Pesquisadores brasileiros acabam de descrever uma nova espécie insular de jararaca. O nome dela é Bothrops sazimai, e ela só existe numa pequena ilha de 15 hectares ao largo da costa sul do Espírito Santo: a Ilha dos Franceses, em frente à praia de Itaoca, município de Itapemirim.
Essa é a quarta espécie de jararaca insular já descrita no Brasil. As outras são a Bothrops alcatraz (ou jararaca-de-alcatrazes, só encontrada na ilha de Alcatrazes, em São Paulo), a Bothrops insularis (ou jararaca-ilhoa, que só existe na ilha de Queimada Grande, em São Paulo), e a Bothrops otavioi (endêmica da Ilha Vitória, também no litoral norte paulista).
Todas são diferentes entre si e distintas da jararaca comum do continente (a Bothrops jararaca), considerada a espécie ancestral, da qual elas se separaram depois que as ilhas foram isoladas pela elevação do nível do mar.
Durante o Pleistoceno, entre 12 mil e 10 mil anos atrás, o oceano estava 60 metros mais raso do que é hoje, e todas essas ilhas que vemos das praias no Sudeste estavam conectadas ao continente. Naquela época, era tudo floresta, tudo Mata Atlântica, daqui até lá. Quando o nível do mar voltou a subir, as populações de jararaca que ficaram isoladas nessas ilhas passaram por um processo de especiação, que acabou tornando-as diferentes. Todas elas ficaram menores do que a espécie original do continente (pela limitação de espaço e alimento), e cada uma teve que se adaptar às condições naturais e à disponibilidade de comida em cada uma das ilhas.
Alcatrazes e Queimada Grande, por exemplo, são ilhas montanhosas, com grandes costões rochosos e bolsões de floresta, enquanto que a Ilha dos Franceses é uma ilhota chata, dominada por arbustos. São hábitats significativamente diferentes. Os pesquisadores avaliaram 58 serpentes da nova espécie (das quais apenas 5 foram coletadas e levadas da ilha, para serem depositadas em museus de história natural). O tamanho médio da Bothrops sazimai é 57 cm para machos e 62 cm, para fêmeas.
Diferenças
Segundo os pesquisadores: "A nova espécie difere das populações continentais de B. jararaca principalmente pelo menor tamanho, maior comprimento relativo de cauda, menor comprimento relativo da cabeça e olhos relativamente maiores. Diferencia-se também de B. alcatraz, B. insularis e B. otavioi pelo maior número de escamas ventrais e subcaudais, maior comprimento relativo de cauda e menor comprimento relativo de cabeça. A nova espécie é encontrada em grande abundância na ilha, sendo noturna, semi arborícola, e se alimenta de pequenos lagartos e centopeias."
O trabalho que descreve a espécie, publicado na revista Zootaxa, é assinado por oito pesquisadores (da USP, UFES, ICMBio e Unifesp), liderados por Fausto Barbo, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, e Ricardo Sawaya, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Paulo.
Eles propõem que a espécie seja classificada como "criticamente ameaçada de extinção", por ocorrer numa área extremamente restrita e vulnerável, e que a Ilha dos Franceses seja transformada em uma área protegida, para garantir sua sobrevivência. Afinal, um incêndio na ilha poderia dizimar a espécie -- e ela fica a menos de 4 km do continente.
O nome Bothrops sazimai é uma homenagem ao professor Ivan Sazima, da Unicamp, considerado por muitos um dos zoólogos mais influentes e mais queridos do Brasil.