Pesquisas e divergências


Por Jairo Nicolau

As pesquisas de opinião por amostragem começaram a ser difundidas no Brasil ao longo dos anos 1980. A transição para a democracia, os novos partidos e as eleições frequentes (1982, 1985, 1986, 1988 e 1989 ) criaram o ambiente propício para a adoção dessa técnica de aferição de opinião pública, já amplamente utilizada nos Estados Unidos e em países europeus desde o pós-guerra.Inicialmente, as pesquisas foram alvo de enorme desconfiança, sobretudo de políticos mais tradicionais. Leonel Brizola, o mais ácido deles, via nas pesquisas um grande instrumento de manipulação. Afinal, como era possível conhecer o que pensava toda a população ouvindo cerca de 1.000 pessoas? Seguia-se o seu bordão predileto, depois seguido por muitos: "A verdadeira pesquisa é feita no dia da eleição."Vencidas as desconfianças mais fortes, as pesquisas passaram a ser instrumentos fundamentais das campanhas no Brasil. Elas são utilizadas pelos políticos e marqueteiros e veiculadas semanalmente nos principais órgãos de informação do País.Mas desde as eleições municipais passadas observo que as tradicionais críticas dos políticos às pesquisas têm sido substituídas por críticas de um diretor de institutos aos resultados das pesquisas feitas por outro instituto. Resultados divergentes têm levado a ácidas acusações sobre metodologia, uso de questionário, formas de fazer o campo e desenho amostral. Enfim, temas complexos, difíceis de ser explicados ao grande público. Nas últimas semanas temos assistido a um intenso debate entre os dirigentes dos institutos Vox Populi, Ibope e Datafolha. Os dois últimos são acusados de terem demorado a captar "a onda Dilma". O problema é que o debate sobre divergência técnica descamba para acusações explícitas de favorecimento a certos candidatos.A observação dos resultados das pesquisas de um jeito diferente pode ajudar a esclarecer se a polêmica procede. No lugar da tradicional forma de apresentação dos dados, em que todos os candidatos aparecem na mesma tela, fiz um gráfico separado para cada um dos dois principais candidatos à Presidência: Dilma e Serra.Para permitir uma comparação precisa, o gráfico respeita a escala de dias. Ou seja, cada dia é um ponto na linha. As cores das linhas refletem o porcentual de votos que os candidatos receberam nas pesquisas feitas por Ibope, Datafolha e Vox Populi.Os dados mostram uma convergência entre os três institutos no que diz respeito à tendência geral dos dois candidatos: o crescimento de Dilma e o declínio de Serra. Visto em perspectiva, as linhas dos dois candidatos seguem rotas muito semelhantes.Existe realmente uma diferença entre os dados do Vox Populi e dos dois outros institutos. Na linha do Vox Populi, Dilma sempre aparece acima do porcentual apontado por Ibope e Datafolha. Tendência inversa aparece na linha de Serra. O candidato está sempre abaixo na linha do Vox Populi, comparativamente aos dois outros institutos. Como a diferença aparece ao longo dos meses deve haver uma razão estrutural. Não tenho a menor ideia de qual seja.O crescimento da intenção de voto para Dilma é um processo lento que acontece desde fins de 2009. O gráfico apresenta os resultados desde abril, quando os institutos começaram a fazer pesquisas regulares. Observamos um ritmo de crescimento mais forte a partir de meados do mês de julho, portanto, antes do começo do horário eleitoral gratuito.É possível dizer que algum instituto, em particular, captou, antes que os demais o crescimento (o de julho)? Não. Pelo menos com os resultados das pesquisas divulgadas e apresentadas no gráfico. Portanto, neste ponto, a divergência dos institutos não faz sentido.Alguns leitores devem estar se perguntando: e a margem de erro? Estou convencido de que a forma de pesquisa utilizada no País por todos os institutos - a amostragem por quota - não permite que utilizemos margem de erro. O tema já foi levantado por alguns estatísticos e é tecnicamente complexo. Volto ao tema em outra oportunidade.É PROFESSOR VISITANTE DA UERJ E AUTOR DO BLOG "ELEIÇÕES EM DADOS"

As pesquisas de opinião por amostragem começaram a ser difundidas no Brasil ao longo dos anos 1980. A transição para a democracia, os novos partidos e as eleições frequentes (1982, 1985, 1986, 1988 e 1989 ) criaram o ambiente propício para a adoção dessa técnica de aferição de opinião pública, já amplamente utilizada nos Estados Unidos e em países europeus desde o pós-guerra.Inicialmente, as pesquisas foram alvo de enorme desconfiança, sobretudo de políticos mais tradicionais. Leonel Brizola, o mais ácido deles, via nas pesquisas um grande instrumento de manipulação. Afinal, como era possível conhecer o que pensava toda a população ouvindo cerca de 1.000 pessoas? Seguia-se o seu bordão predileto, depois seguido por muitos: "A verdadeira pesquisa é feita no dia da eleição."Vencidas as desconfianças mais fortes, as pesquisas passaram a ser instrumentos fundamentais das campanhas no Brasil. Elas são utilizadas pelos políticos e marqueteiros e veiculadas semanalmente nos principais órgãos de informação do País.Mas desde as eleições municipais passadas observo que as tradicionais críticas dos políticos às pesquisas têm sido substituídas por críticas de um diretor de institutos aos resultados das pesquisas feitas por outro instituto. Resultados divergentes têm levado a ácidas acusações sobre metodologia, uso de questionário, formas de fazer o campo e desenho amostral. Enfim, temas complexos, difíceis de ser explicados ao grande público. Nas últimas semanas temos assistido a um intenso debate entre os dirigentes dos institutos Vox Populi, Ibope e Datafolha. Os dois últimos são acusados de terem demorado a captar "a onda Dilma". O problema é que o debate sobre divergência técnica descamba para acusações explícitas de favorecimento a certos candidatos.A observação dos resultados das pesquisas de um jeito diferente pode ajudar a esclarecer se a polêmica procede. No lugar da tradicional forma de apresentação dos dados, em que todos os candidatos aparecem na mesma tela, fiz um gráfico separado para cada um dos dois principais candidatos à Presidência: Dilma e Serra.Para permitir uma comparação precisa, o gráfico respeita a escala de dias. Ou seja, cada dia é um ponto na linha. As cores das linhas refletem o porcentual de votos que os candidatos receberam nas pesquisas feitas por Ibope, Datafolha e Vox Populi.Os dados mostram uma convergência entre os três institutos no que diz respeito à tendência geral dos dois candidatos: o crescimento de Dilma e o declínio de Serra. Visto em perspectiva, as linhas dos dois candidatos seguem rotas muito semelhantes.Existe realmente uma diferença entre os dados do Vox Populi e dos dois outros institutos. Na linha do Vox Populi, Dilma sempre aparece acima do porcentual apontado por Ibope e Datafolha. Tendência inversa aparece na linha de Serra. O candidato está sempre abaixo na linha do Vox Populi, comparativamente aos dois outros institutos. Como a diferença aparece ao longo dos meses deve haver uma razão estrutural. Não tenho a menor ideia de qual seja.O crescimento da intenção de voto para Dilma é um processo lento que acontece desde fins de 2009. O gráfico apresenta os resultados desde abril, quando os institutos começaram a fazer pesquisas regulares. Observamos um ritmo de crescimento mais forte a partir de meados do mês de julho, portanto, antes do começo do horário eleitoral gratuito.É possível dizer que algum instituto, em particular, captou, antes que os demais o crescimento (o de julho)? Não. Pelo menos com os resultados das pesquisas divulgadas e apresentadas no gráfico. Portanto, neste ponto, a divergência dos institutos não faz sentido.Alguns leitores devem estar se perguntando: e a margem de erro? Estou convencido de que a forma de pesquisa utilizada no País por todos os institutos - a amostragem por quota - não permite que utilizemos margem de erro. O tema já foi levantado por alguns estatísticos e é tecnicamente complexo. Volto ao tema em outra oportunidade.É PROFESSOR VISITANTE DA UERJ E AUTOR DO BLOG "ELEIÇÕES EM DADOS"

As pesquisas de opinião por amostragem começaram a ser difundidas no Brasil ao longo dos anos 1980. A transição para a democracia, os novos partidos e as eleições frequentes (1982, 1985, 1986, 1988 e 1989 ) criaram o ambiente propício para a adoção dessa técnica de aferição de opinião pública, já amplamente utilizada nos Estados Unidos e em países europeus desde o pós-guerra.Inicialmente, as pesquisas foram alvo de enorme desconfiança, sobretudo de políticos mais tradicionais. Leonel Brizola, o mais ácido deles, via nas pesquisas um grande instrumento de manipulação. Afinal, como era possível conhecer o que pensava toda a população ouvindo cerca de 1.000 pessoas? Seguia-se o seu bordão predileto, depois seguido por muitos: "A verdadeira pesquisa é feita no dia da eleição."Vencidas as desconfianças mais fortes, as pesquisas passaram a ser instrumentos fundamentais das campanhas no Brasil. Elas são utilizadas pelos políticos e marqueteiros e veiculadas semanalmente nos principais órgãos de informação do País.Mas desde as eleições municipais passadas observo que as tradicionais críticas dos políticos às pesquisas têm sido substituídas por críticas de um diretor de institutos aos resultados das pesquisas feitas por outro instituto. Resultados divergentes têm levado a ácidas acusações sobre metodologia, uso de questionário, formas de fazer o campo e desenho amostral. Enfim, temas complexos, difíceis de ser explicados ao grande público. Nas últimas semanas temos assistido a um intenso debate entre os dirigentes dos institutos Vox Populi, Ibope e Datafolha. Os dois últimos são acusados de terem demorado a captar "a onda Dilma". O problema é que o debate sobre divergência técnica descamba para acusações explícitas de favorecimento a certos candidatos.A observação dos resultados das pesquisas de um jeito diferente pode ajudar a esclarecer se a polêmica procede. No lugar da tradicional forma de apresentação dos dados, em que todos os candidatos aparecem na mesma tela, fiz um gráfico separado para cada um dos dois principais candidatos à Presidência: Dilma e Serra.Para permitir uma comparação precisa, o gráfico respeita a escala de dias. Ou seja, cada dia é um ponto na linha. As cores das linhas refletem o porcentual de votos que os candidatos receberam nas pesquisas feitas por Ibope, Datafolha e Vox Populi.Os dados mostram uma convergência entre os três institutos no que diz respeito à tendência geral dos dois candidatos: o crescimento de Dilma e o declínio de Serra. Visto em perspectiva, as linhas dos dois candidatos seguem rotas muito semelhantes.Existe realmente uma diferença entre os dados do Vox Populi e dos dois outros institutos. Na linha do Vox Populi, Dilma sempre aparece acima do porcentual apontado por Ibope e Datafolha. Tendência inversa aparece na linha de Serra. O candidato está sempre abaixo na linha do Vox Populi, comparativamente aos dois outros institutos. Como a diferença aparece ao longo dos meses deve haver uma razão estrutural. Não tenho a menor ideia de qual seja.O crescimento da intenção de voto para Dilma é um processo lento que acontece desde fins de 2009. O gráfico apresenta os resultados desde abril, quando os institutos começaram a fazer pesquisas regulares. Observamos um ritmo de crescimento mais forte a partir de meados do mês de julho, portanto, antes do começo do horário eleitoral gratuito.É possível dizer que algum instituto, em particular, captou, antes que os demais o crescimento (o de julho)? Não. Pelo menos com os resultados das pesquisas divulgadas e apresentadas no gráfico. Portanto, neste ponto, a divergência dos institutos não faz sentido.Alguns leitores devem estar se perguntando: e a margem de erro? Estou convencido de que a forma de pesquisa utilizada no País por todos os institutos - a amostragem por quota - não permite que utilizemos margem de erro. O tema já foi levantado por alguns estatísticos e é tecnicamente complexo. Volto ao tema em outra oportunidade.É PROFESSOR VISITANTE DA UERJ E AUTOR DO BLOG "ELEIÇÕES EM DADOS"

As pesquisas de opinião por amostragem começaram a ser difundidas no Brasil ao longo dos anos 1980. A transição para a democracia, os novos partidos e as eleições frequentes (1982, 1985, 1986, 1988 e 1989 ) criaram o ambiente propício para a adoção dessa técnica de aferição de opinião pública, já amplamente utilizada nos Estados Unidos e em países europeus desde o pós-guerra.Inicialmente, as pesquisas foram alvo de enorme desconfiança, sobretudo de políticos mais tradicionais. Leonel Brizola, o mais ácido deles, via nas pesquisas um grande instrumento de manipulação. Afinal, como era possível conhecer o que pensava toda a população ouvindo cerca de 1.000 pessoas? Seguia-se o seu bordão predileto, depois seguido por muitos: "A verdadeira pesquisa é feita no dia da eleição."Vencidas as desconfianças mais fortes, as pesquisas passaram a ser instrumentos fundamentais das campanhas no Brasil. Elas são utilizadas pelos políticos e marqueteiros e veiculadas semanalmente nos principais órgãos de informação do País.Mas desde as eleições municipais passadas observo que as tradicionais críticas dos políticos às pesquisas têm sido substituídas por críticas de um diretor de institutos aos resultados das pesquisas feitas por outro instituto. Resultados divergentes têm levado a ácidas acusações sobre metodologia, uso de questionário, formas de fazer o campo e desenho amostral. Enfim, temas complexos, difíceis de ser explicados ao grande público. Nas últimas semanas temos assistido a um intenso debate entre os dirigentes dos institutos Vox Populi, Ibope e Datafolha. Os dois últimos são acusados de terem demorado a captar "a onda Dilma". O problema é que o debate sobre divergência técnica descamba para acusações explícitas de favorecimento a certos candidatos.A observação dos resultados das pesquisas de um jeito diferente pode ajudar a esclarecer se a polêmica procede. No lugar da tradicional forma de apresentação dos dados, em que todos os candidatos aparecem na mesma tela, fiz um gráfico separado para cada um dos dois principais candidatos à Presidência: Dilma e Serra.Para permitir uma comparação precisa, o gráfico respeita a escala de dias. Ou seja, cada dia é um ponto na linha. As cores das linhas refletem o porcentual de votos que os candidatos receberam nas pesquisas feitas por Ibope, Datafolha e Vox Populi.Os dados mostram uma convergência entre os três institutos no que diz respeito à tendência geral dos dois candidatos: o crescimento de Dilma e o declínio de Serra. Visto em perspectiva, as linhas dos dois candidatos seguem rotas muito semelhantes.Existe realmente uma diferença entre os dados do Vox Populi e dos dois outros institutos. Na linha do Vox Populi, Dilma sempre aparece acima do porcentual apontado por Ibope e Datafolha. Tendência inversa aparece na linha de Serra. O candidato está sempre abaixo na linha do Vox Populi, comparativamente aos dois outros institutos. Como a diferença aparece ao longo dos meses deve haver uma razão estrutural. Não tenho a menor ideia de qual seja.O crescimento da intenção de voto para Dilma é um processo lento que acontece desde fins de 2009. O gráfico apresenta os resultados desde abril, quando os institutos começaram a fazer pesquisas regulares. Observamos um ritmo de crescimento mais forte a partir de meados do mês de julho, portanto, antes do começo do horário eleitoral gratuito.É possível dizer que algum instituto, em particular, captou, antes que os demais o crescimento (o de julho)? Não. Pelo menos com os resultados das pesquisas divulgadas e apresentadas no gráfico. Portanto, neste ponto, a divergência dos institutos não faz sentido.Alguns leitores devem estar se perguntando: e a margem de erro? Estou convencido de que a forma de pesquisa utilizada no País por todos os institutos - a amostragem por quota - não permite que utilizemos margem de erro. O tema já foi levantado por alguns estatísticos e é tecnicamente complexo. Volto ao tema em outra oportunidade.É PROFESSOR VISITANTE DA UERJ E AUTOR DO BLOG "ELEIÇÕES EM DADOS"

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