Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Pão com manteiga na chapa


Por isso, um gole no pingado e uma mordida no francês me fazem respirar

Por Gilberto Amendola

Meu pão com manteiga na chapa, quanta saudade. Ao te ver, meu coração entupido até bate outra vez. Com deleite e aflição, caço, com a pontinha da minha língua, sua casquinha presa em meus dentes tortos. 

Não gosto daquelas chapas de primeiro uso. Não gosto das novinhas. Gosto daquelas que já absorveram toda a experiência de vidas passadas. 

Meu pão com manteiga na chapa ideal vem com toques de calabresa. Dia desses, tirei a sorte grande e consegui sentir um leve aroma de camarão na bordinha do pão francês.

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Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim.

"Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim." Foto: Ivan Dias/AE

Ruim, acredito, por ocasião da nossa sina. Somos brasileiros gozando de uma vida adulta durante uma pandemia. Isso, amigos, para dizer o mínimo. Quem prestar atenção vai perceber um bueiro de coisas ruins transbordando. Acho que não rola ser felizão. Mas um bom pão com manteiga na chapa nos devolve alguma dignidade. No balcão da padaria, admirando o balé de um chapeiro com suas espátulas gordurosas, vou me deixando seduzir.

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Fecho os olhos e ouço conversas sobre futebol, sonhos de Mega Sena, ilusões amorosas e piadas ruins. De certo que nós, brasileiros, não fomos tocados pelo anjo da perfeição, mas nossa essência não é essa porcaria toda – que veio à tona nos últimos anos. 

Por isso, um gole no pingado e uma mordida no francês me fazem respirar. Não curto muito a versão com requeijão. Tenho a sensação de uma inútil gourmetização, uma adaptação inadequada.

Daqui a pouco, e isso é bem capaz, inventam uma terceira via. Seremos confrontados com pães na chapa com catupiry ou cheddar (se Deus está morto, tudo é permitido).

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Quero um pão com manteiga na chapa trivial. Um pão com manteiga na chapa sem grandes invenções. Um pão com manteiga na chapa meio “mamão com açúcar”. 

Quero um pão com manteiga na chapa antes de uma caminhada até o trabalho. Um pão com manteiga na chapa antes do sufoco no transporte público. Um pão com manteiga na chapa antes de ler o jornal. Um pão com manteiga na chapa antes do primeiro palavrão.

Um pão com manteiga na chapa antes da primeira ligação. Um pão com manteiga na chapa antes da primeira desilusão. 

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Um pão com manteiga na chapa antes de sentar na frente do computador. Um pão com manteiga na chapa antes de escrever essa crônica. Um pão com manteiga na chapa antes de arregaçar as mangas da camisa e preparar o soco contra a fuça de um nazista.

Meu pão com manteiga na chapa, quanta saudade. Ao te ver, meu coração entupido até bate outra vez. Com deleite e aflição, caço, com a pontinha da minha língua, sua casquinha presa em meus dentes tortos. 

Não gosto daquelas chapas de primeiro uso. Não gosto das novinhas. Gosto daquelas que já absorveram toda a experiência de vidas passadas. 

Meu pão com manteiga na chapa ideal vem com toques de calabresa. Dia desses, tirei a sorte grande e consegui sentir um leve aroma de camarão na bordinha do pão francês.

Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim.

"Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim." Foto: Ivan Dias/AE

Ruim, acredito, por ocasião da nossa sina. Somos brasileiros gozando de uma vida adulta durante uma pandemia. Isso, amigos, para dizer o mínimo. Quem prestar atenção vai perceber um bueiro de coisas ruins transbordando. Acho que não rola ser felizão. Mas um bom pão com manteiga na chapa nos devolve alguma dignidade. No balcão da padaria, admirando o balé de um chapeiro com suas espátulas gordurosas, vou me deixando seduzir.

Fecho os olhos e ouço conversas sobre futebol, sonhos de Mega Sena, ilusões amorosas e piadas ruins. De certo que nós, brasileiros, não fomos tocados pelo anjo da perfeição, mas nossa essência não é essa porcaria toda – que veio à tona nos últimos anos. 

Por isso, um gole no pingado e uma mordida no francês me fazem respirar. Não curto muito a versão com requeijão. Tenho a sensação de uma inútil gourmetização, uma adaptação inadequada.

Daqui a pouco, e isso é bem capaz, inventam uma terceira via. Seremos confrontados com pães na chapa com catupiry ou cheddar (se Deus está morto, tudo é permitido).

Quero um pão com manteiga na chapa trivial. Um pão com manteiga na chapa sem grandes invenções. Um pão com manteiga na chapa meio “mamão com açúcar”. 

Quero um pão com manteiga na chapa antes de uma caminhada até o trabalho. Um pão com manteiga na chapa antes do sufoco no transporte público. Um pão com manteiga na chapa antes de ler o jornal. Um pão com manteiga na chapa antes do primeiro palavrão.

Um pão com manteiga na chapa antes da primeira ligação. Um pão com manteiga na chapa antes da primeira desilusão. 

Um pão com manteiga na chapa antes de sentar na frente do computador. Um pão com manteiga na chapa antes de escrever essa crônica. Um pão com manteiga na chapa antes de arregaçar as mangas da camisa e preparar o soco contra a fuça de um nazista.

Meu pão com manteiga na chapa, quanta saudade. Ao te ver, meu coração entupido até bate outra vez. Com deleite e aflição, caço, com a pontinha da minha língua, sua casquinha presa em meus dentes tortos. 

Não gosto daquelas chapas de primeiro uso. Não gosto das novinhas. Gosto daquelas que já absorveram toda a experiência de vidas passadas. 

Meu pão com manteiga na chapa ideal vem com toques de calabresa. Dia desses, tirei a sorte grande e consegui sentir um leve aroma de camarão na bordinha do pão francês.

Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim.

"Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim." Foto: Ivan Dias/AE

Ruim, acredito, por ocasião da nossa sina. Somos brasileiros gozando de uma vida adulta durante uma pandemia. Isso, amigos, para dizer o mínimo. Quem prestar atenção vai perceber um bueiro de coisas ruins transbordando. Acho que não rola ser felizão. Mas um bom pão com manteiga na chapa nos devolve alguma dignidade. No balcão da padaria, admirando o balé de um chapeiro com suas espátulas gordurosas, vou me deixando seduzir.

Fecho os olhos e ouço conversas sobre futebol, sonhos de Mega Sena, ilusões amorosas e piadas ruins. De certo que nós, brasileiros, não fomos tocados pelo anjo da perfeição, mas nossa essência não é essa porcaria toda – que veio à tona nos últimos anos. 

Por isso, um gole no pingado e uma mordida no francês me fazem respirar. Não curto muito a versão com requeijão. Tenho a sensação de uma inútil gourmetização, uma adaptação inadequada.

Daqui a pouco, e isso é bem capaz, inventam uma terceira via. Seremos confrontados com pães na chapa com catupiry ou cheddar (se Deus está morto, tudo é permitido).

Quero um pão com manteiga na chapa trivial. Um pão com manteiga na chapa sem grandes invenções. Um pão com manteiga na chapa meio “mamão com açúcar”. 

Quero um pão com manteiga na chapa antes de uma caminhada até o trabalho. Um pão com manteiga na chapa antes do sufoco no transporte público. Um pão com manteiga na chapa antes de ler o jornal. Um pão com manteiga na chapa antes do primeiro palavrão.

Um pão com manteiga na chapa antes da primeira ligação. Um pão com manteiga na chapa antes da primeira desilusão. 

Um pão com manteiga na chapa antes de sentar na frente do computador. Um pão com manteiga na chapa antes de escrever essa crônica. Um pão com manteiga na chapa antes de arregaçar as mangas da camisa e preparar o soco contra a fuça de um nazista.

Meu pão com manteiga na chapa, quanta saudade. Ao te ver, meu coração entupido até bate outra vez. Com deleite e aflição, caço, com a pontinha da minha língua, sua casquinha presa em meus dentes tortos. 

Não gosto daquelas chapas de primeiro uso. Não gosto das novinhas. Gosto daquelas que já absorveram toda a experiência de vidas passadas. 

Meu pão com manteiga na chapa ideal vem com toques de calabresa. Dia desses, tirei a sorte grande e consegui sentir um leve aroma de camarão na bordinha do pão francês.

Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim.

"Um bom pão com manteiga na chapa tem o poder de suavizar um dia que, inevitavelmente, será ruim." Foto: Ivan Dias/AE

Ruim, acredito, por ocasião da nossa sina. Somos brasileiros gozando de uma vida adulta durante uma pandemia. Isso, amigos, para dizer o mínimo. Quem prestar atenção vai perceber um bueiro de coisas ruins transbordando. Acho que não rola ser felizão. Mas um bom pão com manteiga na chapa nos devolve alguma dignidade. No balcão da padaria, admirando o balé de um chapeiro com suas espátulas gordurosas, vou me deixando seduzir.

Fecho os olhos e ouço conversas sobre futebol, sonhos de Mega Sena, ilusões amorosas e piadas ruins. De certo que nós, brasileiros, não fomos tocados pelo anjo da perfeição, mas nossa essência não é essa porcaria toda – que veio à tona nos últimos anos. 

Por isso, um gole no pingado e uma mordida no francês me fazem respirar. Não curto muito a versão com requeijão. Tenho a sensação de uma inútil gourmetização, uma adaptação inadequada.

Daqui a pouco, e isso é bem capaz, inventam uma terceira via. Seremos confrontados com pães na chapa com catupiry ou cheddar (se Deus está morto, tudo é permitido).

Quero um pão com manteiga na chapa trivial. Um pão com manteiga na chapa sem grandes invenções. Um pão com manteiga na chapa meio “mamão com açúcar”. 

Quero um pão com manteiga na chapa antes de uma caminhada até o trabalho. Um pão com manteiga na chapa antes do sufoco no transporte público. Um pão com manteiga na chapa antes de ler o jornal. Um pão com manteiga na chapa antes do primeiro palavrão.

Um pão com manteiga na chapa antes da primeira ligação. Um pão com manteiga na chapa antes da primeira desilusão. 

Um pão com manteiga na chapa antes de sentar na frente do computador. Um pão com manteiga na chapa antes de escrever essa crônica. Um pão com manteiga na chapa antes de arregaçar as mangas da camisa e preparar o soco contra a fuça de um nazista.

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