Com menos verba, escolas de samba deveriam se reinventar, dizem estudiosos


Segundo pesquisadores, agremiações estão valorizando o carnaval-espetáculo em detrimento de elementos como o samba-enredo, a cadência da bateria e o samba no pé

Por Roberta Pennafort
Prefeito do Rio anunciou corte de verba para escolas de samba Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

RIO - O ano de 2017 deveria ser um ponto de inflexão nos desfiles das grandes escolas de samba do Rio, que já contam 85 carnavais. A avaliação é de pesquisadores do assunto ouvidos pela reportagem do Estado. O balanço da festa foi dramático, com dois acidentes com carros alegóricos de gravidade jamais vista (uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas), seguidos de um julgamento suspeito: as duas agremiações que os provocaram acabaram salvas de punições severas, e o campeonato foi dividido, em abril, entre outras duas.

Passados quatro meses da folia, outro sobressalto: sem qualquer negociação prévia, e contrariando promessa feita ano passado na campanha eleitoral, o novo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), anunciou que o valor concedido para a preparação dos desfiles será agora R$ 1 milhão por escola, e não mais R$ 2 milhões. A decisão foi comunicada oficialmente por ele aos dirigentes - que haviam ameaçado não desfilar em 2018 - semana passada. Crivella marcou novo encontro sobre o mesmo assunto para a última segunda-feira, 3, e, depois, desmarcou.

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O desfecho carnavalesco já seria suficiente para que as agremiações se repensassem, acreditam estudiosos da festa. Isso porque os acidentes, de responsabilidade do Paraíso do Tuiuti, cujo abre-alas matou uma radialista, esmagada contra a grade do setor 1 do sambódromo, e da Unidos da Tijuca, que viu o piso de um carro desabar por completo, com componentes em cima, guardam relação com o gigantismo que os desfiles assumiram nas últimas décadas, o que requer cada vez mais recursos. E também, apontam os pesquisadores, são reflexos da primazia do carnaval-espetáculo em detrimento da tradição, que valoriza mais elementos como o samba-enredo, a cadência da bateria e o samba no pé.

Veja os destaques do segundo dia de desfile na Sapucaí

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Veja os destaques do segundo dia de desfile na Sapucaí

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Veja os destaques do segundo dia de desfile na Sapucaí

Foto: Silvia Izquierdo/AP
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Foto: Wilton Junior/Estadão
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Foto: Mauro Pimentel/AP
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Foto: Wilton Junior/Estadão
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Foto: Wilton Júnior/Estadão
7 | 10

Veja os destaques do segundo dia de desfile na Sapucaí

Foto: Leo Correa/AP Photo
8 | 10

Veja imagens do segundo dia de desfile no Rio

Foto: Ricardo Moraes/Reuters
9 | 10

Veja os destaques do segundo dia de desfiles no Rio

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Veja os destaques do segundo dia de desfiles no Rio

Foto: Carlos Moraes/Estadão

A redução da subvenção da prefeitura do Rio - seis dias depois, anunciada pelo prefeito João Doria (PSDB) em São Paulo - poderia estar sendo encarada como mais um momento de autoanálise das escolas, defende a pesquisadora Rachel Valença. “Ainda que o prefeito esteja agindo motivado por interesses próprios, o corte da subvenção poderia levar à reflexão: se não há tanto dinheiro para a parafernália, vamos simplificar”, analisa Rachel, observadora dos desfiles desde os anos 1960.

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O afastamento das escolas do público vem sendo percebido pelas reações de endosso da população à medida do prefeito, que alegou precisar da verba do carnaval para investir em creches públicas, criando uma falsa dicotomia entre o supérfluo (o carnaval) e o necessário (a educação). Esse distanciamento, que contrasta com a histórico envolvimento afetivo dos cariocas com as agremiações, coincide com a espetacularização dos desfiles, além da elitização do sambódromo e das quadras das escolas, diz o jornalista Fábio Fabato, autor de livros sobre este universo.

“Estão matando a galinha dos ovos de ouro. O discurso do prefeito é demagógico e burro, mas as escolas, por outro lado, estão esquecendo de seus aspectos fundadores, que têm a ver com a transmissão de saberes. Foi justamente por isso que elas se tornaram entidades relevantes para a cultura do País, espelhos de seu entorno”, opina Fabato.

O fato de Crivella ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) não deve ser subestimado neste debate sobre a redução do aporte municipal, lembra o historiador Luiz Antonio Simas, pensador do carnaval. A religião demoniza a festa, por entender ser esta uma época dos “prazeres da carne”. Crivella não compareceu ao sambódromo, como fizeram seus antecessores.

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Simas atenta para a necessidade de se reavaliar a forma como os desfiles são geridos, sob a lógica do turismo e do entretenimento, e não da cultura. Marcelo Alves, presidente da Riotur, órgão municipal que administra o sambódromo, não quis dar entrevista. Ele já declarou que quer o envolvimento de empresas privadas na festa, a fim de triplicar o rendimento da prefeitura com o carnaval. Para ele, faz-se necessária a criação de “um grande projeto de marketing”.

“O carnaval dá sinais de crise de gestão há certo tempo, o que chegou ao ápice este ano. As escolas só pensam na questão financeira, e não refletem por que se isolaram da população. Dão um tiro no pé”, aponta Simas. “Houve um tempo em que os discos dos sambas-enredos eram tão aguardados quanto os do Roberto Carlos. As escolas desfilavam porque existiam. Hoje, para existir, precisam desfilar.”

Prefeito do Rio anunciou corte de verba para escolas de samba Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

RIO - O ano de 2017 deveria ser um ponto de inflexão nos desfiles das grandes escolas de samba do Rio, que já contam 85 carnavais. A avaliação é de pesquisadores do assunto ouvidos pela reportagem do Estado. O balanço da festa foi dramático, com dois acidentes com carros alegóricos de gravidade jamais vista (uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas), seguidos de um julgamento suspeito: as duas agremiações que os provocaram acabaram salvas de punições severas, e o campeonato foi dividido, em abril, entre outras duas.

Passados quatro meses da folia, outro sobressalto: sem qualquer negociação prévia, e contrariando promessa feita ano passado na campanha eleitoral, o novo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), anunciou que o valor concedido para a preparação dos desfiles será agora R$ 1 milhão por escola, e não mais R$ 2 milhões. A decisão foi comunicada oficialmente por ele aos dirigentes - que haviam ameaçado não desfilar em 2018 - semana passada. Crivella marcou novo encontro sobre o mesmo assunto para a última segunda-feira, 3, e, depois, desmarcou.

O desfecho carnavalesco já seria suficiente para que as agremiações se repensassem, acreditam estudiosos da festa. Isso porque os acidentes, de responsabilidade do Paraíso do Tuiuti, cujo abre-alas matou uma radialista, esmagada contra a grade do setor 1 do sambódromo, e da Unidos da Tijuca, que viu o piso de um carro desabar por completo, com componentes em cima, guardam relação com o gigantismo que os desfiles assumiram nas últimas décadas, o que requer cada vez mais recursos. E também, apontam os pesquisadores, são reflexos da primazia do carnaval-espetáculo em detrimento da tradição, que valoriza mais elementos como o samba-enredo, a cadência da bateria e o samba no pé.

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Foto: Carlos Moraes/Estadão

A redução da subvenção da prefeitura do Rio - seis dias depois, anunciada pelo prefeito João Doria (PSDB) em São Paulo - poderia estar sendo encarada como mais um momento de autoanálise das escolas, defende a pesquisadora Rachel Valença. “Ainda que o prefeito esteja agindo motivado por interesses próprios, o corte da subvenção poderia levar à reflexão: se não há tanto dinheiro para a parafernália, vamos simplificar”, analisa Rachel, observadora dos desfiles desde os anos 1960.

O afastamento das escolas do público vem sendo percebido pelas reações de endosso da população à medida do prefeito, que alegou precisar da verba do carnaval para investir em creches públicas, criando uma falsa dicotomia entre o supérfluo (o carnaval) e o necessário (a educação). Esse distanciamento, que contrasta com a histórico envolvimento afetivo dos cariocas com as agremiações, coincide com a espetacularização dos desfiles, além da elitização do sambódromo e das quadras das escolas, diz o jornalista Fábio Fabato, autor de livros sobre este universo.

“Estão matando a galinha dos ovos de ouro. O discurso do prefeito é demagógico e burro, mas as escolas, por outro lado, estão esquecendo de seus aspectos fundadores, que têm a ver com a transmissão de saberes. Foi justamente por isso que elas se tornaram entidades relevantes para a cultura do País, espelhos de seu entorno”, opina Fabato.

O fato de Crivella ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) não deve ser subestimado neste debate sobre a redução do aporte municipal, lembra o historiador Luiz Antonio Simas, pensador do carnaval. A religião demoniza a festa, por entender ser esta uma época dos “prazeres da carne”. Crivella não compareceu ao sambódromo, como fizeram seus antecessores.

Simas atenta para a necessidade de se reavaliar a forma como os desfiles são geridos, sob a lógica do turismo e do entretenimento, e não da cultura. Marcelo Alves, presidente da Riotur, órgão municipal que administra o sambódromo, não quis dar entrevista. Ele já declarou que quer o envolvimento de empresas privadas na festa, a fim de triplicar o rendimento da prefeitura com o carnaval. Para ele, faz-se necessária a criação de “um grande projeto de marketing”.

“O carnaval dá sinais de crise de gestão há certo tempo, o que chegou ao ápice este ano. As escolas só pensam na questão financeira, e não refletem por que se isolaram da população. Dão um tiro no pé”, aponta Simas. “Houve um tempo em que os discos dos sambas-enredos eram tão aguardados quanto os do Roberto Carlos. As escolas desfilavam porque existiam. Hoje, para existir, precisam desfilar.”

Prefeito do Rio anunciou corte de verba para escolas de samba Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

RIO - O ano de 2017 deveria ser um ponto de inflexão nos desfiles das grandes escolas de samba do Rio, que já contam 85 carnavais. A avaliação é de pesquisadores do assunto ouvidos pela reportagem do Estado. O balanço da festa foi dramático, com dois acidentes com carros alegóricos de gravidade jamais vista (uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas), seguidos de um julgamento suspeito: as duas agremiações que os provocaram acabaram salvas de punições severas, e o campeonato foi dividido, em abril, entre outras duas.

Passados quatro meses da folia, outro sobressalto: sem qualquer negociação prévia, e contrariando promessa feita ano passado na campanha eleitoral, o novo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), anunciou que o valor concedido para a preparação dos desfiles será agora R$ 1 milhão por escola, e não mais R$ 2 milhões. A decisão foi comunicada oficialmente por ele aos dirigentes - que haviam ameaçado não desfilar em 2018 - semana passada. Crivella marcou novo encontro sobre o mesmo assunto para a última segunda-feira, 3, e, depois, desmarcou.

O desfecho carnavalesco já seria suficiente para que as agremiações se repensassem, acreditam estudiosos da festa. Isso porque os acidentes, de responsabilidade do Paraíso do Tuiuti, cujo abre-alas matou uma radialista, esmagada contra a grade do setor 1 do sambódromo, e da Unidos da Tijuca, que viu o piso de um carro desabar por completo, com componentes em cima, guardam relação com o gigantismo que os desfiles assumiram nas últimas décadas, o que requer cada vez mais recursos. E também, apontam os pesquisadores, são reflexos da primazia do carnaval-espetáculo em detrimento da tradição, que valoriza mais elementos como o samba-enredo, a cadência da bateria e o samba no pé.

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A redução da subvenção da prefeitura do Rio - seis dias depois, anunciada pelo prefeito João Doria (PSDB) em São Paulo - poderia estar sendo encarada como mais um momento de autoanálise das escolas, defende a pesquisadora Rachel Valença. “Ainda que o prefeito esteja agindo motivado por interesses próprios, o corte da subvenção poderia levar à reflexão: se não há tanto dinheiro para a parafernália, vamos simplificar”, analisa Rachel, observadora dos desfiles desde os anos 1960.

O afastamento das escolas do público vem sendo percebido pelas reações de endosso da população à medida do prefeito, que alegou precisar da verba do carnaval para investir em creches públicas, criando uma falsa dicotomia entre o supérfluo (o carnaval) e o necessário (a educação). Esse distanciamento, que contrasta com a histórico envolvimento afetivo dos cariocas com as agremiações, coincide com a espetacularização dos desfiles, além da elitização do sambódromo e das quadras das escolas, diz o jornalista Fábio Fabato, autor de livros sobre este universo.

“Estão matando a galinha dos ovos de ouro. O discurso do prefeito é demagógico e burro, mas as escolas, por outro lado, estão esquecendo de seus aspectos fundadores, que têm a ver com a transmissão de saberes. Foi justamente por isso que elas se tornaram entidades relevantes para a cultura do País, espelhos de seu entorno”, opina Fabato.

O fato de Crivella ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) não deve ser subestimado neste debate sobre a redução do aporte municipal, lembra o historiador Luiz Antonio Simas, pensador do carnaval. A religião demoniza a festa, por entender ser esta uma época dos “prazeres da carne”. Crivella não compareceu ao sambódromo, como fizeram seus antecessores.

Simas atenta para a necessidade de se reavaliar a forma como os desfiles são geridos, sob a lógica do turismo e do entretenimento, e não da cultura. Marcelo Alves, presidente da Riotur, órgão municipal que administra o sambódromo, não quis dar entrevista. Ele já declarou que quer o envolvimento de empresas privadas na festa, a fim de triplicar o rendimento da prefeitura com o carnaval. Para ele, faz-se necessária a criação de “um grande projeto de marketing”.

“O carnaval dá sinais de crise de gestão há certo tempo, o que chegou ao ápice este ano. As escolas só pensam na questão financeira, e não refletem por que se isolaram da população. Dão um tiro no pé”, aponta Simas. “Houve um tempo em que os discos dos sambas-enredos eram tão aguardados quanto os do Roberto Carlos. As escolas desfilavam porque existiam. Hoje, para existir, precisam desfilar.”

Prefeito do Rio anunciou corte de verba para escolas de samba Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

RIO - O ano de 2017 deveria ser um ponto de inflexão nos desfiles das grandes escolas de samba do Rio, que já contam 85 carnavais. A avaliação é de pesquisadores do assunto ouvidos pela reportagem do Estado. O balanço da festa foi dramático, com dois acidentes com carros alegóricos de gravidade jamais vista (uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas), seguidos de um julgamento suspeito: as duas agremiações que os provocaram acabaram salvas de punições severas, e o campeonato foi dividido, em abril, entre outras duas.

Passados quatro meses da folia, outro sobressalto: sem qualquer negociação prévia, e contrariando promessa feita ano passado na campanha eleitoral, o novo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), anunciou que o valor concedido para a preparação dos desfiles será agora R$ 1 milhão por escola, e não mais R$ 2 milhões. A decisão foi comunicada oficialmente por ele aos dirigentes - que haviam ameaçado não desfilar em 2018 - semana passada. Crivella marcou novo encontro sobre o mesmo assunto para a última segunda-feira, 3, e, depois, desmarcou.

O desfecho carnavalesco já seria suficiente para que as agremiações se repensassem, acreditam estudiosos da festa. Isso porque os acidentes, de responsabilidade do Paraíso do Tuiuti, cujo abre-alas matou uma radialista, esmagada contra a grade do setor 1 do sambódromo, e da Unidos da Tijuca, que viu o piso de um carro desabar por completo, com componentes em cima, guardam relação com o gigantismo que os desfiles assumiram nas últimas décadas, o que requer cada vez mais recursos. E também, apontam os pesquisadores, são reflexos da primazia do carnaval-espetáculo em detrimento da tradição, que valoriza mais elementos como o samba-enredo, a cadência da bateria e o samba no pé.

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A redução da subvenção da prefeitura do Rio - seis dias depois, anunciada pelo prefeito João Doria (PSDB) em São Paulo - poderia estar sendo encarada como mais um momento de autoanálise das escolas, defende a pesquisadora Rachel Valença. “Ainda que o prefeito esteja agindo motivado por interesses próprios, o corte da subvenção poderia levar à reflexão: se não há tanto dinheiro para a parafernália, vamos simplificar”, analisa Rachel, observadora dos desfiles desde os anos 1960.

O afastamento das escolas do público vem sendo percebido pelas reações de endosso da população à medida do prefeito, que alegou precisar da verba do carnaval para investir em creches públicas, criando uma falsa dicotomia entre o supérfluo (o carnaval) e o necessário (a educação). Esse distanciamento, que contrasta com a histórico envolvimento afetivo dos cariocas com as agremiações, coincide com a espetacularização dos desfiles, além da elitização do sambódromo e das quadras das escolas, diz o jornalista Fábio Fabato, autor de livros sobre este universo.

“Estão matando a galinha dos ovos de ouro. O discurso do prefeito é demagógico e burro, mas as escolas, por outro lado, estão esquecendo de seus aspectos fundadores, que têm a ver com a transmissão de saberes. Foi justamente por isso que elas se tornaram entidades relevantes para a cultura do País, espelhos de seu entorno”, opina Fabato.

O fato de Crivella ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) não deve ser subestimado neste debate sobre a redução do aporte municipal, lembra o historiador Luiz Antonio Simas, pensador do carnaval. A religião demoniza a festa, por entender ser esta uma época dos “prazeres da carne”. Crivella não compareceu ao sambódromo, como fizeram seus antecessores.

Simas atenta para a necessidade de se reavaliar a forma como os desfiles são geridos, sob a lógica do turismo e do entretenimento, e não da cultura. Marcelo Alves, presidente da Riotur, órgão municipal que administra o sambódromo, não quis dar entrevista. Ele já declarou que quer o envolvimento de empresas privadas na festa, a fim de triplicar o rendimento da prefeitura com o carnaval. Para ele, faz-se necessária a criação de “um grande projeto de marketing”.

“O carnaval dá sinais de crise de gestão há certo tempo, o que chegou ao ápice este ano. As escolas só pensam na questão financeira, e não refletem por que se isolaram da população. Dão um tiro no pé”, aponta Simas. “Houve um tempo em que os discos dos sambas-enredos eram tão aguardados quanto os do Roberto Carlos. As escolas desfilavam porque existiam. Hoje, para existir, precisam desfilar.”

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