Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Óculos, nariz e bigode


Meu novo eu deve andar com aquela fantasia de Groucho Marx, com o conjunto de óculos, nariz e bigode

Por Gilberto Amendola

Tenho medo de não mudar. Na verdade, eu sei que não vou mudar. Quando tudo isso acabar, não terei um novo eu para exibir ao mundo. 

Alguém há de perguntar: como a quarentena mudou a sua vida? Vou coçar a cabeça e começar a enumerar coisas como “ganhei uns quilinhos, uma dor nas costas, aprendi a usar o zoom meeting...”

Mas não, não basta, o perguntador vai querer tripudiar da minha superficialidade e moer e remoer algum grão de profundidade. A pressão para transformar o isolamento social na “grande experiência das nossas vidas” vai me agarrar pelo sovaco e me exibir feito um pequeno Simba indefeso (todo mundo aqui viu O Rei Leão, né?): “Vai, Gilberto! Conte ao mundo sobre sua grande transformação...”

continua após a publicidade

“Hum, deixa eu ver... Bom, vejamos, eu diria que usar vinagre para tirar manchas do sofá foi um aprendizado e...” Esse pequeno Simba indefeso que vos escreve vai ser largado ao relento por não ter nada remotamente maravilhoso para contar. Vou perder pontos na escala social por não ter encontrado o meu novo eu. Pois é, não achei.

Meu novo eu deve andar com aquela fantasia de Groucho Marx, com o conjunto de óculos, nariz e bigode. Meu novo eu deve se esgueirar pelos cantos e se esconder atrás das pilastras. Meu novo eu deve mudar a voz ao falar ao telefone ou ter adotado um nome artístico qualquer.

Ou seja: meu novo eu não está afim de ser encontrado.

continua após a publicidade
Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar Foto: Banco de imagens

Vou ter apenas meu velho eu para passear por aí quando a pandemia da covid-19 acabar. Sem um novo jeito de enxergar a vida, sem a luz de alguma religião, sem aprender um novo idioma, sem ler James Joyce, sem mudanças profundas naquilo que eu já tinha para apresentar lá no início do ano.

Em minha defesa, até um impostor como eu merece alguma defesa, digo que, talvez, meu novo eu apareça por aqui exatamente depois que tudo isso acabar. 

continua após a publicidade

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar, quando puder ficar espremido no assento do meio de um avião, quando tiver carnaval e ele puder cruzar um bloquinho atrás de um banheiro químico – e sair dele secando as mãos na própria bermuda. 

Meu novo eu só vai dar o ar da graça (ainda que de óculos, nariz e bigode) quando puder reclamar de baladas lotadas, da molecada fazendo barulho no cinema ou das viagens de ônibus percorridas em pé. Meu novo eu quer um abraço. E essa, provavelmente, é a condição para que ele floresça. 

No fundo, o meu novo eu é um saudosista. Talvez ele ainda espere pela volta do velho normal. Ou aguarde até esse novo normal envelhecer um pouquinho. 

Tenho medo de não mudar. Na verdade, eu sei que não vou mudar. Quando tudo isso acabar, não terei um novo eu para exibir ao mundo. 

Alguém há de perguntar: como a quarentena mudou a sua vida? Vou coçar a cabeça e começar a enumerar coisas como “ganhei uns quilinhos, uma dor nas costas, aprendi a usar o zoom meeting...”

Mas não, não basta, o perguntador vai querer tripudiar da minha superficialidade e moer e remoer algum grão de profundidade. A pressão para transformar o isolamento social na “grande experiência das nossas vidas” vai me agarrar pelo sovaco e me exibir feito um pequeno Simba indefeso (todo mundo aqui viu O Rei Leão, né?): “Vai, Gilberto! Conte ao mundo sobre sua grande transformação...”

“Hum, deixa eu ver... Bom, vejamos, eu diria que usar vinagre para tirar manchas do sofá foi um aprendizado e...” Esse pequeno Simba indefeso que vos escreve vai ser largado ao relento por não ter nada remotamente maravilhoso para contar. Vou perder pontos na escala social por não ter encontrado o meu novo eu. Pois é, não achei.

Meu novo eu deve andar com aquela fantasia de Groucho Marx, com o conjunto de óculos, nariz e bigode. Meu novo eu deve se esgueirar pelos cantos e se esconder atrás das pilastras. Meu novo eu deve mudar a voz ao falar ao telefone ou ter adotado um nome artístico qualquer.

Ou seja: meu novo eu não está afim de ser encontrado.

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar Foto: Banco de imagens

Vou ter apenas meu velho eu para passear por aí quando a pandemia da covid-19 acabar. Sem um novo jeito de enxergar a vida, sem a luz de alguma religião, sem aprender um novo idioma, sem ler James Joyce, sem mudanças profundas naquilo que eu já tinha para apresentar lá no início do ano.

Em minha defesa, até um impostor como eu merece alguma defesa, digo que, talvez, meu novo eu apareça por aqui exatamente depois que tudo isso acabar. 

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar, quando puder ficar espremido no assento do meio de um avião, quando tiver carnaval e ele puder cruzar um bloquinho atrás de um banheiro químico – e sair dele secando as mãos na própria bermuda. 

Meu novo eu só vai dar o ar da graça (ainda que de óculos, nariz e bigode) quando puder reclamar de baladas lotadas, da molecada fazendo barulho no cinema ou das viagens de ônibus percorridas em pé. Meu novo eu quer um abraço. E essa, provavelmente, é a condição para que ele floresça. 

No fundo, o meu novo eu é um saudosista. Talvez ele ainda espere pela volta do velho normal. Ou aguarde até esse novo normal envelhecer um pouquinho. 

Tenho medo de não mudar. Na verdade, eu sei que não vou mudar. Quando tudo isso acabar, não terei um novo eu para exibir ao mundo. 

Alguém há de perguntar: como a quarentena mudou a sua vida? Vou coçar a cabeça e começar a enumerar coisas como “ganhei uns quilinhos, uma dor nas costas, aprendi a usar o zoom meeting...”

Mas não, não basta, o perguntador vai querer tripudiar da minha superficialidade e moer e remoer algum grão de profundidade. A pressão para transformar o isolamento social na “grande experiência das nossas vidas” vai me agarrar pelo sovaco e me exibir feito um pequeno Simba indefeso (todo mundo aqui viu O Rei Leão, né?): “Vai, Gilberto! Conte ao mundo sobre sua grande transformação...”

“Hum, deixa eu ver... Bom, vejamos, eu diria que usar vinagre para tirar manchas do sofá foi um aprendizado e...” Esse pequeno Simba indefeso que vos escreve vai ser largado ao relento por não ter nada remotamente maravilhoso para contar. Vou perder pontos na escala social por não ter encontrado o meu novo eu. Pois é, não achei.

Meu novo eu deve andar com aquela fantasia de Groucho Marx, com o conjunto de óculos, nariz e bigode. Meu novo eu deve se esgueirar pelos cantos e se esconder atrás das pilastras. Meu novo eu deve mudar a voz ao falar ao telefone ou ter adotado um nome artístico qualquer.

Ou seja: meu novo eu não está afim de ser encontrado.

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar Foto: Banco de imagens

Vou ter apenas meu velho eu para passear por aí quando a pandemia da covid-19 acabar. Sem um novo jeito de enxergar a vida, sem a luz de alguma religião, sem aprender um novo idioma, sem ler James Joyce, sem mudanças profundas naquilo que eu já tinha para apresentar lá no início do ano.

Em minha defesa, até um impostor como eu merece alguma defesa, digo que, talvez, meu novo eu apareça por aqui exatamente depois que tudo isso acabar. 

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar, quando puder ficar espremido no assento do meio de um avião, quando tiver carnaval e ele puder cruzar um bloquinho atrás de um banheiro químico – e sair dele secando as mãos na própria bermuda. 

Meu novo eu só vai dar o ar da graça (ainda que de óculos, nariz e bigode) quando puder reclamar de baladas lotadas, da molecada fazendo barulho no cinema ou das viagens de ônibus percorridas em pé. Meu novo eu quer um abraço. E essa, provavelmente, é a condição para que ele floresça. 

No fundo, o meu novo eu é um saudosista. Talvez ele ainda espere pela volta do velho normal. Ou aguarde até esse novo normal envelhecer um pouquinho. 

Tenho medo de não mudar. Na verdade, eu sei que não vou mudar. Quando tudo isso acabar, não terei um novo eu para exibir ao mundo. 

Alguém há de perguntar: como a quarentena mudou a sua vida? Vou coçar a cabeça e começar a enumerar coisas como “ganhei uns quilinhos, uma dor nas costas, aprendi a usar o zoom meeting...”

Mas não, não basta, o perguntador vai querer tripudiar da minha superficialidade e moer e remoer algum grão de profundidade. A pressão para transformar o isolamento social na “grande experiência das nossas vidas” vai me agarrar pelo sovaco e me exibir feito um pequeno Simba indefeso (todo mundo aqui viu O Rei Leão, né?): “Vai, Gilberto! Conte ao mundo sobre sua grande transformação...”

“Hum, deixa eu ver... Bom, vejamos, eu diria que usar vinagre para tirar manchas do sofá foi um aprendizado e...” Esse pequeno Simba indefeso que vos escreve vai ser largado ao relento por não ter nada remotamente maravilhoso para contar. Vou perder pontos na escala social por não ter encontrado o meu novo eu. Pois é, não achei.

Meu novo eu deve andar com aquela fantasia de Groucho Marx, com o conjunto de óculos, nariz e bigode. Meu novo eu deve se esgueirar pelos cantos e se esconder atrás das pilastras. Meu novo eu deve mudar a voz ao falar ao telefone ou ter adotado um nome artístico qualquer.

Ou seja: meu novo eu não está afim de ser encontrado.

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar Foto: Banco de imagens

Vou ter apenas meu velho eu para passear por aí quando a pandemia da covid-19 acabar. Sem um novo jeito de enxergar a vida, sem a luz de alguma religião, sem aprender um novo idioma, sem ler James Joyce, sem mudanças profundas naquilo que eu já tinha para apresentar lá no início do ano.

Em minha defesa, até um impostor como eu merece alguma defesa, digo que, talvez, meu novo eu apareça por aqui exatamente depois que tudo isso acabar. 

Talvez o meu Groucho Marx de óculos, nariz e bigode apareça quando puder sentar-se em uma mesinha bamba de bar, quando puder ficar espremido no assento do meio de um avião, quando tiver carnaval e ele puder cruzar um bloquinho atrás de um banheiro químico – e sair dele secando as mãos na própria bermuda. 

Meu novo eu só vai dar o ar da graça (ainda que de óculos, nariz e bigode) quando puder reclamar de baladas lotadas, da molecada fazendo barulho no cinema ou das viagens de ônibus percorridas em pé. Meu novo eu quer um abraço. E essa, provavelmente, é a condição para que ele floresça. 

No fundo, o meu novo eu é um saudosista. Talvez ele ainda espere pela volta do velho normal. Ou aguarde até esse novo normal envelhecer um pouquinho. 

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.