''O Stédile que se cuide. Não vai ter moleza, não''


Dilma também diz rejeitar qualquer tipo de controle da mídia e contraria Lula no caso dos presos políticos de Cuba, ao afirmar que não aceita prisão por crime de opinião

Por João Bosco Rabello, João Domingos e Ricardo Grinbaum

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, parece seguir, na atual campanha eleitoral, os passos de Luiz Inácio Lula da Silva - que, em 2002, assinou a Carta aos Brasileiros dando garantias de que, se eleito, faria um governo para todos os brasileiros, e não para um setor apenas. Nesse contexto, Dilma rejeita qualquer tipo de controle da mídia - embora parte do PT continue com essa pregação - e contraria Lula, seu grande mentor, no caso dos presos políticos de Cuba, ao afirmar que não aceita que alguém seja preso por crime de opinião.Nesta entrevista, concedida em Brasília - que durou cerca de uma hora e 35 minutos, mais uns 10 de bate-papo informal, em pé -, Dilma também desafia João Pedro Stédile, um dos principais líderes do MST, que previu nova onda de invasões de terras se ela vencer. "Pode dizer ao Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não."Ao final, gravadores desligados, a candidata disse que detesta ser chamada de "boazinha". "Vocês (jornalistas) têm de chegar a um acordo. Uns dizem que sou durona, que brigo com todo mundo. Outros, que não terei condições de governar, porque só vou fazer o que o presidente Lula disser."No início da entrevista, a ex-ministra parecia nervosa. Teve de consultar o laptop sobre dados econômicos, atrapalhou-se e chamou um assessor que cuida do computador. Aos poucos se soltou, passou a citar números de memória. E mostrou-se enfática diante de temas como controle da mídia. A ponto de repetir, por nove vezes, o advérbio "jamais". A entrevista foi dividida em duas partes. Uma política (nesta página) e outra econômica (na seguinte), na qual adiantou que, se eleita, não capitalizará o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como fez o atual governo. A seguir, os principais trechos da conversa: O episódio do programa de governo registrado no TSE trouxe à memória de todos certa vocação intervencionista de grupos dentro do PT. O presidente Lula até deu garantias de que opiniões desse tipo não fariam parte do texto. Como a sra. explica o registro do programa?O partido pode ter as posições que tendem ao partido. No governo há outro entendimento. Esses receios me lembram aquele momento lá atrás, em 2002, quando se dizia que o presidente Lula não conseguiria governar. Foi um momento que produziu a melhor frase da campanha, depois usada até pelo presidente Obama: "A esperança venceu o medo". Olha, nós temos sete anos e meio de governo. Neste período não tivemos nenhuma ação no sentido de dominar o governo de ninguém. Até porque isso é impossível. Conhecer minimamente o governo, qualquer governo, é saber que isso não ocorre. Não há correlação de forças entre um governo e um partido.Naquela ocasião, a menção ao medo foi mais vaga. Agora se trata de um programa de governo... Vaga? Você me desculpe, mas hoje continua sendo um discurso. Vou dizer por quê. Nós já explicamos várias vezes que (o envio do programa ao TSE) foi um registro indevido, era para mandar o programa que não era o do PT, era o do governo. Tanto que registramos antes do prazo legal. Até dissemos que era um programa provisório, iria considerar outras contribuições. Mas no primeiro programa está escrito: o controle social da mídia...Não está! Não está proposto com essas palavras. Nesse programa há uma visão de setores do PT. Agora, que o governo não aceita o controle social da mídia também está claro. Em vez de controle social, está escrito controle público dos meios de comunicação. Qual a diferença?Você já viu controle social do setor petróleo? Controle social do setor de energia elétrica? Não existe isso. O controle social sobre a mídia é... como se chama aquilo? Controle remoto. O melhor controle é o controle remoto. Quando nós tivemos - e ainda temos - o poder de fazer, jamais fizemos isso.Quando é que vocês tiveram o poder de fazer?Uai, dentro do exercício do governo. Jamais, em momento algum, fizemos qualquer tentativa de censurar, coibir, jamais, em tempo algum, reclamar de jornalista. Jamais ligamos para a direção de qualquer redação e nos queixamos de qualquer prática jornalística. Dentro do governo do presidente Lula, se alguém fez, foi sem autorização do governo. Essa minha campanha jamais se queixou de um, para qualquer direção. Então, quando estou falando que nós não fazemos, é porque nós temos uma prática de não fazer. Outros não têm a mesma prática. E vocês sabem disso. Mas a queixa é válida, a censura ou o controle é que não...Não, querido. A queixa não é válida. Tem uma clara tentativa de coibir o jornalista. A mim me espanta que você ache válida. Para mim não é. E em relação à questão agrária...Em relação à questão agrária, temos clareza absoluta. Nós não somos o MST. Fizemos, talvez, a melhor política agrária do País... Mas tem as invasões...Reduziu. E não condeno (as invasões) de hoje não. Condeno desde o início do governo Lula. Ele condenou também explicitamente. Nós não concordamos com invasão de prédio, invasão de terra. Não achamos que esse é o método correto. Mas condena também a criminalização do movimento. É contraditório.Ah, condeno. A criminalização do movimento é o caminho mais rápido para a radicalização. Como conciliar invasões e não-criminalização? Chama eles, negocia. Deixa claro: invadiu, vai ter consequência.O João Pedro Stédile está anunciando que no seu eventual governo vão aumentar as invasões.Bem, talvez o Stédile tenha assim uma certa coisa contra mim. Mas não vai ser mole. Pode falar para o Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não.Ele não se sente estimulado porque o governo está sendo tolerante com as invasões?Ah, é? E por que reduziu, hein? Quero saber é o que explica a redução.Talvez o momento eleitoral...Negativo. Reduziu porque fizemos uma política que tirou as principais bandeiras deles. Não foi porque a gente reprimiu. Tem coisa mais eficaz que atender o movimento? O assessor Marco Aurélio Garcia disse que a Espanha foi oportunista ao chegar a Cuba e colher os louros pela libertação dos presos políticos porque tudo tinha sido negociado pelo Brasil. Mas não havia nenhum brasileiro lá. Em um governo seu, o Brasil estaria lá fazendo as negociações?Tenho certeza de que o presidente negociou isso.Mas não apareceu lá. E a Espanha apareceu.Não fazemos isso para capitalizar. O presidente foi uma das pessoas que mais contribuíram, ao criar um clima em relação ao governo cubano, de conversa, da persuasão. Como ex-presa política, como a sra. vê essas prisões em Cuba por manifestação de opinião?Sou radicalmente contra qualquer prisão política. Não concordo com preso por opinião. Na minha vida inteira não vou concordar. O caso do dossiê ficou agravado pela quebra de sigilo ocorrida na Receita Federal... Já falei o que acho sobre isso. E já falei através de todos os meios de comunicação, escritos, televisionados, rádio e internet. O que não vou aceitar, em hipótese alguma, é que queiram colocar no colo da minha campanha papéis que não foram produzidos no nosso ambiente. Nós não vamos aceitar isso (bate na mesa)! E mais: não vamos concordar com acusações de quem não pode provar ou de quem acusa e não mostra. Mas essa quebra do sigilo não mostra que há um certo empenho pela produção desse tipo de conteúdo?Quero saber onde está que alguém da minha campanha quebrou o sigilo. Nós vivemos numa democracia. Qual é o princípio fundamental da democracia? Quem acusa que prove. A quebra de sigilo confirma que existe uma tentativa...Enquanto não disserem para mim quem quebrou, todas as outras questão são ilações eleitoreiras. A Receita não está demorando muito a dizer como aconteceu?Eu não tenho como explicar isso, não sou da Receita. Agora, eu acho que está sendo usado um artifício eleitoral contra minha campanha.

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, parece seguir, na atual campanha eleitoral, os passos de Luiz Inácio Lula da Silva - que, em 2002, assinou a Carta aos Brasileiros dando garantias de que, se eleito, faria um governo para todos os brasileiros, e não para um setor apenas. Nesse contexto, Dilma rejeita qualquer tipo de controle da mídia - embora parte do PT continue com essa pregação - e contraria Lula, seu grande mentor, no caso dos presos políticos de Cuba, ao afirmar que não aceita que alguém seja preso por crime de opinião.Nesta entrevista, concedida em Brasília - que durou cerca de uma hora e 35 minutos, mais uns 10 de bate-papo informal, em pé -, Dilma também desafia João Pedro Stédile, um dos principais líderes do MST, que previu nova onda de invasões de terras se ela vencer. "Pode dizer ao Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não."Ao final, gravadores desligados, a candidata disse que detesta ser chamada de "boazinha". "Vocês (jornalistas) têm de chegar a um acordo. Uns dizem que sou durona, que brigo com todo mundo. Outros, que não terei condições de governar, porque só vou fazer o que o presidente Lula disser."No início da entrevista, a ex-ministra parecia nervosa. Teve de consultar o laptop sobre dados econômicos, atrapalhou-se e chamou um assessor que cuida do computador. Aos poucos se soltou, passou a citar números de memória. E mostrou-se enfática diante de temas como controle da mídia. A ponto de repetir, por nove vezes, o advérbio "jamais". A entrevista foi dividida em duas partes. Uma política (nesta página) e outra econômica (na seguinte), na qual adiantou que, se eleita, não capitalizará o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como fez o atual governo. A seguir, os principais trechos da conversa: O episódio do programa de governo registrado no TSE trouxe à memória de todos certa vocação intervencionista de grupos dentro do PT. O presidente Lula até deu garantias de que opiniões desse tipo não fariam parte do texto. Como a sra. explica o registro do programa?O partido pode ter as posições que tendem ao partido. No governo há outro entendimento. Esses receios me lembram aquele momento lá atrás, em 2002, quando se dizia que o presidente Lula não conseguiria governar. Foi um momento que produziu a melhor frase da campanha, depois usada até pelo presidente Obama: "A esperança venceu o medo". Olha, nós temos sete anos e meio de governo. Neste período não tivemos nenhuma ação no sentido de dominar o governo de ninguém. Até porque isso é impossível. Conhecer minimamente o governo, qualquer governo, é saber que isso não ocorre. Não há correlação de forças entre um governo e um partido.Naquela ocasião, a menção ao medo foi mais vaga. Agora se trata de um programa de governo... Vaga? Você me desculpe, mas hoje continua sendo um discurso. Vou dizer por quê. Nós já explicamos várias vezes que (o envio do programa ao TSE) foi um registro indevido, era para mandar o programa que não era o do PT, era o do governo. Tanto que registramos antes do prazo legal. Até dissemos que era um programa provisório, iria considerar outras contribuições. Mas no primeiro programa está escrito: o controle social da mídia...Não está! Não está proposto com essas palavras. Nesse programa há uma visão de setores do PT. Agora, que o governo não aceita o controle social da mídia também está claro. Em vez de controle social, está escrito controle público dos meios de comunicação. Qual a diferença?Você já viu controle social do setor petróleo? Controle social do setor de energia elétrica? Não existe isso. O controle social sobre a mídia é... como se chama aquilo? Controle remoto. O melhor controle é o controle remoto. Quando nós tivemos - e ainda temos - o poder de fazer, jamais fizemos isso.Quando é que vocês tiveram o poder de fazer?Uai, dentro do exercício do governo. Jamais, em momento algum, fizemos qualquer tentativa de censurar, coibir, jamais, em tempo algum, reclamar de jornalista. Jamais ligamos para a direção de qualquer redação e nos queixamos de qualquer prática jornalística. Dentro do governo do presidente Lula, se alguém fez, foi sem autorização do governo. Essa minha campanha jamais se queixou de um, para qualquer direção. Então, quando estou falando que nós não fazemos, é porque nós temos uma prática de não fazer. Outros não têm a mesma prática. E vocês sabem disso. Mas a queixa é válida, a censura ou o controle é que não...Não, querido. A queixa não é válida. Tem uma clara tentativa de coibir o jornalista. A mim me espanta que você ache válida. Para mim não é. E em relação à questão agrária...Em relação à questão agrária, temos clareza absoluta. Nós não somos o MST. Fizemos, talvez, a melhor política agrária do País... Mas tem as invasões...Reduziu. E não condeno (as invasões) de hoje não. Condeno desde o início do governo Lula. Ele condenou também explicitamente. Nós não concordamos com invasão de prédio, invasão de terra. Não achamos que esse é o método correto. Mas condena também a criminalização do movimento. É contraditório.Ah, condeno. A criminalização do movimento é o caminho mais rápido para a radicalização. Como conciliar invasões e não-criminalização? Chama eles, negocia. Deixa claro: invadiu, vai ter consequência.O João Pedro Stédile está anunciando que no seu eventual governo vão aumentar as invasões.Bem, talvez o Stédile tenha assim uma certa coisa contra mim. Mas não vai ser mole. Pode falar para o Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não.Ele não se sente estimulado porque o governo está sendo tolerante com as invasões?Ah, é? E por que reduziu, hein? Quero saber é o que explica a redução.Talvez o momento eleitoral...Negativo. Reduziu porque fizemos uma política que tirou as principais bandeiras deles. Não foi porque a gente reprimiu. Tem coisa mais eficaz que atender o movimento? O assessor Marco Aurélio Garcia disse que a Espanha foi oportunista ao chegar a Cuba e colher os louros pela libertação dos presos políticos porque tudo tinha sido negociado pelo Brasil. Mas não havia nenhum brasileiro lá. Em um governo seu, o Brasil estaria lá fazendo as negociações?Tenho certeza de que o presidente negociou isso.Mas não apareceu lá. E a Espanha apareceu.Não fazemos isso para capitalizar. O presidente foi uma das pessoas que mais contribuíram, ao criar um clima em relação ao governo cubano, de conversa, da persuasão. Como ex-presa política, como a sra. vê essas prisões em Cuba por manifestação de opinião?Sou radicalmente contra qualquer prisão política. Não concordo com preso por opinião. Na minha vida inteira não vou concordar. O caso do dossiê ficou agravado pela quebra de sigilo ocorrida na Receita Federal... Já falei o que acho sobre isso. E já falei através de todos os meios de comunicação, escritos, televisionados, rádio e internet. O que não vou aceitar, em hipótese alguma, é que queiram colocar no colo da minha campanha papéis que não foram produzidos no nosso ambiente. Nós não vamos aceitar isso (bate na mesa)! E mais: não vamos concordar com acusações de quem não pode provar ou de quem acusa e não mostra. Mas essa quebra do sigilo não mostra que há um certo empenho pela produção desse tipo de conteúdo?Quero saber onde está que alguém da minha campanha quebrou o sigilo. Nós vivemos numa democracia. Qual é o princípio fundamental da democracia? Quem acusa que prove. A quebra de sigilo confirma que existe uma tentativa...Enquanto não disserem para mim quem quebrou, todas as outras questão são ilações eleitoreiras. A Receita não está demorando muito a dizer como aconteceu?Eu não tenho como explicar isso, não sou da Receita. Agora, eu acho que está sendo usado um artifício eleitoral contra minha campanha.

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, parece seguir, na atual campanha eleitoral, os passos de Luiz Inácio Lula da Silva - que, em 2002, assinou a Carta aos Brasileiros dando garantias de que, se eleito, faria um governo para todos os brasileiros, e não para um setor apenas. Nesse contexto, Dilma rejeita qualquer tipo de controle da mídia - embora parte do PT continue com essa pregação - e contraria Lula, seu grande mentor, no caso dos presos políticos de Cuba, ao afirmar que não aceita que alguém seja preso por crime de opinião.Nesta entrevista, concedida em Brasília - que durou cerca de uma hora e 35 minutos, mais uns 10 de bate-papo informal, em pé -, Dilma também desafia João Pedro Stédile, um dos principais líderes do MST, que previu nova onda de invasões de terras se ela vencer. "Pode dizer ao Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não."Ao final, gravadores desligados, a candidata disse que detesta ser chamada de "boazinha". "Vocês (jornalistas) têm de chegar a um acordo. Uns dizem que sou durona, que brigo com todo mundo. Outros, que não terei condições de governar, porque só vou fazer o que o presidente Lula disser."No início da entrevista, a ex-ministra parecia nervosa. Teve de consultar o laptop sobre dados econômicos, atrapalhou-se e chamou um assessor que cuida do computador. Aos poucos se soltou, passou a citar números de memória. E mostrou-se enfática diante de temas como controle da mídia. A ponto de repetir, por nove vezes, o advérbio "jamais". A entrevista foi dividida em duas partes. Uma política (nesta página) e outra econômica (na seguinte), na qual adiantou que, se eleita, não capitalizará o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como fez o atual governo. A seguir, os principais trechos da conversa: O episódio do programa de governo registrado no TSE trouxe à memória de todos certa vocação intervencionista de grupos dentro do PT. O presidente Lula até deu garantias de que opiniões desse tipo não fariam parte do texto. Como a sra. explica o registro do programa?O partido pode ter as posições que tendem ao partido. No governo há outro entendimento. Esses receios me lembram aquele momento lá atrás, em 2002, quando se dizia que o presidente Lula não conseguiria governar. Foi um momento que produziu a melhor frase da campanha, depois usada até pelo presidente Obama: "A esperança venceu o medo". Olha, nós temos sete anos e meio de governo. Neste período não tivemos nenhuma ação no sentido de dominar o governo de ninguém. Até porque isso é impossível. Conhecer minimamente o governo, qualquer governo, é saber que isso não ocorre. Não há correlação de forças entre um governo e um partido.Naquela ocasião, a menção ao medo foi mais vaga. Agora se trata de um programa de governo... Vaga? Você me desculpe, mas hoje continua sendo um discurso. Vou dizer por quê. Nós já explicamos várias vezes que (o envio do programa ao TSE) foi um registro indevido, era para mandar o programa que não era o do PT, era o do governo. Tanto que registramos antes do prazo legal. Até dissemos que era um programa provisório, iria considerar outras contribuições. Mas no primeiro programa está escrito: o controle social da mídia...Não está! Não está proposto com essas palavras. Nesse programa há uma visão de setores do PT. Agora, que o governo não aceita o controle social da mídia também está claro. Em vez de controle social, está escrito controle público dos meios de comunicação. Qual a diferença?Você já viu controle social do setor petróleo? Controle social do setor de energia elétrica? Não existe isso. O controle social sobre a mídia é... como se chama aquilo? Controle remoto. O melhor controle é o controle remoto. Quando nós tivemos - e ainda temos - o poder de fazer, jamais fizemos isso.Quando é que vocês tiveram o poder de fazer?Uai, dentro do exercício do governo. Jamais, em momento algum, fizemos qualquer tentativa de censurar, coibir, jamais, em tempo algum, reclamar de jornalista. Jamais ligamos para a direção de qualquer redação e nos queixamos de qualquer prática jornalística. Dentro do governo do presidente Lula, se alguém fez, foi sem autorização do governo. Essa minha campanha jamais se queixou de um, para qualquer direção. Então, quando estou falando que nós não fazemos, é porque nós temos uma prática de não fazer. Outros não têm a mesma prática. E vocês sabem disso. Mas a queixa é válida, a censura ou o controle é que não...Não, querido. A queixa não é válida. Tem uma clara tentativa de coibir o jornalista. A mim me espanta que você ache válida. Para mim não é. E em relação à questão agrária...Em relação à questão agrária, temos clareza absoluta. Nós não somos o MST. Fizemos, talvez, a melhor política agrária do País... Mas tem as invasões...Reduziu. E não condeno (as invasões) de hoje não. Condeno desde o início do governo Lula. Ele condenou também explicitamente. Nós não concordamos com invasão de prédio, invasão de terra. Não achamos que esse é o método correto. Mas condena também a criminalização do movimento. É contraditório.Ah, condeno. A criminalização do movimento é o caminho mais rápido para a radicalização. Como conciliar invasões e não-criminalização? Chama eles, negocia. Deixa claro: invadiu, vai ter consequência.O João Pedro Stédile está anunciando que no seu eventual governo vão aumentar as invasões.Bem, talvez o Stédile tenha assim uma certa coisa contra mim. Mas não vai ser mole. Pode falar para o Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não.Ele não se sente estimulado porque o governo está sendo tolerante com as invasões?Ah, é? E por que reduziu, hein? Quero saber é o que explica a redução.Talvez o momento eleitoral...Negativo. Reduziu porque fizemos uma política que tirou as principais bandeiras deles. Não foi porque a gente reprimiu. Tem coisa mais eficaz que atender o movimento? O assessor Marco Aurélio Garcia disse que a Espanha foi oportunista ao chegar a Cuba e colher os louros pela libertação dos presos políticos porque tudo tinha sido negociado pelo Brasil. Mas não havia nenhum brasileiro lá. Em um governo seu, o Brasil estaria lá fazendo as negociações?Tenho certeza de que o presidente negociou isso.Mas não apareceu lá. E a Espanha apareceu.Não fazemos isso para capitalizar. O presidente foi uma das pessoas que mais contribuíram, ao criar um clima em relação ao governo cubano, de conversa, da persuasão. Como ex-presa política, como a sra. vê essas prisões em Cuba por manifestação de opinião?Sou radicalmente contra qualquer prisão política. Não concordo com preso por opinião. Na minha vida inteira não vou concordar. O caso do dossiê ficou agravado pela quebra de sigilo ocorrida na Receita Federal... Já falei o que acho sobre isso. E já falei através de todos os meios de comunicação, escritos, televisionados, rádio e internet. O que não vou aceitar, em hipótese alguma, é que queiram colocar no colo da minha campanha papéis que não foram produzidos no nosso ambiente. Nós não vamos aceitar isso (bate na mesa)! E mais: não vamos concordar com acusações de quem não pode provar ou de quem acusa e não mostra. Mas essa quebra do sigilo não mostra que há um certo empenho pela produção desse tipo de conteúdo?Quero saber onde está que alguém da minha campanha quebrou o sigilo. Nós vivemos numa democracia. Qual é o princípio fundamental da democracia? Quem acusa que prove. A quebra de sigilo confirma que existe uma tentativa...Enquanto não disserem para mim quem quebrou, todas as outras questão são ilações eleitoreiras. A Receita não está demorando muito a dizer como aconteceu?Eu não tenho como explicar isso, não sou da Receita. Agora, eu acho que está sendo usado um artifício eleitoral contra minha campanha.

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, parece seguir, na atual campanha eleitoral, os passos de Luiz Inácio Lula da Silva - que, em 2002, assinou a Carta aos Brasileiros dando garantias de que, se eleito, faria um governo para todos os brasileiros, e não para um setor apenas. Nesse contexto, Dilma rejeita qualquer tipo de controle da mídia - embora parte do PT continue com essa pregação - e contraria Lula, seu grande mentor, no caso dos presos políticos de Cuba, ao afirmar que não aceita que alguém seja preso por crime de opinião.Nesta entrevista, concedida em Brasília - que durou cerca de uma hora e 35 minutos, mais uns 10 de bate-papo informal, em pé -, Dilma também desafia João Pedro Stédile, um dos principais líderes do MST, que previu nova onda de invasões de terras se ela vencer. "Pode dizer ao Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não."Ao final, gravadores desligados, a candidata disse que detesta ser chamada de "boazinha". "Vocês (jornalistas) têm de chegar a um acordo. Uns dizem que sou durona, que brigo com todo mundo. Outros, que não terei condições de governar, porque só vou fazer o que o presidente Lula disser."No início da entrevista, a ex-ministra parecia nervosa. Teve de consultar o laptop sobre dados econômicos, atrapalhou-se e chamou um assessor que cuida do computador. Aos poucos se soltou, passou a citar números de memória. E mostrou-se enfática diante de temas como controle da mídia. A ponto de repetir, por nove vezes, o advérbio "jamais". A entrevista foi dividida em duas partes. Uma política (nesta página) e outra econômica (na seguinte), na qual adiantou que, se eleita, não capitalizará o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como fez o atual governo. A seguir, os principais trechos da conversa: O episódio do programa de governo registrado no TSE trouxe à memória de todos certa vocação intervencionista de grupos dentro do PT. O presidente Lula até deu garantias de que opiniões desse tipo não fariam parte do texto. Como a sra. explica o registro do programa?O partido pode ter as posições que tendem ao partido. No governo há outro entendimento. Esses receios me lembram aquele momento lá atrás, em 2002, quando se dizia que o presidente Lula não conseguiria governar. Foi um momento que produziu a melhor frase da campanha, depois usada até pelo presidente Obama: "A esperança venceu o medo". Olha, nós temos sete anos e meio de governo. Neste período não tivemos nenhuma ação no sentido de dominar o governo de ninguém. Até porque isso é impossível. Conhecer minimamente o governo, qualquer governo, é saber que isso não ocorre. Não há correlação de forças entre um governo e um partido.Naquela ocasião, a menção ao medo foi mais vaga. Agora se trata de um programa de governo... Vaga? Você me desculpe, mas hoje continua sendo um discurso. Vou dizer por quê. Nós já explicamos várias vezes que (o envio do programa ao TSE) foi um registro indevido, era para mandar o programa que não era o do PT, era o do governo. Tanto que registramos antes do prazo legal. Até dissemos que era um programa provisório, iria considerar outras contribuições. Mas no primeiro programa está escrito: o controle social da mídia...Não está! Não está proposto com essas palavras. Nesse programa há uma visão de setores do PT. Agora, que o governo não aceita o controle social da mídia também está claro. Em vez de controle social, está escrito controle público dos meios de comunicação. Qual a diferença?Você já viu controle social do setor petróleo? Controle social do setor de energia elétrica? Não existe isso. O controle social sobre a mídia é... como se chama aquilo? Controle remoto. O melhor controle é o controle remoto. Quando nós tivemos - e ainda temos - o poder de fazer, jamais fizemos isso.Quando é que vocês tiveram o poder de fazer?Uai, dentro do exercício do governo. Jamais, em momento algum, fizemos qualquer tentativa de censurar, coibir, jamais, em tempo algum, reclamar de jornalista. Jamais ligamos para a direção de qualquer redação e nos queixamos de qualquer prática jornalística. Dentro do governo do presidente Lula, se alguém fez, foi sem autorização do governo. Essa minha campanha jamais se queixou de um, para qualquer direção. Então, quando estou falando que nós não fazemos, é porque nós temos uma prática de não fazer. Outros não têm a mesma prática. E vocês sabem disso. Mas a queixa é válida, a censura ou o controle é que não...Não, querido. A queixa não é válida. Tem uma clara tentativa de coibir o jornalista. A mim me espanta que você ache válida. Para mim não é. E em relação à questão agrária...Em relação à questão agrária, temos clareza absoluta. Nós não somos o MST. Fizemos, talvez, a melhor política agrária do País... Mas tem as invasões...Reduziu. E não condeno (as invasões) de hoje não. Condeno desde o início do governo Lula. Ele condenou também explicitamente. Nós não concordamos com invasão de prédio, invasão de terra. Não achamos que esse é o método correto. Mas condena também a criminalização do movimento. É contraditório.Ah, condeno. A criminalização do movimento é o caminho mais rápido para a radicalização. Como conciliar invasões e não-criminalização? Chama eles, negocia. Deixa claro: invadiu, vai ter consequência.O João Pedro Stédile está anunciando que no seu eventual governo vão aumentar as invasões.Bem, talvez o Stédile tenha assim uma certa coisa contra mim. Mas não vai ser mole. Pode falar para o Stédile que não tem essa de sair por aí invadindo e achar que vai ser moleza. Porque não vai ser não.Ele não se sente estimulado porque o governo está sendo tolerante com as invasões?Ah, é? E por que reduziu, hein? Quero saber é o que explica a redução.Talvez o momento eleitoral...Negativo. Reduziu porque fizemos uma política que tirou as principais bandeiras deles. Não foi porque a gente reprimiu. Tem coisa mais eficaz que atender o movimento? O assessor Marco Aurélio Garcia disse que a Espanha foi oportunista ao chegar a Cuba e colher os louros pela libertação dos presos políticos porque tudo tinha sido negociado pelo Brasil. Mas não havia nenhum brasileiro lá. Em um governo seu, o Brasil estaria lá fazendo as negociações?Tenho certeza de que o presidente negociou isso.Mas não apareceu lá. E a Espanha apareceu.Não fazemos isso para capitalizar. O presidente foi uma das pessoas que mais contribuíram, ao criar um clima em relação ao governo cubano, de conversa, da persuasão. Como ex-presa política, como a sra. vê essas prisões em Cuba por manifestação de opinião?Sou radicalmente contra qualquer prisão política. Não concordo com preso por opinião. Na minha vida inteira não vou concordar. O caso do dossiê ficou agravado pela quebra de sigilo ocorrida na Receita Federal... Já falei o que acho sobre isso. E já falei através de todos os meios de comunicação, escritos, televisionados, rádio e internet. O que não vou aceitar, em hipótese alguma, é que queiram colocar no colo da minha campanha papéis que não foram produzidos no nosso ambiente. Nós não vamos aceitar isso (bate na mesa)! E mais: não vamos concordar com acusações de quem não pode provar ou de quem acusa e não mostra. Mas essa quebra do sigilo não mostra que há um certo empenho pela produção desse tipo de conteúdo?Quero saber onde está que alguém da minha campanha quebrou o sigilo. Nós vivemos numa democracia. Qual é o princípio fundamental da democracia? Quem acusa que prove. A quebra de sigilo confirma que existe uma tentativa...Enquanto não disserem para mim quem quebrou, todas as outras questão são ilações eleitoreiras. A Receita não está demorando muito a dizer como aconteceu?Eu não tenho como explicar isso, não sou da Receita. Agora, eu acho que está sendo usado um artifício eleitoral contra minha campanha.

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