Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Eu e a sua máscara


Talvez você tenha deixado a máscara de propósito. Talvez você precise de uma desculpa para voltar. Ou tenha deixado um recado que ainda não decifrei

Por Gilberto Amendola

Quero contar sobre a máscara que você esqueceu na minha casa e como tenho cuidado dela. Acho que pode funcionar se eu fizer um paralelo rápido com uma escova de dentes que foi deixada para trás – com a clara intenção de marcar um território amoroso.

Ainda se faz isso? As pessoas ainda espalham objetos para assegurar uma cadeira, um assento premiado no coração de outra pessoa?

Talvez você tenha deixado a máscara de propósito. Talvez você precise de uma desculpa para voltar. Ou tenha deixado um recado que ainda não decifrei.

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Guardo sua máscara do lado da minha cama. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você Foto: De An Sun Tso/Unsplash.com

Se eu não te desvendar, você me devora?

Será que quando a pandemia acabar, vamos amar as mesmas pessoas? 

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Deixar de me amar pode ser uma sequela da sua covid? 

Guardo sua máscara ao lado da minha cama, do lado do despertador. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você. Tenho lá minhas fantasias com sua PFF2.

Conversamos, debatemos, falo coisas que nunca te disse. Sua máscara, acredito, guarda certa simpatia por mim.

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Juntos, eu e sua máscara, rimos de coisas que são feitas para chorar. Deve ser uma espécie de defesa natural, um mecanismo de sobrevivência. 

Nós, eu e sua máscara, temos o mesmo impulso de moer os sentimentos ruins até que eles se transformem em uma pasta fácil de trabalhar. A gente vive fritando esses quibes existenciais para matar a nossa fome. 

Só assim, comicamente imunizado, é possível ser brasileiro.

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Ontem, vesti meu chinelo, sem tirar as meias. Da minha geladeira, peguei um vinho que já está pela metade. Sabe, gosto daquela taça que tem uma lascadinha na borda – ela me exige atenção na hora de beber. 

Tentei harmonizar o vinho com Cebolitos (o que deve ressaltar as notas de requeijão vencido do meu malbec). Não sei se funcionou direito, mas foi uma noite incrível. 

Quer dizer, estava sendo uma noite incrível... Sem querer, e na pressa de descer para pegar um delivery, coloquei sua máscara no meu rosto.

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Foi estranho, foi um beijo, foi perigoso, foi nojento, foi lindo, foi sufocante, foi libertador, foi um descuido e foi imperdoável. 

Tive que lavá-la depois. E abandoná-la no varal, pingando. Não sei se ria ou se chorava. Também não sei se ela deve ser usada de novo. O melhor, talvez, seja guardá-la como um souvenir do nosso amor pausado.

Do amor que foi quando não poderia ter sido. 

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Hoje, vou fazer uma foto da sua máscara e mandá-la por e-mail. Vai ser um mude pandêmico. 

Mas vai que esse e-mail bate em alguma parede cibernética, quica em um servidor sem alma e volta para mim. 

Uma mensagem de erro pode ser uma resposta contundente ao meu delírio romântico. Vai que você não está mais disponível, ou o seu endereço não existe ou o excesso de pretendentes lotou sua caixa de entrada.

Cortei meus lábios com a borda lascada dessa taça de vinho.

Limpei com sua máscara.

Foi sem querer. 

Quero contar sobre a máscara que você esqueceu na minha casa e como tenho cuidado dela. Acho que pode funcionar se eu fizer um paralelo rápido com uma escova de dentes que foi deixada para trás – com a clara intenção de marcar um território amoroso.

Ainda se faz isso? As pessoas ainda espalham objetos para assegurar uma cadeira, um assento premiado no coração de outra pessoa?

Talvez você tenha deixado a máscara de propósito. Talvez você precise de uma desculpa para voltar. Ou tenha deixado um recado que ainda não decifrei.

Guardo sua máscara do lado da minha cama. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você Foto: De An Sun Tso/Unsplash.com

Se eu não te desvendar, você me devora?

Será que quando a pandemia acabar, vamos amar as mesmas pessoas? 

Deixar de me amar pode ser uma sequela da sua covid? 

Guardo sua máscara ao lado da minha cama, do lado do despertador. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você. Tenho lá minhas fantasias com sua PFF2.

Conversamos, debatemos, falo coisas que nunca te disse. Sua máscara, acredito, guarda certa simpatia por mim.

Juntos, eu e sua máscara, rimos de coisas que são feitas para chorar. Deve ser uma espécie de defesa natural, um mecanismo de sobrevivência. 

Nós, eu e sua máscara, temos o mesmo impulso de moer os sentimentos ruins até que eles se transformem em uma pasta fácil de trabalhar. A gente vive fritando esses quibes existenciais para matar a nossa fome. 

Só assim, comicamente imunizado, é possível ser brasileiro.

Ontem, vesti meu chinelo, sem tirar as meias. Da minha geladeira, peguei um vinho que já está pela metade. Sabe, gosto daquela taça que tem uma lascadinha na borda – ela me exige atenção na hora de beber. 

Tentei harmonizar o vinho com Cebolitos (o que deve ressaltar as notas de requeijão vencido do meu malbec). Não sei se funcionou direito, mas foi uma noite incrível. 

Quer dizer, estava sendo uma noite incrível... Sem querer, e na pressa de descer para pegar um delivery, coloquei sua máscara no meu rosto.

Foi estranho, foi um beijo, foi perigoso, foi nojento, foi lindo, foi sufocante, foi libertador, foi um descuido e foi imperdoável. 

Tive que lavá-la depois. E abandoná-la no varal, pingando. Não sei se ria ou se chorava. Também não sei se ela deve ser usada de novo. O melhor, talvez, seja guardá-la como um souvenir do nosso amor pausado.

Do amor que foi quando não poderia ter sido. 

Hoje, vou fazer uma foto da sua máscara e mandá-la por e-mail. Vai ser um mude pandêmico. 

Mas vai que esse e-mail bate em alguma parede cibernética, quica em um servidor sem alma e volta para mim. 

Uma mensagem de erro pode ser uma resposta contundente ao meu delírio romântico. Vai que você não está mais disponível, ou o seu endereço não existe ou o excesso de pretendentes lotou sua caixa de entrada.

Cortei meus lábios com a borda lascada dessa taça de vinho.

Limpei com sua máscara.

Foi sem querer. 

Quero contar sobre a máscara que você esqueceu na minha casa e como tenho cuidado dela. Acho que pode funcionar se eu fizer um paralelo rápido com uma escova de dentes que foi deixada para trás – com a clara intenção de marcar um território amoroso.

Ainda se faz isso? As pessoas ainda espalham objetos para assegurar uma cadeira, um assento premiado no coração de outra pessoa?

Talvez você tenha deixado a máscara de propósito. Talvez você precise de uma desculpa para voltar. Ou tenha deixado um recado que ainda não decifrei.

Guardo sua máscara do lado da minha cama. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você Foto: De An Sun Tso/Unsplash.com

Se eu não te desvendar, você me devora?

Será que quando a pandemia acabar, vamos amar as mesmas pessoas? 

Deixar de me amar pode ser uma sequela da sua covid? 

Guardo sua máscara ao lado da minha cama, do lado do despertador. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você. Tenho lá minhas fantasias com sua PFF2.

Conversamos, debatemos, falo coisas que nunca te disse. Sua máscara, acredito, guarda certa simpatia por mim.

Juntos, eu e sua máscara, rimos de coisas que são feitas para chorar. Deve ser uma espécie de defesa natural, um mecanismo de sobrevivência. 

Nós, eu e sua máscara, temos o mesmo impulso de moer os sentimentos ruins até que eles se transformem em uma pasta fácil de trabalhar. A gente vive fritando esses quibes existenciais para matar a nossa fome. 

Só assim, comicamente imunizado, é possível ser brasileiro.

Ontem, vesti meu chinelo, sem tirar as meias. Da minha geladeira, peguei um vinho que já está pela metade. Sabe, gosto daquela taça que tem uma lascadinha na borda – ela me exige atenção na hora de beber. 

Tentei harmonizar o vinho com Cebolitos (o que deve ressaltar as notas de requeijão vencido do meu malbec). Não sei se funcionou direito, mas foi uma noite incrível. 

Quer dizer, estava sendo uma noite incrível... Sem querer, e na pressa de descer para pegar um delivery, coloquei sua máscara no meu rosto.

Foi estranho, foi um beijo, foi perigoso, foi nojento, foi lindo, foi sufocante, foi libertador, foi um descuido e foi imperdoável. 

Tive que lavá-la depois. E abandoná-la no varal, pingando. Não sei se ria ou se chorava. Também não sei se ela deve ser usada de novo. O melhor, talvez, seja guardá-la como um souvenir do nosso amor pausado.

Do amor que foi quando não poderia ter sido. 

Hoje, vou fazer uma foto da sua máscara e mandá-la por e-mail. Vai ser um mude pandêmico. 

Mas vai que esse e-mail bate em alguma parede cibernética, quica em um servidor sem alma e volta para mim. 

Uma mensagem de erro pode ser uma resposta contundente ao meu delírio romântico. Vai que você não está mais disponível, ou o seu endereço não existe ou o excesso de pretendentes lotou sua caixa de entrada.

Cortei meus lábios com a borda lascada dessa taça de vinho.

Limpei com sua máscara.

Foi sem querer. 

Quero contar sobre a máscara que você esqueceu na minha casa e como tenho cuidado dela. Acho que pode funcionar se eu fizer um paralelo rápido com uma escova de dentes que foi deixada para trás – com a clara intenção de marcar um território amoroso.

Ainda se faz isso? As pessoas ainda espalham objetos para assegurar uma cadeira, um assento premiado no coração de outra pessoa?

Talvez você tenha deixado a máscara de propósito. Talvez você precise de uma desculpa para voltar. Ou tenha deixado um recado que ainda não decifrei.

Guardo sua máscara do lado da minha cama. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você Foto: De An Sun Tso/Unsplash.com

Se eu não te desvendar, você me devora?

Será que quando a pandemia acabar, vamos amar as mesmas pessoas? 

Deixar de me amar pode ser uma sequela da sua covid? 

Guardo sua máscara ao lado da minha cama, do lado do despertador. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você. Tenho lá minhas fantasias com sua PFF2.

Conversamos, debatemos, falo coisas que nunca te disse. Sua máscara, acredito, guarda certa simpatia por mim.

Juntos, eu e sua máscara, rimos de coisas que são feitas para chorar. Deve ser uma espécie de defesa natural, um mecanismo de sobrevivência. 

Nós, eu e sua máscara, temos o mesmo impulso de moer os sentimentos ruins até que eles se transformem em uma pasta fácil de trabalhar. A gente vive fritando esses quibes existenciais para matar a nossa fome. 

Só assim, comicamente imunizado, é possível ser brasileiro.

Ontem, vesti meu chinelo, sem tirar as meias. Da minha geladeira, peguei um vinho que já está pela metade. Sabe, gosto daquela taça que tem uma lascadinha na borda – ela me exige atenção na hora de beber. 

Tentei harmonizar o vinho com Cebolitos (o que deve ressaltar as notas de requeijão vencido do meu malbec). Não sei se funcionou direito, mas foi uma noite incrível. 

Quer dizer, estava sendo uma noite incrível... Sem querer, e na pressa de descer para pegar um delivery, coloquei sua máscara no meu rosto.

Foi estranho, foi um beijo, foi perigoso, foi nojento, foi lindo, foi sufocante, foi libertador, foi um descuido e foi imperdoável. 

Tive que lavá-la depois. E abandoná-la no varal, pingando. Não sei se ria ou se chorava. Também não sei se ela deve ser usada de novo. O melhor, talvez, seja guardá-la como um souvenir do nosso amor pausado.

Do amor que foi quando não poderia ter sido. 

Hoje, vou fazer uma foto da sua máscara e mandá-la por e-mail. Vai ser um mude pandêmico. 

Mas vai que esse e-mail bate em alguma parede cibernética, quica em um servidor sem alma e volta para mim. 

Uma mensagem de erro pode ser uma resposta contundente ao meu delírio romântico. Vai que você não está mais disponível, ou o seu endereço não existe ou o excesso de pretendentes lotou sua caixa de entrada.

Cortei meus lábios com a borda lascada dessa taça de vinho.

Limpei com sua máscara.

Foi sem querer. 

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