desempenho.

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Ao mesmo tempo é necessário levar em conta as características da evolução demográfica do país e do Rio nos próximos 15 anos. Um ponto destacado no capítulo inicial do livro é o processo de envelhecimento em curso no país, sendo que aqui no Rio estas características deverão ser mais acentuadas porque a população idosa já tem uma proporção maior do que a nível nacional.

Para ter uma ideia do que isso significa no Brasil a população com 60 anos ou mais é de 12% do total e em 2030 será de 19%. No Estado do Rio, essa proporção em 2015 já é maior do que na média nacional, 15%, e em 2030 será de 22%. A população com mais de 80 anos e com mais de 90 anos deverá evoluir nos próximos 15 anos a taxas de 4,1% e 5,3% ao ano, respectivamente. O que obrigará um fortalecimento das ações de saúde voltadas para esta população. Ao mesmo tempo, aquilo que foi durante muitos anos a marca da cidade - juventude - tenderá a mudar com o passar do tempo.

Hoje, no Brasil, a população de 0 a 14 anos é de 23%. No Rio, é de 20%. E esta participação cairá em 2030 para 18% no país e para 16% no Rio. Então, há uma mudança da composição demográfica e é importante que a sociedade e a cidade se preparem para isso porque haverá uma demanda muito mais acentuada por serviços de saúde.

 

 - Um problema sério no Rio é a permanência de uma periferia ainda excluída do crescimento da cidade. Algumas políticas implementadas em segurança, emprego e serviços não alcançaram esta periferia a ponto de integrá-la como o resto da cidade. Que influencia isso pode ter nos projetos futuros?

- É preocupante no sentido de que é aí que se encontra um dos principais focos associados à violência, concentrados na população jovem. É um desafio para as políticas públicas. Um desafio nacional no sentido de pensar políticas voltadas para este público jovem que está saindo da escola e ainda não conseguiu um engajamento no mercado de trabalho.

Mas, ao mesmo tempo, aí também haverá a incidência do componente demográfico. Essa é uma população que tenderá a encolher gradativamente com o passar dos anos. A população de 0 a 14 anos encolherá nos próximos quinze anos na proporção de 1,2% ao ano.Um crescimento menor no número de crianças vai afetar, com uma defasagem de anos, o crescimento da população adulta jovem. O que vai mitigar um pouco o drama.

Há um elemento distintivo que o livro ressalta: já está começando a entrar na ordem do dia da discussão nacional a influência do menor crescimento da população em idade de trabalhar sobre os números do desemprego. O que explica este aparente paradoxo de, apesar de a economia estar parada já há um bom tempo, o desemprego não aumentar. Isso ocorre exatamente pela menor pressão da demografia sobre o mercado de trabalho, em contraste com o que acontecia quando me formei, há mais de 30 anos, quando havia um fluxo enorme de jovens entrando regularmente no mercado de trabalho. Agora o quadro é diferente. E no Rio, é ainda mais diferente pelo menor peso dos jovens em relação à população idosa.

Enquanto a nível nacional o grupo entre 15 e 59 anos crescerá, ainda que numa velocidade menor, de 133 milhões de pessoas para 142 milhões de pessoas, com crescimento da ordem de 6% a 7 %, no caso do Estado do Rio de Janeiro esse contingente em 2030 será ligeiramente inferior do que é agora, 11 milhões de pessoas. Crescimento zero em 15 anos. Por um lado minora a pressão sobre o mercado de trabalho, no sentido de que não vai ser dramaticamente necessário criar emprego como foi no passado. E por outro lado aumenta a responsabilidade conjunta sobre empregados e empregadores em relação à produtividade. De onde virá o aumento da produção se a população em idade de trabalhar está estável? Só poderá vir do aumento da produtividade, que é um calcanhar de Aquiles da economia como um todo.

 

- Parece haver consenso sobre os setores em que o Rio deve se desenvolver. Esportes, entretenimento, gastronomia etc. O que é necessário para que isso de fato aconteça?

- É necessário, em primeiro lugar, que a Olimpíada seja bem sucedida para deixar uma boa marca da cidade para o resto do mundo. A cidade precisa realizar bem um evento dessa magnitude, deixando as pessoas satisfeitas, e sem que nada ruim aconteça.

É necessário, em segundo lugar, repensar as condições de atratividade para o setor de petróleo no sentido de rever a regulação para que aquele boom de empresas estrangeiras que se instalou nos últimos anos possa ser restabelecido com rodadas anuais de licitações de áreas de concessão, como aconteceu entre 1999 e 2008 e deixou de acontecer desde então, com a única exceção do leilão de Libra em 2013.

É necessária uma recuperação da economia nacional. Se tivermos anos seguidos de crescimento pífio como nos anos recentes não haverá como a economia do Rio ser uma ilha e as possibilidades de expansão aqui ficarão bastante limitadas.

É necessário da parte de todos, dos empregados, dos empregadores e dos governos, ter uma consciência muito grande da importância do aumento da produtividade. Eu aqui vou resgatar uma frase do meu amigo Sérgio Besserman (economista e ex-presidente do IBGE), que disse recentemente, a respeito dos 450 anos da cidade, que "os cariocas precisam ser um pouco mais paulistas".

Há uma antiga rixa tola entre Rio e São Paulo, totalmente injustificável. Os cariocas durante décadas brincavam por causa da dedicação dos paulistas ao trabalho, de certo estresse da cidade, mas qualquer pessoa com o mínimo de isenção que frequenta São Paulo percebe que aquilo é outro país em relação ao grau de comprometimento, de entrega com prazo. E aqui no Rio nós sempre fomos tradicionalmente muito mais relaxados, o que era um pouco parte do folclore, mas que não combina mais com um mundo muito mais veloz, muito mais comprometido com a qualidade dos resultados. Nós temos de aprender isso com São Paulo. Muitas destas tradições associadas ao Rio com a imagem de relaxamento terão de ficar para trás se a gente quiser ser bem sucedido neste mundo que se avizinha.

Há um desafio colocado para as empresas de todos os tamanhos relacionado com as pessoas que já saíram da escola. Estamos de acordo que a resposta para algumas destas questões que estamos discutindo passa pela educação. Só que boa parte das pessoas que vão tocar o país e o Rio nos próximos 20 anos já saiu da escola e com uma formação precária, com pouca leitura, com uma formação não muito preocupada com a eficiência e a excelência. É necessário que as empresas estejam antenadas para a necessidade de treinamento da mão de obra.

Concebido há dois anos como reflexão sobre o Rio que emergirá após a Olimpíada de 2016, o livro "Depois dos Jogos" será lançado na próxima terça-feira num momento em que o ciclo de crescimento da cidade está ameaçado.

Organizado pelo economista Fabio Giambiagi, o livro é uma coletânea de artigos que tentam projetar o futuro do Rio a partir do legado prometido para a cidade herdar após a sequência de megaeventos - Rio + 20, visita do papa, Copa do Mundo, comemorações dos 450 anos da cidade e, no próximo ano, Jogos Olímpicos.

A crise econômica do país, a derrubada do preço do petróleo e, por tabela, a queda dos recursos dos royalties mudaram as perspectivas econômicas do Estado do Rio e da sua capital. Uma boa parte das projeções pensadas por articulistas como o ministro Joaquim Levy, a ex-secretária de Educação Cláudia Costin, atualmente no Banco Mundial, o secretário municipal e pré-lançado candidato à Prefeitura do Rio Pedro Paulo Teixeira, o arquiteto Sérgio Magalhães e 20 outros especialistas foram feitas ainda no período em que o Rio vivia um renascimento.

Mas as sugestões permanecem válidas e formam no conjunto um roteiro das novas perspectivas que se abrem para a cidade. Para que isso aconteça será necessário, segundo avaliação de Giambiagi, que a Olimpíada seja bem sucedida, que as regras de exploração do petróleo no pré-sal sejam reavaliadas e que a economia nacional reaja.

Nesta entrevista para o Blog ESTADÃO RIO, ele chama a atenção para um problema pouco discutido: o envelhecimento da população do Rio e suas consequências para o mercado de trabalho e para os serviços da cidade, principalmente na área de saúde.

O lançamento de "Depois dos Jogos - Pensando o Rio para o pós 2016", da Editora Campus, será na próxima terça (24), a partir das 18h30, na livraria da Travessa do Shopping Leblon.

 

Capa de "Depois dos Jogos", que será lançado na próxima terça Foto: Estadão

 

- O livro foi pensado há dois anos num momento de grandes investimentos no Rio e de expansão da sua economia. A conjuntura mudou. Isso altera as expectativas projetadas pelos articulistas para a economia do Rio após a Olimpíada?

- O livro espelha o momento em que os artigos foram solicitados. Sem dúvida nenhuma a situação nacional se deteriorou no período com reflexos inevitáveis sobre a situação do Rio. Não há como negar que a realidade hoje é bem mais complicada, em particular pelos efeitos da crise associada à piora da situação do setor de petróleo e gás, com a redução do preço, e pela repercussão em torno dos problemas da Petrobrás.

Não obstante, vários elementos positivos identificados em diversos artigos no livro me parecem que continuam presentes. Em particular, a boa gestão municipal e o bom clima de entendimento entre o município, o estado e governo federal. Esse entendimento é absolutamente crucial para o sucesso da cidade e para o sucesso dos jogos olímpicos. E, aparentemente, esse clima continua apesar de algumas rusgas que possam ter acontecido no processo eleitoral.

No caso do petróleo, o preço atual, em torno de US$ 50 o barril, é desestimulante [para investimentos], mas quando se olha para os ciclos de preço dos últimos 40, 50 anos é difícil imaginar que a situação vá se prolongar por muito tempo. Se no horizonte de médio prazo, de cinco a dez anos, o preço ficar por volta de US$ 80 o barril, por exemplo, continuaríamos com uma atividade atraente num setor onde a produção de petróleo vai aumentar, e vai aumentar bastante. O número que está se falando é um aumento de produção em torno de cem por cento nos próximos cinco ou seis anos com o amadurecimento dos campos do pré-sal.

Agora, é importante para isso que se tenha uma visão de muito longo prazo. No meu modo de ver, seria importante, nesse processo de reflexão acerca do rumo do setor, que houvesse um reposicionamento do país acerca da regulação, com uma modificação das regras vigentes, em particular a que torna a Petrobras obrigatoriamente membro de todos os consórcios, com monopólio da operação e com participação de 30% no valor dos consórcios. Isso, associado a uma revisão nas regras do conteúdo nacional, poderia fazer com que o setor fosse mais estimulado .

 

- O que é necessário o Rio fazer para continuar a crescer sem uma dependência tão grande do petróleo?

- Este crescimento estaria associado à oferta de serviços ligados às indústrias de entretenimento, design, moda, turismo e esportes. O fato de os Jogos Olímpicos terem chance de acabar com bom saldo aumenta a possibilidade de que venham a ser realizadas na cidade competições de esporte de alto desempenho.

Ao mesmo tempo é necessário levar em conta as características da evolução demográfica do país e do Rio nos próximos 15 anos. Um ponto destacado no capítulo inicial do livro é o processo de envelhecimento em curso no país, sendo que aqui no Rio estas características deverão ser mais acentuadas porque a população idosa já tem uma proporção maior do que a nível nacional.

Para ter uma ideia do que isso significa no Brasil a população com 60 anos ou mais é de 12% do total e em 2030 será de 19%. No Estado do Rio, essa proporção em 2015 já é maior do que na média nacional, 15%, e em 2030 será de 22%. A população com mais de 80 anos e com mais de 90 anos deverá evoluir nos próximos 15 anos a taxas de 4,1% e 5,3% ao ano, respectivamente. O que obrigará um fortalecimento das ações de saúde voltadas para esta população. Ao mesmo tempo, aquilo que foi durante muitos anos a marca da cidade - juventude - tenderá a mudar com o passar do tempo.

Hoje, no Brasil, a população de 0 a 14 anos é de 23%. No Rio, é de 20%. E esta participação cairá em 2030 para 18% no país e para 16% no Rio. Então, há uma mudança da composição demográfica e é importante que a sociedade e a cidade se preparem para isso porque haverá uma demanda muito mais acentuada por serviços de saúde.

 

 - Um problema sério no Rio é a permanência de uma periferia ainda excluída do crescimento da cidade. Algumas políticas implementadas em segurança, emprego e serviços não alcançaram esta periferia a ponto de integrá-la como o resto da cidade. Que influencia isso pode ter nos projetos futuros?

- É preocupante no sentido de que é aí que se encontra um dos principais focos associados à violência, concentrados na população jovem. É um desafio para as políticas públicas. Um desafio nacional no sentido de pensar políticas voltadas para este público jovem que está saindo da escola e ainda não conseguiu um engajamento no mercado de trabalho.

Mas, ao mesmo tempo, aí também haverá a incidência do componente demográfico. Essa é uma população que tenderá a encolher gradativamente com o passar dos anos. A população de 0 a 14 anos encolherá nos próximos quinze anos na proporção de 1,2% ao ano.Um crescimento menor no número de crianças vai afetar, com uma defasagem de anos, o crescimento da população adulta jovem. O que vai mitigar um pouco o drama.

Há um elemento distintivo que o livro ressalta: já está começando a entrar na ordem do dia da discussão nacional a influência do menor crescimento da população em idade de trabalhar sobre os números do desemprego. O que explica este aparente paradoxo de, apesar de a economia estar parada já há um bom tempo, o desemprego não aumentar. Isso ocorre exatamente pela menor pressão da demografia sobre o mercado de trabalho, em contraste com o que acontecia quando me formei, há mais de 30 anos, quando havia um fluxo enorme de jovens entrando regularmente no mercado de trabalho. Agora o quadro é diferente. E no Rio, é ainda mais diferente pelo menor peso dos jovens em relação à população idosa.

Enquanto a nível nacional o grupo entre 15 e 59 anos crescerá, ainda que numa velocidade menor, de 133 milhões de pessoas para 142 milhões de pessoas, com crescimento da ordem de 6% a 7 %, no caso do Estado do Rio de Janeiro esse contingente em 2030 será ligeiramente inferior do que é agora, 11 milhões de pessoas. Crescimento zero em 15 anos. Por um lado minora a pressão sobre o mercado de trabalho, no sentido de que não vai ser dramaticamente necessário criar emprego como foi no passado. E por outro lado aumenta a responsabilidade conjunta sobre empregados e empregadores em relação à produtividade. De onde virá o aumento da produção se a população em idade de trabalhar está estável? Só poderá vir do aumento da produtividade, que é um calcanhar de Aquiles da economia como um todo.

 

- Parece haver consenso sobre os setores em que o Rio deve se desenvolver. Esportes, entretenimento, gastronomia etc. O que é necessário para que isso de fato aconteça?

- É necessário, em primeiro lugar, que a Olimpíada seja bem sucedida para deixar uma boa marca da cidade para o resto do mundo. A cidade precisa realizar bem um evento dessa magnitude, deixando as pessoas satisfeitas, e sem que nada ruim aconteça.

É necessário, em segundo lugar, repensar as condições de atratividade para o setor de petróleo no sentido de rever a regulação para que aquele boom de empresas estrangeiras que se instalou nos últimos anos possa ser restabelecido com rodadas anuais de licitações de áreas de concessão, como aconteceu entre 1999 e 2008 e deixou de acontecer desde então, com a única exceção do leilão de Libra em 2013.

É necessária uma recuperação da economia nacional. Se tivermos anos seguidos de crescimento pífio como nos anos recentes não haverá como a economia do Rio ser uma ilha e as possibilidades de expansão aqui ficarão bastante limitadas.

É necessário da parte de todos, dos empregados, dos empregadores e dos governos, ter uma consciência muito grande da importância do aumento da produtividade. Eu aqui vou resgatar uma frase do meu amigo Sérgio Besserman (economista e ex-presidente do IBGE), que disse recentemente, a respeito dos 450 anos da cidade, que "os cariocas precisam ser um pouco mais paulistas".

Há uma antiga rixa tola entre Rio e São Paulo, totalmente injustificável. Os cariocas durante décadas brincavam por causa da dedicação dos paulistas ao trabalho, de certo estresse da cidade, mas qualquer pessoa com o mínimo de isenção que frequenta São Paulo percebe que aquilo é outro país em relação ao grau de comprometimento, de entrega com prazo. E aqui no Rio nós sempre fomos tradicionalmente muito mais relaxados, o que era um pouco parte do folclore, mas que não combina mais com um mundo muito mais veloz, muito mais comprometido com a qualidade dos resultados. Nós temos de aprender isso com São Paulo. Muitas destas tradições associadas ao Rio com a imagem de relaxamento terão de ficar para trás se a gente quiser ser bem sucedido neste mundo que se avizinha.

Há um desafio colocado para as empresas de todos os tamanhos relacionado com as pessoas que já saíram da escola. Estamos de acordo que a resposta para algumas destas questões que estamos discutindo passa pela educação. Só que boa parte das pessoas que vão tocar o país e o Rio nos próximos 20 anos já saiu da escola e com uma formação precária, com pouca leitura, com uma formação não muito preocupada com a eficiência e a excelência. É necessário que as empresas estejam antenadas para a necessidade de treinamento da mão de obra.

Concebido há dois anos como reflexão sobre o Rio que emergirá após a Olimpíada de 2016, o livro "Depois dos Jogos" será lançado na próxima terça-feira num momento em que o ciclo de crescimento da cidade está ameaçado.

Organizado pelo economista Fabio Giambiagi, o livro é uma coletânea de artigos que tentam projetar o futuro do Rio a partir do legado prometido para a cidade herdar após a sequência de megaeventos - Rio + 20, visita do papa, Copa do Mundo, comemorações dos 450 anos da cidade e, no próximo ano, Jogos Olímpicos.

A crise econômica do país, a derrubada do preço do petróleo e, por tabela, a queda dos recursos dos royalties mudaram as perspectivas econômicas do Estado do Rio e da sua capital. Uma boa parte das projeções pensadas por articulistas como o ministro Joaquim Levy, a ex-secretária de Educação Cláudia Costin, atualmente no Banco Mundial, o secretário municipal e pré-lançado candidato à Prefeitura do Rio Pedro Paulo Teixeira, o arquiteto Sérgio Magalhães e 20 outros especialistas foram feitas ainda no período em que o Rio vivia um renascimento.

Mas as sugestões permanecem válidas e formam no conjunto um roteiro das novas perspectivas que se abrem para a cidade. Para que isso aconteça será necessário, segundo avaliação de Giambiagi, que a Olimpíada seja bem sucedida, que as regras de exploração do petróleo no pré-sal sejam reavaliadas e que a economia nacional reaja.

Nesta entrevista para o Blog ESTADÃO RIO, ele chama a atenção para um problema pouco discutido: o envelhecimento da população do Rio e suas consequências para o mercado de trabalho e para os serviços da cidade, principalmente na área de saúde.

O lançamento de "Depois dos Jogos - Pensando o Rio para o pós 2016", da Editora Campus, será na próxima terça (24), a partir das 18h30, na livraria da Travessa do Shopping Leblon.

 

Capa de "Depois dos Jogos", que será lançado na próxima terça Foto: Estadão

 

- O livro foi pensado há dois anos num momento de grandes investimentos no Rio e de expansão da sua economia. A conjuntura mudou. Isso altera as expectativas projetadas pelos articulistas para a economia do Rio após a Olimpíada?

- O livro espelha o momento em que os artigos foram solicitados. Sem dúvida nenhuma a situação nacional se deteriorou no período com reflexos inevitáveis sobre a situação do Rio. Não há como negar que a realidade hoje é bem mais complicada, em particular pelos efeitos da crise associada à piora da situação do setor de petróleo e gás, com a redução do preço, e pela repercussão em torno dos problemas da Petrobrás.

Não obstante, vários elementos positivos identificados em diversos artigos no livro me parecem que continuam presentes. Em particular, a boa gestão municipal e o bom clima de entendimento entre o município, o estado e governo federal. Esse entendimento é absolutamente crucial para o sucesso da cidade e para o sucesso dos jogos olímpicos. E, aparentemente, esse clima continua apesar de algumas rusgas que possam ter acontecido no processo eleitoral.

No caso do petróleo, o preço atual, em torno de US$ 50 o barril, é desestimulante [para investimentos], mas quando se olha para os ciclos de preço dos últimos 40, 50 anos é difícil imaginar que a situação vá se prolongar por muito tempo. Se no horizonte de médio prazo, de cinco a dez anos, o preço ficar por volta de US$ 80 o barril, por exemplo, continuaríamos com uma atividade atraente num setor onde a produção de petróleo vai aumentar, e vai aumentar bastante. O número que está se falando é um aumento de produção em torno de cem por cento nos próximos cinco ou seis anos com o amadurecimento dos campos do pré-sal.

Agora, é importante para isso que se tenha uma visão de muito longo prazo. No meu modo de ver, seria importante, nesse processo de reflexão acerca do rumo do setor, que houvesse um reposicionamento do país acerca da regulação, com uma modificação das regras vigentes, em particular a que torna a Petrobras obrigatoriamente membro de todos os consórcios, com monopólio da operação e com participação de 30% no valor dos consórcios. Isso, associado a uma revisão nas regras do conteúdo nacional, poderia fazer com que o setor fosse mais estimulado .

 

- O que é necessário o Rio fazer para continuar a crescer sem uma dependência tão grande do petróleo?

- Este crescimento estaria associado à oferta de serviços ligados às indústrias de entretenimento, design, moda, turismo e esportes. O fato de os Jogos Olímpicos terem chance de acabar com bom saldo aumenta a possibilidade de que venham a ser realizadas na cidade competições de esporte de alto desempenho.

Ao mesmo tempo é necessário levar em conta as características da evolução demográfica do país e do Rio nos próximos 15 anos. Um ponto destacado no capítulo inicial do livro é o processo de envelhecimento em curso no país, sendo que aqui no Rio estas características deverão ser mais acentuadas porque a população idosa já tem uma proporção maior do que a nível nacional.

Para ter uma ideia do que isso significa no Brasil a população com 60 anos ou mais é de 12% do total e em 2030 será de 19%. No Estado do Rio, essa proporção em 2015 já é maior do que na média nacional, 15%, e em 2030 será de 22%. A população com mais de 80 anos e com mais de 90 anos deverá evoluir nos próximos 15 anos a taxas de 4,1% e 5,3% ao ano, respectivamente. O que obrigará um fortalecimento das ações de saúde voltadas para esta população. Ao mesmo tempo, aquilo que foi durante muitos anos a marca da cidade - juventude - tenderá a mudar com o passar do tempo.

Hoje, no Brasil, a população de 0 a 14 anos é de 23%. No Rio, é de 20%. E esta participação cairá em 2030 para 18% no país e para 16% no Rio. Então, há uma mudança da composição demográfica e é importante que a sociedade e a cidade se preparem para isso porque haverá uma demanda muito mais acentuada por serviços de saúde.

 

 - Um problema sério no Rio é a permanência de uma periferia ainda excluída do crescimento da cidade. Algumas políticas implementadas em segurança, emprego e serviços não alcançaram esta periferia a ponto de integrá-la como o resto da cidade. Que influencia isso pode ter nos projetos futuros?

- É preocupante no sentido de que é aí que se encontra um dos principais focos associados à violência, concentrados na população jovem. É um desafio para as políticas públicas. Um desafio nacional no sentido de pensar políticas voltadas para este público jovem que está saindo da escola e ainda não conseguiu um engajamento no mercado de trabalho.

Mas, ao mesmo tempo, aí também haverá a incidência do componente demográfico. Essa é uma população que tenderá a encolher gradativamente com o passar dos anos. A população de 0 a 14 anos encolherá nos próximos quinze anos na proporção de 1,2% ao ano.Um crescimento menor no número de crianças vai afetar, com uma defasagem de anos, o crescimento da população adulta jovem. O que vai mitigar um pouco o drama.

Há um elemento distintivo que o livro ressalta: já está começando a entrar na ordem do dia da discussão nacional a influência do menor crescimento da população em idade de trabalhar sobre os números do desemprego. O que explica este aparente paradoxo de, apesar de a economia estar parada já há um bom tempo, o desemprego não aumentar. Isso ocorre exatamente pela menor pressão da demografia sobre o mercado de trabalho, em contraste com o que acontecia quando me formei, há mais de 30 anos, quando havia um fluxo enorme de jovens entrando regularmente no mercado de trabalho. Agora o quadro é diferente. E no Rio, é ainda mais diferente pelo menor peso dos jovens em relação à população idosa.

Enquanto a nível nacional o grupo entre 15 e 59 anos crescerá, ainda que numa velocidade menor, de 133 milhões de pessoas para 142 milhões de pessoas, com crescimento da ordem de 6% a 7 %, no caso do Estado do Rio de Janeiro esse contingente em 2030 será ligeiramente inferior do que é agora, 11 milhões de pessoas. Crescimento zero em 15 anos. Por um lado minora a pressão sobre o mercado de trabalho, no sentido de que não vai ser dramaticamente necessário criar emprego como foi no passado. E por outro lado aumenta a responsabilidade conjunta sobre empregados e empregadores em relação à produtividade. De onde virá o aumento da produção se a população em idade de trabalhar está estável? Só poderá vir do aumento da produtividade, que é um calcanhar de Aquiles da economia como um todo.

 

- Parece haver consenso sobre os setores em que o Rio deve se desenvolver. Esportes, entretenimento, gastronomia etc. O que é necessário para que isso de fato aconteça?

- É necessário, em primeiro lugar, que a Olimpíada seja bem sucedida para deixar uma boa marca da cidade para o resto do mundo. A cidade precisa realizar bem um evento dessa magnitude, deixando as pessoas satisfeitas, e sem que nada ruim aconteça.

É necessário, em segundo lugar, repensar as condições de atratividade para o setor de petróleo no sentido de rever a regulação para que aquele boom de empresas estrangeiras que se instalou nos últimos anos possa ser restabelecido com rodadas anuais de licitações de áreas de concessão, como aconteceu entre 1999 e 2008 e deixou de acontecer desde então, com a única exceção do leilão de Libra em 2013.

É necessária uma recuperação da economia nacional. Se tivermos anos seguidos de crescimento pífio como nos anos recentes não haverá como a economia do Rio ser uma ilha e as possibilidades de expansão aqui ficarão bastante limitadas.

É necessário da parte de todos, dos empregados, dos empregadores e dos governos, ter uma consciência muito grande da importância do aumento da produtividade. Eu aqui vou resgatar uma frase do meu amigo Sérgio Besserman (economista e ex-presidente do IBGE), que disse recentemente, a respeito dos 450 anos da cidade, que "os cariocas precisam ser um pouco mais paulistas".

Há uma antiga rixa tola entre Rio e São Paulo, totalmente injustificável. Os cariocas durante décadas brincavam por causa da dedicação dos paulistas ao trabalho, de certo estresse da cidade, mas qualquer pessoa com o mínimo de isenção que frequenta São Paulo percebe que aquilo é outro país em relação ao grau de comprometimento, de entrega com prazo. E aqui no Rio nós sempre fomos tradicionalmente muito mais relaxados, o que era um pouco parte do folclore, mas que não combina mais com um mundo muito mais veloz, muito mais comprometido com a qualidade dos resultados. Nós temos de aprender isso com São Paulo. Muitas destas tradições associadas ao Rio com a imagem de relaxamento terão de ficar para trás se a gente quiser ser bem sucedido neste mundo que se avizinha.

Há um desafio colocado para as empresas de todos os tamanhos relacionado com as pessoas que já saíram da escola. Estamos de acordo que a resposta para algumas destas questões que estamos discutindo passa pela educação. Só que boa parte das pessoas que vão tocar o país e o Rio nos próximos 20 anos já saiu da escola e com uma formação precária, com pouca leitura, com uma formação não muito preocupada com a eficiência e a excelência. É necessário que as empresas estejam antenadas para a necessidade de treinamento da mão de obra.

Concebido há dois anos como reflexão sobre o Rio que emergirá após a Olimpíada de 2016, o livro "Depois dos Jogos" será lançado na próxima terça-feira num momento em que o ciclo de crescimento da cidade está ameaçado.

Organizado pelo economista Fabio Giambiagi, o livro é uma coletânea de artigos que tentam projetar o futuro do Rio a partir do legado prometido para a cidade herdar após a sequência de megaeventos - Rio + 20, visita do papa, Copa do Mundo, comemorações dos 450 anos da cidade e, no próximo ano, Jogos Olímpicos.

A crise econômica do país, a derrubada do preço do petróleo e, por tabela, a queda dos recursos dos royalties mudaram as perspectivas econômicas do Estado do Rio e da sua capital. Uma boa parte das projeções pensadas por articulistas como o ministro Joaquim Levy, a ex-secretária de Educação Cláudia Costin, atualmente no Banco Mundial, o secretário municipal e pré-lançado candidato à Prefeitura do Rio Pedro Paulo Teixeira, o arquiteto Sérgio Magalhães e 20 outros especialistas foram feitas ainda no período em que o Rio vivia um renascimento.

Mas as sugestões permanecem válidas e formam no conjunto um roteiro das novas perspectivas que se abrem para a cidade. Para que isso aconteça será necessário, segundo avaliação de Giambiagi, que a Olimpíada seja bem sucedida, que as regras de exploração do petróleo no pré-sal sejam reavaliadas e que a economia nacional reaja.

Nesta entrevista para o Blog ESTADÃO RIO, ele chama a atenção para um problema pouco discutido: o envelhecimento da população do Rio e suas consequências para o mercado de trabalho e para os serviços da cidade, principalmente na área de saúde.

O lançamento de "Depois dos Jogos - Pensando o Rio para o pós 2016", da Editora Campus, será na próxima terça (24), a partir das 18h30, na livraria da Travessa do Shopping Leblon.

 

Capa de "Depois dos Jogos", que será lançado na próxima terça Foto: Estadão

 

- O livro foi pensado há dois anos num momento de grandes investimentos no Rio e de expansão da sua economia. A conjuntura mudou. Isso altera as expectativas projetadas pelos articulistas para a economia do Rio após a Olimpíada?

- O livro espelha o momento em que os artigos foram solicitados. Sem dúvida nenhuma a situação nacional se deteriorou no período com reflexos inevitáveis sobre a situação do Rio. Não há como negar que a realidade hoje é bem mais complicada, em particular pelos efeitos da crise associada à piora da situação do setor de petróleo e gás, com a redução do preço, e pela repercussão em torno dos problemas da Petrobrás.

Não obstante, vários elementos positivos identificados em diversos artigos no livro me parecem que continuam presentes. Em particular, a boa gestão municipal e o bom clima de entendimento entre o município, o estado e governo federal. Esse entendimento é absolutamente crucial para o sucesso da cidade e para o sucesso dos jogos olímpicos. E, aparentemente, esse clima continua apesar de algumas rusgas que possam ter acontecido no processo eleitoral.

No caso do petróleo, o preço atual, em torno de US$ 50 o barril, é desestimulante [para investimentos], mas quando se olha para os ciclos de preço dos últimos 40, 50 anos é difícil imaginar que a situação vá se prolongar por muito tempo. Se no horizonte de médio prazo, de cinco a dez anos, o preço ficar por volta de US$ 80 o barril, por exemplo, continuaríamos com uma atividade atraente num setor onde a produção de petróleo vai aumentar, e vai aumentar bastante. O número que está se falando é um aumento de produção em torno de cem por cento nos próximos cinco ou seis anos com o amadurecimento dos campos do pré-sal.

Agora, é importante para isso que se tenha uma visão de muito longo prazo. No meu modo de ver, seria importante, nesse processo de reflexão acerca do rumo do setor, que houvesse um reposicionamento do país acerca da regulação, com uma modificação das regras vigentes, em particular a que torna a Petrobras obrigatoriamente membro de todos os consórcios, com monopólio da operação e com participação de 30% no valor dos consórcios. Isso, associado a uma revisão nas regras do conteúdo nacional, poderia fazer com que o setor fosse mais estimulado .

 

- O que é necessário o Rio fazer para continuar a crescer sem uma dependência tão grande do petróleo?

- Este crescimento estaria associado à oferta de serviços ligados às indústrias de entretenimento, design, moda, turismo e esportes. O fato de os Jogos Olímpicos terem chance de acabar com bom saldo aumenta a possibilidade de que venham a ser realizadas na cidade competições de esporte de alto desempenho.

Ao mesmo tempo é necessário levar em conta as características da evolução demográfica do país e do Rio nos próximos 15 anos. Um ponto destacado no capítulo inicial do livro é o processo de envelhecimento em curso no país, sendo que aqui no Rio estas características deverão ser mais acentuadas porque a população idosa já tem uma proporção maior do que a nível nacional.

Para ter uma ideia do que isso significa no Brasil a população com 60 anos ou mais é de 12% do total e em 2030 será de 19%. No Estado do Rio, essa proporção em 2015 já é maior do que na média nacional, 15%, e em 2030 será de 22%. A população com mais de 80 anos e com mais de 90 anos deverá evoluir nos próximos 15 anos a taxas de 4,1% e 5,3% ao ano, respectivamente. O que obrigará um fortalecimento das ações de saúde voltadas para esta população. Ao mesmo tempo, aquilo que foi durante muitos anos a marca da cidade - juventude - tenderá a mudar com o passar do tempo.

Hoje, no Brasil, a população de 0 a 14 anos é de 23%. No Rio, é de 20%. E esta participação cairá em 2030 para 18% no país e para 16% no Rio. Então, há uma mudança da composição demográfica e é importante que a sociedade e a cidade se preparem para isso porque haverá uma demanda muito mais acentuada por serviços de saúde.

 

 - Um problema sério no Rio é a permanência de uma periferia ainda excluída do crescimento da cidade. Algumas políticas implementadas em segurança, emprego e serviços não alcançaram esta periferia a ponto de integrá-la como o resto da cidade. Que influencia isso pode ter nos projetos futuros?

- É preocupante no sentido de que é aí que se encontra um dos principais focos associados à violência, concentrados na população jovem. É um desafio para as políticas públicas. Um desafio nacional no sentido de pensar políticas voltadas para este público jovem que está saindo da escola e ainda não conseguiu um engajamento no mercado de trabalho.

Mas, ao mesmo tempo, aí também haverá a incidência do componente demográfico. Essa é uma população que tenderá a encolher gradativamente com o passar dos anos. A população de 0 a 14 anos encolherá nos próximos quinze anos na proporção de 1,2% ao ano.Um crescimento menor no número de crianças vai afetar, com uma defasagem de anos, o crescimento da população adulta jovem. O que vai mitigar um pouco o drama.

Há um elemento distintivo que o livro ressalta: já está começando a entrar na ordem do dia da discussão nacional a influência do menor crescimento da população em idade de trabalhar sobre os números do desemprego. O que explica este aparente paradoxo de, apesar de a economia estar parada já há um bom tempo, o desemprego não aumentar. Isso ocorre exatamente pela menor pressão da demografia sobre o mercado de trabalho, em contraste com o que acontecia quando me formei, há mais de 30 anos, quando havia um fluxo enorme de jovens entrando regularmente no mercado de trabalho. Agora o quadro é diferente. E no Rio, é ainda mais diferente pelo menor peso dos jovens em relação à população idosa.

Enquanto a nível nacional o grupo entre 15 e 59 anos crescerá, ainda que numa velocidade menor, de 133 milhões de pessoas para 142 milhões de pessoas, com crescimento da ordem de 6% a 7 %, no caso do Estado do Rio de Janeiro esse contingente em 2030 será ligeiramente inferior do que é agora, 11 milhões de pessoas. Crescimento zero em 15 anos. Por um lado minora a pressão sobre o mercado de trabalho, no sentido de que não vai ser dramaticamente necessário criar emprego como foi no passado. E por outro lado aumenta a responsabilidade conjunta sobre empregados e empregadores em relação à produtividade. De onde virá o aumento da produção se a população em idade de trabalhar está estável? Só poderá vir do aumento da produtividade, que é um calcanhar de Aquiles da economia como um todo.

 

- Parece haver consenso sobre os setores em que o Rio deve se desenvolver. Esportes, entretenimento, gastronomia etc. O que é necessário para que isso de fato aconteça?

- É necessário, em primeiro lugar, que a Olimpíada seja bem sucedida para deixar uma boa marca da cidade para o resto do mundo. A cidade precisa realizar bem um evento dessa magnitude, deixando as pessoas satisfeitas, e sem que nada ruim aconteça.

É necessário, em segundo lugar, repensar as condições de atratividade para o setor de petróleo no sentido de rever a regulação para que aquele boom de empresas estrangeiras que se instalou nos últimos anos possa ser restabelecido com rodadas anuais de licitações de áreas de concessão, como aconteceu entre 1999 e 2008 e deixou de acontecer desde então, com a única exceção do leilão de Libra em 2013.

É necessária uma recuperação da economia nacional. Se tivermos anos seguidos de crescimento pífio como nos anos recentes não haverá como a economia do Rio ser uma ilha e as possibilidades de expansão aqui ficarão bastante limitadas.

É necessário da parte de todos, dos empregados, dos empregadores e dos governos, ter uma consciência muito grande da importância do aumento da produtividade. Eu aqui vou resgatar uma frase do meu amigo Sérgio Besserman (economista e ex-presidente do IBGE), que disse recentemente, a respeito dos 450 anos da cidade, que "os cariocas precisam ser um pouco mais paulistas".

Há uma antiga rixa tola entre Rio e São Paulo, totalmente injustificável. Os cariocas durante décadas brincavam por causa da dedicação dos paulistas ao trabalho, de certo estresse da cidade, mas qualquer pessoa com o mínimo de isenção que frequenta São Paulo percebe que aquilo é outro país em relação ao grau de comprometimento, de entrega com prazo. E aqui no Rio nós sempre fomos tradicionalmente muito mais relaxados, o que era um pouco parte do folclore, mas que não combina mais com um mundo muito mais veloz, muito mais comprometido com a qualidade dos resultados. Nós temos de aprender isso com São Paulo. Muitas destas tradições associadas ao Rio com a imagem de relaxamento terão de ficar para trás se a gente quiser ser bem sucedido neste mundo que se avizinha.

Há um desafio colocado para as empresas de todos os tamanhos relacionado com as pessoas que já saíram da escola. Estamos de acordo que a resposta para algumas destas questões que estamos discutindo passa pela educação. Só que boa parte das pessoas que vão tocar o país e o Rio nos próximos 20 anos já saiu da escola e com uma formação precária, com pouca leitura, com uma formação não muito preocupada com a eficiência e a excelência. É necessário que as empresas estejam antenadas para a necessidade de treinamento da mão de obra.

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