BOA VISTA - Ao som de salsa e reggaeton, o cabeleireiro venezuelano Leonardo Vivas, de 27 anos, corta o cabelo de um conterrâneo em uma barbearia improvisada montada na calçada do abrigo Tancredo Neves, em Boa Vista. As ruas do entorno viraram uma espécie de feira ao ar livre de venezuelanos, com venda de alimentos e cigarros e prestação de serviços.
O trabalho autônomo foi a opção encontrada por imigrantes que não conseguem emprego na capital de Roraima. Alguns vendem os poucos itens que trouxeram da Venezuela, como cigarro, farinha e biscoitos. Outros, como Vivas, reproduzem o ofício que tinham no país de origem. “Trabalhava desde os 15 anos como cabeleireiro em Caracas. Trouxe os equipamentos e estou aqui fazendo o mesmo: corte, sobrancelha, tintura”, conta ele, que cobra R$ 7 pelo corte, mas, diante da necessidade de sobreviver no Brasil, aceita fazer o serviço em troca de produtos. “Já aceitei camisas e outros itens”, conta. A clientela é formada pelos próprios imigrantes, que, com baixa renda, buscam serviços com preços mais acessíveis.
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Eles chegam a percorrer 200 quilômetros a pé até a capital do Estado, Boa Vista, onde se amontoam em praças sem banheiro e água potável
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Do outro lado da rua onde Vivas trabalha é possível encontrar outra barbearia, mais barracas vendendo alimentos e um ponto de conserto de celulares e computadores. “Tenho carteira de trabalho desde o ano passado, mas não consigo emprego. O jeito é trabalhar por conta”, afirma Juan Hernandez, de 25 anos.
Outra mudança no mercado de trabalho de Boa Vista trazida pela imigração foi a redução no valor das diárias pagas a profissionais autônomos. Com muita mão de obra barata disponível, empregadores estão oferecendo condições precárias de trabalho, com valores de R$ 10 para um dia de trabalho em fazenda ou de R$ 20 a R$ 30 para a diária de um pedreiro – quando a média para esse tipo de serviço entre brasileiros é de cerca de R$ 100.
Outro problema é a demora na emissão de documentos, com a chegada de um grande contingente de imigrantes. “Solicitei residência em fevereiro e só consegui agendar para maio a emissão da Carteira de Trabalho”, afirma Osvaldo Mendoza, de 35 anos.