Por mais que seja divertido ver o ministro Gilmar Mendes à beira de um ataque de nervos na defesa de uma tese derrotada - no caso, a favor da extradição do dito cujo -, tal sentimento moleque perde um pouco a graça quando compartilhado pelo ministro Marco Aurélio Mello. A ironia empolada em pessoa esteve, desta feita, a serviço da decisão vencedora de mandar soltar o carcamano em questão.
Para quem não tinha - e continua não tendo - juízo próprio sobre o imbróglio, foi duro torcer por este ou aquele veredicto do tribunal, ainda mais sabendo que, em caso de êxito da proposição da extradição, os papéis se inverteriam, cabendo a Gilmar Mendes o sotaque sarcástico da vitória no discurso barroco de sempre. Certos embates no Supremo Tribunal Federal lembram um pouco aqueles combates de vale-tudo em que, ao soar do primeiro gongo, os lutadores vão ao solo e passam a maior parte do tempo embolados no tatame, tentando resolver a parada na base de chaves de pernas e de braços recíprocas. No tribunal o bate-boca estilístico entre as partes leva por vezes horas sem deixar a discussão sair do lugar.
Enfim, teve gente que perdeu a paciência com os dois e mudou de canal antes da sentença. Tomara que ninguém tenha perdido o faniquito jurídico do ministro Joaquim Barbosa, que é sempre uma atração à parte, né? Pena que Gilmar Mendes não tenha aceitado a provocação de seu oponente mais combativo. Quando eles se pegam de jeito, os dois saem perdendo para delírio da torcida.