Diversidade e Inclusão

Advogada cria negócio social para incentivar empreendedorismo de pessoas com deficiência


Renata Fridman fundou a BasicX em maio de 2021, a partir de uma angústia sobre o futuro do próprio filho, de 7 anos, que tem a síndrome do X frágil, e trabalha atualmente com 30 famílias. Meta é identificar e ampliar interesses, capacidades, repertórios e habilidades para diversificar e distribuir produtos.

Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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Incentivar o empreendedorismo das pessoas com deficiência, além da capacitação para empregabilidade e da educação, ser uma prestadora de serviços e uma distribuidora. Essa é a meta da .

"A ideia é ir para a rua com o fornecedor e construir um produto, conhecer e reconhecer seus gostos e interesses, estudar o mercado real, fazer benchmarking, entender custos, andar com a pessoa que tem deficiência intelectual pelos centros comerciais para vivenciar e aprender novas técnicas, ampliar o repertório", diz Renata.

O negócio surgiu de uma angústia de mãe e de uma pesquisa que Renata fez sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência intelectual. "Fiquei negativamente impactada. Com um filho neurodiverso de 7 anos (Síndrome do X Frágil), me dei conta sobre fatos um tanto desoladores, dados de inserção baixíssimos, segregação, preconceito, escopos restritos, falta de representatividade, visões capacitistas e baixa renda", comenta a advogada.

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"Conheci diversas ONGs, conversei com seus fundadores, visitei seus espaços. Comecei a pensar: 'hoje, o futuro do meu filho não é promissor'. O contexto era, e ainda é, complexo e desafiador", avalia Renata.

A advogada chama a atenção para a alta incidência de pessoas neurodiversas na população e para a baixa representatividade. "Faltam oportunidades. Empresas preenchem suas cotas com a deficiência motora, auditiva, visual, com ajustes arquitetônicos e de acessibilidade, mas para a pessoa com deficiência intelectual é necessária uma adaptação de condutas, comportamentos e educação de funcionários", diz.

"ONGs que atuam na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho não executam o que eu, pessoalmente e individualmente, espero para o meu próprio filho. Sem absolutamente qualquer crítica ou julgamento à filosofia, conduta ou à forma de atuação delas, simplesmente não enxerguei meu filho em nenhuma proposta que eu tenha conhecido", ressalta Renata.

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"Atualmente, oficinas de capacitação concentram essas pessoas sem a heterogeneidade que eu sonhava. Apesar do meu filho amar conviver com pessoas neuroatípicas, e eu também, hoje eu não acredito num ambiente concentrado e segregado. Já na inserção empregatícia em empresas terceiras, me pareceu haver um grande buraco entre o treinamento e o acompanhamento efetivo pós-contratação. A permanência deles no emprego se torna quase insustentável, como de fato verifiquei acontecer. Os empregos a que são direcionados são, em sua maioria, pautados em serviços, como auxiliar administrativo, recepcionista, estoquista. Outra questão é sobre as famílias das pessoas com deficiência intelectual, o meu próprio status quo. Largar uma carreira, um emprego ou ofício para cuidar da saúde, ou sobrevivência, de um filho ou parente é muito comum. Foi minha história também. Nós não gozamos de cotas de emprego. Há apenas uma lei que determina redução de carga horária para familiares, estritamente no âmbito do funcionalismo público, algumas esferas e regiões específicas, sendo que poucas pessoas que conseguem fazer jus a ela", analisa a advogada.

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Matyas Palaia, de 48 anos, tem deficiência intelectual e faz trabalhos em sisal. Foto: Divulgação.

"Decidi inovar e propor o empreendedorismo das pessoas com deficiência intelectual. Ser tanto a prestadora de serviços e a ponta distribuidora. Fundei a BasicX para suprir uma necessidade deste público e demonstrar que eles podem, sim, ser agentes produtivos, quebrar barreiras e construir um futuro mais promissor para pessoas com deficiência, principalmente intelectual", afirma Renata.

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"Não é caridade, mas um comércio como outro qualquer. Se a pessoa me mostra que sabe produzir determinada qualidade, eu não compro dela nada a menos. Meus fornecedores têm compromisso com prazo de entrega, visual e materiais utilizados", explica a advogada.

A BasicX já trabalha com 30 famílias, que produzem cerâmicas, velas, malas, tábuas, squeezes, sabonetes, aromatizadores, nécessaires e vestuário, todos com variações.

Renata cita o caso de Tomas Reinach, de 32 anos, que tem deficiências física e intelectual, com perda de memória recente. "Quando procurou a BasicX, ele nunca havia investido em um negócio próprio, mas tinha interesse na fabricação de geleias, primeiro produto que criou após nos conhecer. Ele também quer fazer jogos americanos e, atualmente, recebe as orientações para esse objetivo", conta.

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"Enfrento alguns desafios na condução de um negócio social. O primeiro é localizar pessoas um mínimo dispostas a empreender. Misturar sonhos e deficiência intelectual numa mesma conversa não é nada simples. Aqui, penso eu, ter lugar de fala é imprescindível. Por exemplo, visitar uma comunidade, encontrar um filho que passa 24hrs do dia em função de algum hiper foco. Para estabelecer um diálogo com ele ou algum responsável, devo ter a empatia mais profunda possível. Rir junto com a mãe porque ambas driblamos alguma crise dele. E por aí vai. Além do desafio em se localizar fornecedores, alcançar um público que não tenha qualquer contato com a deficiência intelectual também é um caminho a se percorrer. Como disse antes, nossa rede realmente é grande, mas o objetivo é mostrar para quem está de fora da causa, que nosso público é capaz e produtivo. Por fim, um negócio social ainda encontra certa dificuldade de investimentos externos, que estão tão acostumados com o funcionamento de OSC (organizações da sociedade civil), ONGs, caminho que, até o momento, decidimos por não trilhar. O conceito de negócio social é relativamente novo e demanda que o mercado absorva diversas ideias. De toda sorte, encontramos portas abertas em empresas de diversos portes para conversarmos sobre parcerias, ações e campanhas. Estamos muito animados", completa Renata Fridman.

Roberto Filizola Lima, de 50 anos, tem deficiência intelectual e apraxia da fala. Ele auxilia nas oficinas de bolsas, malas e necessaires. Foto: Divulgação.

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Incentivar o empreendedorismo das pessoas com deficiência, além da capacitação para empregabilidade e da educação, ser uma prestadora de serviços e uma distribuidora. Essa é a meta da .

"A ideia é ir para a rua com o fornecedor e construir um produto, conhecer e reconhecer seus gostos e interesses, estudar o mercado real, fazer benchmarking, entender custos, andar com a pessoa que tem deficiência intelectual pelos centros comerciais para vivenciar e aprender novas técnicas, ampliar o repertório", diz Renata.

O negócio surgiu de uma angústia de mãe e de uma pesquisa que Renata fez sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência intelectual. "Fiquei negativamente impactada. Com um filho neurodiverso de 7 anos (Síndrome do X Frágil), me dei conta sobre fatos um tanto desoladores, dados de inserção baixíssimos, segregação, preconceito, escopos restritos, falta de representatividade, visões capacitistas e baixa renda", comenta a advogada.

"Conheci diversas ONGs, conversei com seus fundadores, visitei seus espaços. Comecei a pensar: 'hoje, o futuro do meu filho não é promissor'. O contexto era, e ainda é, complexo e desafiador", avalia Renata.

A advogada chama a atenção para a alta incidência de pessoas neurodiversas na população e para a baixa representatividade. "Faltam oportunidades. Empresas preenchem suas cotas com a deficiência motora, auditiva, visual, com ajustes arquitetônicos e de acessibilidade, mas para a pessoa com deficiência intelectual é necessária uma adaptação de condutas, comportamentos e educação de funcionários", diz.

"ONGs que atuam na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho não executam o que eu, pessoalmente e individualmente, espero para o meu próprio filho. Sem absolutamente qualquer crítica ou julgamento à filosofia, conduta ou à forma de atuação delas, simplesmente não enxerguei meu filho em nenhuma proposta que eu tenha conhecido", ressalta Renata.

"Atualmente, oficinas de capacitação concentram essas pessoas sem a heterogeneidade que eu sonhava. Apesar do meu filho amar conviver com pessoas neuroatípicas, e eu também, hoje eu não acredito num ambiente concentrado e segregado. Já na inserção empregatícia em empresas terceiras, me pareceu haver um grande buraco entre o treinamento e o acompanhamento efetivo pós-contratação. A permanência deles no emprego se torna quase insustentável, como de fato verifiquei acontecer. Os empregos a que são direcionados são, em sua maioria, pautados em serviços, como auxiliar administrativo, recepcionista, estoquista. Outra questão é sobre as famílias das pessoas com deficiência intelectual, o meu próprio status quo. Largar uma carreira, um emprego ou ofício para cuidar da saúde, ou sobrevivência, de um filho ou parente é muito comum. Foi minha história também. Nós não gozamos de cotas de emprego. Há apenas uma lei que determina redução de carga horária para familiares, estritamente no âmbito do funcionalismo público, algumas esferas e regiões específicas, sendo que poucas pessoas que conseguem fazer jus a ela", analisa a advogada.

Matyas Palaia, de 48 anos, tem deficiência intelectual e faz trabalhos em sisal. Foto: Divulgação.

"Decidi inovar e propor o empreendedorismo das pessoas com deficiência intelectual. Ser tanto a prestadora de serviços e a ponta distribuidora. Fundei a BasicX para suprir uma necessidade deste público e demonstrar que eles podem, sim, ser agentes produtivos, quebrar barreiras e construir um futuro mais promissor para pessoas com deficiência, principalmente intelectual", afirma Renata.

"Não é caridade, mas um comércio como outro qualquer. Se a pessoa me mostra que sabe produzir determinada qualidade, eu não compro dela nada a menos. Meus fornecedores têm compromisso com prazo de entrega, visual e materiais utilizados", explica a advogada.

A BasicX já trabalha com 30 famílias, que produzem cerâmicas, velas, malas, tábuas, squeezes, sabonetes, aromatizadores, nécessaires e vestuário, todos com variações.

Renata cita o caso de Tomas Reinach, de 32 anos, que tem deficiências física e intelectual, com perda de memória recente. "Quando procurou a BasicX, ele nunca havia investido em um negócio próprio, mas tinha interesse na fabricação de geleias, primeiro produto que criou após nos conhecer. Ele também quer fazer jogos americanos e, atualmente, recebe as orientações para esse objetivo", conta.

"Enfrento alguns desafios na condução de um negócio social. O primeiro é localizar pessoas um mínimo dispostas a empreender. Misturar sonhos e deficiência intelectual numa mesma conversa não é nada simples. Aqui, penso eu, ter lugar de fala é imprescindível. Por exemplo, visitar uma comunidade, encontrar um filho que passa 24hrs do dia em função de algum hiper foco. Para estabelecer um diálogo com ele ou algum responsável, devo ter a empatia mais profunda possível. Rir junto com a mãe porque ambas driblamos alguma crise dele. E por aí vai. Além do desafio em se localizar fornecedores, alcançar um público que não tenha qualquer contato com a deficiência intelectual também é um caminho a se percorrer. Como disse antes, nossa rede realmente é grande, mas o objetivo é mostrar para quem está de fora da causa, que nosso público é capaz e produtivo. Por fim, um negócio social ainda encontra certa dificuldade de investimentos externos, que estão tão acostumados com o funcionamento de OSC (organizações da sociedade civil), ONGs, caminho que, até o momento, decidimos por não trilhar. O conceito de negócio social é relativamente novo e demanda que o mercado absorva diversas ideias. De toda sorte, encontramos portas abertas em empresas de diversos portes para conversarmos sobre parcerias, ações e campanhas. Estamos muito animados", completa Renata Fridman.

Roberto Filizola Lima, de 50 anos, tem deficiência intelectual e apraxia da fala. Ele auxilia nas oficinas de bolsas, malas e necessaires. Foto: Divulgação.

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Incentivar o empreendedorismo das pessoas com deficiência, além da capacitação para empregabilidade e da educação, ser uma prestadora de serviços e uma distribuidora. Essa é a meta da .

"A ideia é ir para a rua com o fornecedor e construir um produto, conhecer e reconhecer seus gostos e interesses, estudar o mercado real, fazer benchmarking, entender custos, andar com a pessoa que tem deficiência intelectual pelos centros comerciais para vivenciar e aprender novas técnicas, ampliar o repertório", diz Renata.

O negócio surgiu de uma angústia de mãe e de uma pesquisa que Renata fez sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência intelectual. "Fiquei negativamente impactada. Com um filho neurodiverso de 7 anos (Síndrome do X Frágil), me dei conta sobre fatos um tanto desoladores, dados de inserção baixíssimos, segregação, preconceito, escopos restritos, falta de representatividade, visões capacitistas e baixa renda", comenta a advogada.

"Conheci diversas ONGs, conversei com seus fundadores, visitei seus espaços. Comecei a pensar: 'hoje, o futuro do meu filho não é promissor'. O contexto era, e ainda é, complexo e desafiador", avalia Renata.

A advogada chama a atenção para a alta incidência de pessoas neurodiversas na população e para a baixa representatividade. "Faltam oportunidades. Empresas preenchem suas cotas com a deficiência motora, auditiva, visual, com ajustes arquitetônicos e de acessibilidade, mas para a pessoa com deficiência intelectual é necessária uma adaptação de condutas, comportamentos e educação de funcionários", diz.

"ONGs que atuam na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho não executam o que eu, pessoalmente e individualmente, espero para o meu próprio filho. Sem absolutamente qualquer crítica ou julgamento à filosofia, conduta ou à forma de atuação delas, simplesmente não enxerguei meu filho em nenhuma proposta que eu tenha conhecido", ressalta Renata.

"Atualmente, oficinas de capacitação concentram essas pessoas sem a heterogeneidade que eu sonhava. Apesar do meu filho amar conviver com pessoas neuroatípicas, e eu também, hoje eu não acredito num ambiente concentrado e segregado. Já na inserção empregatícia em empresas terceiras, me pareceu haver um grande buraco entre o treinamento e o acompanhamento efetivo pós-contratação. A permanência deles no emprego se torna quase insustentável, como de fato verifiquei acontecer. Os empregos a que são direcionados são, em sua maioria, pautados em serviços, como auxiliar administrativo, recepcionista, estoquista. Outra questão é sobre as famílias das pessoas com deficiência intelectual, o meu próprio status quo. Largar uma carreira, um emprego ou ofício para cuidar da saúde, ou sobrevivência, de um filho ou parente é muito comum. Foi minha história também. Nós não gozamos de cotas de emprego. Há apenas uma lei que determina redução de carga horária para familiares, estritamente no âmbito do funcionalismo público, algumas esferas e regiões específicas, sendo que poucas pessoas que conseguem fazer jus a ela", analisa a advogada.

Matyas Palaia, de 48 anos, tem deficiência intelectual e faz trabalhos em sisal. Foto: Divulgação.

"Decidi inovar e propor o empreendedorismo das pessoas com deficiência intelectual. Ser tanto a prestadora de serviços e a ponta distribuidora. Fundei a BasicX para suprir uma necessidade deste público e demonstrar que eles podem, sim, ser agentes produtivos, quebrar barreiras e construir um futuro mais promissor para pessoas com deficiência, principalmente intelectual", afirma Renata.

"Não é caridade, mas um comércio como outro qualquer. Se a pessoa me mostra que sabe produzir determinada qualidade, eu não compro dela nada a menos. Meus fornecedores têm compromisso com prazo de entrega, visual e materiais utilizados", explica a advogada.

A BasicX já trabalha com 30 famílias, que produzem cerâmicas, velas, malas, tábuas, squeezes, sabonetes, aromatizadores, nécessaires e vestuário, todos com variações.

Renata cita o caso de Tomas Reinach, de 32 anos, que tem deficiências física e intelectual, com perda de memória recente. "Quando procurou a BasicX, ele nunca havia investido em um negócio próprio, mas tinha interesse na fabricação de geleias, primeiro produto que criou após nos conhecer. Ele também quer fazer jogos americanos e, atualmente, recebe as orientações para esse objetivo", conta.

"Enfrento alguns desafios na condução de um negócio social. O primeiro é localizar pessoas um mínimo dispostas a empreender. Misturar sonhos e deficiência intelectual numa mesma conversa não é nada simples. Aqui, penso eu, ter lugar de fala é imprescindível. Por exemplo, visitar uma comunidade, encontrar um filho que passa 24hrs do dia em função de algum hiper foco. Para estabelecer um diálogo com ele ou algum responsável, devo ter a empatia mais profunda possível. Rir junto com a mãe porque ambas driblamos alguma crise dele. E por aí vai. Além do desafio em se localizar fornecedores, alcançar um público que não tenha qualquer contato com a deficiência intelectual também é um caminho a se percorrer. Como disse antes, nossa rede realmente é grande, mas o objetivo é mostrar para quem está de fora da causa, que nosso público é capaz e produtivo. Por fim, um negócio social ainda encontra certa dificuldade de investimentos externos, que estão tão acostumados com o funcionamento de OSC (organizações da sociedade civil), ONGs, caminho que, até o momento, decidimos por não trilhar. O conceito de negócio social é relativamente novo e demanda que o mercado absorva diversas ideias. De toda sorte, encontramos portas abertas em empresas de diversos portes para conversarmos sobre parcerias, ações e campanhas. Estamos muito animados", completa Renata Fridman.

Roberto Filizola Lima, de 50 anos, tem deficiência intelectual e apraxia da fala. Ele auxilia nas oficinas de bolsas, malas e necessaires. Foto: Divulgação.

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Incentivar o empreendedorismo das pessoas com deficiência, além da capacitação para empregabilidade e da educação, ser uma prestadora de serviços e uma distribuidora. Essa é a meta da .

"A ideia é ir para a rua com o fornecedor e construir um produto, conhecer e reconhecer seus gostos e interesses, estudar o mercado real, fazer benchmarking, entender custos, andar com a pessoa que tem deficiência intelectual pelos centros comerciais para vivenciar e aprender novas técnicas, ampliar o repertório", diz Renata.

O negócio surgiu de uma angústia de mãe e de uma pesquisa que Renata fez sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência intelectual. "Fiquei negativamente impactada. Com um filho neurodiverso de 7 anos (Síndrome do X Frágil), me dei conta sobre fatos um tanto desoladores, dados de inserção baixíssimos, segregação, preconceito, escopos restritos, falta de representatividade, visões capacitistas e baixa renda", comenta a advogada.

"Conheci diversas ONGs, conversei com seus fundadores, visitei seus espaços. Comecei a pensar: 'hoje, o futuro do meu filho não é promissor'. O contexto era, e ainda é, complexo e desafiador", avalia Renata.

A advogada chama a atenção para a alta incidência de pessoas neurodiversas na população e para a baixa representatividade. "Faltam oportunidades. Empresas preenchem suas cotas com a deficiência motora, auditiva, visual, com ajustes arquitetônicos e de acessibilidade, mas para a pessoa com deficiência intelectual é necessária uma adaptação de condutas, comportamentos e educação de funcionários", diz.

"ONGs que atuam na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho não executam o que eu, pessoalmente e individualmente, espero para o meu próprio filho. Sem absolutamente qualquer crítica ou julgamento à filosofia, conduta ou à forma de atuação delas, simplesmente não enxerguei meu filho em nenhuma proposta que eu tenha conhecido", ressalta Renata.

"Atualmente, oficinas de capacitação concentram essas pessoas sem a heterogeneidade que eu sonhava. Apesar do meu filho amar conviver com pessoas neuroatípicas, e eu também, hoje eu não acredito num ambiente concentrado e segregado. Já na inserção empregatícia em empresas terceiras, me pareceu haver um grande buraco entre o treinamento e o acompanhamento efetivo pós-contratação. A permanência deles no emprego se torna quase insustentável, como de fato verifiquei acontecer. Os empregos a que são direcionados são, em sua maioria, pautados em serviços, como auxiliar administrativo, recepcionista, estoquista. Outra questão é sobre as famílias das pessoas com deficiência intelectual, o meu próprio status quo. Largar uma carreira, um emprego ou ofício para cuidar da saúde, ou sobrevivência, de um filho ou parente é muito comum. Foi minha história também. Nós não gozamos de cotas de emprego. Há apenas uma lei que determina redução de carga horária para familiares, estritamente no âmbito do funcionalismo público, algumas esferas e regiões específicas, sendo que poucas pessoas que conseguem fazer jus a ela", analisa a advogada.

Matyas Palaia, de 48 anos, tem deficiência intelectual e faz trabalhos em sisal. Foto: Divulgação.

"Decidi inovar e propor o empreendedorismo das pessoas com deficiência intelectual. Ser tanto a prestadora de serviços e a ponta distribuidora. Fundei a BasicX para suprir uma necessidade deste público e demonstrar que eles podem, sim, ser agentes produtivos, quebrar barreiras e construir um futuro mais promissor para pessoas com deficiência, principalmente intelectual", afirma Renata.

"Não é caridade, mas um comércio como outro qualquer. Se a pessoa me mostra que sabe produzir determinada qualidade, eu não compro dela nada a menos. Meus fornecedores têm compromisso com prazo de entrega, visual e materiais utilizados", explica a advogada.

A BasicX já trabalha com 30 famílias, que produzem cerâmicas, velas, malas, tábuas, squeezes, sabonetes, aromatizadores, nécessaires e vestuário, todos com variações.

Renata cita o caso de Tomas Reinach, de 32 anos, que tem deficiências física e intelectual, com perda de memória recente. "Quando procurou a BasicX, ele nunca havia investido em um negócio próprio, mas tinha interesse na fabricação de geleias, primeiro produto que criou após nos conhecer. Ele também quer fazer jogos americanos e, atualmente, recebe as orientações para esse objetivo", conta.

"Enfrento alguns desafios na condução de um negócio social. O primeiro é localizar pessoas um mínimo dispostas a empreender. Misturar sonhos e deficiência intelectual numa mesma conversa não é nada simples. Aqui, penso eu, ter lugar de fala é imprescindível. Por exemplo, visitar uma comunidade, encontrar um filho que passa 24hrs do dia em função de algum hiper foco. Para estabelecer um diálogo com ele ou algum responsável, devo ter a empatia mais profunda possível. Rir junto com a mãe porque ambas driblamos alguma crise dele. E por aí vai. Além do desafio em se localizar fornecedores, alcançar um público que não tenha qualquer contato com a deficiência intelectual também é um caminho a se percorrer. Como disse antes, nossa rede realmente é grande, mas o objetivo é mostrar para quem está de fora da causa, que nosso público é capaz e produtivo. Por fim, um negócio social ainda encontra certa dificuldade de investimentos externos, que estão tão acostumados com o funcionamento de OSC (organizações da sociedade civil), ONGs, caminho que, até o momento, decidimos por não trilhar. O conceito de negócio social é relativamente novo e demanda que o mercado absorva diversas ideias. De toda sorte, encontramos portas abertas em empresas de diversos portes para conversarmos sobre parcerias, ações e campanhas. Estamos muito animados", completa Renata Fridman.

Roberto Filizola Lima, de 50 anos, tem deficiência intelectual e apraxia da fala. Ele auxilia nas oficinas de bolsas, malas e necessaires. Foto: Divulgação.

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