Senta, ô careca!


Por Antônio Prata

Poucas coisas ferem mais a alma do brasileiro do que "permanecer sentado até a parada total da aeronave e apagarem-se os sinais luminosos de apertar cintos". Da próxima vez que viajar de avião, repare. Mal acabou aquele burburinho que segue à aterrissagem - aquele farfalhar de vozes e risadas que não quer dizer outra coisa senão "ufa, sobrevivemos!" - e os passageiros já começam a se mexer, aflitos, sobre seus assentos flutuantes. Trata-se de um jogo silencioso, do qual todos os viajantes participam, cuja regra é: quem ainda estiver sentado quando for permitido se levantar é bicha! Veja bem, não trago o tema à baila por achar que esses afobadinhos causem grande perigo à sociedade ou ameacem nossas instituições. O máximo que pode acontecer é o avião dar um solavanco, eles se desequilibrarem, quebrarem umas costelas ou passarem dessa para melhor - o que seria problema unicamente deles. Falo sobre o assunto pois acho que, destrinchando-o, podemos esclarecer outros comportamentos de nosso povo - assim como uma descoberta num gene das drosófilas pode acabar trazendo grandes avanços, digamos, ao cultivo de repolhos. Observando o bigodudo ilegalmente de pé, ali, no meio do corredor, ou o careca clandestinamente curvado sob o compartimento de bagagens, entendemos melhor a confusão do brasileiro no que tange à observância das regras. Como herança da escravidão, nós nunca entendemos que a lei é um código comum, destinado a organizar minimamente o fuzuê, de forma que possamos caminhar com alguma segurança em direção à felicidade. Vemos a lei como a demonstração de poder de uma pessoa sobre a outra. E o passageiro insubmisso não aceita receber ordens do comissário de bordo, um sujeito que, pouco antes, estava servindo-lhe suco e amendoim - e que, não menos importante, costuma ser jovem e, digamos, bem apessoado. Mal ouve o anúncio de permanecer sentado, o insurgente pensa "quem ele acha que é?!", então levanta-se e executa, em ato, a máxima nacional que Roberto da Matta formulou tão bem: "você sabe com quem está falando?!" Caso a voz no sistema de som seja de uma aeromoça, a hipótese continua válida. Afinal, vou receber ordens de uma mulher? Eu? Na frente de todo mundo?! Pobre do brasileiro, sua virilidade não resiste a uma ponte aérea! Diante de tais fatos, sugiro que o governo crie o Ministério da Psicanálise, destinado a combater as causas de tamanha insegurança em nossa pátria tão despatriada. E sugiro aos comissários e aeromoças que sejam mais agressivos na repressão: "Senta, ô Bigode!!" e "Bota o cinto, careca!" soando no sistema de som podem ser tão efetivos quando os ensinamentos de Freud, Jung ou Lacan na diminuição dos sintomas.

Poucas coisas ferem mais a alma do brasileiro do que "permanecer sentado até a parada total da aeronave e apagarem-se os sinais luminosos de apertar cintos". Da próxima vez que viajar de avião, repare. Mal acabou aquele burburinho que segue à aterrissagem - aquele farfalhar de vozes e risadas que não quer dizer outra coisa senão "ufa, sobrevivemos!" - e os passageiros já começam a se mexer, aflitos, sobre seus assentos flutuantes. Trata-se de um jogo silencioso, do qual todos os viajantes participam, cuja regra é: quem ainda estiver sentado quando for permitido se levantar é bicha! Veja bem, não trago o tema à baila por achar que esses afobadinhos causem grande perigo à sociedade ou ameacem nossas instituições. O máximo que pode acontecer é o avião dar um solavanco, eles se desequilibrarem, quebrarem umas costelas ou passarem dessa para melhor - o que seria problema unicamente deles. Falo sobre o assunto pois acho que, destrinchando-o, podemos esclarecer outros comportamentos de nosso povo - assim como uma descoberta num gene das drosófilas pode acabar trazendo grandes avanços, digamos, ao cultivo de repolhos. Observando o bigodudo ilegalmente de pé, ali, no meio do corredor, ou o careca clandestinamente curvado sob o compartimento de bagagens, entendemos melhor a confusão do brasileiro no que tange à observância das regras. Como herança da escravidão, nós nunca entendemos que a lei é um código comum, destinado a organizar minimamente o fuzuê, de forma que possamos caminhar com alguma segurança em direção à felicidade. Vemos a lei como a demonstração de poder de uma pessoa sobre a outra. E o passageiro insubmisso não aceita receber ordens do comissário de bordo, um sujeito que, pouco antes, estava servindo-lhe suco e amendoim - e que, não menos importante, costuma ser jovem e, digamos, bem apessoado. Mal ouve o anúncio de permanecer sentado, o insurgente pensa "quem ele acha que é?!", então levanta-se e executa, em ato, a máxima nacional que Roberto da Matta formulou tão bem: "você sabe com quem está falando?!" Caso a voz no sistema de som seja de uma aeromoça, a hipótese continua válida. Afinal, vou receber ordens de uma mulher? Eu? Na frente de todo mundo?! Pobre do brasileiro, sua virilidade não resiste a uma ponte aérea! Diante de tais fatos, sugiro que o governo crie o Ministério da Psicanálise, destinado a combater as causas de tamanha insegurança em nossa pátria tão despatriada. E sugiro aos comissários e aeromoças que sejam mais agressivos na repressão: "Senta, ô Bigode!!" e "Bota o cinto, careca!" soando no sistema de som podem ser tão efetivos quando os ensinamentos de Freud, Jung ou Lacan na diminuição dos sintomas.

Poucas coisas ferem mais a alma do brasileiro do que "permanecer sentado até a parada total da aeronave e apagarem-se os sinais luminosos de apertar cintos". Da próxima vez que viajar de avião, repare. Mal acabou aquele burburinho que segue à aterrissagem - aquele farfalhar de vozes e risadas que não quer dizer outra coisa senão "ufa, sobrevivemos!" - e os passageiros já começam a se mexer, aflitos, sobre seus assentos flutuantes. Trata-se de um jogo silencioso, do qual todos os viajantes participam, cuja regra é: quem ainda estiver sentado quando for permitido se levantar é bicha! Veja bem, não trago o tema à baila por achar que esses afobadinhos causem grande perigo à sociedade ou ameacem nossas instituições. O máximo que pode acontecer é o avião dar um solavanco, eles se desequilibrarem, quebrarem umas costelas ou passarem dessa para melhor - o que seria problema unicamente deles. Falo sobre o assunto pois acho que, destrinchando-o, podemos esclarecer outros comportamentos de nosso povo - assim como uma descoberta num gene das drosófilas pode acabar trazendo grandes avanços, digamos, ao cultivo de repolhos. Observando o bigodudo ilegalmente de pé, ali, no meio do corredor, ou o careca clandestinamente curvado sob o compartimento de bagagens, entendemos melhor a confusão do brasileiro no que tange à observância das regras. Como herança da escravidão, nós nunca entendemos que a lei é um código comum, destinado a organizar minimamente o fuzuê, de forma que possamos caminhar com alguma segurança em direção à felicidade. Vemos a lei como a demonstração de poder de uma pessoa sobre a outra. E o passageiro insubmisso não aceita receber ordens do comissário de bordo, um sujeito que, pouco antes, estava servindo-lhe suco e amendoim - e que, não menos importante, costuma ser jovem e, digamos, bem apessoado. Mal ouve o anúncio de permanecer sentado, o insurgente pensa "quem ele acha que é?!", então levanta-se e executa, em ato, a máxima nacional que Roberto da Matta formulou tão bem: "você sabe com quem está falando?!" Caso a voz no sistema de som seja de uma aeromoça, a hipótese continua válida. Afinal, vou receber ordens de uma mulher? Eu? Na frente de todo mundo?! Pobre do brasileiro, sua virilidade não resiste a uma ponte aérea! Diante de tais fatos, sugiro que o governo crie o Ministério da Psicanálise, destinado a combater as causas de tamanha insegurança em nossa pátria tão despatriada. E sugiro aos comissários e aeromoças que sejam mais agressivos na repressão: "Senta, ô Bigode!!" e "Bota o cinto, careca!" soando no sistema de som podem ser tão efetivos quando os ensinamentos de Freud, Jung ou Lacan na diminuição dos sintomas.

Poucas coisas ferem mais a alma do brasileiro do que "permanecer sentado até a parada total da aeronave e apagarem-se os sinais luminosos de apertar cintos". Da próxima vez que viajar de avião, repare. Mal acabou aquele burburinho que segue à aterrissagem - aquele farfalhar de vozes e risadas que não quer dizer outra coisa senão "ufa, sobrevivemos!" - e os passageiros já começam a se mexer, aflitos, sobre seus assentos flutuantes. Trata-se de um jogo silencioso, do qual todos os viajantes participam, cuja regra é: quem ainda estiver sentado quando for permitido se levantar é bicha! Veja bem, não trago o tema à baila por achar que esses afobadinhos causem grande perigo à sociedade ou ameacem nossas instituições. O máximo que pode acontecer é o avião dar um solavanco, eles se desequilibrarem, quebrarem umas costelas ou passarem dessa para melhor - o que seria problema unicamente deles. Falo sobre o assunto pois acho que, destrinchando-o, podemos esclarecer outros comportamentos de nosso povo - assim como uma descoberta num gene das drosófilas pode acabar trazendo grandes avanços, digamos, ao cultivo de repolhos. Observando o bigodudo ilegalmente de pé, ali, no meio do corredor, ou o careca clandestinamente curvado sob o compartimento de bagagens, entendemos melhor a confusão do brasileiro no que tange à observância das regras. Como herança da escravidão, nós nunca entendemos que a lei é um código comum, destinado a organizar minimamente o fuzuê, de forma que possamos caminhar com alguma segurança em direção à felicidade. Vemos a lei como a demonstração de poder de uma pessoa sobre a outra. E o passageiro insubmisso não aceita receber ordens do comissário de bordo, um sujeito que, pouco antes, estava servindo-lhe suco e amendoim - e que, não menos importante, costuma ser jovem e, digamos, bem apessoado. Mal ouve o anúncio de permanecer sentado, o insurgente pensa "quem ele acha que é?!", então levanta-se e executa, em ato, a máxima nacional que Roberto da Matta formulou tão bem: "você sabe com quem está falando?!" Caso a voz no sistema de som seja de uma aeromoça, a hipótese continua válida. Afinal, vou receber ordens de uma mulher? Eu? Na frente de todo mundo?! Pobre do brasileiro, sua virilidade não resiste a uma ponte aérea! Diante de tais fatos, sugiro que o governo crie o Ministério da Psicanálise, destinado a combater as causas de tamanha insegurança em nossa pátria tão despatriada. E sugiro aos comissários e aeromoças que sejam mais agressivos na repressão: "Senta, ô Bigode!!" e "Bota o cinto, careca!" soando no sistema de som podem ser tão efetivos quando os ensinamentos de Freud, Jung ou Lacan na diminuição dos sintomas.

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