Missão documenta fauna e a flora em parque no Amapá


Por Agencia Estado

O Estado acompanhou uma audaciosa missão científica montada para documentar a biodiversidade de uma das regiões mais selvagens e inexploradas da Amazônia brasileira, no extremo oeste do Amapá. Uma equipe de sete pesquisadores se embrenhou na mata durante 15 dias e documentou todas as plantas e animais que encontrou pela frente. O objetivo da expedição é fazer o reconhecimento do parque, criado há dois anos, e produzir um primeiro inventário das espécies que existem dentro dele. Todas as informações serão usadas na elaboração do plano de manejo da unidade - o documento que vai dizer tudo que pode ou não pode ser feito dentro do parque, onde, quando e como. O local do acampamento da equipe é à beira do Rio Mapaoni, num dos pontos mais remotos do Tumucumaque, o maior parque de floresta tropical do mundo, e a poucos quilômetros da tríplice fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname. "Estamos indo em lugares onde nenhum ser humano jamais pisou - pelo menos o civilizado", diz o pesquisador Antônio Carlos da Silva Farias, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa). A viagem A única maneira de chegar até o ponto de pesquisa é pelo ar, pois os rios da região são pedregosos e de difícil navegação, até mesmo para barcos pequenos. Para colocar toda a equipe em campo, no dia 8, foram necessárias várias viagens de avião bimotor e helicóptero, incluindo uma pernada final à bordo de um Black Hawk do Exército, o helicóptero de elite usado para patrulhamento de fronteira, com capacidade para 12 passageiros e 5 toneladas de carga. Voando rente às árvores, em estilo de combate, ele pousa em uma clareira aberta dias antes por um grupo de mateiros armados com facões. A vegetação é das menos amigáveis: um bambuzal espesso, conhecido como taboca, com espinhos que se agarram à roupa e perfuram a sola do tênis. Dali são 150 metros de trilha até o ponto de acampamento, onde os mateiros preparam os barracões de lona que servirão de alojamento, cozinha e laboratório durante a expedição. Ao redor, a floresta virgem se estende a perder de vista em todas as direções. O núcleo de apoio mais próximo está a 150 quilômetros de distância, na aldeia indígena de Tiriyós, no Pará, de onde o helicóptero partiu. O Estado acompanhou a expedição durante os sete primeiros dias, entre 8 e 15 deste mês. Ao todo, a equipe era composta de 31 pessoas, incluindo pesquisadores, mateiros, auxiliares de campo, soldados do 34.° Batalhão de Infantaria de Selva e analistas ambientais do Ibama, responsáveis pelo gerenciamento do Tumucumaque. Rotina na selva A pesquisa exige muita disposição para encarar a rotina de acampamento e as longas caminhadas diárias pela selva bruta. No ambiente quente e úmido da floresta, um copo de água mineral ou de qualquer outra bebida gelada torna-se rapidamente um sonho de consumo inatingível. Toda a água usada na expedição é retirada do rio e tratada com hipoclorito de sódio. A alimentação limita-se a arroz, feijão, charque, calabresa e macarrão. Os banhos têm de ser tomados na parte rasa do rio, com a ajuda de canecas, para evitar encontros com os jacarés - um dos quais gostava de dormir bem próximo do acampamento todas as noites - e com os trairões, um peixe grande, agressivo e de dentes afiados, com tendência a morder banhistas desavisados. Além disso, é preciso cuidado com o candiru, um peixinho comprido e oportunista que é atraído pela urina e costuma penetrar nos orifícios mais incômodos do corpo. A pesquisa O registro das espécies é feito principalmente por meio de capturas, mas também por identificação visual e sonora, no caso dos animais muito grandes ou difíceis de se capturar. Nesse quesito, os mais fáceis de se identificar são os macacos guariba, que berram continuamente no topo das árvores como uma torcida de futebol, e os macacos-aranha, que costumam jogar galhos e fezes naqueles que invadem seu território. A maior parte dos habitantes da floresta, entretanto, não se deixa ser vista com facilidade. A camuflagem é uma regra básica de sobrevivência, e é preciso olhos e ouvidos aguçados para encontrar os bichos em meio ao infinito de árvores e folhas. Os animais capturados são levados de volta ao acampamento, onde são fotografados, pesados, medidos e fichados. Ao final, são mortos - sempre da forma mais rápida e indolor possível - e imediatamente acondicionados de forma que seus corpos e tecidos sejam preservados. O destino final são as coleções biológicas do Iepa, em Macapá, onde ficarão à disposição da comunidade científica para estudos mais detalhados. Cada pesquisador tem autorização para coletar no máximo seis exemplares de cada espécie. Armadilhas O pesquisador Luiz Antonio Coltro Jr é sempre o primeiro a deixar o acampamento, por volta das 5 da madrugada, com a floresta ainda escura. O trabalho começa com um rápido café da manhã e uma caminhada à luz de lanternas até o ponto na trilha onde foram deixadas as redes de captura. As armadilhas, dificílimas de serem enxergadas, precisam ser abertas às 6 horas, antes do raiar do sol, quando começa o horário do rush do tráfego aéreo na selva. "É a hora em que as os pássaros acordam para forragear. Depois, nas horas mais quentes do dia, eles se empoleiram para fazer manutenção, limpar penas, retirar parasitas e coisas do tipo", explica Coltro. Cada rede forma um paredão invisível de 2,5 metros de altura por 12 de comprimento que arremata as aves durante o vôo. Enquanto os ajudantes de campo fazem a coleta nas redes, a cada uma hora, o pesquisador aproveita para caminhar na mata, fazer observações com binóculos e gravar cantos de aves para o banco de dados. Novas espécies O resto da equipe científica inclui especialistas em répteis e anfíbios, mamíferos, morcegos, peixes, crustáceos e plantas superiores. As rotinas de coleta são semelhantes, com horários e métodos adaptados para cada grupo. A possibilidade de encontrar espécies novas é grande, dado o isolamento da área e quase total escassez de estudos na região. Para que um bicho possa ser decretado inédito, entretanto, é necessário uma série de checagens na literatura e comparações com outros exemplares do mesmo gênero - o que pode consumir meses ou até anos de pesquisa. Por isso a importância de se coletar os animais e preservá-los nas coleções biológicas dos museus. Da mesma forma que um historiador busca informações em uma biblioteca, os biólogos utilizam essas coleções para estudar a biodiversidade - sem que todos precisem pegar um helicóptero e passar duas semanas na mata para isso. Sacrificar alguns exemplares, nesse caso, é uma forma de produzir o conhecimento científico básico necessário para conhecer a espécie e, se necessário, protegê-la. A expedição chega ao fim no dia 23, com um bando de pesquisadores cansados e mais de 400 espécies registradas. Algumas possivelmente novas para a ciência, outras inéditas para o Estado do Amapá. Agora começa o trabalho mais difícil de pesquisa, nas bancadas do Iepa. "O que estamos fazendo é o início, não o fim", afirma o chefe científico da expedição pela organização não-governamental Conservação Internacional, Enrico Bernard.. "As expedições são só a porta de entrada." Reserva ocupa área equivalente à da Holanda Na mata, armadilha para animais e susto para cientistas Equipe mapeia corredor de biodiversidade veja mapa

O Estado acompanhou uma audaciosa missão científica montada para documentar a biodiversidade de uma das regiões mais selvagens e inexploradas da Amazônia brasileira, no extremo oeste do Amapá. Uma equipe de sete pesquisadores se embrenhou na mata durante 15 dias e documentou todas as plantas e animais que encontrou pela frente. O objetivo da expedição é fazer o reconhecimento do parque, criado há dois anos, e produzir um primeiro inventário das espécies que existem dentro dele. Todas as informações serão usadas na elaboração do plano de manejo da unidade - o documento que vai dizer tudo que pode ou não pode ser feito dentro do parque, onde, quando e como. O local do acampamento da equipe é à beira do Rio Mapaoni, num dos pontos mais remotos do Tumucumaque, o maior parque de floresta tropical do mundo, e a poucos quilômetros da tríplice fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname. "Estamos indo em lugares onde nenhum ser humano jamais pisou - pelo menos o civilizado", diz o pesquisador Antônio Carlos da Silva Farias, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa). A viagem A única maneira de chegar até o ponto de pesquisa é pelo ar, pois os rios da região são pedregosos e de difícil navegação, até mesmo para barcos pequenos. Para colocar toda a equipe em campo, no dia 8, foram necessárias várias viagens de avião bimotor e helicóptero, incluindo uma pernada final à bordo de um Black Hawk do Exército, o helicóptero de elite usado para patrulhamento de fronteira, com capacidade para 12 passageiros e 5 toneladas de carga. Voando rente às árvores, em estilo de combate, ele pousa em uma clareira aberta dias antes por um grupo de mateiros armados com facões. A vegetação é das menos amigáveis: um bambuzal espesso, conhecido como taboca, com espinhos que se agarram à roupa e perfuram a sola do tênis. Dali são 150 metros de trilha até o ponto de acampamento, onde os mateiros preparam os barracões de lona que servirão de alojamento, cozinha e laboratório durante a expedição. Ao redor, a floresta virgem se estende a perder de vista em todas as direções. O núcleo de apoio mais próximo está a 150 quilômetros de distância, na aldeia indígena de Tiriyós, no Pará, de onde o helicóptero partiu. O Estado acompanhou a expedição durante os sete primeiros dias, entre 8 e 15 deste mês. Ao todo, a equipe era composta de 31 pessoas, incluindo pesquisadores, mateiros, auxiliares de campo, soldados do 34.° Batalhão de Infantaria de Selva e analistas ambientais do Ibama, responsáveis pelo gerenciamento do Tumucumaque. Rotina na selva A pesquisa exige muita disposição para encarar a rotina de acampamento e as longas caminhadas diárias pela selva bruta. No ambiente quente e úmido da floresta, um copo de água mineral ou de qualquer outra bebida gelada torna-se rapidamente um sonho de consumo inatingível. Toda a água usada na expedição é retirada do rio e tratada com hipoclorito de sódio. A alimentação limita-se a arroz, feijão, charque, calabresa e macarrão. Os banhos têm de ser tomados na parte rasa do rio, com a ajuda de canecas, para evitar encontros com os jacarés - um dos quais gostava de dormir bem próximo do acampamento todas as noites - e com os trairões, um peixe grande, agressivo e de dentes afiados, com tendência a morder banhistas desavisados. Além disso, é preciso cuidado com o candiru, um peixinho comprido e oportunista que é atraído pela urina e costuma penetrar nos orifícios mais incômodos do corpo. A pesquisa O registro das espécies é feito principalmente por meio de capturas, mas também por identificação visual e sonora, no caso dos animais muito grandes ou difíceis de se capturar. Nesse quesito, os mais fáceis de se identificar são os macacos guariba, que berram continuamente no topo das árvores como uma torcida de futebol, e os macacos-aranha, que costumam jogar galhos e fezes naqueles que invadem seu território. A maior parte dos habitantes da floresta, entretanto, não se deixa ser vista com facilidade. A camuflagem é uma regra básica de sobrevivência, e é preciso olhos e ouvidos aguçados para encontrar os bichos em meio ao infinito de árvores e folhas. Os animais capturados são levados de volta ao acampamento, onde são fotografados, pesados, medidos e fichados. Ao final, são mortos - sempre da forma mais rápida e indolor possível - e imediatamente acondicionados de forma que seus corpos e tecidos sejam preservados. O destino final são as coleções biológicas do Iepa, em Macapá, onde ficarão à disposição da comunidade científica para estudos mais detalhados. Cada pesquisador tem autorização para coletar no máximo seis exemplares de cada espécie. Armadilhas O pesquisador Luiz Antonio Coltro Jr é sempre o primeiro a deixar o acampamento, por volta das 5 da madrugada, com a floresta ainda escura. O trabalho começa com um rápido café da manhã e uma caminhada à luz de lanternas até o ponto na trilha onde foram deixadas as redes de captura. As armadilhas, dificílimas de serem enxergadas, precisam ser abertas às 6 horas, antes do raiar do sol, quando começa o horário do rush do tráfego aéreo na selva. "É a hora em que as os pássaros acordam para forragear. Depois, nas horas mais quentes do dia, eles se empoleiram para fazer manutenção, limpar penas, retirar parasitas e coisas do tipo", explica Coltro. Cada rede forma um paredão invisível de 2,5 metros de altura por 12 de comprimento que arremata as aves durante o vôo. Enquanto os ajudantes de campo fazem a coleta nas redes, a cada uma hora, o pesquisador aproveita para caminhar na mata, fazer observações com binóculos e gravar cantos de aves para o banco de dados. Novas espécies O resto da equipe científica inclui especialistas em répteis e anfíbios, mamíferos, morcegos, peixes, crustáceos e plantas superiores. As rotinas de coleta são semelhantes, com horários e métodos adaptados para cada grupo. A possibilidade de encontrar espécies novas é grande, dado o isolamento da área e quase total escassez de estudos na região. Para que um bicho possa ser decretado inédito, entretanto, é necessário uma série de checagens na literatura e comparações com outros exemplares do mesmo gênero - o que pode consumir meses ou até anos de pesquisa. Por isso a importância de se coletar os animais e preservá-los nas coleções biológicas dos museus. Da mesma forma que um historiador busca informações em uma biblioteca, os biólogos utilizam essas coleções para estudar a biodiversidade - sem que todos precisem pegar um helicóptero e passar duas semanas na mata para isso. Sacrificar alguns exemplares, nesse caso, é uma forma de produzir o conhecimento científico básico necessário para conhecer a espécie e, se necessário, protegê-la. A expedição chega ao fim no dia 23, com um bando de pesquisadores cansados e mais de 400 espécies registradas. Algumas possivelmente novas para a ciência, outras inéditas para o Estado do Amapá. Agora começa o trabalho mais difícil de pesquisa, nas bancadas do Iepa. "O que estamos fazendo é o início, não o fim", afirma o chefe científico da expedição pela organização não-governamental Conservação Internacional, Enrico Bernard.. "As expedições são só a porta de entrada." Reserva ocupa área equivalente à da Holanda Na mata, armadilha para animais e susto para cientistas Equipe mapeia corredor de biodiversidade veja mapa

O Estado acompanhou uma audaciosa missão científica montada para documentar a biodiversidade de uma das regiões mais selvagens e inexploradas da Amazônia brasileira, no extremo oeste do Amapá. Uma equipe de sete pesquisadores se embrenhou na mata durante 15 dias e documentou todas as plantas e animais que encontrou pela frente. O objetivo da expedição é fazer o reconhecimento do parque, criado há dois anos, e produzir um primeiro inventário das espécies que existem dentro dele. Todas as informações serão usadas na elaboração do plano de manejo da unidade - o documento que vai dizer tudo que pode ou não pode ser feito dentro do parque, onde, quando e como. O local do acampamento da equipe é à beira do Rio Mapaoni, num dos pontos mais remotos do Tumucumaque, o maior parque de floresta tropical do mundo, e a poucos quilômetros da tríplice fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname. "Estamos indo em lugares onde nenhum ser humano jamais pisou - pelo menos o civilizado", diz o pesquisador Antônio Carlos da Silva Farias, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa). A viagem A única maneira de chegar até o ponto de pesquisa é pelo ar, pois os rios da região são pedregosos e de difícil navegação, até mesmo para barcos pequenos. Para colocar toda a equipe em campo, no dia 8, foram necessárias várias viagens de avião bimotor e helicóptero, incluindo uma pernada final à bordo de um Black Hawk do Exército, o helicóptero de elite usado para patrulhamento de fronteira, com capacidade para 12 passageiros e 5 toneladas de carga. Voando rente às árvores, em estilo de combate, ele pousa em uma clareira aberta dias antes por um grupo de mateiros armados com facões. A vegetação é das menos amigáveis: um bambuzal espesso, conhecido como taboca, com espinhos que se agarram à roupa e perfuram a sola do tênis. Dali são 150 metros de trilha até o ponto de acampamento, onde os mateiros preparam os barracões de lona que servirão de alojamento, cozinha e laboratório durante a expedição. Ao redor, a floresta virgem se estende a perder de vista em todas as direções. O núcleo de apoio mais próximo está a 150 quilômetros de distância, na aldeia indígena de Tiriyós, no Pará, de onde o helicóptero partiu. O Estado acompanhou a expedição durante os sete primeiros dias, entre 8 e 15 deste mês. Ao todo, a equipe era composta de 31 pessoas, incluindo pesquisadores, mateiros, auxiliares de campo, soldados do 34.° Batalhão de Infantaria de Selva e analistas ambientais do Ibama, responsáveis pelo gerenciamento do Tumucumaque. Rotina na selva A pesquisa exige muita disposição para encarar a rotina de acampamento e as longas caminhadas diárias pela selva bruta. No ambiente quente e úmido da floresta, um copo de água mineral ou de qualquer outra bebida gelada torna-se rapidamente um sonho de consumo inatingível. Toda a água usada na expedição é retirada do rio e tratada com hipoclorito de sódio. A alimentação limita-se a arroz, feijão, charque, calabresa e macarrão. Os banhos têm de ser tomados na parte rasa do rio, com a ajuda de canecas, para evitar encontros com os jacarés - um dos quais gostava de dormir bem próximo do acampamento todas as noites - e com os trairões, um peixe grande, agressivo e de dentes afiados, com tendência a morder banhistas desavisados. Além disso, é preciso cuidado com o candiru, um peixinho comprido e oportunista que é atraído pela urina e costuma penetrar nos orifícios mais incômodos do corpo. A pesquisa O registro das espécies é feito principalmente por meio de capturas, mas também por identificação visual e sonora, no caso dos animais muito grandes ou difíceis de se capturar. Nesse quesito, os mais fáceis de se identificar são os macacos guariba, que berram continuamente no topo das árvores como uma torcida de futebol, e os macacos-aranha, que costumam jogar galhos e fezes naqueles que invadem seu território. A maior parte dos habitantes da floresta, entretanto, não se deixa ser vista com facilidade. A camuflagem é uma regra básica de sobrevivência, e é preciso olhos e ouvidos aguçados para encontrar os bichos em meio ao infinito de árvores e folhas. Os animais capturados são levados de volta ao acampamento, onde são fotografados, pesados, medidos e fichados. Ao final, são mortos - sempre da forma mais rápida e indolor possível - e imediatamente acondicionados de forma que seus corpos e tecidos sejam preservados. O destino final são as coleções biológicas do Iepa, em Macapá, onde ficarão à disposição da comunidade científica para estudos mais detalhados. Cada pesquisador tem autorização para coletar no máximo seis exemplares de cada espécie. Armadilhas O pesquisador Luiz Antonio Coltro Jr é sempre o primeiro a deixar o acampamento, por volta das 5 da madrugada, com a floresta ainda escura. O trabalho começa com um rápido café da manhã e uma caminhada à luz de lanternas até o ponto na trilha onde foram deixadas as redes de captura. As armadilhas, dificílimas de serem enxergadas, precisam ser abertas às 6 horas, antes do raiar do sol, quando começa o horário do rush do tráfego aéreo na selva. "É a hora em que as os pássaros acordam para forragear. Depois, nas horas mais quentes do dia, eles se empoleiram para fazer manutenção, limpar penas, retirar parasitas e coisas do tipo", explica Coltro. Cada rede forma um paredão invisível de 2,5 metros de altura por 12 de comprimento que arremata as aves durante o vôo. Enquanto os ajudantes de campo fazem a coleta nas redes, a cada uma hora, o pesquisador aproveita para caminhar na mata, fazer observações com binóculos e gravar cantos de aves para o banco de dados. Novas espécies O resto da equipe científica inclui especialistas em répteis e anfíbios, mamíferos, morcegos, peixes, crustáceos e plantas superiores. As rotinas de coleta são semelhantes, com horários e métodos adaptados para cada grupo. A possibilidade de encontrar espécies novas é grande, dado o isolamento da área e quase total escassez de estudos na região. Para que um bicho possa ser decretado inédito, entretanto, é necessário uma série de checagens na literatura e comparações com outros exemplares do mesmo gênero - o que pode consumir meses ou até anos de pesquisa. Por isso a importância de se coletar os animais e preservá-los nas coleções biológicas dos museus. Da mesma forma que um historiador busca informações em uma biblioteca, os biólogos utilizam essas coleções para estudar a biodiversidade - sem que todos precisem pegar um helicóptero e passar duas semanas na mata para isso. Sacrificar alguns exemplares, nesse caso, é uma forma de produzir o conhecimento científico básico necessário para conhecer a espécie e, se necessário, protegê-la. A expedição chega ao fim no dia 23, com um bando de pesquisadores cansados e mais de 400 espécies registradas. Algumas possivelmente novas para a ciência, outras inéditas para o Estado do Amapá. Agora começa o trabalho mais difícil de pesquisa, nas bancadas do Iepa. "O que estamos fazendo é o início, não o fim", afirma o chefe científico da expedição pela organização não-governamental Conservação Internacional, Enrico Bernard.. "As expedições são só a porta de entrada." Reserva ocupa área equivalente à da Holanda Na mata, armadilha para animais e susto para cientistas Equipe mapeia corredor de biodiversidade veja mapa

O Estado acompanhou uma audaciosa missão científica montada para documentar a biodiversidade de uma das regiões mais selvagens e inexploradas da Amazônia brasileira, no extremo oeste do Amapá. Uma equipe de sete pesquisadores se embrenhou na mata durante 15 dias e documentou todas as plantas e animais que encontrou pela frente. O objetivo da expedição é fazer o reconhecimento do parque, criado há dois anos, e produzir um primeiro inventário das espécies que existem dentro dele. Todas as informações serão usadas na elaboração do plano de manejo da unidade - o documento que vai dizer tudo que pode ou não pode ser feito dentro do parque, onde, quando e como. O local do acampamento da equipe é à beira do Rio Mapaoni, num dos pontos mais remotos do Tumucumaque, o maior parque de floresta tropical do mundo, e a poucos quilômetros da tríplice fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname. "Estamos indo em lugares onde nenhum ser humano jamais pisou - pelo menos o civilizado", diz o pesquisador Antônio Carlos da Silva Farias, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa). A viagem A única maneira de chegar até o ponto de pesquisa é pelo ar, pois os rios da região são pedregosos e de difícil navegação, até mesmo para barcos pequenos. Para colocar toda a equipe em campo, no dia 8, foram necessárias várias viagens de avião bimotor e helicóptero, incluindo uma pernada final à bordo de um Black Hawk do Exército, o helicóptero de elite usado para patrulhamento de fronteira, com capacidade para 12 passageiros e 5 toneladas de carga. Voando rente às árvores, em estilo de combate, ele pousa em uma clareira aberta dias antes por um grupo de mateiros armados com facões. A vegetação é das menos amigáveis: um bambuzal espesso, conhecido como taboca, com espinhos que se agarram à roupa e perfuram a sola do tênis. Dali são 150 metros de trilha até o ponto de acampamento, onde os mateiros preparam os barracões de lona que servirão de alojamento, cozinha e laboratório durante a expedição. Ao redor, a floresta virgem se estende a perder de vista em todas as direções. O núcleo de apoio mais próximo está a 150 quilômetros de distância, na aldeia indígena de Tiriyós, no Pará, de onde o helicóptero partiu. O Estado acompanhou a expedição durante os sete primeiros dias, entre 8 e 15 deste mês. Ao todo, a equipe era composta de 31 pessoas, incluindo pesquisadores, mateiros, auxiliares de campo, soldados do 34.° Batalhão de Infantaria de Selva e analistas ambientais do Ibama, responsáveis pelo gerenciamento do Tumucumaque. Rotina na selva A pesquisa exige muita disposição para encarar a rotina de acampamento e as longas caminhadas diárias pela selva bruta. No ambiente quente e úmido da floresta, um copo de água mineral ou de qualquer outra bebida gelada torna-se rapidamente um sonho de consumo inatingível. Toda a água usada na expedição é retirada do rio e tratada com hipoclorito de sódio. A alimentação limita-se a arroz, feijão, charque, calabresa e macarrão. Os banhos têm de ser tomados na parte rasa do rio, com a ajuda de canecas, para evitar encontros com os jacarés - um dos quais gostava de dormir bem próximo do acampamento todas as noites - e com os trairões, um peixe grande, agressivo e de dentes afiados, com tendência a morder banhistas desavisados. Além disso, é preciso cuidado com o candiru, um peixinho comprido e oportunista que é atraído pela urina e costuma penetrar nos orifícios mais incômodos do corpo. A pesquisa O registro das espécies é feito principalmente por meio de capturas, mas também por identificação visual e sonora, no caso dos animais muito grandes ou difíceis de se capturar. Nesse quesito, os mais fáceis de se identificar são os macacos guariba, que berram continuamente no topo das árvores como uma torcida de futebol, e os macacos-aranha, que costumam jogar galhos e fezes naqueles que invadem seu território. A maior parte dos habitantes da floresta, entretanto, não se deixa ser vista com facilidade. A camuflagem é uma regra básica de sobrevivência, e é preciso olhos e ouvidos aguçados para encontrar os bichos em meio ao infinito de árvores e folhas. Os animais capturados são levados de volta ao acampamento, onde são fotografados, pesados, medidos e fichados. Ao final, são mortos - sempre da forma mais rápida e indolor possível - e imediatamente acondicionados de forma que seus corpos e tecidos sejam preservados. O destino final são as coleções biológicas do Iepa, em Macapá, onde ficarão à disposição da comunidade científica para estudos mais detalhados. Cada pesquisador tem autorização para coletar no máximo seis exemplares de cada espécie. Armadilhas O pesquisador Luiz Antonio Coltro Jr é sempre o primeiro a deixar o acampamento, por volta das 5 da madrugada, com a floresta ainda escura. O trabalho começa com um rápido café da manhã e uma caminhada à luz de lanternas até o ponto na trilha onde foram deixadas as redes de captura. As armadilhas, dificílimas de serem enxergadas, precisam ser abertas às 6 horas, antes do raiar do sol, quando começa o horário do rush do tráfego aéreo na selva. "É a hora em que as os pássaros acordam para forragear. Depois, nas horas mais quentes do dia, eles se empoleiram para fazer manutenção, limpar penas, retirar parasitas e coisas do tipo", explica Coltro. Cada rede forma um paredão invisível de 2,5 metros de altura por 12 de comprimento que arremata as aves durante o vôo. Enquanto os ajudantes de campo fazem a coleta nas redes, a cada uma hora, o pesquisador aproveita para caminhar na mata, fazer observações com binóculos e gravar cantos de aves para o banco de dados. Novas espécies O resto da equipe científica inclui especialistas em répteis e anfíbios, mamíferos, morcegos, peixes, crustáceos e plantas superiores. As rotinas de coleta são semelhantes, com horários e métodos adaptados para cada grupo. A possibilidade de encontrar espécies novas é grande, dado o isolamento da área e quase total escassez de estudos na região. Para que um bicho possa ser decretado inédito, entretanto, é necessário uma série de checagens na literatura e comparações com outros exemplares do mesmo gênero - o que pode consumir meses ou até anos de pesquisa. Por isso a importância de se coletar os animais e preservá-los nas coleções biológicas dos museus. Da mesma forma que um historiador busca informações em uma biblioteca, os biólogos utilizam essas coleções para estudar a biodiversidade - sem que todos precisem pegar um helicóptero e passar duas semanas na mata para isso. Sacrificar alguns exemplares, nesse caso, é uma forma de produzir o conhecimento científico básico necessário para conhecer a espécie e, se necessário, protegê-la. A expedição chega ao fim no dia 23, com um bando de pesquisadores cansados e mais de 400 espécies registradas. Algumas possivelmente novas para a ciência, outras inéditas para o Estado do Amapá. Agora começa o trabalho mais difícil de pesquisa, nas bancadas do Iepa. "O que estamos fazendo é o início, não o fim", afirma o chefe científico da expedição pela organização não-governamental Conservação Internacional, Enrico Bernard.. "As expedições são só a porta de entrada." Reserva ocupa área equivalente à da Holanda Na mata, armadilha para animais e susto para cientistas Equipe mapeia corredor de biodiversidade veja mapa

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