Imagine só!

Estudo sobre bactérias programadas para destruir herbicidas é retratado; no Brasil, cientista acusado de fraude é demitido


Por Herton Escobar
FOTO: Capa da última edição da revista Nature Chemical Biology, com arte de Erin Dewalt.  Foto: Estadão

Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

Um estudo sobre bactérias geneticamente reprogramadas para detectar e destruir moléculas de atrazina (um dos herbicidas mais utilizados no mundo) foi retratado na sexta-feira da revista Nature Chemical Biology. Os próprios autores, da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), solicitaram o anulamento do trabalho, após verificarem que os resultados reportados no trabalho não eram replicáveis. Eles mesmos tentaram reproduzir os experimentos e chegar aos mesmos resultados, mas não conseguiram.

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É uma retratação interessante de ser analisada porque exemplifica muito bem alguns temas importantes relacionados à integridade científica, abordados recentemente aqui no blog. Entre eles, a crescente dificuldade de replicar trabalhos científicos (principalmente na biomedicina, mas também em outras áreas do conhecimento) e a capacidade da ciência de se autocorrigir, quando necessário.

O estudo em questão, "Reprogramming bacteria to seek and destroy an herbicide", foi publicado em junho de 2010 e acumulou 84 citações desde então, segundo a base de dados Scopus -- um número excelente, que não deixa dúvidas de que o trabalho teve grande repercussão na comunidade científica; em especial nas áreas de biotecnologia e biologia sintética. Passados três anos e meio da publicação, porém, os próprios autores tiveram de reconhecer que não eram capazes de reproduzir os resultados originais em novos experimentos.

Ponto negativo para o trabalho. Ponto positivo para a honestidade dos pesquisadores, que poderiam ter "fingido de morto" e permanecido calados sobre o assunto -- deixando para outros cientistas a tarefa de comprovar o erro.

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Leia também no blog: Replicabilidade ameaçada: receitas da ciência não estão funcionando

A retratação foi divulgada hoje pelo blog Retraction Watch, do jornalista Ivan Oransky. O autor principal, Justin Gallivan, contou a Oransky que o problema foi inicialmente detectado quando um pós-doc do laboratório foi incapaz de reproduzir os resultados apresentados na Figura 4 do artigo original; o que invalidava todo o trabalho. Gallivan pediu, então, a um outro pós-doc que tentasse reproduzir os resultados. Também não conseguiu. Ele, então, pediu à universidade que conduzisse uma análise independente de todo o processo da pesquisa. A conclusão foi de que não houve má conduta por parte dos pesquisadores; mas os resultados, de fato, eram irreprodutíveis, e por isso o artigo foi retratado na íntegra, a pedido dos autores.

O que deu errado? Gallivan diz não saber. Ficou o gostinho de um bolo delicioso que você fez uma vez em casa, anotou a receita, mas nunca conseguiu fazer outro igual depois.

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No Brasil. Em outra notícia do campo da integridade científica, um pesquisador brasileiro que teve 11 trabalhos retratados em 2011, Denis Lima Guerra, foi exonerado da Universidade Federal de Mato Grosso no início deste ano. O caso foi noticiado pelo jornalista Bernardo Esteves, da Revista Piauí, e reproduzido também hoje pelo site Retraction Watch.

Outro caso polêmico da ciência brasileira que ganhou o noticiário internacional recentemente foi o das revistas brasileiras acusadas de praticar citações cruzadas (quando uma publicação cita a outra diversas vezes, propositalmente, para aumentar o fato de impacto das revistas e dos pesquisadores envolvidos); noticiado pela revista Nature. Segundo o Estado apurou, esse caso está sendo investigado pela Comissão de Integridade na Atividade Científica do CNPq. A última reunião da comissão foi em dezembro, mas seus resultados não foram divulgados. O jornal está desde novembro pedindo uma entrevista com o novo presidente da comissão, Guilherme Melo (diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq), mas até agora não foi atendido.

O caso de maior visibilidade tratado pela comissão até agora foi o do pesquisador Rui Curi, ex-diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que teve dois trabalhos retratados recentemente. Investigações conduzidas pelo CNPq e pelaUSP concluíram que Curi era inocente das acusações de fraude levantadas anonimamente contra ele.

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Para saber mais:

USP e CNPq inocentam Rui Curi de acusações de fraude

Aumenta o número de retratações na ciência; mas porquê?

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Pressão para publicar pode induzir má conduta de pesquisadores

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Gostou? Compartilhe! Siga o blog no Twitter: @hertonescobar; e Facebook: http://goo.gl/3wio5m

FOTO: Capa da última edição da revista Nature Chemical Biology, com arte de Erin Dewalt.  Foto: Estadão

Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

Um estudo sobre bactérias geneticamente reprogramadas para detectar e destruir moléculas de atrazina (um dos herbicidas mais utilizados no mundo) foi retratado na sexta-feira da revista Nature Chemical Biology. Os próprios autores, da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), solicitaram o anulamento do trabalho, após verificarem que os resultados reportados no trabalho não eram replicáveis. Eles mesmos tentaram reproduzir os experimentos e chegar aos mesmos resultados, mas não conseguiram.

É uma retratação interessante de ser analisada porque exemplifica muito bem alguns temas importantes relacionados à integridade científica, abordados recentemente aqui no blog. Entre eles, a crescente dificuldade de replicar trabalhos científicos (principalmente na biomedicina, mas também em outras áreas do conhecimento) e a capacidade da ciência de se autocorrigir, quando necessário.

O estudo em questão, "Reprogramming bacteria to seek and destroy an herbicide", foi publicado em junho de 2010 e acumulou 84 citações desde então, segundo a base de dados Scopus -- um número excelente, que não deixa dúvidas de que o trabalho teve grande repercussão na comunidade científica; em especial nas áreas de biotecnologia e biologia sintética. Passados três anos e meio da publicação, porém, os próprios autores tiveram de reconhecer que não eram capazes de reproduzir os resultados originais em novos experimentos.

Ponto negativo para o trabalho. Ponto positivo para a honestidade dos pesquisadores, que poderiam ter "fingido de morto" e permanecido calados sobre o assunto -- deixando para outros cientistas a tarefa de comprovar o erro.

Leia também no blog: Replicabilidade ameaçada: receitas da ciência não estão funcionando

A retratação foi divulgada hoje pelo blog Retraction Watch, do jornalista Ivan Oransky. O autor principal, Justin Gallivan, contou a Oransky que o problema foi inicialmente detectado quando um pós-doc do laboratório foi incapaz de reproduzir os resultados apresentados na Figura 4 do artigo original; o que invalidava todo o trabalho. Gallivan pediu, então, a um outro pós-doc que tentasse reproduzir os resultados. Também não conseguiu. Ele, então, pediu à universidade que conduzisse uma análise independente de todo o processo da pesquisa. A conclusão foi de que não houve má conduta por parte dos pesquisadores; mas os resultados, de fato, eram irreprodutíveis, e por isso o artigo foi retratado na íntegra, a pedido dos autores.

O que deu errado? Gallivan diz não saber. Ficou o gostinho de um bolo delicioso que você fez uma vez em casa, anotou a receita, mas nunca conseguiu fazer outro igual depois.

No Brasil. Em outra notícia do campo da integridade científica, um pesquisador brasileiro que teve 11 trabalhos retratados em 2011, Denis Lima Guerra, foi exonerado da Universidade Federal de Mato Grosso no início deste ano. O caso foi noticiado pelo jornalista Bernardo Esteves, da Revista Piauí, e reproduzido também hoje pelo site Retraction Watch.

Outro caso polêmico da ciência brasileira que ganhou o noticiário internacional recentemente foi o das revistas brasileiras acusadas de praticar citações cruzadas (quando uma publicação cita a outra diversas vezes, propositalmente, para aumentar o fato de impacto das revistas e dos pesquisadores envolvidos); noticiado pela revista Nature. Segundo o Estado apurou, esse caso está sendo investigado pela Comissão de Integridade na Atividade Científica do CNPq. A última reunião da comissão foi em dezembro, mas seus resultados não foram divulgados. O jornal está desde novembro pedindo uma entrevista com o novo presidente da comissão, Guilherme Melo (diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq), mas até agora não foi atendido.

O caso de maior visibilidade tratado pela comissão até agora foi o do pesquisador Rui Curi, ex-diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que teve dois trabalhos retratados recentemente. Investigações conduzidas pelo CNPq e pelaUSP concluíram que Curi era inocente das acusações de fraude levantadas anonimamente contra ele.

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Um estudo sobre bactérias geneticamente reprogramadas para detectar e destruir moléculas de atrazina (um dos herbicidas mais utilizados no mundo) foi retratado na sexta-feira da revista Nature Chemical Biology. Os próprios autores, da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), solicitaram o anulamento do trabalho, após verificarem que os resultados reportados no trabalho não eram replicáveis. Eles mesmos tentaram reproduzir os experimentos e chegar aos mesmos resultados, mas não conseguiram.

É uma retratação interessante de ser analisada porque exemplifica muito bem alguns temas importantes relacionados à integridade científica, abordados recentemente aqui no blog. Entre eles, a crescente dificuldade de replicar trabalhos científicos (principalmente na biomedicina, mas também em outras áreas do conhecimento) e a capacidade da ciência de se autocorrigir, quando necessário.

O estudo em questão, "Reprogramming bacteria to seek and destroy an herbicide", foi publicado em junho de 2010 e acumulou 84 citações desde então, segundo a base de dados Scopus -- um número excelente, que não deixa dúvidas de que o trabalho teve grande repercussão na comunidade científica; em especial nas áreas de biotecnologia e biologia sintética. Passados três anos e meio da publicação, porém, os próprios autores tiveram de reconhecer que não eram capazes de reproduzir os resultados originais em novos experimentos.

Ponto negativo para o trabalho. Ponto positivo para a honestidade dos pesquisadores, que poderiam ter "fingido de morto" e permanecido calados sobre o assunto -- deixando para outros cientistas a tarefa de comprovar o erro.

Leia também no blog: Replicabilidade ameaçada: receitas da ciência não estão funcionando

A retratação foi divulgada hoje pelo blog Retraction Watch, do jornalista Ivan Oransky. O autor principal, Justin Gallivan, contou a Oransky que o problema foi inicialmente detectado quando um pós-doc do laboratório foi incapaz de reproduzir os resultados apresentados na Figura 4 do artigo original; o que invalidava todo o trabalho. Gallivan pediu, então, a um outro pós-doc que tentasse reproduzir os resultados. Também não conseguiu. Ele, então, pediu à universidade que conduzisse uma análise independente de todo o processo da pesquisa. A conclusão foi de que não houve má conduta por parte dos pesquisadores; mas os resultados, de fato, eram irreprodutíveis, e por isso o artigo foi retratado na íntegra, a pedido dos autores.

O que deu errado? Gallivan diz não saber. Ficou o gostinho de um bolo delicioso que você fez uma vez em casa, anotou a receita, mas nunca conseguiu fazer outro igual depois.

No Brasil. Em outra notícia do campo da integridade científica, um pesquisador brasileiro que teve 11 trabalhos retratados em 2011, Denis Lima Guerra, foi exonerado da Universidade Federal de Mato Grosso no início deste ano. O caso foi noticiado pelo jornalista Bernardo Esteves, da Revista Piauí, e reproduzido também hoje pelo site Retraction Watch.

Outro caso polêmico da ciência brasileira que ganhou o noticiário internacional recentemente foi o das revistas brasileiras acusadas de praticar citações cruzadas (quando uma publicação cita a outra diversas vezes, propositalmente, para aumentar o fato de impacto das revistas e dos pesquisadores envolvidos); noticiado pela revista Nature. Segundo o Estado apurou, esse caso está sendo investigado pela Comissão de Integridade na Atividade Científica do CNPq. A última reunião da comissão foi em dezembro, mas seus resultados não foram divulgados. O jornal está desde novembro pedindo uma entrevista com o novo presidente da comissão, Guilherme Melo (diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq), mas até agora não foi atendido.

O caso de maior visibilidade tratado pela comissão até agora foi o do pesquisador Rui Curi, ex-diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que teve dois trabalhos retratados recentemente. Investigações conduzidas pelo CNPq e pelaUSP concluíram que Curi era inocente das acusações de fraude levantadas anonimamente contra ele.

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É uma retratação interessante de ser analisada porque exemplifica muito bem alguns temas importantes relacionados à integridade científica, abordados recentemente aqui no blog. Entre eles, a crescente dificuldade de replicar trabalhos científicos (principalmente na biomedicina, mas também em outras áreas do conhecimento) e a capacidade da ciência de se autocorrigir, quando necessário.

O estudo em questão, "Reprogramming bacteria to seek and destroy an herbicide", foi publicado em junho de 2010 e acumulou 84 citações desde então, segundo a base de dados Scopus -- um número excelente, que não deixa dúvidas de que o trabalho teve grande repercussão na comunidade científica; em especial nas áreas de biotecnologia e biologia sintética. Passados três anos e meio da publicação, porém, os próprios autores tiveram de reconhecer que não eram capazes de reproduzir os resultados originais em novos experimentos.

Ponto negativo para o trabalho. Ponto positivo para a honestidade dos pesquisadores, que poderiam ter "fingido de morto" e permanecido calados sobre o assunto -- deixando para outros cientistas a tarefa de comprovar o erro.

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O que deu errado? Gallivan diz não saber. Ficou o gostinho de um bolo delicioso que você fez uma vez em casa, anotou a receita, mas nunca conseguiu fazer outro igual depois.

No Brasil. Em outra notícia do campo da integridade científica, um pesquisador brasileiro que teve 11 trabalhos retratados em 2011, Denis Lima Guerra, foi exonerado da Universidade Federal de Mato Grosso no início deste ano. O caso foi noticiado pelo jornalista Bernardo Esteves, da Revista Piauí, e reproduzido também hoje pelo site Retraction Watch.

Outro caso polêmico da ciência brasileira que ganhou o noticiário internacional recentemente foi o das revistas brasileiras acusadas de praticar citações cruzadas (quando uma publicação cita a outra diversas vezes, propositalmente, para aumentar o fato de impacto das revistas e dos pesquisadores envolvidos); noticiado pela revista Nature. Segundo o Estado apurou, esse caso está sendo investigado pela Comissão de Integridade na Atividade Científica do CNPq. A última reunião da comissão foi em dezembro, mas seus resultados não foram divulgados. O jornal está desde novembro pedindo uma entrevista com o novo presidente da comissão, Guilherme Melo (diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq), mas até agora não foi atendido.

O caso de maior visibilidade tratado pela comissão até agora foi o do pesquisador Rui Curi, ex-diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que teve dois trabalhos retratados recentemente. Investigações conduzidas pelo CNPq e pelaUSP concluíram que Curi era inocente das acusações de fraude levantadas anonimamente contra ele.

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