A noite paulistana segundo Daniel Piza


Escritor lança hoje seu primeiro livro de ficção, uma coletânea de contos sobre a metrópole

Por Antonio Gonçalves Filho

O sentimento ambivalente dos paulistanos em relação à cidade em que vivem - um misto de amor e repulsa por São Paulo - é explorado por Daniel Piza, colunista do Caderno 2, em seu 17.º livro, Noites Urbanas, que será lançado hoje, na Livraria da Vila dos Jardins. Com dez contos longos, na maioria inéditos, e 18 minicontos, Noites Urbanas começa num vagão de metrô, na Estação Santa Cecília, e, como convém ao título, termina num começo de noite, quando um professor de Literatura sai de um escritório, na Vila Romana, humilhado por um arrogante produtor cultural. Entre um bairro na região central e outro na zona oeste da cidade, Piza mapeia os sentimentos dos habitantes da metrópole, falando de desamor, indiferença e frustração.Noites Urbanas é o primeiro livro de ficção de Piza, autor de biografias (Machado de Assis), ensaios (Questão de Gosto) e crônica esportiva (Ora, Bolas), entre outros gêneros. A seguir, sua entrevista.

 

Grande parte dos contos em Noites Urbanas trata de amores fracassados. Alguns, inclusive, acabam de forma trágica, como o suicídio do garoto em Saquê, que cita Tanizaki no prólogo. Que influência teve a literatura japonesa na estruturação do livro?Na estruturação do livro como um todo, não sei, não pensei nisso - mas constantemente me pegava evocando os filmes de Ozu, por exemplo, aquela maneira contida de mostrar dramas fortes. No conto, especificamente, o garoto, Gustavo, diz que gostaria de escrever com o cuidado milenar de um sushiman. Talvez então esse cuidado com a escolha de cada palavra e um certo tom melancólico venham de certa cultura japonesa que admiro.

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Um dos contos, Circuito Interno, é levemente inspirado em John Cheever, que tinha especial interesse pela vida nos subúrbios. Qual a intenção dessa abordagem cheeveriana? Sim, Cheever era mestre nisso - um mestre japonês naquele sentido... Ele contava histórias dramáticas com leveza enganosa. Fazia o chamado "understatement", um tom menor para fato maior. Machado de Assis também tinha isso. Me parece uma maneira mais interessante de abordar a tensão da grande cidade do que simplesmente mimetizá-la; quis fazer diferente do que faz o naturalismo cinematográfico de tantos que escrevem sobre São Paulo hoje.

 

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Dois dos contos no livro, no mínimo, trazem críticas às redes sociais da internet, ironizando o Orkut e a comunicação superficial via computador. Você acha que esse tipo de relacionamento com a máquina pode produzir no futuro um gênero literário que venha a substituir o romance?Não sou muito de futurologia; acho que os meios não morrem, mas se transformam muito. A pintura mudou muito com a chegada tanto da tinta de secagem rápida quanto com a concorrência da fotografia. O teatro mudou depois do cinema, assim como a literatura. Pode ser que a ficção mude, sim, e as formas breves - aforismos, minicontos - voltem com força. Já estão voltando.

 

Como foi para o crítico a experiência de escrever ficção?Extremamente curiosa e, apesar das dúvidas, gratificante. Escrevi tudo em terceira pessoa, mas em estilo indireto, porque queria criar um mundo externo ao meu, ainda que tenha tantas pontes com o meu. Fiquei contente de ver que as personagens se criaram como tais, não como extensões do que sou. Elas não falam como eu falo, não agem como eu agiria. Esse sair de mim foi uma vitória.

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NOITES URBANASAutor: Daniel Piza. Editora: Bertrand Brasil (176 págs., R$ 33). Local: Livraria da Vila. Al. Lorena, 1.731, 3062-1063. Hoje, 19 h.

O sentimento ambivalente dos paulistanos em relação à cidade em que vivem - um misto de amor e repulsa por São Paulo - é explorado por Daniel Piza, colunista do Caderno 2, em seu 17.º livro, Noites Urbanas, que será lançado hoje, na Livraria da Vila dos Jardins. Com dez contos longos, na maioria inéditos, e 18 minicontos, Noites Urbanas começa num vagão de metrô, na Estação Santa Cecília, e, como convém ao título, termina num começo de noite, quando um professor de Literatura sai de um escritório, na Vila Romana, humilhado por um arrogante produtor cultural. Entre um bairro na região central e outro na zona oeste da cidade, Piza mapeia os sentimentos dos habitantes da metrópole, falando de desamor, indiferença e frustração.Noites Urbanas é o primeiro livro de ficção de Piza, autor de biografias (Machado de Assis), ensaios (Questão de Gosto) e crônica esportiva (Ora, Bolas), entre outros gêneros. A seguir, sua entrevista.

 

Grande parte dos contos em Noites Urbanas trata de amores fracassados. Alguns, inclusive, acabam de forma trágica, como o suicídio do garoto em Saquê, que cita Tanizaki no prólogo. Que influência teve a literatura japonesa na estruturação do livro?Na estruturação do livro como um todo, não sei, não pensei nisso - mas constantemente me pegava evocando os filmes de Ozu, por exemplo, aquela maneira contida de mostrar dramas fortes. No conto, especificamente, o garoto, Gustavo, diz que gostaria de escrever com o cuidado milenar de um sushiman. Talvez então esse cuidado com a escolha de cada palavra e um certo tom melancólico venham de certa cultura japonesa que admiro.

 

Um dos contos, Circuito Interno, é levemente inspirado em John Cheever, que tinha especial interesse pela vida nos subúrbios. Qual a intenção dessa abordagem cheeveriana? Sim, Cheever era mestre nisso - um mestre japonês naquele sentido... Ele contava histórias dramáticas com leveza enganosa. Fazia o chamado "understatement", um tom menor para fato maior. Machado de Assis também tinha isso. Me parece uma maneira mais interessante de abordar a tensão da grande cidade do que simplesmente mimetizá-la; quis fazer diferente do que faz o naturalismo cinematográfico de tantos que escrevem sobre São Paulo hoje.

 

Dois dos contos no livro, no mínimo, trazem críticas às redes sociais da internet, ironizando o Orkut e a comunicação superficial via computador. Você acha que esse tipo de relacionamento com a máquina pode produzir no futuro um gênero literário que venha a substituir o romance?Não sou muito de futurologia; acho que os meios não morrem, mas se transformam muito. A pintura mudou muito com a chegada tanto da tinta de secagem rápida quanto com a concorrência da fotografia. O teatro mudou depois do cinema, assim como a literatura. Pode ser que a ficção mude, sim, e as formas breves - aforismos, minicontos - voltem com força. Já estão voltando.

 

Como foi para o crítico a experiência de escrever ficção?Extremamente curiosa e, apesar das dúvidas, gratificante. Escrevi tudo em terceira pessoa, mas em estilo indireto, porque queria criar um mundo externo ao meu, ainda que tenha tantas pontes com o meu. Fiquei contente de ver que as personagens se criaram como tais, não como extensões do que sou. Elas não falam como eu falo, não agem como eu agiria. Esse sair de mim foi uma vitória.

 

 

NOITES URBANASAutor: Daniel Piza. Editora: Bertrand Brasil (176 págs., R$ 33). Local: Livraria da Vila. Al. Lorena, 1.731, 3062-1063. Hoje, 19 h.

O sentimento ambivalente dos paulistanos em relação à cidade em que vivem - um misto de amor e repulsa por São Paulo - é explorado por Daniel Piza, colunista do Caderno 2, em seu 17.º livro, Noites Urbanas, que será lançado hoje, na Livraria da Vila dos Jardins. Com dez contos longos, na maioria inéditos, e 18 minicontos, Noites Urbanas começa num vagão de metrô, na Estação Santa Cecília, e, como convém ao título, termina num começo de noite, quando um professor de Literatura sai de um escritório, na Vila Romana, humilhado por um arrogante produtor cultural. Entre um bairro na região central e outro na zona oeste da cidade, Piza mapeia os sentimentos dos habitantes da metrópole, falando de desamor, indiferença e frustração.Noites Urbanas é o primeiro livro de ficção de Piza, autor de biografias (Machado de Assis), ensaios (Questão de Gosto) e crônica esportiva (Ora, Bolas), entre outros gêneros. A seguir, sua entrevista.

 

Grande parte dos contos em Noites Urbanas trata de amores fracassados. Alguns, inclusive, acabam de forma trágica, como o suicídio do garoto em Saquê, que cita Tanizaki no prólogo. Que influência teve a literatura japonesa na estruturação do livro?Na estruturação do livro como um todo, não sei, não pensei nisso - mas constantemente me pegava evocando os filmes de Ozu, por exemplo, aquela maneira contida de mostrar dramas fortes. No conto, especificamente, o garoto, Gustavo, diz que gostaria de escrever com o cuidado milenar de um sushiman. Talvez então esse cuidado com a escolha de cada palavra e um certo tom melancólico venham de certa cultura japonesa que admiro.

 

Um dos contos, Circuito Interno, é levemente inspirado em John Cheever, que tinha especial interesse pela vida nos subúrbios. Qual a intenção dessa abordagem cheeveriana? Sim, Cheever era mestre nisso - um mestre japonês naquele sentido... Ele contava histórias dramáticas com leveza enganosa. Fazia o chamado "understatement", um tom menor para fato maior. Machado de Assis também tinha isso. Me parece uma maneira mais interessante de abordar a tensão da grande cidade do que simplesmente mimetizá-la; quis fazer diferente do que faz o naturalismo cinematográfico de tantos que escrevem sobre São Paulo hoje.

 

Dois dos contos no livro, no mínimo, trazem críticas às redes sociais da internet, ironizando o Orkut e a comunicação superficial via computador. Você acha que esse tipo de relacionamento com a máquina pode produzir no futuro um gênero literário que venha a substituir o romance?Não sou muito de futurologia; acho que os meios não morrem, mas se transformam muito. A pintura mudou muito com a chegada tanto da tinta de secagem rápida quanto com a concorrência da fotografia. O teatro mudou depois do cinema, assim como a literatura. Pode ser que a ficção mude, sim, e as formas breves - aforismos, minicontos - voltem com força. Já estão voltando.

 

Como foi para o crítico a experiência de escrever ficção?Extremamente curiosa e, apesar das dúvidas, gratificante. Escrevi tudo em terceira pessoa, mas em estilo indireto, porque queria criar um mundo externo ao meu, ainda que tenha tantas pontes com o meu. Fiquei contente de ver que as personagens se criaram como tais, não como extensões do que sou. Elas não falam como eu falo, não agem como eu agiria. Esse sair de mim foi uma vitória.

 

 

NOITES URBANASAutor: Daniel Piza. Editora: Bertrand Brasil (176 págs., R$ 33). Local: Livraria da Vila. Al. Lorena, 1.731, 3062-1063. Hoje, 19 h.

O sentimento ambivalente dos paulistanos em relação à cidade em que vivem - um misto de amor e repulsa por São Paulo - é explorado por Daniel Piza, colunista do Caderno 2, em seu 17.º livro, Noites Urbanas, que será lançado hoje, na Livraria da Vila dos Jardins. Com dez contos longos, na maioria inéditos, e 18 minicontos, Noites Urbanas começa num vagão de metrô, na Estação Santa Cecília, e, como convém ao título, termina num começo de noite, quando um professor de Literatura sai de um escritório, na Vila Romana, humilhado por um arrogante produtor cultural. Entre um bairro na região central e outro na zona oeste da cidade, Piza mapeia os sentimentos dos habitantes da metrópole, falando de desamor, indiferença e frustração.Noites Urbanas é o primeiro livro de ficção de Piza, autor de biografias (Machado de Assis), ensaios (Questão de Gosto) e crônica esportiva (Ora, Bolas), entre outros gêneros. A seguir, sua entrevista.

 

Grande parte dos contos em Noites Urbanas trata de amores fracassados. Alguns, inclusive, acabam de forma trágica, como o suicídio do garoto em Saquê, que cita Tanizaki no prólogo. Que influência teve a literatura japonesa na estruturação do livro?Na estruturação do livro como um todo, não sei, não pensei nisso - mas constantemente me pegava evocando os filmes de Ozu, por exemplo, aquela maneira contida de mostrar dramas fortes. No conto, especificamente, o garoto, Gustavo, diz que gostaria de escrever com o cuidado milenar de um sushiman. Talvez então esse cuidado com a escolha de cada palavra e um certo tom melancólico venham de certa cultura japonesa que admiro.

 

Um dos contos, Circuito Interno, é levemente inspirado em John Cheever, que tinha especial interesse pela vida nos subúrbios. Qual a intenção dessa abordagem cheeveriana? Sim, Cheever era mestre nisso - um mestre japonês naquele sentido... Ele contava histórias dramáticas com leveza enganosa. Fazia o chamado "understatement", um tom menor para fato maior. Machado de Assis também tinha isso. Me parece uma maneira mais interessante de abordar a tensão da grande cidade do que simplesmente mimetizá-la; quis fazer diferente do que faz o naturalismo cinematográfico de tantos que escrevem sobre São Paulo hoje.

 

Dois dos contos no livro, no mínimo, trazem críticas às redes sociais da internet, ironizando o Orkut e a comunicação superficial via computador. Você acha que esse tipo de relacionamento com a máquina pode produzir no futuro um gênero literário que venha a substituir o romance?Não sou muito de futurologia; acho que os meios não morrem, mas se transformam muito. A pintura mudou muito com a chegada tanto da tinta de secagem rápida quanto com a concorrência da fotografia. O teatro mudou depois do cinema, assim como a literatura. Pode ser que a ficção mude, sim, e as formas breves - aforismos, minicontos - voltem com força. Já estão voltando.

 

Como foi para o crítico a experiência de escrever ficção?Extremamente curiosa e, apesar das dúvidas, gratificante. Escrevi tudo em terceira pessoa, mas em estilo indireto, porque queria criar um mundo externo ao meu, ainda que tenha tantas pontes com o meu. Fiquei contente de ver que as personagens se criaram como tais, não como extensões do que sou. Elas não falam como eu falo, não agem como eu agiria. Esse sair de mim foi uma vitória.

 

 

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