POR OUTRO LADO...
Alguns agentes do setor consideram arriscado uma mudança do PLD com base apenas na necessidade de resolver um problema conjuntural. A redução do preço, ponderam, pode implicar menor resposta da demanda por energia ao cenário de estresse hidrológico atual, quando há necessidade diminuir o consumo.
"A incerteza regulatória afasta investimento. Então agora estamos precisando de oferta (de energia) e vamos afastar investimentos", disse o presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello.
O sócio-diretor da comecializadora Ecom Energia, Paulo Toledo, considera que ainda é preciso analisar os impactos da mudança na audiência pública. "Toda mexida de preço é sempre muito sensível. Isso tem que ser avaliado para que eventual necessidade momentânea não impacte lá pra frente" disse ele.
O diretor da Aneel, Tiago Correia, defendeu que o momento é adequado para fazer a alteração. "O momento de definir (o PLD) é esse mesmo, inicío do período úmido. Estamos dando o sinal no momento adequado, de que o preço vai mudar, quando acaba o ciclo de 2014 e começa o de 2015", disse.
Analistas do BTG Pactual frisaram que o preço máximo mais alto neste ano ajudou a manter a demanda sob controle. "Acreditamos que o teto mais baixo não dá os incentivos corretos para a indústria e pode ter um perverso efeito no ano que vem se tivermos uma outra estação chuvosa problemática", escreveram.
Um técnico da Aneel afirmou a redução do PLD deve ser compensado pelas bandeiras tarifárias -- que darão um sinal de preço mais forte para os consumidores, que são atendidos pelas distribuidoras. Com as bandeiras tarifárias, esses consumidores poderão administrar melhor o seu consumo de energia, podendo até escolher reduzi-lo, o que não ocorre atualmente.
O projeto de mudança do PLD prevê que a redução do preço deve eleve o Encargo de Serviço do Sistema (ESS) e que isso seja custeado pelos agentes expostos ao mercado de curto prazo.
A elevação ocorreria porque o PLD máximo cairá abaixo do custo de operação de muitas térmicas, que devem seguir acionadas em 2015. Essas térmicas com custo de geração acima do PLD são pagas por meio do ESS, hoje dividido por todos consumidores.
A Thymos Energia calcula que cerca de 5 mil MW médios de térmicas não seriam cobertas com um PLD máximo proposto pela Aneel, o que elevaria o ESS total para cerca de 10 bilhões de reais. Atualmente, o ESS não chega a 1 bilhão de reais no ano.
Analistas do Itaú BBA avaliam que o PLD de 388 reais cobriria, por exemplo, 72 por cento do despacho térmico no país nesta semana, ou seja, cerca de 11,3 mil MW médios.
Segundo técnicos da Aneel a intenção da proposta é que só os participantes do setor elétrico expostos ao mercado de curto prazo paguem os custos adicionais do ESS.
A proposta da Aneel pode sofrer alterações até a votação da minuta final, no fim do ano, antes que as geradoras definam suas estratégias de distribuição de suas hidrelétricas para 2015.